— Já é de manhã? – Perguntei a esmo olhando a claridade invadir meu quarto. Eu não tinha conseguido dormir nem um pouco.

O teste de hoje seria um fracasso.

Assim que cheguei à escola fui ao banheiro lavar o rosto antes das aulas começarem e na saída do banheiro dei de cara com o Will.

— Bom dia. – Foi tudo que ele disse e então virou-se para entrar.

— B-bom dia. – Gaguejei. – Eu quero que a gente volte a ser como antes. – Pedi, antes mesmo que notasse as palavras saindo da minha boca, fazendo com que ele travasse no lugar.

— Desculpe, mesmo se você puder, eu não acho que consiga fazer isso agora. – Will disse virando para mim com aquele sorriso doloroso de novo e então desapareceu atrás da porta antes que eu pudesse falar mais alguma coisa.

Geralmente ele me perguntaria por que estou tão pra baixo, ou diria algo como “você não dormiu nada”.

A suposição de que nada entre a gente nunca mudaria era totalmente vazia.

Will é extrovertido e se eu tivesse que escolher eu seria considerado do tipo tímido e tranquilo. Apesar disso sempre que estou com ele, naturalmente me dou bem com todos a nossa volta. Esse ano foi a primeira vez que uma distancia física foi posta entre nós.

Quando olho ao meu lado eu ainda espero vê-lo.

Sem nem uma confirmação eu pensei que continuaríamos aqueles dias, me pergunto agora porque pensei isso. Se continuarmos a não nos falar e sem nos ver até que a formatura chegue...

***---***

— Nico? – A voz de Percy perguntou. Ele apareceu ao meu lado em frente a maquina de doces na lanchonete.  – Ótimo timing. Preciso falar com você. Você e o Will brigaram? – Perguntou direto.

— Parece que o fizemos? – Repliquei começando a caminhar com ele, indo em direção aos corredores.

— Sim, Will parece estar evitando falar de você.

— Ele disse alguma coisa? – Perguntei curioso.

— Ele disse que decidiu se separar de você. Que raios foi isso? Uma briga? – Percy perguntou confuso.

— Desejava que tivesse sido uma briga. – Suspirei cansado.

— É não natural que vocês não estejam se dando bem, eu não gosto disso. – Percy reclamou. – Voltem ao normal, por favor.

— Eu adoraria, mas ele...

— Vai ser péssimo se terminarmos à escola com vocês assim. Você vai ficar bem sem o Will? – Perguntou arqueando a sobrancelha.

— Huh? – Resmunguei.

— Você é lento. Pode não ter percebido, mas você baixou sua guarda com ele, você só age como você com o Will e estou seguro de que é o mesmo com ele. Você vai ficar bem com isso?

***---***

Estava deitado na cama há uns trinta minutos sem saber direito em que pensar. Will tinha me dito daquela vez “Você é tão ilógico” “Você não reparou? Você sempre quer fazer alguma coisa do nada, totalmente aleatório”, ninguém nunca tinha me dito esse tipo de coisa antes. Eu tinha mostrado aquele meu lado só para ele?

Será que Percy estava certo pela primeira vez na vida dele?

De repente sentia como se meu rosto estivesse queimando. Levantei e fui até a minha escrivaninha e notei uma coisa que não dava atenção há muito tempo, a antiga peça de xadrez que eu guardava até hoje.

***---***

— O Will ta ai? – Perguntei a Jason parado na porta da sala deles.

— Acabou de perdê-lo. Ele foi arrastado pelo menino da classe ao lado que é do clube dele para algum lugar com umas meninas, acho que iam comer juntos.

— Entendo. – Murmurei contrafeito.

— Se queria falar com ele na hora da saída deveria ter dito antes não? – Jason perguntou.

— Não, ele provavelmente teria me evitado de propósito se tentasse.

— O que? Por que?

— De qualquer forma obrigado, eu to indo. – Falei sem perder tempo com perguntas que eu não estava a fim de responder naquele momento.

— Por acaso eles brigaram? – Tive tempo de ouvir a voz de Jason ao longe perguntando, provavelmente para Percy.

Peguei o caminho mais longo aquele dia, era a primeira vez que ia sozinho por ele. Antes, Will sempre estava comigo... era tão óbvio, o único motivo de estarmos sempre juntos sem eu fazer nenhum esforço era porque ele sempre ficou ao meu lado.

“Você vai ficar bem sem o Will?”

Parei de andar meio tonto e olhei para frente me surpreendendo quando vi os cabelos loiros se destacando mais a frente, sem nem pensar comecei a correr em sua direção e o segurei pelo braço quando o alcancei.

— Nico? – Ele perguntou surpreso.

— O que aconteceu com o almoço junto do pessoal? – Perguntei.

— Estava chato, terminei de comer rápido e vim embora.  – Explicou indiferente. – Pera, como você soube sobre o almoço?

— Eu tenho algo para dizer pra você então fui te procurar na sala, mas você já tinha ido. Jason me contou. – Falei sentindo o nervosismo me dominar.

— Eu não tenho nada pra dizer pra você. – Ele disse com o olhar tão dolorido quanto seu sorriso.

— Eu não vou te deixar ir até que me ouça. Vamos para a praça conversar, aqui tem muita gente. – Falei puxando-o pelo braço e começando a correr com ele no meu encalço.

Esperava que a ventania durante a corrida clareasse os meus pensamentos.

— Oe...espera ai Nico... – O ouvi reclamando enquanto tropeçava tentando me acompanhar.

Sentamos no banco de madeira na praça e ele soltou seu braço da minha mão.

— Olha, eu vou dizer coisas muito vergonhosas agora então é melhor você escutar atentamente porque não vou repetir. – Falei torcendo a mão e arrumando a franja em seguida. Will só continuou a me encarar. – Você é minha vida. Meu mundo é incompleto sem você. Mesmo se tivesse alguém comigo, eu odiaria se não fosse você, então não diga que foi um erro se apaixonar por mim. – Disse apoiando minha cabeça em seu ombro quando não aguentei mais encará-lo nos olhos.

— O-o que? Mas você não queria fingir que isso nunca aconteceu? – Perguntou e notei a surpresa e nervosismo em sua voz.

Não tive coragem de levantar o rosto e observar sua expressão, então continuei em seu aconchego.

— Eu só não sabia o que fazer. Quando ela disse que gostava de mim eu pensei que se saísse com ela poderia compreender melhor, mas não... é só você que me conhece e que me entende.

— Você me fez acreditar que gostava dela e tudo que eu pude fazer foi me convencer de que tinha que apoia-lo... Nico, isso é um sonho ou alguma brincadeira? – Ele perguntou e finalmente voltei a encará-lo.

Seu rosto era o de quem não acreditava embora parecesse emocionado.

— Eu nunca tinha me dado conta, mas isso provavelmente sempre esteve aqui. O fato de que eu amo você eu quero dizer. – Falei por fim atolado em constrangimento e ele me abraçou forte. – Ei, você está me sufocando. – Murmurei divertido depois de um tempo apreciando o gesto.

— Você não está assustado? – Perguntou nos separando com um sorriso preocupado.

— Não, mas meu coração parece que está prestes a explodir.

Will riu e se aproximou. Eu suspirei esperando que a ação seguinte não o fizesse realmente explodir.

— O meu também. – Sussurrou e então me beijou.

***---***

— Esperou muito tempo? – Perguntei me aproximando de Will.

— Nã..espera, o que aconteceu? Seu rosto ta vermelho. Isso é a marca de uma mão? – Ele perguntou se aproximando com um sorriso divertido.

— Eu acabei de terminar com minha namorada. Ela me bateu. – Disse estreitando os olhos para o divertimento dele.

— Aconteceu a mesma coisa comigo. – Ele riu. – Elas são boas demais para nós.

— Certo, nós somos os piores pelo visto. – Suspirei. – Mas com isto agora eu sou só seu. – Sorri para ele. – Você poderia me ensinar xadrez não?

— Totalmente aleatório, de novo.