Pottertale - O Encontro de Dois Mundos escrita por FireboltVioleta


Capítulo 35
Determinação




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— Burguerpants? - ofegou a garota.  

Não lembrava em nada o tímido e inseguro gato que havia conhecido na pousada de Toriel. Seu sorriso era sinistro, e seu olhar atingia a criança como o gume de uma faca.  

— Tinha certeza que não esperaria me ver por aqui… - o monstro inclinou a cabeça, soltando um muxoxo desdenhoso.  

Frisk sacudiu a cabeça, aturdida.  

Aquilo não fazia o menor sentido.  

— Mas… - disse, ainda mergulhada em um torpor de negação – Riverman…  

Garlic ergueu a cabeça, emitindo uma sonora e arrepiante gargalhada, cujo som ecoou sombriamente dentro da sala.  

— Riverman? - sibilou – é… misterioso, reservado… ele faria bem o tipo de pessoa que uma garotinha confundiria com um vilão, não é mesmo? É só um lobo solitário cheio de amargura, no fim das contas. Ninguém jamais teria sido capaz de imaginar que eu – inclinou a pata na própria direção – o professor bobo e inocente… seria escolhido para tamanha honra.  

— Não… não pode ser – guinchou, incrédula – o senhor… pareceu tão gentil…  

— Era a única forma de conseguir a confiança daquela cabra velha, não é mesmo? - rilhou os dentes - e de fazer com que Undyne não ficasse me vigiando – riu-se cinicamente – são sempre os pálidos de carinha triste, não são? Aqueles fracos, que ninguém teria coragem de desconfiar, que tem a oportunidade de servir os maiores monstros deste mundo – seu tom era quase desvairado – meu mestre sabia que eu a encontraria aqui.  

As mãos da menina se fecharam em punhos.  

— Seu mestre…?  

Piscou, compreendendo, sentindo seu peito gelar ao confirmar suas suspeitas.  

— Gaster.  

Os lábios de Garlic se comprimiram numa linha rígida.  

—Vejo que não tem medo de chamá-lo pelo nome.  

— E por que teria? - Frisk grunhiu, enfurecendo-se – ele matou meus pais.  

— Sim, de fato – prosseguiu o monstro – e nunca teve curiosidade de saber o porquê, minha criança? - ergueu a mão para Frisk – pois eu irei te mostrar…  

Antes que a menina pudesse reagir, várias medunhas mágicas emergiram do teto, enlaçando Frisk em suas vinhas esverdeadas, imobilizando-a completamente.  

— Ahh! - debateu-se, tentando se soltar.  

— Não adianta tentar fugir, menina… essa magia é muito mais poderosa que a sua – aproximou-se, apontando a varinha para o rosto de Frisk – ao contrário… do que você traz dentro de si… algo que meu mestre tentou extrair há onze anos… e que eu conseguirei para ele agora.  

— O… o que? - parando de se debater, Frisk o encarou, perplexa.  

— O dispositivo – rosnou o gato – entregue-o para mim.  

Contraída, Frisk fitou-o por um momento. Por que Garlic achava que ela, que havia vindo até ali para proteger o dispositivo, estaria de posse dele?  

— Eu não tenho nada! - piscou, confusa – viemos até aqui...  

— Não... eu vim até aqui... todo esse teatro subterrâneo - Garlic rosnou – era apenas uma armadilha para um seguidor incauto de meu mestre. Alguém que não tivesse ligação direta com ele... que não soubesse que o que Terso havia tanto procurado no passado... estava o tempo todo... bem aqui. 

Concluiu, pousando – para o choque de Frisk -  a própria varinha sobre o coração da criança. 

— O que... minha... a minha...? 

— Sim... a sua alma, minha jovem – inclinou-se para ela – seu traço distinto... a Determinação - gracejou odiosamente – o poder que faz sua alma perdurar, mesmo após o corpo ser destruído... o poder que permitiu que você sobrevivesse ao Blaster da Morte... - acrescentou, segurando-lhe rudemente o queixo – o único poder... capaz de alterar o Tempo e Espaço. 

Frisk sentiu um soco na boca do estômago. 

O dispositivo não era algo físico... era um traço. Uma essência de alma. 

Como não havia pensado naquilo antes? 

— Não... - ofegou. 

— Não se preocupe, minha menina – o gato sussurrou - não tenho nenhuma intenção de perdurar seu sofrimento. Serei rápido... - recuou alguns, passos, erguendo a varinha rente ao corpo – afinal... 

Assombrada, Frisk assistiu Garlic contorcer-se por um momento, contraindo-se. 

O horror a dominou quando viu a pelagem do gato começar a deslizar por seu corpo como cera. O monstro gritou, sacudindo-se de um lado para o outro convulsivamente, conforme seu exterior se desfazia, escorrendo-se como um tecido gosmento em direção ao chão, transformando-se lentamente em poeira. 

Em seu lugar – surgindo aos poucos, à medida que o corpo anterior evaporava – outra figura surgiu, gravando-se de forma atemorizante na visão da garota.  

— ... agora você está sozinha. E não cometerei o mesmo erro. 

O esgar medonho e congelado. O olhar dúbio e corrompido. As vestes negras. As mãos esburacadas, erguidas em posição de ataque. 

Enfim, Frisk estava defronte à criatura que havia ceifado a vida de sua familia. 

A menina soltou um arquejo alto. 

— Wing Ding Gaster. 

Gaster sorriu para Frisk. 

— Finalmente, Frisk – sua voz era tão distorcida e fria quanto havia visto em sua lembrança, corrompendo-se em algumas sentenças, de maneira extremamente arrepiante – acho que Gerson realmente nos subestimou, minha criança. 

Tremendo de raiva e medo, Frisk levantou a cabeça, a tempo de ver um gigantesco crânio brilhante surgir acima dela, expandindo seu afiado maxilar ósseo para baixo, conjurando, em seu interior, o laivo de um raio destrutivo. 

— Isso não precisa terminar desta maneira – sussurrou – eu só preciso de uma parte dela, Frisk. Me dê apenas uma parte de sua Determinação. E poderemos fazer o impensável. O impossível. Poderemos, até mesmo... trazer seus pais de volta á vida – ergueu lhe uma das mãos - juntos... poderemos mudar este mundo. Destruir o que é inútil... e dar aos monstros a vida em um lugar melhor. 

Por um momento, a ideia de rever seus pais pareceu atrair Frisk. 

Mas ela sabia a verdade. 

Jamais poderia – jamais deveria – modificar o seu passado. Um poder daqueles devia ser mantido onde estava... a salvo. 

E longe de Gaster. 

— Nunca! - exclamou, decidida. 

A expressão de Gaster não se alterou. Ele havia previsto aquilo. 

Uma risada sibilante escapou da boca do monstro. 

— Quanta... determinação

Num movimento veloz, Gaster fechou a mão, continuando a rir sadicamente. O Blaster estremeceu, expelindo um jorro ofuscante de luz contra a menina. 

Frisk fechou os olhos, resignada com o seu destino. 

E então, tudo desapareceu. 

 


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