Juliet,

Luzes que piscam. Piscam piscam piscam piscam sem parar. Corpos em sincronia. Corpos que se mexem mexem mexem e não param nunca. Música. Música que entra em mim e treme tudo. Musicas que falam e gritam e berram e ficam em sincronia e é tudo tudo tudo tudo confuso. Sorrisos. Por todos os lados. Sorrisos falsos, sorrisos verdadeiros, sorrisos abertos, sorrisos fechados, sorrisos lindos, sorrisos perversos, sorrisos sinceros, sorrisos forçados. Sorrisos. Vozes. Agudas, baixas, grossas, roucas. Vozes que dizem “Oi, prazer em conhecê-la” e que sussurram “Uau, ela é idêntica á Julie, versão mais nova e mais robusta” Robusta, robusta, robusta, o que é robusta?

E as luzes se transformam em escuridão, e os corpos agora são apenas matéria oca e vazia, e a música não transpassa mais sentimento, e os sorrisos se transformam em mascaras, e as vozes agora são apenas um ruído. E eu quero ir para casa. Mas Colin pergunta se estou bem, e Colin está sorrindo, Colin é bonito e anda como um boneco Ken chamando as atenções das garotas. E eu digo que estou bem, pois todos acham que estou bem. E agora Colin me oferece uma bebida. É vermelha. E tem gelo. Seu nome é Campari. Campari, campari, campari, o que é Campari? Ah, sim, a bebida.

Eu bebo. Eu nunca bebi. E a primeira vez é sempre estranha. E eu bebo porque acho que vou ficar bem, e eu deixo o liquido descer rasgando e queimando pela minha garganta. E eu acho que vou sorrir. Eu acho que vou ficar feliz. Pois todos parecem felizes e bem quando estão bêbados. Mas eu não fico feliz. Eu não fico bem. E eu bebo de novo e de novo e de novo repetidas vezes e o resultado não vem. E eu fico tonta. E eu odeio ficar tonta, pois eu quero ficar feliz e bem.

Agora estou no chão. Estou sentada. E aqui é frio. Estou no banheiro. E não, não estou preocupada em pegar vermes ou bactérias, ou seja, o que for. E pessoas entram e saem daqui á todo momento, mulheres que retocam seus batons e falam sobre o quanto a festa está legal e o quanto fulano ou ciclano é gatinho. E elas cochicham quando olham para mim, mas nunca, jamais se dirigem a mim. E isso é bom. E isso é ruim. E eu não estou pensando em nada. Só estou pensando em, puxa vida, Juliet bem que você poderia nãoter morrido. E, puxa vida, Aaron McFuller está tão diferente. E quando eu tinha apenas oito anos de idade e ele dez, ele me pediu em casamento, colocou um anel de alcaçuz no meu dedo e me deu um beijo bem babado no meio da bochecha. E eu sinto tanta saudade de quem ele era. De quem você era. De quem eu era.

E é tão estranho eu não conseguir voltar a ser feliz. Na verdade, não sei se um dia realmente fui. Está tocando uma música. Cold Water. E eu sou uma água fria. E eu estou me afogando. E ninguém está aqui comigo e ninguém vem me ajudar. E ninguém ousa entrar nessa água por mim. E isso me deixa tão tão tão triste e sufocada e eu me afogo ainda mais.

Eu saio do banheiro. Eu passo por Colin, que grita meu nome, e ao lado dele está Ramona Lancaster e ela está me encarando como se estivesse se perguntando o que estou fazendo aqui. Nem mesmo eu sei o que estou fazendo aqui. E Ramona diz algo grosso e duro para Colin, pois ele automaticamente para de me chamar. E eu aproveito para ir embora. Pois não aguento mais ficar aqui. E eu volto para casa, e eu estou tão tonta que não consigo subir pela escada de incêndio de volta para o meu quarto, por isso bato na porta. E Natalie abre, com um baby-doll sofisticado e uma expressão nada boa. Ela me leva para dentro, e fica sussurrando o quanto eu sou irresponsável e o quanto ela está decepcionada. E eu estou decepcionada comigo também. E estou tão envergonhada. Ela diz que não vai dizer para o meu pai, mas eu gostaria que ela dissesse.

E agora eu estou debaixo da cama. E conto as molas. E conto conto conto conto sem parar e sem fazer uma pausa sequer. E minha cabeça gira e eu acho que vou explodir.

E eu quero explodir.

V.