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Skye Miller
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  • 28/06/2014


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    É difícil falar sobre você mesma. Toda essa história de autobiografia fica ainda pior  quando você não conhece bem a si próprio. Quando seus sentimentos são confusos, obscuros e estranhos. Quando você não consegue tirar uma conclusão de quem você realmente é. Tenho a constante sensação de que eu deveria estar em outro lugar, fazendo outra coisa, sendo outra pessoa.

    É, eu sei, isso tudo é muito deprimente. 

    Eu sou estranha. Eu tenho um puta medo da morte. Drama defini totalmente meus sentimentos. Eu tenho umas mil manias e ironicamente umas mil fobias também. Minha voz alcança um tom agudo horripilante quando eu estou muito eufórica. Textos, músicas e filmes tristes fazem-me sentir bem. Meus pensamentos são oblíquos: tudo, em todo lugar, ao mesmo tempo.  

    A plataforma do Nyah! está presente em minha vida desde que eu tinha 14 anos. Mesmo 10 anos depois, ainda continua sendo o meu porto seguro quando quero fugir da realidade. Tanto para conhecer histórias novas, quanto para rever histórias antigas. De modo geral, sou uma aspirante à escritora nas horas vagas (que, na verdade, são mínimas). Sinto que, ao criar uma história, estou dando vida a um leque de infinitas possibilidades. 

    Sou apaixonada por personagens literários, desde os mais clichês aos mais cultos. E sigo assim, porque isso tudo torna o cotidiano um pouco mais leve. 

     

    Bom, é isso. 

    Coragem, mulher. 

    Câmbio. Desligo.

    Skye Miller. 24 anos. Formada em História - Licenciatura. Professora. Bordadeira. Escritora amadora. 

     

    ♕♕♕

     

    Em uma folha de papel amarelo com linhas verdes ele escreveu um poema
    E o intitulou "Chops" porque era o nome de seu cão
    E era o que estava em toda parte
    E seu professor lhe deu um A e uma estrela dourada
    E sua mãe o abraçou à porta da cozinha e leu o poema para as tias
    Era o ano em que o padre Tracy levava todas as crianças ao zoológico
    E ele deixou que cantassem no ônibus
    E sua irmãzinha tinha nascido com unhas minúsculas e nenhum cabelo
    E sua mãe e seu pai se beijaram tanto
    E a garota da esquina mandou para ele um cartão de Dias dos Namorados assinado com vários X
    e ele teve de perguntar ao pai o que significava X
    E seu pai deixou que ele dormisse na sua cama à noite.E era sempre lá que ele dormia

    Em uma folha de papel com linhas azuis ele escreveu um poema
    E o intitulou "Outono" porque era o nome da estação
    E era o que estava em toda parte
    E seu professor lhe deu um A e o pediu para escrever com mais clareza
    E sua mãe não o abraçou à porta da cozinha por causa da pintura nova
    E as crianças disseram a ele que o padre Tracy fumava cigarros
    E largava as guimbas no banco da igreja
    E às vezes elas faziam buracos
    Que era o ano de sua irmã usar óculos com lentes grossas e armação preta
    E a garota da esquina riu quando ele pediu para ver Papai Noel
    E os garotos perguntaram por que a mãe e o pai se beijavam tanto
    E seu pai não o cobria mais na cama à noite
    E seu pai ficou furioso quando ele chorou por isso.

    Em um pedaço de papel de seu caderno ele escreveu um poema
    E o intitulou "Inocência: Uma Questão" porque a questão era sobre uma garota
    E isso estava em toda parte
    E seu professor lhe deu um A e um olhar muito estranho
    E sua mãe não o abraçou à porta da cozinha porque ele nunca o mostrou a ela
    Foi o primeiro ano depois da morte do padre Tracy
    E ele esqueceu como terminava o Creio em Deus Pai
    E ele pegou a irmã se agarrando na varanda dos fundos
    E sua mãe e seu pai nunca se beijavam nem mesmo conversavam
    E a garota da esquina usava maquiagem demais
    O que fez ele tossir quando a beijou
    mas ele a beijou mesmo assim porque era a coisa certa a fazer
    E às três da manhã ele se aninhou na cama seu pai roncava alto

    É por isso que no verso de uma folha de papel pardo ele tentou outro poema
    E o intitulou de "Absolutamente Nada"
    Porque era o que estava em toda parte
    E ele se deu um A e um corte em cada maldito pulso
    E se encostou na porta do banheiro porque nessa hora ele não pensou que poderia alcançar a cozinha.