Infinite escrita por Skye Miller


Capítulo 16
Clínica de Reabilitação.




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Juliet,

Nossa, faz quanto tempo que não lhe ponho á par de tudo o que está acontecendo? Sei lá, três semanas? Acho que com tudo o que está acontecendo comigo eu acabei esquecendo completamente das cartas que escrevo para você. Escrevê-las fazem com que eu saiba que você, afinal, realmente está aqui. E eu acredito fielmente que você pode ler cada palavra que escrevo.

Pois bem, estava em semana de provas, e como o nosso time está vencendo os jogos (Inacreditável, eu sei.) estamos cada vez mais enfrentando outros adversários e algumas vezes temos que burlar aulas, mesmo que em semana de provas, o que fez com que a nossa única semana se estendesse em duas. Mas não tem problema, o importante é que estou conseguindo me sair bem, passar em média e tudo.

Como eu disse, nosso time está em vantagem, por enquanto, e eu sou a goleira. Eu sei, eu sei, eu sei, isso é até algo irreal de se imaginar, mas é o que está acontecendo. Devo confessar que me faz bem, sei lá, parece algo meio terapêutico ficar atenta aos movimentos do atacante e a bola voando em minha direção. Nosso primeiro jogo foi um fracasso, eu não fazia a menor idéia de como agir, mas no fim da partida, tudo estava Ok.

Por falar em estar Ok, Aaron e eu completamos outros itens da lista. Além de tentar tocar piano – Meu Deus, Juliet! Um horror! Um horror mesmo. Aaron levou-me até uma escola de música e disse á mulher que eu era Expert, então ela me colocou na frente do piano e disse que eu poderia tocar Réquiem, para me aquecer. E eu fiquei tipo: O que é Réquiem? Então apenas tentei imitar a garota ao meu lado. O som que saiu parecia de um gato sendo estrangulado ou uma foca com muita fome. Aaron riu tanto que precisou sair da sala para não atrapalhar os outros alunos. A professora estava tão vermelha que parecia um grande tomate florescente, e por mais que eu explicasse que na verdade, nunca tinha tocado piano e estava tentando aprender, ela gritava para que eu saísse da sala de aula. Se eu tentei matar Aaron quando o encontrei agachado na porta gargalhando como um idiota? Claro que sim. – eu pulei de uma tirolesa. Você não imagina o quão difícil foi escalar o monte em uma escada caindo aos pedaços e saltar de uma tirolesa; o mais absurdo não foi o fato de eu ter conseguido dizer “Sim” para o rapaz que me empurrou ou eu ter concordado com Aaron em subir até ali. Não, o mais absurdo foi que eu gostei,Juliet, eu gostei de estar ali, pendendo sobre o ar.

Fiquei imaginando como seria se nós, seres humanos, fossemos feitos apenas para voar. Se ainda iríamos precisar de transportes, e com isso a poluição talvez até fosse menor. Mas a questão toda nem é essa, a minha imaginação foi além, a minha imaginação foi até a sensação de voar como um pássaro, tão livre, tão dono do seu próprio destino, se preocupando apenas com o momento certo de parar de bater as asas e descansar. Mas então percebi que, se fossemos capazes de voar, não haveria graça. Se fossemos capazes de voar, nós talvez não seriamos capazes de andar. E então desejaríamos poder andar, poder tocar os pés no chão e dar longas passadas. E faríamos planos sobre como seria andar, o quão bom seria correr. E eu percebi,Juliet, que só desejamos coisas ilusórias, coisas que são quase impossíveis de acontecer. E fiquei me perguntando qual é o nosso problema.

Acho que o nosso problema é não termos a menor certeza sobre qual é a nossa existência.

Sei lá, Juliet, acho que nem estou falando coisa com coisa. Isso foi o que Aaron disse quando eu fui idiota o suficiente de conversar sobre isso com ele.

Você pode até achar que, por estarmos juntos, estamos Ok um com o outro, mas não estamos. Aaron não gosta de Colin, e eu realmente queria que você estivesse viva para me explicar o porque, para me contar detalhadamente sobre a relação de vocês. Poxa vida, Juliet, você nunca me escondeu nada, e então descubro que você e Colin namoraram por quase um ano, desde o seu fim com Dean. Eu fiquei muito chocada e sentindo-me um pouco traída, mas lembrei-me que, há um ano, você entrou na faculdade, há um ano, nosso contato se tornou algo além de escasso.

Acho que, além da semana de provas, o outro motivo para eu não ter escrito antes foi os documentos que encontrei no quarto da mamãe. Tá, certo, sei que ninguém é autorizado á entrar no quarto da mamãe e bisbilhotar suas coisas, mas eu precisava da minha carteira de vacinação para realizar o enxame de consulta, pois esse é um dos procedimentos para a regional de futebol. E estava dentro da caixa da mamãe, aquela com flores azuis e pretas que nós duas sempre achemos horrenda. E, no meio de tanto papel, achei uma autopsia médica.

De uma clinica, Juliet.

De reabilitação. Para pessoas alcoólatras e dependente químicos.

E, olha só que interessante: Você era a paciente.

Que engraçado. Sério. Chego a sentir vontade de rir. Mas não de felicidade, Juliet, de incredulidade. Fiquei bem cética quando li tudo aquilo. Cocaína? Sério mesmo? Uma vez suspeitei que você fumava maconha, mas, uma droga pesada como essa? Sério. Estou rindo enquanto escrevo, pois nem parece real. E é um riso tão seco, um riso tão sem vida, um riso debochado que debocha de mim mesma.

 Eu disse a Aaron que não sabia nadar, por isso não poderia completar o item 14, e então ele se ofereceu para me ajudar. E então eu, a idiota, fui elogiar você, bem na frente do Aaron. Um erro gravíssimo, pois elogiá-la é o mesmo que dar um tapa na cara dele, o que é uma completa droga pois eu sempre venerei os dois e agora ele é esse idiota filho da puta. De qualquer forma, fiquei exibindo minha irmã mais velha, que passou três meses fazendo natação todos os dias. Mas Aaron disse que você não sabe nadar. E eu: “Nossa, você é surdo? Ela poderia até mesmo competir em um campeonato”. E ele disse: “Acho que essa escola de natação talvez seja a Clínica de Reabilitação.” E revirou os olhos quando disse que não entendi.

E então encontrei esses papéis. Não chorei. Não gritei. Não me escandalizei. Acho que apenas fiquei decepcionada. Estou decepcionada. Não entendo porque esconderam isso de mim. Não entendo mesmo porque você começou a usar essas porcarias. E, para ser sincera, não quero entender.

Eu não sei quem eu sou, e quero ser você. E a idéia de quem é Juliet Singer que eu tenho é bem diferente de quem Juliet Singer realmente é. Na minha cabeça, você ainda é perfeita. Por favor, não deixe que eu encontre mais coisas que estrague isso. Por favor, pois se eu não puder ser como você, eu não serei absolutamente nada.

V.


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