Mágoas do Passado escrita por Liudi


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura pessoinhas!



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Pov. Jane

    O dia passou mais depressa do que deveria, depois da minha conversa com Kurt, e logo já começava um novo dia. Ian tinha buscado as crianças na noite anterior e só então pude respirar aliviada.

   Eu realmente achei que depois do fim da Sandstorm conseguiria viver em paz, ri com escárnio de mim mesma, como fui ingênua.

   Eu precisava de uma maneira de proteger meus filhos. Grande parte de mim queria pegar minha família e ir embora, infelizmente não era assim tão fácil e a minúscula parte de mim restante sabia que enquanto eu não enfrentasse seja lá quem for que está atrás de mim, jamais estaria segura.

   A única opção que me restara então era voltar pra NY. Me doía deixar tudo o que eu construí pra trás contudo meus filhos e Ian sempre vinham em primeiro lugar, a segurança deles é mais importante que o café, é mais importante até que a minha liberdade.

   Observei pela janela o sol nascente, já estava amanhecendo e eu pouco dormira. Passei grande parte da noite vendo os prós e os contras de me reaproximar de Weller.

   Senti Ben se remexer ao meu lado e acariciei seus cabelos para acalma-lo. Sua respiração já estava começando a ficar um pouco difícil novamente, ou seja, estava na hora do remédio dele.

   Como não poderia me levantar pra pegar a bombinha e o espaçador já que Amy me abraçava do outro lado, tive que acordar Ian. Ele me ajudou a aplicar a bombinha e a sair do meio das crianças.

   Ian chamou uma das enfermeiras para me ajudar a tomar banho e me trocar e ficou de olho nas crianças enquanto fazia os últimos ajustes na nossa cafeteria para a viagem.

   Acabamos decidindo promover Christine como chefe e contratar mais dois funcionários para ajudar a ela e ao Zick a cuidarem da cafeteria. A venda não foi sequer cogitada, não fazia sentido vender o café sendo que assim que déssemos um jeito  nessa situação voltaríamos pra Los Angeles, voltaríamos pra nossa casa.

   Terminei de me arrumar com a ajuda da enfermeira enquanto Ian levou as crianças para comerem, saímos do hospital somente as 11:00 da manhã acompanhados de uma escolta.

    Minha surpresa foi enorme quando Patterson saiu do carro com os agentes para vir no nosso. Sinceramente parte de mim esperava que Kurt viesse, porém a outra parte (que era a maioria) sabia que depois do nosso último encontro (que foi pra lá de tenso), ainda não estávamos preparados para nos ver.

   Segundo Patt, o resto do time voltou antes para cuidar da nossa segurança porém não se prolongou muito sobre o assunto.

   Patt foi a pessoa ideal para nos acompanhar, seu jeito divertido deixou as coisas muito menos tensas e após várias referências da cultura pop ela nos fez prometer que tanto Ian quanto eu teríamos um intensivão sobre a cultura pop para nos atualizarmos.

   Algumas horas depois pousamos em New York e fui surpreendida novamente. Junto com uma meia dúzia de agentes lá estava Kurt nos esperando no saguão.

  Assim que fomos percebidos seu olhar se cruzou com o meu, seus olhos brilhavam em um misto de felicidade e ansiedade e assim que ele recaiu para as crianças, eu entendi o por que.

   Ian teve o mesmo entendimento que eu e ao me ver pegar as mãozinhas do Ben e da Amy me olhou como se dissesse “Você tem certeza?”. Acenei positivamente e fui em direção ao Kurt.

   Ele viu o que eu estava fazendo e se adiantou vindo em minha direção.

   Assim que ele parou em nossa frente me abaixei na frente das crianças.

     - Bear, Bee. – Chamei a atenção deles. – Lembram quando a mamãe disse que o papai teve que ir viajar? – Perguntei suavemente. Por eles serem pequenos e nunca ter tido outra figura masculina além do Ian não tinham um conceito de pai muito definido. Eles só vieram a me questionar esse assunto no ano passado, que foi quando eu os coloquei no jardim de infância.

   Apesar de tudo de errado que aconteceu entre mim e o Weller eu jamais colocaria nossos filhos contra ele. Então inventei uma historinha, disse que o pai deles precisou viajar, mas que um dia voltava.

   Esperei ambos concordarem para só assim continuar.

     - O papai voltou ontem e está louco de vontade de conhecer vocês. – Disse-lhes fazendo sinal para que Kurt se abaixasse.

   Ele se agachou para ficar a nossa altura e eu respirei fundo.

    - Ben e Amy esse aqui é o Kurt, ele é o papai de vocês. Kurt, esses são seus filhos. Benjamin e Amélia.

   Os três se olharam por breves segundos e Amy inesperadamente se jogou nos braços do Kurt, que sorriu todo bobo pela ação.

   Ben demorou mais alguns segundos antes de fazer o mesmo. Weller fechou os braços em volta dos dois e os trouxe mais para perto, beijando as bochechas e aspirando o cheirinho de ambos.

   Amy se soltou primeiro e assim que assim que viu que Kurt chorava limpou as lágrimas do rosto dele.

    - Porque tá chorando papai, não gostou da gente? – Perguntou com sua voz infantil extremamente fofa. Colocou as mãos na bochecha dele com uma expressão assustada no rosto.

   Kurt fez o mais impensável, ele riu, uma risada tão gostosa que me fez rir também em meio a minhas próprias lágrimas.

      - Não pequena, ao contrário, eu tô chorando porque estou muito feliz. – Disse ele retribuindo o carinho no rosto dela, fazendo com que a expressão tensa que Amy tinha antes fosse substituída por um enorme sorriso.

   Ben que ainda não tinha dito nada, finalmente se manifestou.

      - Papai parece eu. – Constatou mexendo na barba por fazer do Kurt, nos fazendo rir.

      - Na verdade é você que parece com o papai Bear. Me levantei pegando-o no colo e lhe enchendo de cosquinha.

  Kurt se levantou com Amy também e ela se agarrou no seu pescoço.

  Pus ele em meu quadril e não pude ignorar a forma como ele me encarava.

  Foi estranho pensar que cenas como aquela poderiam ter sido nosso cotidiano se tudo tivesse sido diferente.

  Cansada de ignorar seu olhar o retribui e pela forma como os olhos de Kurt brilhavam de arrependimento ele pensava da mesma forma que eu.

  Por um instante quase uni nossas mãos em uma tentativa de consolá-lo, porém a realidade me atingiu e eu percebi que era melhor não tocá-lo. Ficamos um tempo naquele clima gostoso até Reade e Zapata aparecerem.

  Ian e Patt se aproximaram também.

     - Bom dia gente. – Patt quebrou o gelo e os outros três responderam.

  Reade e Zapata me olhavam como se quisessem me dizer algo porém eu ainda não conseguia encara-los.Um celular tocou, o da Tasha, e ela logo atendeu. Depois de alguns minutos desligou e se virou para o Weller.

     - Já está tudo pronto Kurt.

     - O que está pronto? – Perguntei curiosa.

     - Os arranjos de onde vocês vão ficar. – Kurt respondeu como se fosse uma coisa qualquer.

     - Ian e eu já temos onde ficar Kurt. Temos um local seguro aqui em New York, já está tudo pronto.

     - Nem pensar, você e meus filhos ficam comigo. Você acabou de sofrer um atentado, não vou tirar você de baixo do meu olhar. Pellington tem o mesmo pensamento que eu.

     - Nem pensar. – Neguei com a cabeça. – Nenhum de vocês controla mais a minha vida. Eu sei o que é melhor pra mim e pra minha família. O melhor é todos ficarmos juntos.

   O rosto de Weller se torceu, quase como se tivesse levado um tapa.  

      - Vem comigo, por favor. Não me afasta dos meus filhos, não mais.

 Sua fala me desarmou completamente e mesmo com minha mente berrando “Não” meu coração disse sim.

     - Ok Weller, você venceu. – Suspirei, sentia um enorme frio na barriga pelo que estava por vir. Ao me ouvir seu rosto se iluminou em um enorme sorriso, ele iria dizer algo, porém o interrompi antes. – Contudo, eu preciso saber onde o Ian vai ficar. Seu apartamento só tem 2 quartos.

     - Não se preocupe Jane, já está tudo acertado. Ian vai ficar com a Zapata.

     - O quê? – Ian e Tasha berraram ao mesmo tempo.

     - Você bebeu Kurt? – Perguntou Tasha raivosamente. – Porque essa é a única explicação plausível que eu encontrei pra isso. Eu não quero ele comigo!

     - E você acha que eu quero ficar com você? – Rebateu Ian claramente ofendido. – Nem nos meus piores pesadelos, chega dessa palhaçada. Eu fico em qualquer lugar, menos com ela. Não sou obrigado a conviver com alguém que praticamente vendeu um amigo e depois condenou o mesmo por traição.

  Ian despejou sua última fala com um tom mortal, antes de nos dar as costas e simplesmente sumir.

  Zapata ficara roxa de vergonha, e nenhum de nós sabia o que dizer depois disso.

      - Eu preciso ir atrás do Ian. – Declarei já descendo Ben dos meus braços. - Bee, Bear preciso que vocês se comportem com o papai. – Disse olhando diretamente pros dois que acenaram positivamente.

   Fui andando na mesma direção que Ian porém ainda consegui ver Patterson puxando a Tasha pra conversar, porém não dei muita bola. O mais importante naquele momento era achar meu irmão.

  Passei pela praça de alimentação e acabei encontrando Ian sentado em um dos bancos próximos de lá.

  Ele estava abaixado, segurando a cabeça e não me viu chegando.

  Me aproximei mansamente e antes de por minha mãos em suas costas me identifiquei.

      - Ei Little Bear. – Cumprimentei. Ao ouvir o apelido e sentir minha mão em suas costas Ian levantou a cabeça.

       - O que foi little bee? – Me respondeu abrindo um meio sorriso.

   Bear e Bee além de serem os apelidos do Ben e da Amy, era como nossos pais nos chamavam.

   O dia em que Ian aceitou lutar contra Shepherd me veio a mente.

 #Flashback on

    Eram duas da manhã quando ouvi passos quase silenciosos pelo corredor. Abri a porta do quarto e dei de cara com Roman.

      - Roman, o que você faz aqui? Temos uma missão? – Perguntei já saindo de minha letargia e ficando elétrica.

      - Não, não temos missão. – Disse ele pegando tirando dois embrulhos de trás das costas. – A minha vida toda você me protegeu e agora é a minha vez. Eu vou te ajudar. Nós vamos derrotar a Shepard e vamos ser felizes, assim como mamãe e papai queriam.

  Roman me entregou os embrulhos e ao abrir eu tive uma surpresa. Eram dois bichinhos de pelúcia, um urso e uma abelha.

  Meus olhos lacrimejaram e eu pude notar como Roman também estava emocionado.

      - Assim como mamãe e papai chamavam a gente. – Murmurei com a voz rouca.

      - Você se lembra? – Perguntou ele surpreso.

      - Me lembrei de tudo ontem de manhã. – Murmurei baixinho. – Minhas memórias voltaram Ian.

    Um sorriso triste cruzou seu rosto ao ouvir seu nome verdadeiro e antes que eu pudesse registrar nós dois estávamos abraçados.

      - Tem mais uma coisa que eu preciso te contar. – Disse a ele. Tomei fôlego e soltei as palavras. – Eu tô grávida.

   Roman me soltou e me virou pra ele.

      - Weller é o pai. – Disse sem nenhum tom de interrogação.

    Minha garganta se fechou e antes que eu pudesse me dar conta, já chorava em seus braços.

      - Tudo bem Lice. – Disse com um enorme carinho na voz que me lembrou de quando éramos crianças. – Eu te prometo, nós vamos ficar bem.

 #Flashback off

      - Sabe que precisamos resolver isso. – Entrelacei nossas mãos. – Eu odeio admitir, mas no fundo Weller tem razão. Ficaremos mais protegidos com o FBI. Não somos mais só eu e você, agora temos que pensar nas crianças também.

  Ian suspirou e coçou a nuca buscando uma solução para situação.

       - Eu entendo Jane, entendo mesmo. Tudo o que eu quero é você e as crianças bem, eu só não consigo esquecer o fato de que eles tanto te julgaram por tudo o que aconteceu sendo que você não foi a única culpada em tudo isso.

       - Ian...

       - Zapata é a pior de todas eles. Ela te vendeu! – Sua voz se exaltou. – Tudo o que você fez foi para protegê-los e ela ainda teve a audácia de ficar te condenando.

  Fiquei preocupada, fazia muito tempo que Ian não tinha explosões de raiva. Contudo, com todo o estresse dos últimos dias até seria compreensível.

  Minha preocupação com as possíveis consequências de seu ataque de fúria eram maior que a dor da veracidade de suas palavras.

  Ele estava certo, eu não fui a única errada naquela situação toda porém fui condenada como a única culpada. Por mais que eu tentasse esquecer, tudo isso ainda me magoava.

       - Quando você aceitou em me ajudar a derrotar a Sandstorm e depois irmos embora e seguirmos com nossas vidas você sabe qual foi minha primeira escolha depois disso? – Puxei suas mãos nas minhas e fiz com que ele me encarasse. – Eu escolhi deixar tudo isso pra trás. Eu escolhi esquecer de vez toda essa história, as pessoas magoam umas às outras todos os dias. A decepção é intrínseca ao ser humano, já nascemos com a certeza que em algum ponto da vida algo ou alguém vai nos machucar e assim como a morte, essa é uma das poucas certezas que temos na vida. Tudo o que importa é não podemos deixar essa mágoa definir quem somos. Toda ação tem uma consequência, todos somos culpados nessa história e a vida já tratou de cobrar a consequência.

Ian refletiu sobre o que eu disse por um tempo.

   - Tudo bem, você tem razão. – Suspirou resignado. – Vou dar uma chance a eles, porém ao menor vacilo eu pego você, a Amy e o Ben e sumimos no mundo.

   - É claro que eu tenho razão, eu sempre fui a mais ajuizada. – Zombei levemente conseguindo lhe arrancar um sorriso de lado. – Obrigada por cuidar da gente. – Sussurrei abraçada nele.

   - Familie bo alles — Respondeu somente.

 “Família acima de tudo” era o que mamãe e papai nos ensinaram desde cedo e de certa forma aquilo virou nosso mantra enquanto estávamos com Shepherd.

   - Mais calmo agora? – Ele assentiu. – Ótimo, então podemos ir. Enganchamos nossos braços e voltamos para o saguão.


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Notas finais do capítulo

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