Amandil - A Senhora da Luz escrita por Elvish Song, LadyAristana


Capítulo 2
Os Elenië


Notas iniciais do capítulo

Oláááá! Cá estou, feliz em postar mais um capítulo dessa história! Perdoem-me a demora, mas dia 18 tem mais!
Sem mais delongas, voltemos à Terra-Média! Capítulo dedicado à Sherazade, uma autora incrível com fics maravilhosas do universo de Harry Potter (vão no perfil dela e leiam, vale muito à pena) e fã do universo criado pelo mestre Tolkien! Minha rosa, este aqui é para você!



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Amandil caminhou pelo gramado florido ao redor do Palácio das Luzes, respirando com prazer a brisa fresca da manhã: tudo estava tão quieto, que nem parecia estar prestes a... – seus pensamentos foram interrompidos pelo som de cavalos a galope, e a rainha apenas teve tempo de dar um passo atrás antes que um corcel baio passasse por si a galope, cavalgado por uma jovem de cabelos castanho-claros e brilhantes olhos azuis salpicados de estrelas prateadas; seu rosto jovem mostrava se tratar ainda de uma adolescente, muito bela e ainda com o ar de pureza e inocência preservados da infância. Imediatamente atrás dela vinha um homem jovem, cabelos longos presos em rabo-de-cavalo e barba curta, ambos negros como a noite, orelhas pontiagudas como as de um elfo, porém com músculos e ossatura grandes como ninguém desse povo podia ter. Era um homem de beleza rara, com olhos da mesma cor dos da rainha e da moça, e montava um grande corcel branco.

— Aeriel, Thorin! – chamou a rainha, zangada – Pela milésima vez: se vão apostar essas corridas insanas, que seja LONGE de onde as crianças brincam e treinam!

A moça desceu do cavalo de um salto, sem esperar que este parasse o galope, e veio correndo para perto da Senhora da Luz, rindo:

— Bom dia, mamãe! – e abraçou a mulher – desculpe-me pelo susto, mas eu precisava pisotear um pouco o ego de Thorin: ele estava muito convencido, achando-se o senhor das caçadas!

— Você sabe o quanto aprovo que coloque o ego de seu noivo no lugar – disse a rainha, rindo – mas uma maga deveria ter um pouco mais de responsabilidade, especialmente perto de crianças!

— Vou anotar, para não esquecer. – provocou a filha mais jovem de Amandil, dando um gritinho quando Thorin a abraçou pelas costas e ergueu-a do chão – ai! Seu trasgo brutamontes!

— Olhe só quem me chama de brutamontes: a senhorita “delicadeza” em pessoa! – provocou o moço, antes de se voltar para a rainha – desculpe, tia. Minha noiva é um tanto incontrolável, às vezes!

— Está falando para a mãe dela. Sei bem disso... – a Senhora sorriu, mãos na cintura - Certo, posso perdoar ambos se levarem os cavalos de volta ao pasto e ajudarem a preparar as coisas para hoje à noite. É a primeira Festa das Luzes em que todos estarão reunidos, em cem anos!

— Certo, majestade – provocou a caçula – vamos deixar tudo em ordem, e não destruiremos nada até a festa começar. – a mocinha saiu correndo e puxou Thorin pela mão, levando-o consigo antes de ouvir a mãe ralhar:

— E nem depois disso! Sem destruições, hoje! – Amandil meneou a cabeça, e sorriu ao sentir braços gentis a envolverem pelas costas:

— Diga o que disser, meleth nín, não pode se queixar: ela é uma cópia fiel sua. Pelo menos do lado mestre em travessuras.

— Acho que não posso me queixar, então – ela se virou e abraçou o esposo: Legolas continuava exatamente o mesmo homem com o qual se casara... Gentil, apaixonado, belo como o alvorecer, forte como as fundações da Terra, corajoso e justo... Ele era tudo o que  uma esposa poderia desejar, e também tudo o que uma rainha poderia querer de seu rei. Sim, Amandil era hoje tão ou mais apaixonada do que fora, quando mais jovem, e nem mesmo cinco mil anos casados arrefecera o amor e a paixão. – Pronto para hoje á noite, meu rei?

— Todas as crianças reunidas? Fazia tempo desde que tivemos um evento tão agradável.  – ele beijou os lábios da esposa – está quase tudo pronto: faltam apenas alguns convidados. Nem sinal de Nerwen, Anárion ou Barahir. Ah, sim: Celebrian está no lago, como de costume, Arwen e Aeron estão enfiados na biblioteca.

— Ou seja, se eu quiser todos prontos para a festa, parecendo jovens Elenië, em vez de selvagens das montanhas, terei de caçar um por um e mandar que se aprontem.

— Minha autoridade com eles é bastante reduzida, meu amor, você sabe disso. – sorriu Legolas, ainda abraçado a sua mulher, que o provocou:

— Talvez porque você seja igualzinho a todo eles! Ainda está com roupas de trabalho! Por que ainda não foi se aprontar?!

O elfo gargalhou: Amandil sempre ficava hiperativa como um esquilo, em dias de eventos sociais. Nervosa e meticulosa, revisava mil vezes cada detalhe, e punha todos a correr para ajuda-la; era um tanto enlouquecedor para os jovens, mas não para ele, que se divertia muito com a situação.

— A boa notícia – continuou ele, ignorando a “bronca” da esposa – é que Valavê e Varniel estão prontas e impecáveis, como você tanto quer.

— Ah, o que faço com vocês? – ela encostou a fronte à do marido, sorrindo feliz – vou arrancar os texugos de suas tocas e transformá-los em pessoas decentes. Encontro você em nossos aposentos, meu amor.

— Deixe Aeriel e Alassë comigo: mando as duas irem se aprontar.

— Estão no estábulo, ambas – alertou a rainha, com um último beijo em seu amado – nos vemos daqui a pouco, meu raio de sol.

O casal se separou após outro beijo apaixonado, seguindo cada um para seu lado; sem que ela percebesse, Legolas fitou sua esposa enquanto esta se afastava sob a luz do alvorecer: como era possível seu amor se tornar cada dia mais intenso e puro? Jamais se cansava de sua mulher, ela jamais o aborrecia ou entediava! Cada dia ao lado de Amandil era uma aventura, uma descoberta... Um deleite sem fim, para o qual a eternidade era apenas um breve começo.

A rainha começou pelo lago, mais próximo de onde estava, e de fato ali estava Celebrían, com seus longos cabelos negros, hipnóticos olhos amendoados com a cor do céu noturno, feições felinas e elegantes. A moça nascera de pais humanos, há quatro mil anos, e possuía o controle sobre todas as águas, doces ou salgadas, e criaturas que nelas viviam. Há cerca de mil anos decidira abandonar a vida de ser corpóreo e existir em seu próprio elemento como uma energia, mas ocasionalmente assumia sua forma original para se reunir aos irmãos de criação e aos outros que considerava sua família. Agora, nadava com graça e elegância no límpido espelho d’água escavado em  cristal, cujas águas cintilavam douradas à luz da manhã.

— Mamãe! – exclamou a jovem, feliz em ver aquela que a criara desde os cinquenta anos, quando ainda era uma menininha; saiu da água e veio abraçar a rainha, que a recebeu com o mais feliz dos sorrisos e um abraço apertado – senti saudades.

— Eu também, minha estrela-do-mar! – a elfa beijou a testa da moça – mas já não passa tempo suficiente dentro d’água? Precisa tomar um banho, aprontar-se e ajudar a preparar os retoques para a celebração das Luzes!

— Banho? Mas não acabou de falar que passo muito tempo na água? – provocou a mais moça, o que lhe rendeu um peteleco na orelha da parte da mãe:

— Você entendeu muito bem o que eu disse, Celebrían. Ande logo, pois já não tem idade para que eu a leve à força para o banho. – ela tirou uma alga dos cabelos da filha adotiva – me admira que não cuspa alguns peixes, quando vem para a terra.

A menina riu, deleitada, e acedeu ao pedido da mãe para que se aprontasse, tomando o rumo dos aposentos que lhe eram destinados. Bem, hora de procurar os outros “texugos” em suas tocas...

Amandil entrou no palácio de cristal, construído entre as enormes árvores mallörn que brotavam da montanha e cresciam em formas diversas, criando quartos, salões e torres em sua casca e interior, com galhos que se retorciam em passarelas e pontes como as que existiam no antigo reino de Lothlórien. Por um breve momento a dama sentiu-se saudosa dos tempos em que ela própria era uma jovem a dar trabalho para sua mãe, mas logo a seguir baniu tais pensamentos e subiu para a biblioteca. No caminho, deparou-se com Círdan, uma das mulheres que trabalhavam no castelo, a qual pendurava as lanternas de cristais luminosos ao longo de uma escada.

— Está tudo como previsto, Círdan? – perguntou docemente a soberana, pegando algumas lanternas e pendurando-as ela mesma.

— Estamos até adiantados, Amandil – a rainha detestava tratamentos como “majestade”, “alteza” ou “senhora”, e insistia que a chamassem apenas por seu nome, fora das ocasiões cerimoniais. – a não ser pelos “texuguinhos”. Enxotei Varniel das cozinhas, onde estava roubando torta de mirtilos, e agora a menina deve estar enchendo os corredores de flores.

— Torta de mirtilos? – perguntou a Senhora, o que fez a outra ralhar:

— Majestade! Não é nenhuma garotinha para ser pega nas cozinhas, roubando doces!

— Não seja estraga-prazeres – um lado da rainha jamais mudara com a maturidade; mantivera sempre aqueles modos travessos e puros, divertidos e gentis que tanto atraíam a todos e faziam-na ser tão amada. – bem, ainda tenho algumas crianças para mandar irem se arrumar. Mas talvez visite as cozinhas antes da festa... Apenas para ver se precisam de ajuda!

A semi-elfa meneou a cabeça, gargalhando internamente ante os modos da rainha; Amandil era muito mais velha do que a outra, e ainda assim cometia travessuras similares às de seus filhos.

A Filha das Estrelas abriu a porta da biblioteca – um ambiente amplo que ocupava três andares da Torre Sul, com grandes portas-janelas cobertas por cortinas de seda branca que esvoaçavam ao sabor da brisa cálida. O ambiente tinha um dom perolado, com móveis bege-claro de forros coloridos e desenhos de flores, animais e formas sinuosas feitos à mão pelos jovens que haviam habitado o castelo ao longo de tantos séculos. Um enorme vão central conectava os três andares, a borda protegida por um parapeito em forma de gavinhas a crescer e se enrolar um nas outras; no último pavimento, o teto de cristal deixava passar a quantidade certa de luz, tornando o espaço um dos locais mais agradáveis de toda a cidade! E no primeiro patamar, sentados juntos num divã, estavam um homem e uma mulher.

A moça, Arwen, era filha de Elladan e sua esposa, Morwen – que a haviam nomeado em honra à irmã mais moça do pai. Tinha cabelos negros e volumosos, nem lisos, nem cacheados, tão longos que quase se arrastavam pelo chão, quando soltos. Seu rosto era plácido e gentil, compassivo, e o olhar azulado parecia compreender as dores mais profundas da alma. Herdeira de Nienna, a Senhora da Compaixão, Arwen era capaz de aplacar qualquer dor da alma ou sofrimento, e as feições suaves como as de nenhum outro dos Elenië faziam sua simples visão ser já um bálsamo para as criaturas que padeciam de algum mal. Não por acaso, a dama era extremamente próxima da prima, Alassë, que nascera com dons de cura e de dobrar com palavras mansas a mais brutal das feras.

A dama estava deitada no peito de seu amado, um homem de cabelos igualmente negros e longos, trançados com grossos fios de ouro, olhar sério e compenetrado – olhos sábios, de quem testemunhara a história do mundo. Aeron, elfo por nascimento, tinha cinco mil anos e era o segundo mais velho dos Filhos das Estrelas; seu dom era extremamente peculiar, pois a ele fora concedido o dever de guardar em sua mente a história do mundo. Isso incluía a capacidade de lembrar fatos que não presenciara, e viajar em Visões que o transportavam a qualquer momento e lugar do presente ou passado para testemunhar os eventos que, posteriormente, registrava com zelo em volumes guardados cuidadosamente e copiados por escribas a cada poucos séculos. O moço abraçava a elfa com carinho e ternura, de um modo que fez Amandil se perguntar o que aqueles dois esperavam para se casar de uma vez.

— Bom dia, Aeron, Arwen – saudou a dama de cabelos castanhos, um sorriso gentil no rosto – pretendem se trancar aqui por todo o dia, ou vão ajudar a concluir os preparativos, e se arrumar decentemente? – Arwen usava camisa e saia de algodão verde, sem adornos nem peças adicionais, enquanto Aeron, sempre com trajes de escriba, tinha o casaco de linha manchado com borrões antigos de tinta – os trajes de ambos já viram dias melhores, afinal. E esses cabelos precisam ser presos, não é, minha sobrinha?

— Vamos nos arrumar, tia. – confirmou a moça – mas estava uma manhã tão agradável que nos perdemos em devaneios.

— Isso não é novidade alguma, é? – ela abraçou ambos e beijou o rosto de cada um – agora, para fora o ninho, meus pequenos texugos.

— Ainda essa história de texugos, tia? – perguntou Arwen, trançando os enormes cabelos.

— É o único animal tão difícil de tirar da toca quanto vocês, da biblioteca. – a soberana se dirigiu para a porta – vemo-nos à noite, sim? E me avisem se tiverem notícias de Nerwen, Barahir ou Anárion, está bem?

— Barahir virá?! – perguntou Arwen, com entusiasmo.

— Sim, e Celebrían está em seu quarto, arrumando-se... Ou assim espero.

— Talvez queira saber que Barahir se materializou no jardim sul, tia – informou Aeron – e Anárion está entretendo duas jovens com suas canções, nas cozinhas.

— Eu vou matar aquele mago – suspirou Amandil, erguendo a barra das saias e descendo depressa as escadas; sempre ensinara a seus protegidos que a honra, a moral e a retidão de caráter eram virtudes inestimáveis a todos, mas especialmente aos Filhos das Estrelas... Mas rapazes eram sempre rapazes, e Anárion, não obstante a aparência de homem adulto, era um dos mais jovens, com apenas mil e oitocentos anos, assim como seus irmãos Tuor e Huor. Os três eram filhos de um anão: Anárion era filho do segundo casamento, com uma elfa, enquanto os gêmeos Tuor e Huor haviam nascido da primeira relação, com uma humana... E pareciam ter herdado os modos conquistadores do pai. Ah, quando chegasse lá embaixo, ia estrangular aquele rapaz com suas próprias mãos!

Entrou nas cozinhas com semblante severo, nem um pouco lembrando a mulher que subira alegremente as escadas para a biblioteca:

— Anárion! – o mago virou a cabeça na direção de sua mentora, e deu um sorrisinho amarelo quando as duas jovens, uma meio-halfling meio-humana e uma filha de elfo e anã saltavam da bancada onde haviam estado sentadas, ouvindo as conções galanteadoras do jovem – o que está fazendo aqui, cortejando mocinhas com um décimo da sua idade, ou menos?

— Madrinha, eu... – ele não sabia o que dizer. Todas as palavras com que era tão hábil sumiam diante de sua madrinha e preceptora, especialmente ao ser repreendido diante de todos os criados nas cozinhas – não pretendia desrespeitar seus ensinamentos.

— Desrespeita mais do que meus ensinamentos: desrespeita a missão confiada por Erú a você – a elfa podia ser muito dura ao exigir retidão de seus pupilos – agora,  levante-se daí e vá se aprontar adequadamente. – o moço ia deixando o lugar com expressão envergonhada, quando a rainha suspirou e desanuviou o próprio semblante – Filho?

— Sim, madrinha? – perguntou ele.

— É bom tê-lo aqui, de novo. – ela beijou sua fronte e acariciou o rosto barbado – vá se banhar, vestir roupas limpas e fazer a barba. Se precisar que eu corte seus cabelos, é só pedir.

— Ah, vou deixar meus cabelos compridos, agora, mas agradeço, madrinha.

O bardo deixou a cozinha, e uma criada – Amandil odiava esse termo – se aproximou: Leah. Era humana, robusta e já avançada nos anos, mas Amandil sempre a veria como a criança que conhecera há cinquenta anos:

— rapazes são rapazes, senhora – a rainha revirou os olhos ante o tratamento formal, mas nada disse – não importa a raça.

— Sim, Leah, mas eles não são rapazes comuns. Jovens ou não, têm mais poder do que alguém tão jovem deveria possuir, e não podem se deixar levar por desejos levianos e caprichos tolos. A firmeza de caráter de cada um deles é minha única garantia de que... – a soberana não deu voz a seus pensamentos, mas Leah a conhecia bem:

— De que não se tornarão como Sauron.

— É. – ela suspirou, apoiada no balcão, e deu enfim um sorriso – bom, ainda tenho alguns selvagens a encontrar pelo castelo. Barahir nos jardins, e não faço ideia de onde estão Tuor e Huor.

— Eu os enxotei para o quarto há meia hora – respondeu a chefe da cozinha – estavam atormentando meus ouvidos com uma cantoria propositadamente desafinada que ia estragar todos os pratos da mesa. – a Filha das Estrelas gargalhou alto ao ouvir aquilo: apenas Leah podia, sendo mortal e com tão pouca idade, comparada aos Elenië, dar ordens e pôr algum juízo nas cabeças ocas dos mais jovens.

— Obrigada, Leah. Assim, resta-me apenas Barahir, e depois estarei livre para terminar os serviços.

— Que tal estar livre para desfrutar da companhia de seu rei, majestade? Nunca se dá um minuto de descanso que seja! Francamente, vá descansar, e deixe que nós terminamos nossas próprias tarefas.

— Tem certeza? – Amandil detestava ficar à toa quando havia outras pessoas trabalhando.

— Seu turno de trabalho é mais longo que o nosso, porque envolve gerir um reino com seu marido e ainda cuidar de todas as crianças e adolescentes daqui. Um descanso é mais do que merecido! E deixe comigo os jovens delinquentes que os moradores chamam de filhos: estarão todos arrumados e decentemente comportados ao cair da noite.

— Você é minha melhor guarda-costas, sabia disso?

— Criou-me bem, madrinha – disse Leah, enfim, abraçando a rainha – agora vá. Fale com Barahir, e depois vá ter com seu esposo! Se eu a vir trabalhando, vou me esquecer de quem é a tutora e quem é a tutelada, e a colocarei de castigo!

Com um riso agradecido, a rainha deixou o interior do Palácio e foi para os jardins da ala sul. Com efeito, sentado aos pés da fonte, vestido com camisa de linho branca, colete verde de bordados em prata, calça negra e botas de mesma cor, Barahir tocava uma flauta de Pã, completamente relaxado, os cabelos castanho-escuros cortados nos ombros adornados por um diadema masculino de prata, com minúsculas esmeraldas.

— Vejo que ao menos alguém já está pronto para hoje à noite – comentou Élalmië para o sobrinho, filho de Elrohir e sua esposa, Nimrodel. O jovem de três mil anos era doce e gentil, dono do dom de Profecia. Via o presente, o passado e o futuro, assim como as inúmeras possibilidades. Seu talento já impedira mais de uma guerra, dizendo aos outros Elenië onde e quando eram necessários para evitar o pior. Ele se ergueu com um sorriso no rosto meigo, de queixo quadrado e sobrancelhas retas que sempre assustava sua tia pela similaridade extrema com o do pai. Enlaçou-a num abraço e beijou o rosto de sua parente:

— Senti saudades, tia!

— Digo o mesmo, meu menino – ela se afastou – está muito bonito! – de fato, Barahir sempre fora vaidoso, desde menino, e costumava estar sempre bem-vestido e apresentável.

— Obrigado, minha senhora. – ele lhe beijou elegantemente a mão da mulher – agora, tia... Onde está minha prima, Gilraen?

— Interesses escusos nela, senhor? – ela riu ao ver o modo como seu sobrinho corou – sua prometida está se arrumando. Vai descer logo e, se a conheço, estará desenhando algo novo para o Palácio das Luzes, no ateliê ou nas torres de observação.

— Obrigado, tia. Com sua permissão...

— Vá, meu jovem. – a rainha viu seu protegido desaparecer, e tomou então seu caminho para os próprios aposentos. No caminho, pensava em suas quatro filhas: Alassë, a pequena joia de alegria que dominava as artes da cura, loira como o pai e compenetrada em seus deveres como ele, com seus cinco mil anos; Gilraen, a segunda filha, de cabelos negros como os do avô materno e tios, cacheados como os da tia, e em absolutamente tudo idêntica a Arwen Undómiel, sempre gentil, delicada, cheia de criatividade e poesia em sua alma luminosa. Era uma criadora, alguém que fazia jorrar de sua alma toda sorte de beleza, repleta de um gênio inventivo que faria inveja a qualquer anão de todas as Eras; Nerwen, a misteriosa e insondável Nerwen, senhora das coisas vivas, controlava plantas e animais. Muitas vezes dissipava a própria forma física para estar mais próxima ao ambiente natural que tanto amava, e a mãe já não se espantava com seus atrasos e desaparecimentos... Para a elfa de cabelos cor de mel e espírito de águia, os deveres sociais eram um aborrecimento sem fim. E finalmente havia Aeriel, a mais moça, maga de dons invejáveis, capaz de reter em sua mente cada históia de um livro ao lê-lo apenas uma vez, e gravar cada nota de uma canção, mesmo que a tivesse ouvido uma única vez há muitos anos. Aeriel, a jovem artista que preservava na memória as criações de tempos antigos. Suas filhas. Seus preciosos tesouros, frutos do amor incondicional por seu rei e esposo, Legolas Thranduilion.

Entrando em seus aposentos, constatou que Legolas ainda não estava lá, e decidiu e banhar enquanto esperava. Há quanto tempo, afinal, não tomava um banho demorado, com pétalas de flores e sais perfumados? Talvez Leah estivesse certa e precisasse mesmo, agora que os jovens Elenië já eram adultos, aprender a relaxar outra vez.

Encheu a banheira, misturando sais de jasmim e pétalas da flor à água quente que desprendia vapores, despiu-se e entrou no banho, deixando que o líquido fumegante agisse em seu corpo, relaxando-a. Deitou-se contra a borda da banheira e sentiu a luz que penetrava através do cristal envolve-la com o mesmo calor da água; de olhos fechados, desfrutou daquela sensação de paz, tentando ignorar a suave pontada em sua mente que tentava convencê-la de que havia algo errado. Não, nada estava errado. Hoje, nada poderia estar errado, pois toda a sua família estaria mais uma vez reunida.


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Notas finais do capítulo

É isso! Próximo capítulo virá com a Festa das Luzes, está bem? Nos vemos dia 18!
KISSES!



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