Você é meu mundo escrita por Blue Butterfly


Capítulo 3
Um mundo de máscaras


Notas iniciais do capítulo

Um pouco de fluff pra começar - afinal, segundo minha beta já tem desgraça suficiente nessa história.



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—Onde está?

—O que?

—A luz que mostra a continuação da viagem, eu preciso…

—Não, Watanuki, você não precisa. Ficar preso a um único mundo não deixará que você veja o que há nos outros.

—Mas…

—Conhecimento é obtido observando. Sabedoria é obtida sabendo do que desapegar e quando desapegar. Por hora, vamos deixar que eles continuem a viagem sem nós, outras coisas pedem nossa atenção, outros mundos com outras situações e que tem muito para nos ensinar. Como essa adorável luz dourada.

—Que mundo é esse?

—O lugar é chamado Inglaterra, parece a nossa Inglaterra do século XIX, porém nesse mundo não há magia.

—Como é possível…?

—Apenas toque a luz, Wa-ta-nu-ki.

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A orquestra tocava uma música suave, um belo fundo para uma valsa, risos discretos eram ouvidos enquanto taças de champagne tilintavam entre os convidados. O baile de máscaras, um dos eventos mais esperados daquele verão, atendeu às expectativas mais exigentes das belas damas e cumpriu a promessa de diversão, requinte, elegância e variedade. Moças de todos os tipos, nas mais diferentes fantasias, desfilavam no imenso salão, enquanto jovens cavalheiros escolhiam sua favorita.

O duque estava observando com alegria toda aquela agitação, amava festas, as danças, as trocas de olhares, os inícios e rompimentos que uma simples valsa podia trazer, além das roupas suntuosas – como o fantástico conjunto azul e prata que ele trajava para aquela ocasião, ornando perfeitamente com a máscara simples e delicado que cobria parcialmente seu rosto, deixando a mostra os lábios delicados e vermelhos e os doces olhos azuis.

Ao seu lado, o barão e sua irmã observavam a cena com diferentes reações, a menina, uma coisa graciosa e pequena num lindo vestido rosa, mal parava quieta, animada demais com todas as luzes, melodias e sabores que impregnavam o ar, era seu primeiro baile, a ocasião em que deveria ser apresentada oficialmente a sociedade. O barão não estava ajudando muito, com a postura rígida e o olhar rancoroso, o homem afastava qualquer um que chegasse muito perto.

—Meu irmão, se continuar olhando feio para todos, ninguém me tirará para dançar – a jovem choramingou quando o quarto rapaz se afastou após receber o olhar mortal do barão.

—E por que isso é mau?

O duque sorriu, tinha um carinho especial por aqueles dois, mesmo que estivessem em níveis bem diferentes de nobreza, os irmãos eram sua família desde sempre. O sorriso do duque ficou ainda maior quando viu um jovem se aproximar, cabelos brancos, uma roupa que misturava com perfeição as cores cinza e branca, pequeno e gracioso como somente o príncipe e futuro rei conseguia ser. Um breve olhar no barão provou que o homem tinha visto o rapaz também, que outro motivo teria para o rubor violento que tomava sua pele?

Era a deixa para o duque divertir a pequena, ficando em sua frente, ele elegantemente se inclinou e lhe estendeu a mão.

—Minha princesa, posso lhe pedir esta dança?

A menina corou mais que o próprio irmão, um sorriso gigantesco tomando sua face. Ela olhou para o barão, esperando permissão, mas o rapaz estava concentrado demais na pessoa que se aproximava para perceber qualquer coisa ao redor. O duque desconfiava que nem mesmo um incêndio faria o barão olhar em outra direção.

—Vamos fugir e dançar, princesa, antes que ele perceba – o duque brincou.

A menina riu, tomando a mão que lhe era estendida e indo finalmente realizar seu grande sonho. O rapaz era um esplendido dançarino, sabia levar a garota com delicadeza, compensando sua inexperiência e nervosismo com movimentos fluidos e suaves, eles tiravam o fôlego de algumas jovens e atraiam olhares cobiçosos de alguns cavalheiros, o que era, afinal, a intenção daquele baile.

Quando a terceira dança deles acabou, o duque preferiu parar e beber algo – e assim permitir que algum jovem mais corajoso aproveitasse da distração do barão, levando a pequena agarrada em seu braço. Eles estavam atravessando o salão quando uma voz clara e cheia de admiração surgiu.

—Está tão graciosa, Sakura.

A irmã do barão congelou, assim como o duque, os dois viraram em choque, encarando com incredulidade a garota que proferira o elogio.

—Tomoyo!

As duas meninas se abraçaram com força, como se fosse o último dia de suas vidas. Há mais de três anos que elas não se viam, a última vez que se abraçaram foi no dia em que Tomoyo e seu irmão estavam partindo para o campo, após o acidente que matou seus pais.

—Tomoyo, eu mal posso acreditar…

—Sakura!!!

A confraternização estava chamando mais atenção do que o devido, o duque devia orientar as meninas a não fazer tanto escândalo. Isso é, se ele estivesse prestando atenção nelas. Tudo o que o duque podia enxergar naquele momento era o homem enorme, vestido de vermelho e preto, usando uma máscara elaborada que deixava a vista apenas os olhos de sangue. Como se o duque precisasse de algo a mais para reconhecê-lo.

—Conde – o loiro se forçou a pronunciar, incerto se sua voz estava tão segura quanto ele queria.

—Duque – o homem enorme devolveu num tom sério – Tomoyo, se controle, ou vamos para casa – acrescentou olhando para as duas meninas.

Um sorriso amarelo foi divido pelas damas, o que teria feito o duque rir se ele estivesse atento. As meninas se acalmaram, conversando entre si num tom ameno. Os dois homens continuaram se encarando em silêncio, olhos azuis ganharam um brilho triste, o sorriso do duque sumiu e mesmo com a máscara o conde notou a expressão perdida no homem loiro. Foi o conde quem quebrou o silêncio.

—Duque, o senhor poderia me conceder um pouco de sua atenção, por favor?

—Claro – o duque gaguejou, não adiantava tentar, sua voz estava tremendo e ele não podia fazer nada a respeito – Permita-me levar Lady Sakura de volta ao barão e então podemos conversar.

Desnorteado, o loiro deu as costas para o outro, buscando sua pequena que não estava muito longe. Entretanto, antes que ele desse o segundo passo uma mão firme segurou seu braço, prendendo-o no lugar. Um arrepio familiar percorreu o corpo do duque conforme um odor de chá e suor invadia suas narinas.

—Fay… Digo, duque. Por favor, minha irmã poderia acompanhar Lady Sakura enquanto estivermos conversando?

O duque se virou, a boca entreaberta em espanto e uma vontade louca de gritar. Rapidamente o conde o soltou, retendo suas mãos para si mesmo, um olhar arrependido em seu rosto.

—Desculpe, não devia tê-lo tocado, senhor.

—Você não devia era estar aqui – Fay soltou num gemido atormentado.

Sem esperar uma resposta ou ver a dor que cruzou os olhos do conde, o loiro tomou Sakura pela mão e a puxou para longe dali, Tomoyo os seguindo em completa confusão após seu irmão fazer um gesto para que ela os acompanhasse.

—Fay? Qual o problema? – a moça perguntou, surpresa com a dor evidente no rosto do nobre.

O duque era um homem que sabia muito bem manter sua fachada, poucas coisas o fariam quebrar o sorriso doce e os bons modos, por isso vê-lo perder o controle de suas emoções daquela maneira era uma experiência dolorosa. Foi fácil achar o barão, ele estava no mesmo lugar de antes, que era um lugar mais recluso, ouvindo com rubor e encanto o que o jovem vestido em cinza e branco tinha para contar. A conversa foi interrompida com a chegada dos três, um sorriso absolutamente feliz e bondoso pareceu no rosto do homem de cabelos brancos quando viu Sakura.

—Vossa Alteza – Fay cumprimentou com uma discreta reverência – Barão, eu poderia deixar aos seus cuidados as duas damas?

O barão encarou a segunda moça com surpresa, seu olhar voltando rapidamente para o duque e captando as ondas de desespero que emanavam de seu corpo.

—Vá, eu cuidarei delas – garantiu.

Ele não esperou uma segunda garantia, o conde estava por perto, olhando atentamente o destino de sua irmã e esperando pela conversa. Estava nervoso, odiava festas e lugares cheios de pessoas, era um homem prático, do campo, não servia para a vida agitada da realeza. A única razão que o trouxera até ali era o homem loiro, o homem que ele não via há mais de três anos.

Os dois caminharam para fora em silêncio, mantendo uma boa distância entre si. Só pararam quando tiveram certeza que estavam sozinhos no imenso jardim da casa anfitriã. O duque escolheu uma árvore para reclinar o corpo e esperou, ele não queria ouvir o que seria dito, porém não queria se ver livre do outro, não de novo, e não tinha nada que pudesse dizer, então era melhor ouvir.

—Eu ia procurá-lo amanhã – o conde começou – Todavia, Tomoyo insistiu em vir a este baile depois que soube que Lady Sakura estaria aqui, então precisei acompanhá-la.

Ficaram em silêncio, o conde não dava indício de que continuaria falando e o duque sabia que se não fizesse algo, eles continuaram assim.

—Quando chegou?

—Hoje cedo. Estávamos arrumando as coisas quando a notícia do baile chegou até Tomoyo. Só Deus sabe como ela descobre essas coisas.

Era para ser uma piada, mas nenhum deles riu.

—Eu tenho o dinheiro – o conde soltou de uma vez – Se for possível, gostaria que me acompanhasse amanhã ao banco para que possa fazer seu pagamento, senhor.

O duque não respondeu, seu coração estava pesado, por três anos ele se perguntou o que tinha feito de errado e agora ele via. Entretanto, isso não diminuía o peso.

—Eu não deveria ter lhe emprestado meu dinheiro – Fay murmurou mais para si mesmo do que para o outro.

—Eu disse que ia lhe devolver tudo o que emprestei e o farei. Amanhã. Eu sinto se demorei tanto tempo para liquidar minha dívida…

—Você nunca vai pagar sua dívida – o duque gritou com raiva.

Aquilo ofendeu profundamente o conde, ele era um homem de palavra, se ele dizia que pagaria uma dívida, ele certamente o faria. O outro devia saber disso.

—Tenho certeza que posso devolver…

—Três anos longe? – o duque interrompeu com a voz embargada – Você pode devolver isso? Pode devolver três anos em que passei me amaldiçoando por ter permitido que você fosse embora? Eu não emprestei o dinheiro para que você fosse para sabe-se lá onde e me abandonasse!

—Eu estava falido – o conde gritou em resposta – A morte dos meus pais revelou que minha família estava no buraco, não tinha como arcar sozinho com o custo de vida de uma cidade como Londres, Tomoyo precisava ser afastada para que não sofresse a vergonha que a pobreza traz. Eu tive que partir para reconstruir minha herança, para garantir que Tomoyo teria a vida de uma Lady.

—E quem disse que você estava sozinho? Quem disse que Tomoyo teria que passar por qualquer tipo de privação? Eu teria te dado o mundo se você quisesse.

—Que tipo de homem eu seria se tivesse aceitado tal proposta? – o conde perguntou num tom arrasado.

—O homem que estaria comigo nos últimos três anos. Que ficaria do meu lado quando meu irmão adoeceu por causa da peste e morreu. O homem que você jurou que seria quando perdi meus pais.

Lágrimas transbordavam dos olhos azuis, deixando a máscara úmida, eram lágrimas guardadas há muito tempo, lágrimas que ele não tinha derramado no enterro do irmão, nas noites de solidão, quando o segundo ano sem uma notícia sobre o conde chegou…

—Eu nunca quis seu dinheiro – o moreno sussurrou.

—E eu nunca pensei que você quisesse. Por isso eu teria dado ele todo a você. Mas você sempre tão teimoso, sempre achando que podia fazer tudo sozinho, sempre tentando defender a todos à sua maneira, sem querer uma segunda opinião, impulsivo, tolo, idiota, se doando mais do que poderia…

As palavras jorravam com violência e libertação, era preciso abrir o coração, contar tudo o que o fazia ser mais pesado e menos livre. O acalmou. O libertou.

—E você? – o conde respondeu quando o outro se calou exausto – Você que sempre quer resolver as coisas da maneira mais simples, que vive atrás de uma máscara dizendo que está tudo bem, você que se fecha em si mesmo e não deixa ninguém chegar perto, você que anda com a família do barão por que eles não fazem perguntas embaraçosas que você nunca responde, você que mente o tempo todo por medo de que alguém veja o que há por trás desse título de duque, você que tem medo de ser feliz e prefere viver fingindo. Você, seu tolo bastardo, que nunca me deixaria lutar por conta própria, mesmo que meu orgulho precisasse disso.

—Seu orgulhoso estúpido – o duque murmurou, se jogando no chão e enterrando a cabeça sobre os braços.

—Seu idiota mimado.

Porém o tom do conde era carinhoso e aliviado, ele não tinha ideia de como seria o encontro deles, temia que o perdão nunca mais seria estendido à ele. Ao que tudo indicava, ele ainda tinha uma chance. Sem se importar em sujar a roupa recém-feita pela irmã, ele se ajoelhou frente ao outro homem, com cuidado tocou os cabelos loiros, suspirando com a textura macia que encontrou, achava que os tinha na memória, entretanto agora via como estava enganado, eles eram mais brilhantes, mais sedosos, mais suaves do que qualquer lembrança que ele trazia. Seus dedos percorreram o couro cabeludo, até achar a fita de seda que prendia a máscara ao rosto.

—O que está fazendo? – a voz abafada do duque surgiu.

—Preciso ver seu rosto.

Uma resposta simples, típica do homem que tinha dificuldade com as palavras. Ele desfez o laço e depositou um suave beijo nos fios dourados, suspirando ruidosamente com o cheiro de creme e morango sempre presente no duque.

—Você ainda tem o mesmo cheiro – murmurou feliz.

—Você também.

—Fay, por favor…

Lentamente o duque ergueu a cabeça, a máscara perdida em seus braços. Um rosto pálido e delicado apareceu, levemente corado por lágrimas. Dedos calejados tocaram aquela pele com adoração, Fay fechou os olhos fingindo que os últimos três anos nunca tinham acontecido, permitindo seu coração acelerar só mais uma vez, se apaixonar por aquele homem só mais uma vez, acreditar em seu amor só mais uma vez.

—Eu… – o moreno começou.

—Cale a boca. Só por um momento fique quieto e me deixe acreditar que tudo ficará bem.

O conde não discordou, depositou mais um beijo nos fios loiros, respirando profundamente aquele perfume único que o atormentara todas as noites. Sua roupa já estava começando a umedecer pela neblina grossa que invadia o jardim quando o duque finalmente reagiu, por melhor que fosse a máscara que cobria o rosto do conde, enquanto Fay não visse sua verdadeira face nada daquilo pareceria real. Ele ergueu uma mão, deixando seus dedos enroscarem no cabelo preto antes de ir até o laço que prendia a máscara. Um aperto firme parou seu gesto bruscamente.

—Não – Kurogane grunhiu.

—Eu quero ver seu rosto – Fay pediu tentando se livrar do aperto.

—Eu disse que não. Por favor – acrescentou por mera formalidade.

O duque era um homem equilibrado e senhor de suas emoções. Ele sabia receber um não e sabia que era impossível ter tudo na vida. Só que naquela noite, com suas emoções em um turbilhão confuso e descontrolado, aquela negativa o fez perder a cabeça.

—Vá ao inferno – o loiro gritou revoltado – Você some por três malditos anos, aparece como se tudo estivesse bem e agora não quer me mostrar seu maldito rosto?

—Você não entende…

—É claro que eu não entendo. Você sempre se gabou por ser simples e direto, mas na verdade você foi o mais confuso entre nós dois e continua sendo. Inferno, por que não posso ver o seu rosto?

—Você o verá amanhã – o conde respondeu com resignação.

—Então por que não me mostra hoje?

—Porque quero acreditar, nem que seja só por uma noite, que eu ainda sou digno de ficar do seu lado.

—Quem decide isso sou eu!

E com mais força do que o conde achou que o duque um dia teria, ele se livrou do aperto de ferro e puxou com força o laço de seda preto, a máscara caindo no chão com um baque surdo. O rosto por trás da máscara fez Fay arquejar, recuando instintivamente.

—Seu rosto… O que lhe aconteceu?

O conde baixou a cabeça, mesmo assim ainda era possível ver a pele de mais da metade de sua face totalmente destruída e deformada, o semblante de um monstro.

—Quando a peste acabou seu extermínio aqui em Londres, a praga foi para o campo, estávamos lá há dois meses quando as primeiras pessoas ficaram doentes. Eu consegui manter Tomoyo afastada e protegida, mas não tive tanta sorte. O médico disse que eu morreria em algumas semanas.

—Você não morreu – Fay sussurrou de onde estava.

—Eu não podia. Eu tinha que voltar para você.

Palavras sinceras e diretas que sempre levaram a melhor com o duque, o loiro abandonou o olhar da pele deformada e focou sua visão nos olhos ensanguentados, os mesmos olhos que o levaram a se apaixonar e que permaneciam tão belos como da primeira vez que ele viu o moreno.

—Teimoso – e um sorriso fraco, acompanhado de mais lágrimas, surgiu.

—Eu demorei muito tempo para me recuperar, só soube do seu irmão depois que o funeral tinha ocorrido e que você tinha se abrigado com a família do barão. Eu pensei em voltar, porém as coisas começaram a dar certo para mim e comecei a ganhar dinheiro. Eu tive que decidir: se ficaria e venceria por mim mesmo, ou se voltaria e imploraria para que me sustentasse.

—Não foi uma escolha tão difícil – o loiro sussurrou com tristeza.

—Na verdade, foi. Por que quando se trata de você, nós dois sabemos que meu orgulho definha.

Foi o que o duque precisava ouvir, num gesto abrupto ele se jogou no homem maior, o abraçando com todas as forças que tinha, sem se importar com a face monstruosa maculando o rosto daquele que fora o mundo para Fay.

Eles tinham se conhecido num baile de máscaras quando eram apenas garotos, Fay estava se divertindo enormemente enquanto o pequeno conde, que na época não tinha o título e atendia pelo simples nome de Kurogane, olhava inquieto o relógio esperando que tudo aquilo terminasse e ele pudesse retornar para a tranquilidade de seu quarto.

Os dois se esbarraram, Kurogane manchou a roupa de Fay com suco e então eles começaram a conversar – ou melhor, Fay começou a falar pelos cotovelos enquanto Kurogane permanecia quieto, ouvindo com interesse aquele menino sorridente e hiperativo.

A primeira vez que deram as mãos foi num piquenique no jardim da mansão Fluorita. O primeiro e desastroso beijo foi no dia em que Fay se afogou no lago e Kurogane o salvou. A primeira briga… Foi no primeiro encontro quando o loiro deu um apelido para o moreno, e a primeira reconciliação também foi no mesmo dia.

—Kuro-king – Fay ronronou agarrado ao moreno, um péssimo hábito que fazia o conde se arrepiar por completo.

—Meu nome é Kurogane, seu tolo.

—Detalhes – desfez – Você vai ficar?

A pergunta era praticamente uma súplica.

—Você quer que eu fique? Mesmo com este rosto?

—Como se eu me importasse com isso. É verdade que você sempre me atraiu com sua beleza única, todavia o que me fez querer permanecer ao seu lado por todos os dias de nossas vidas foi o homem que você se tornou com o passar do tempo. Porque mesmo sua teimosia é uma prova que você é forte e está disposto a lutar pelo que quer, mesmo achando que pode fazer tudo sozinho eu sei que você só está tentando cuidar dos outros que estão ao seu redor, e mesmo quando não aceita uma segunda opinião, eu quero que saiba que vou te apoiar nas suas decisões e vou permanecer do seu lado ainda que cometa um erro, desde que elas não te levem para longe de mim outra vez.

Rubor tomou as faces do conde e ele suspirou. Ao inferno tudo de ruim que tinha acontecido nos três anos em que estavam separados, ele não ia mais embora. E se tivesse que ir, arrastaria o loiro com ele, nem que fosse para o fim do mundo.

—Se houver água quente, eu aceito – Fay garantiu com um sorriso suave.

—Eu pensei em voz alta de novo? – Kurogane perguntou, já ficando envergonhado.

—Sim, Kuro-king.

—Idiota.

Continuaram abraçados. Haveria tempo para mais, para beijos, toques, carícias e tudo o que passasse por suas mentes. Ali eles apenas queriam ficar juntos e em silêncio, ouvindo o coração um do outro bater. Teriam que conversar melhor, brigar um pouco, derramar algumas lágrimas e deixar toda a raiva e solidão aparecerem e partirem até que as coisas estivessem completamente bem entre eles. Também precisariam tomar cuidado e manter as coisas com discrição, chamar a atenção não era o intuito de nenhum deles no momento e nem no futuro.

Aquilo, entretanto, poderia esperar, o mundo inteiro poderia esperar, a única coisa que era urgente era aquele abraço.

—Você falou sério sobre me dar o mundo, se eu te pedir? – Kurogane sussurrou, parecia impróprio erguer a voz ali.

—Tão sério quanto minha vida.

—Ótimo. Então você sempre será meu.

Fay riu, beijando o ombro forte do conde.

—Você também é meu mundo, Kuro-king.

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—Isso foi completamente estranho.

—Um Kurogane doce é um tanto diferente, não é? A criação em uma corte muda o comportamento de alguém. Se os dois não fossem da realeza, é bem capaz que nem se conheceriam.

—Eu ainda tenho uma dúvida. Como Fay pode existir num mundo que não há magia, se ele é um mago?

—Por que a magia de Fay não define quem ele é, assim como o fato de pertencer a uma corte também não.  Nesse mundo os dois eram da nobreza, mas em outros eles não precisam ser, porque isso não muda quem eles são. Não prestou atenção no que eles disseram um para o outro.

—Que Fay era mentiroso, que ele se fechava, que Kurogane era teimoso, que queria fazer tudo sozinho… No fim, eles ainda eram eles.

—…

—Eles não vão mudar, não é? Não importa o que aconteça? No fim, eles serão exatamente iguais.

—Parece que você não é tão tolo, Wa-ta-nu-ki.


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Notas finais do capítulo

Até quinta feira. E sintam-se a vontade pra comentar tá.



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