Você é meu mundo escrita por Blue Butterfly


Capítulo 2
E a viagem vai começar


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, como prometi ^^
Yukko leva Watanuki ao local onde todos os mundos estão para que eles comecem sua viagem.



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—Isso é… Isso é…

—Todos os mundos, cada pequena luz representa um mundo em determinada época, em alguns você encontrará magia, em outros dragões, em alguns só haverá crianças e em outros não terá humanos. Basta tocar uma luz e você poderá ver um pouco desse outro mundo.

—Mas, são tantas luzes…

—Sim, pois são muitos mundos. Embora as pessoas que habitam os mundos são as mesmas. Menos em Naid, lá não há humanos.

—Como assim?

—Não importa o mundo, as pessoas que fazem parte dele também fazem parte de outro. Mesmo que em condições absolutamente diferentes. Você lembra o que eu disse sobre os diferentes mundos?

—Sim, foi quando Shoran-kun e os outros vieram pela primeira vez.

—Exato, Watanuki, toque essa luz marrom bem a sua frente.

—...

—...

—Mas o quê???

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Água escorria por seu rosto enquanto ele se erguia da enorme piscina, Chi, uma bela criatura feminina, branca e loira, correu para o rapaz, ela fora criada para servi-lo e confortá-lo, por isso permanecia ali. O rapaz sentou na beirada, deixando os pés na água por alguns minutos até sua respiração normalizar, estava fraco depois de lançar um feitiço tão poderoso, seus cabelos loiros e úmidos colavam em sua testa pálida, um pequeno filete de sangue percorria seu rosto, mas ele não se importou, logo pararia de sangrar, a magia o curaria como sempre tinha feito até ali.

—Fay?

Ele ergueu a cabeça e sorriu para ela, a criatura era tudo o que tinha restado daquele mundo, além dele e do homem que dormia profundamente na piscina – e que se tudo desse certo, permaneceria por muito tempo dormindo.

—Eu tenho que ir – ele anunciou ficando de pé.

Ainda estava exausto, porém não tinha tempo, o homem na piscina não era fraco, na verdade o fato de só ter três pessoas naquele reino era prova de quão poderoso aquele homem tinha se tornado. Além disso, Fay era uma peça de um jogo de xadrez, um peão que seguia ordens, a coisa mais importante de sua vida dependia dele, dependia de sua obediência e capacidade teatral. Ele cumpriria as regras e teria o seu sonho realizado, nada ficaria em seu caminho, muito menos o amaldiçoado peão da bruxa.

Fay quase riu, sim, era um peão amaldiçoado, um guerreiro que recebeu uma maldição de sua princesa antes de ser mandado para longe de casa, que teria que vagar sem rumo numa aventura que nem era sua, proteger uma princesa que não era a sua, para depois ser tirado do jogo como a simples peça de xadrez que ele realmente era. Não importava se ele era forte, se ele era bom estrategista ou se era cativante, Fay era poderoso, o primeiro mago do reino de Ceres, aquele que comandava tropas e arquitetava as vitórias, além de infernalmente cativante.

A maior maldição daquele guerreiro não seria o gesto de uma princesa tola, mas estar no caminho do loiro.

—Sempre trazendo maldição a quem está ao meu redor, bem vindo ao meu inferno, peão da bruxa.

Com essas palavras, o mago desenhou as runas no ar, um sorriso confiante em seus lábios enquanto uma máscara inocente e doce tomava sua face. Belo como um anjo, destruidor como um demônio, trazendo um sorriso puro para esconder uma alma violada. Fay D. Fluorita. O mago de Ceres.

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Houve duas ocasiões em que a vida inteira do homem passou por seus olhos. A primeira foi quando viu uma mão sair da parede empunhando uma espada e matando sua mãe. A segunda foi quando o maior oni de todos os tempos, o oni que matou os melhores guerreiros de Suwa, que matou o melhor guerreiro, apareceu em sua casa para devolver a espada de seu pai. Junto com o braço dele.

Nas duas ocasiões não era exatamente a sua vida que estava em risco, o que estava em risco era aqueles que ele amava, quem ele queria proteger, quem era importante. Então, quando ele viu sua vida passar em frente aos seus olhos pela terceira vez, ele percebeu que realmente tinha gostado daquela princesa. Mesmo que a vontade de bater na pequena garota fosse imensa.

As suas últimas palavras não foram de todo doces, na verdade ele tinha ofendido a menina com nomes sujos, porém a culpa era dela, só porque ela tinha magia não significava que ela poderia mandá-lo para sabe-se lá onde, e muito menos amaldiçoá-lo. Ela estava exagerando, ele não tinha feito nada de errado, só estava tentando protegê-la, já que não havia ninguém suficientemente capaz de fazer isso.

Perder metade de sua força caso matasse algum idiota. Era muita bobagem, ele não matava sem necessidade, como a menina tinha tantas vezes dito, ele matava quem tinha que ser morto, e ela deveria confiar em seu julgamento. Não é como se ele fosse levar cada possível assassino até sua princesa e perguntar o que ela achava deles. Conhecendo Tomoyo, era bem capaz dela costurar roupas para eles ao invés de condená-los. Alguém tinha que fazer o que precisava ser feito, e esse alguém era Kurogane.

O guerreiro queria ser forte, cada vez mais forte, era a sua força que protegia sua princesa e o castelo, protegia sua nova casa e sua nova razão para permanecer vivendo, e para ser forte ele tinha que desafiar todos que pudesse, até ter certeza que não haveria nenhum oni amaldiçoado e nenhuma mão na parede para tirar aquilo que ele deveria proteger.

—Por que você quer ser forte?

Ele ainda podia ouvir a voz de seu pai no dia em que fez essa pergunta. O pequeno Kurogane, um garoto tolo que vivia subindo em árvores, disse que seria forte para ser como o pai e proteger sua mãe. Ele estava tão errado. Agora sabia, ele queria ser forte para não ter nada mais tirado de si, não ia perder de novo, não podia, se ele quisesse proteger alguma coisa ele mataria, torturaria, caçaria, destruiria quem estivesse no caminho, com ou sem maldição.

Não deixava ninguém chegar muito perto, não era um herói, ele não era bom, era apenas humano e tinha defeitos, não queria salvar o mundo, e se pensasse a fundo não queria salvar merda nenhuma. Só não queria perder.

Enquanto a magia que o levaria para longe chegava ao fim, ele viu o rosto de sua princesa pela última vez, uma promessa silenciosa brilhando em seus olhos vermelhos.

“Eu vou voltar. Não importa como. E vou recuperar tudo o que você está me fazendo perder”.

Olhos ensanguentados como de um oni, um corpo enorme incrustado de músculos duros e definidos, um sorriso perverso sempre que lutava e a necessidade de ser mais e mais forte. Deixando o passado de lado e se preocupando com o futuro, vivendo para vencer e não se contentando com nada menos do que isso. Kurogane Suwa. O guerreiro da princesa.

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—Eu quero voltar para o lugar de onde eu vim.

—Eu não quero voltar para o lugar de onde eu vim.

Os dois homens se encararam mais uma vez, o loiro sorriu ainda mais, o que apenas irritou o moreno, eles eram absurdamente diferentes, não precisava ser inteligente para ver que vinham de mundos diferentes, aquela pele doentia, que nunca foi exposta ao mínimo raio de sol, aqueles modos delicados e floreados que confundiram inicialmente o guerreiro sobre o gênero da criatura sorridente, nada daquilo pertencia a Nihon ou a qualquer lugar real.

“Eu nem tenho certeza se ele consegue segurar aquele bastão cheio de cristais por muito tempo”.

A careta de Kurogane se aprofundou, ele sabia quando um peso morto era posto a sua frente, muitas vezes Tomoyo pedira para ele treinar alguns estúpidos que se achavam bons por conseguir segurar uma espada sem cair por causa do peso dela. Se esperavam sinceramente que aquele homem loiro fosse capaz de ajudar na viagem, então a tal bruxa maldita estava mais bêbada do que ela parecia. Não havia força naquele corpo, muito menos determinação, um golpe e ele iria para o chão. E o pior de tudo: ele era um fugitivo!

Covarde e fraco, o que de bom poderia vir dele? Fora que havia algo errado no sorriso eterno que pairava em seus lábios, lembrava a expressão de alguns nobres quando eles queriam agradar Tomoyo, nessas ocasiões a princesa sempre recitava que um sorriso falso vinha de um coração falso. Se assim fosse, o loiro era a coisa mais falsa do mundo.

Por trás do sorriso, o mago percebia quão diferente era o outro homem, ele nunca tinha visto olhos ensanguentados antes, nem um cabelo tão espetado e rebelde, os modos bruscos e o linguajar decadente já era esperado, era um homem bruto, cheio de cicatrizes de batalha, devia ter passado a vida em meio às tropas e a outros homens igualmente rudes.

—Um filhote de cachorro irritadiço – Fay suspirou sem ser ouvido pelos outros.

Bastou um simples olhar para ver do que se tratava a maldição imposta ao guerreiro, o que fez o mago rir para si mesmo, era tão patético, um guerreiro que não podia matar não era realmente um guerreiro, se quer era um oponente. Não que Fay fosse livre de maldições, porém, pelo menos ele ainda podia lutar. Desse jeito as coisas não seriam divertidas, por isso ele finalmente decidiu: não usaria sua magia enquanto estivesse naquela viagem, isso ajudaria tanto a manter Ashura dormindo como traria alguma emoção àquela aventura, fazia algum tempo desde que ele dependera exclusivamente de seu corpo e de sua habilidade para luta.

O mago olhou para as duas crianças no caminho dele e do moreno, a garota não duraria muito mais tempo, estava morrendo lentamente nos braços do rapaz que a segurava com tanta força que com certeza daria a garota algumas contusões. Ah, o amor jovem, Fay não lembrava quando fora a primeira vez que ele o sentira – na verdade, ele duvidava se um dia sentira amor. Mais uma vez riu para si mesmo, aquela deveria ser uma princesa como todas as outras, cheia de vontades e mimos, querendo que todos as servissem e a protegessem. Se dependesse do mago, ela esperaria sentada o dia em que ele se ajoelharia para ela e a aceitaria como sua princesa.

Os dois adultos viajariam por causa daquelas crianças, eles estavam lá por elas, de certa forma, os dois jovens eram o meio. Entretanto, também podiam ficar no meio e atrapalhar quando o loiro tivesse que agir.

Matar crianças não estava em sua lista de coisas favoritas, porém ele não recuaria quando chegasse a hora. Nada era mais importante que seu sonho.

Igual ao mago, Kurogane deu uma boa olhada nos mais jovens, gostando de certa forma do que viu. O menino estava segurando a garota direito, mantendo-a aquecida e bem protegida, era a mesma forma que ele teria assumido se estivesse sem uma espada frente a um exército inimigo com Tomoyo ferida. Não que um exército fosse o bastante para parar o guerreiro. Não tomou tempo observando a garota, ele não era muito bom em mimar princesas, só que o jeito que o menino estava cuidando da sua princesa fez o guerreiro entender que ela não deveria ser de todo mau. Poucos soldados estavam dispostos a morrer de verdade pela família real, se aquele pirralho estava lá, era porque a sua princesa valia a pena. Kurogane teria feito o mesmo por Tomoyo e ela valia a pena.

Mas aquela não era sua princesa e ele não tinha porque lutar por ela, se para voltar para casa ele precisava viajar com aqueles três, ele o faria, só que não os ajudaria nem atrapalharia, não era seu problema e ele não bancaria o herói, ele não era o guerreiro honrado que protegeria os mais fracos, fraqueza não era uma virtude, era uma vergonha, se aquele moleque não estava pronto para defender sua princesa, ele não deveria nem ter começado aquela viagem. E se aquele loiro começasse a dar trabalho e dificultasse as coisas, Kurogane estaria pronto para mostrar como a fraqueza era tratada em Nihon.

O preço exigido foi caro, nenhum deles realmente queria pagar, mas era isso ou nunca poder realizar seu sonho, por isso eles entregaram a espada, a tatuagem e as lembranças. De tudo que foi entregue, Fay achou que as lembranças foi o maior preço, não por um motivo emocional e caridoso, mas porque significava mais trabalho para ele. A viagem era para recuperar as lembranças da princesa conservadas na forma de penas, TODAS as lembranças, para isso o garoto e o mago estavam lá. Suspirou, já imaginando como ele poderia roubar a bruxa, ele tinha que admitir que a mulher era poderosa demais para o seu próprio bem.

O roteiro era simples e trágico, os atores estavam lá e os dois diretores tinham tomado seus postos.

—Vocês vão viajar juntos, passarão por vários mundos para encontrar as lembranças dessa criança e assim realizarão seu verdadeiro desejo.

O pirralho concordou, sério demais para sua pouca idade, o guerreiro praguejou baixinho o que poderia ser sua forma de concordar, o mago apenas sorriu, rivalizando com o sol para ver quem brilhava mais.

O teatro ia começar.

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—O… O que exatamente foi isso?

—Foi o que aconteceu naquele dia.

—Mas... Como? Fay não é assim, ele ama Sakura-hime, ele escolheu servi-la, fez dela sua princesa, ele cuidou de Shoran-kun. Ele…

—As pessoas mudam, Watanuki. Elas têm que mudar, nem sempre nós nascemos com nossa verdadeira natureza, então precisamos mudar, passar por dificuldades ou momentos bons até que realmente nos encontremos. É por isso que pessoas boas ficam más e pessoas más podem ser redimidas. Fay passou por muitas coisas quando pequeno, ele foi atormentado e jogado no inferno tantas vezes que é incrível ele ter sobrevivido até esse dia. Embora esse sempre tivesse sido o destino dele.

—Por quê? Por que o destino dele era ser quebrado e virar uma pessoa com tanta frieza no coração?

—Por causa da linha vermelha.

—Hã?

—Fay precisou passar por tudo o que ele passou porque a pessoa que estava do outro lado da sua linha também enfrentou o inferno e sobreviveu. Se a vida tivesse sido fácil para um dos lados do nó, como é que eles se entenderiam? Como poderiam se perdoar? Como poderiam ficar juntos?

—Hitsuzen...

—E existe outra coisa além disso?


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Notas finais do capítulo

Próximo episódio sai na segunda. Vou postar toda segunda e quinta ok.



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