“Há uma lenda sobre um fio vermelho que liga o dedo mindinho de uma pessoa com o de outra. Dizem que esse fio serve para unir aqueles que se amam de verdade, aqueles que desde o nascimento foram predestinados a ficar juntos. Almas gêmeas, duas partes de um todo…

Até que ponto isso é certo? Até que ponto esse fio pode prender duas pessoas sem que as circunstâncias o quebrem? Como saber se é amor verdadeiro? Como ter certeza que não importa o que aconteça, aquelas duas pessoas vão ficar juntas?

O amor que surge na guerra sobreviverá em tempos de paz? Aqueles que cresceram juntos se amarão se apenas se encontrarem em um breve momento? O rei que ama o faminto amará o nobre? Até onde o destino une duas pessoas?”

—Você está apenas protelando. De novo. Não tem a mínima vergonha?

Os gritos ecoaram pela sala, enquanto um atordoado Watanuki varria o chão e praguejava para quem quisesse ouvir, ou não, o quanto sua patroa era intragável. Yukko apenas sorriu, Watanuki era tão divertido quando ficava bravo.

—Uhm, parece que alguém não está muito feliz hoje, Wa-ta-nu-ki. O que aconteceu? Doumeki não…

—Não diga o nome daquele infeliz!!! – o menino berrou, atirando o espanador na parede – Aquele idiota convencido!!! Eu o odeio!!!

—Bem, isso é ruim, Wa-ta-nu-ki – a mulher suspirou, jogando os braços de forma trágica enquanto se arrumava melhor no divã – Você realmente deveria ficar perto do Doumeki-kun, ele é um rapaz tão gentil, sempre disposto a ajudar…

—Ele é um idiota.

Yukko parou de sorrir, as palavras do garoto não saíram com raiva ou despeito, mas sim com dor, era o som de uma ferida aberta, rasgava a pele, fazia sangrar. Watanuki encarava a parede, a cabeça baixa e as mãos trêmulas, parecia tão frágil parado ali, e mais uma vez Yukko percebeu que atrás do menino barulhento e engraçado, havia algo frágil e quebrado que se não fosse tratado da maneira correta, poderia ser destruído.

—Watanuki…

—Eu sei. Tenho que agradecer, afinal ele só tentou me ajudar – o menino grunhiu – Vou fazer o jantar…

—Watanuki!

O menino se virou, encarando a mulher um tanto surpreso, a voz de Yukko era dura e firme, não aceitaria contestação.

—Watanuki, como saber se o amor entre duas pessoas é verdadeiro?

—Você vai continuar protelando? Eu preciso…

—Responda, Watanuki. Como saber se o fio vermelho realmente te liga a alguém?

Ele baixou a cabeça, não entendia o que Yukko queria lhe dizer, toda essa história de fios vermelhos, amor verdadeiro e destino eram até legais, mas ele não queria pensar naquilo, tinha coisas mais importantes para fazer, coisas reais.

—Eu não sei – ele respondeu, sem forças para argumentar.

Um sorriso perverso brotou nos lábios da mulher fazendo o garoto estremecer, nada de bom vinha quando ela sorria daquele jeito.

—Watanuki, eu tenho algo para te mostrar.

—Vai fazer meu fio vermelho ficar visível?

Embora a pergunta tivesse saído com um tom de deboche, ele suou frio, não tinha certeza se queria realmente descobrir quem estava ligado a ele.

—Não, vou te levar à origem dos mundos.

Antes que ele pudesse protestar, uma luz branca rodeou os dois e a viagem dimensional começou.

No mesmo momento, longe dali um arqueiro errou o alvo após sentir seu dedo mindinho ser puxado de forma estranha, como se um fio invisível amarrado a ele tivesse sido levado para longe.