Você é meu mundo escrita por Blue Butterfly


Capítulo 12
Um mundo para criar


Notas iniciais do capítulo

Oie^^



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Doumeki se concentrou, o arco retesado com a pressão certa, seu olhar jamais desviando o centro do alvo. Um, respire. Dois, se acalme. Três, mire. Quatro, atire. Cinco, volte a respirar.

Gritinhos agudos e o som de seus companheiros comemorando provou que ele tinha atingido o centro do alvo e ganhado o torneio. Mais uma vez. Entretanto, longe de comemorar, o garoto olhou com desgosto a seta, praguejando internamente, uma expressão sombria tomou sua face e ele saiu do lugar com a cabeça baixa, nos últimos três torneios tinha sido a mesma coisa, ele tinha melhorado, e muito, mas ainda assim…

—Idiota, você não deveria sair sem avisar as pessoas.

Doumeki congelou, seu coração perdendo uma batida antes de acelerar loucamente.

—Hey – respondeu fazendo todo o possível para evitar o rubor que queria tomar suas bochechas.

—Não me chame de hey, idiota, eu tenho um nome – o recém chegado resmungou mais por hábito do que por irritação – Por que saiu? Você venceu o torneio, não deveria estar comemorando com seu clube?

—Ainda não é bom o bastante – Doumeki deixou escapar, apertando com força bruta o arco em suas mãos.

—Deixe de se exibir, foi um lance perfeito… Pelo menos é o que seu sensei disse – o garoto se explicou, ele odiaria elogiar o arqueiro além do necessário.

—Não se fosse um monstro em cima de você e eu tivesse que matá-lo sem acertar sua cabeça.

A resposta surpreendeu Watanuki, era a primeira vez que Doumeki respondia suas perguntas de uma forma tão clara e honesta. Embora ele já tivesse erguido seu arco inúmeras vezes para destruir todo tipo de criatura que perseguia o menino pálido, eles ainda não sabiam que efeito uma seta lançada por Doumeki teria em Watanuki, e após conhecer coisas cada vez mais sobrenaturais e preços cada vez mais difíceis de pagar, nenhum dos dois estava a fim de descobrir esse efeito. Doumeki finalmente se virou, encarando o garoto magrelo que o seguira até ali carregando dois bentos, seus olhos bicolores revelando o espanto e a confusão que ele sentia. Tudo o que o arqueiro desejava era ter a certeza que o garoto permaneceria assim, magrelo, desengonçado, com aquele cabelo liso que lembrava uma noite sem esperança, os óculos redondos, a pele de marfim e o coração batendo. Ele podia procurar Yukko, mas Doumeki não era do tipo que deixava aos cuidados de uma pessoa aquilo que ele desejava realizar, se havia algo que ele queria, ele lutaria por isso, pagaria seu próprio preço. Por isso ele precisava ter certeza que sua mira estava perfeita, seu treino com arco e flecha tinha começado como uma sugestão de seu avô, depois se tornou uma atividade do clube e agora ia bem além. Ele não se importava com os torneios, ele não queria mais um troféu idiota que guardaria junto a outros tantos. Tudo o que ele desejava é que, quando fosse preciso, ele acertaria o monstro sem ferir Watanuki. Sem ferir a única pessoa que ele tinha medo de perder.

—Não tem que pensar nessas coisas quando está em um torneio, idiota – Watanuki murmurou interrompendo a linha de pensamentos do arqueiro.

—Isso é a única coisa que eu consigo pensar – Doumeki revidou sério.

Watanuki não respondeu a declaração com algum grito indignado ou praguejou alguma besteira, sua última viagem pelos mundos lhe ensinou mais do que ele poderia imaginar, ele não estava admitindo nada, muito menos que Yukko estivesse correta, entretanto uma parte dele já estava cansada em negar a existência do arqueiro e fingir que ele não se importava com o que pudesse acontecer com o outro garoto.

—Idiota – Watanuki disse para si mesmo, um sorriso fraco em seus lábios.

E sem dar chance do outro se preparar, o ajudante da loja de desejos estendeu o braço, tomando a mão enluvada do arqueiro e retirando a luva sem hesitar, seus olhos se arregalaram brevemente antes dele manter sua expressão tranquila, sangue escorria da mão e pingava na grama verde, tingindo-a com um vermelho vivo e poderoso. Doumeki tentou trazer a mão para si, mas Watanuki não permitiu, não era a primeira vez que aquilo acontecia, já há algum tempo o arqueiro aparecia com as mãos feridas por tanto praticar, mesmo o estoico e inexpressivo Doumeki Shizuka não era imune a ataques de raiva quando não conseguia atingir seu alvo com a precisão adequada e normalmente, quando isso acontecia, ele sempre acabava treinando mais do que deveria.

Watanuki suspirou, largando os bentos no chão com cuidado para não estragar a comida e retirando o lenço que recobria seu almoço com uma única mão, a outra segurando firmemente a mão sangrenta do arqueiro. Com delicadeza ele envolveu a mão machucada com o lenço azul, ignorando o mundo ao redor e esquecendo que estavam na escola, ou ao menos fingindo esquecer. A verdade é que para o garoto que enfrentava todo tipo de criatura tentando devorá-lo, a fofoca da escola era a última coisa que poderia realmente machucá-lo. Atrás da aparência frágil havia um homem mais forte do que os outros podiam imaginar. Yukko tinha ensinado o garoto a perceber isso.

Doumeki se calou, o coração trêmulo, desde que voltara de sua última missão com Yukko, Watanuki estava diferente. E mesmo que ele dissesse a si mesmo que era idiotice ter esperanças só por que o garoto pálido estava tratando-o de uma maneira melhor, seu coração estúpido quase morria toda vez que Watanuki fazia algo doce.

—Você não tem que se esforçar tanto – o garoto pálido sussurrou olhando para o chão.

—Se você se machucar…

—Eu não vou – e ergueu a cabeça, encarando Doumeki com convicção – Não enquanto tiver você para me proteger.

E sem dizer mais nada, ele tomou os dois embrulhos no chão e se afastou, lento o bastante para que o arqueiro o seguisse assim que ele parasse de olhar o nada com a boca entreaberta, chocado demais com o que acabara de ouvir. Era estúpido. Muito estúpido. Mas Doumeki não conseguia impedir que seu coração morresse uma segunda vez.

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“Ele não acreditava em destino. Palavras de incentivo, garantias, promessas… Ele não acreditava em nada daquilo. Se queria alguma coisa, lutava por ela, se pedissem ajuda, ele ou o fazia na hora ou nunca, se pedissem seu corpo ele daria. Mas negaria seu coração. O medo pertencia àqueles que tinham algo importante para proteger, por isso ele não tinha medo, e mesmo agora, vendo a mulher com quem compartilhara sua cama nos últimos sete meses indo embora e batendo todas as portas no caminho com raiva, ele não sentiu nada. Absolutamente nada”.

Fay largou a caneta na mesa, olhando com certo orgulho aquele primeiro parágrafo. Seu chocolate quente estava pela metade, sua fatia de bolo ainda intocada. Curiosos olhos azuis saltaram discretamente do pequeno caderno para o homem sentado no balcão, captando sua imagem sobre a luz clara e aconchegante daquele pequeno café. Vinte e cinco dias. Era o tempo que o homem de cabelos negros começou a frequentar aquele lugar, ele não ficava muito, chegava por volta das sete, pedia um café puro e saía dez minutos depois deixando uma pequena gorjeta para uma das duas delicadas garçonetes.

O café era antigo, desde que começara a sua carreira como escritor, Fay se lembrava de passar suas tardes e noites lá, era um lugar tranquilo, bem frequentado, com uma clientela fixa que permitia a existência do lugar e o pagamento dos cinco funcionários. Também ajudava o fato que uma das garçonetes fosse a irmã mais nova de seu implacável e impecável editor e que o cheff fosse seu amigo pessoal. Um dos poucos amigos de Fay. Era naquele lugar que as grandes histórias do loiro surgiam, entre um chocolate quente extra adoçado e uma fatia de seu bolo favorito, personagens ganhavam vida, se aventuravam, sofriam, amavam e lutavam para firmar seu lugar no mundo. Nem todos os seus livros tinham um final feliz, mas todos faziam seu leitor crescer um pouco mais.

A matéria prima de suas criações eram as pessoas, Fay era atraído por elas, ele observava e analisava não apenas palavras, mas a forma com que aquela mãe recém divorciada aplacava uma briga entre seus dois filhos pequenos enquanto esperava seu bolo, como aquele executivo estressado desligava os três celulares e seu pager para desabar numa das últimas mesas e saborear seu chá com biscoitos, como toda quinta feira, quase como num ritual religioso, dois garotos parariam do lado de fora e um deles entraria e, gaguejando, pediria algumas bolachas em forma de coração. E há vinte e cinco dias, como um homem absurdamente alto, de cabelos negros arrepiados e olhos vermelhos selvagens tomava seu café preto sem açúcar.

“Seu cachorro, um mestiço que encontrara na rua, grunhiu para o barulho, suas presas a mostra, mas assim que o som dos sapatos de salto se calou, o animal voltou a dormir debaixo da janela, certo que enquanto seu dono estivesse dentro da casa, nenhum deles corria qualquer perigo”.

Fay mordiscou o bolo de nozes, o loiro era capaz de imaginar aquele homem com um cachorro, na verdade havia algo em sua postura rígida e tensa que fez o escritor acreditar que o moreno se dava bem com animais, mas era péssimo quando se tratava de pessoas, alguém que manteria um cão ao seu lado por toda vida, porém jamais um ser humano. Bruto, primitivo e amargo. Era o café que o homem tomava todos os dias. E também podia ser uma descrição do que ele era.

Seus pensamentos foram quebrados com a chegada de seu editor, Kinomoto Touya era jovem e de boa aparência e uma excelente companhia quando não estava obrigando o escritor a trabalhar até a exaustão para manter seus prazos em dia. Fay gostava dele mais do que da maioria das pessoas, eles não eram amigos, e certamente nunca o seriam, Kinomoto exigia fidelidade e sinceridade em suas relações, e mesmo que Fay pudesse dar a primeira com uma totalidade que poucos conseguiriam, ele falhava miseravelmente na segunda. Por isso era tão bom escritor. Ainda assim, os dois se respeitavam, reconhecendo a competência um do outro, e trabalhavam bem juntos.

—Vão fazer uma segunda edição de “Valeria” – o editor anunciou tomando a cadeira em frente ao loiro e impedindo que o escritor contemplasse seu novo objeto de estudo – E “Ceres” permanece na lista dos mais vendidos. A editora quer realizar uma quinta tiragem e programar três noites de autógrafos para celebrar as duas obras.

—Isso é bom – Fay comemorou com um sorriso rasgado.

E era. “Valeria” fora o último livro lançado, era um dos livros sem final feliz, uma história sóbria com pingos de crueldade, fanatismo, violência e preconceito, culminando com o fim trágico de um dos amantes, a ideia veio após observar os dois garotos que apareciam toda quinta feira, porém apenas um entrando na proteção e aconchego do café enquanto o outro ficava a mercê do mundo e das pessoas, ou ao menos essa foi a conclusão em que chegou a mente um tanto distorcida do loiro. A história fez seus leitores chorarem e refletirem sobre seus preconceitos e relações, garantiu uma segunda edição e por consequência um bônus financeiro invejável para Kinomoto. E para Fay…

“Ceres” estava na categoria final feliz. Contava sobre dois irmãos gêmeos que após a morte dos pais passavam por grandes aventuras imaginárias no orfanato enquanto lutavam com a dor da perda e o risco de serem separados, até que um senhor bondoso surgia e adotava as duas crianças. Os leitores comemoraram e a adoção foi discutida, Kinomoto ganhou um aumento e Fay…

O irmão gêmeo de Fay, Yui, ligou três semanas depois de receber seu exemplar e após afogar o escritor com elogios incontáveis, o então auxiliar de cozinha de um famoso restaurante parisiense perguntou por que o senhor que adotara as duas crianças se parecia tanto com Ashura, o namorado de Yui.

Só Yukito, o cheff do café e um dos poucos amigos do loiro, é que entendeu. E após ler o livro, um dia depois que Fay concluíra o manuscrito, abraçou o escritor e deixou que ele chorasse seu coração partido. Amar e não ser correspondido era ruim e ao mesmo tempo fácil, difícil era amar e ver aquilo que você ama declarando seus sentimentos para o irmão gêmeo que você ama acima de todas as coisas. Fay viu Ashura jurar amor a um rosto idêntico ao seu, acariciar um corpo com a mesma tonalidade de pele que o seu, beijar lábios com o mesmo formato que o seu e colocar uma aliança numa mão delicada como a sua. Só que o rosto, o corpo, os lábios e a mão eram de Yui, só o coração sangrando era do escritor.

—Eu não posso entregar esse manuscrito, se Yui ler… – Fay choramingou naquele dia agarrado à camisa branca do cheff. Ele jamais se perdoaria se fizesse seu irmão sofrer.

—Ele não vai perceber, você sabe como ele é. Yui nunca conseguiu ler nas entrelinhas. Ele vai notar que é Ashura, mas jamais entenderá que ao escrever o senhor adotando as duas crianças você estava desejando que Ashura também fosse capaz de te amar.

E felizmente Yukito estava certo.

—Fay?

O escritor piscou, seu editor balançava uma mão em frente a seu rosto, uma carranca denotando como ele estava bravo por ter sido ignorado. O loiro corou, rindo de leve, e tomou outro gole de seu chocolate quente, uma rápida olhada para o balcão informou que o moreno de olhos vermelhos já tinha partido. Era um bom momento para ir para sua casa também. Isso é, se seu competente e tirano editor não insistisse em relembrar todas a sua agenda para aquela semana, incluindo um almoço que Fay não lembrava de  ter aceito e Kinomoto jurava que sim – e se o escritor revisse seu histórico em aceitar compromissos e se  esquecer deles, de propósito ou não, ele entenderia um pouco da irritação de seu editor. Só um pouco.

“O homem trabalhava de sol a sol, longe de ser algum tipo de herdeiro com a vida ganha, desde muito jovem ele foi jogado no mundo por conta própria, com apenas um aperto de mão e o pedido do pai para que se tornasse alguém honrado. Deixou o pai no hospital para procurar um emprego e não houve uma segunda chance de rever seu criador e ouvir mais alguns conselhos, só apareceu no cemitério três dias após o enterro e aproveitou para levar flores para a mãe e dizer ao pai que estava empregado. Não prometeu honra, e sim fazer o melhor que pudesse para não errar tanto.”

Uma xícara de chocolate quente foi depositada na mesa do escritor, ele piscou algumas vezes, reajustando a visão, e sorriu docemente para a garçonete de cabeços castanhos e curtos, Sakura era uma adolescente adorável que certamente merecia uma história com final feliz. A garota devolveu o sorriso com facilidade, com o tempo ela tinha aprendido muito sobre os hábitos dos clientes do café, e sabia que o que o escritor precisava era da sua mesa livre, sua xícara de chocolate quente reabastecida regularmente, uma generosa fatia de bolo que o cheff sempre traria de casa, uma receita especial que não era vendida ali, e silêncio para não se perder entre tantas ideias. E claro, um sorriso bondoso incentivando seu trabalho duro.

Com um leve curvar-se, a adolescente se afastou e o escritor voltou a escrever, em breve o objeto de seu minucioso estudo entraria naquele café e o loiro mal conseguia conter sua excitação. Ao lado de seu caderno, numa folha azul, ele estava construindo uma lista de descrição para o seu novo personagem, ainda não sabia que nome daria ao solitário protagonista dono de um cachorro mestiço, o loiro desconhecia o nome do moreno e mesmo que o soubesse, sua ética não lhe permitiria reutilizar o nome (mesmo que Yukito o provocasse dizendo que não, Fay tinha ética, uma que o permitia vigiar e usar as pessoas para seus livros sem pedir permissão, mas era ética). Ele também não tinha definido a cor exata dos olhos, palavras soltas no papel azulado revelavam algumas de suas sugestões, como rubi, o sol se pondo, sangue…

O sininho da porta principal cantarolou a entrada de novos clientes, era quarta-feira, dia das estudantes com saias rodadas e olhares famintos, se de fome ou de desejo Fay nunca soube muito bem definir, e um pouco atrás do grupo escolar o homem apareceu. Naquela noite ele usava um jeans preto e bem ajustado ao seu corpo, uma camisa branca simples e uma jaqueta de couro pendendo em sua mão esquerda, seus cabelos negros e arrepiados pareciam recém lavados, uma gota de água ainda escorria por seu pescoço moreno para morrer na gola branca. Pela primeira vez Fay notou uma corrente de prata escapando de dentro da camiseta, um pingente simples pendendo sobre o peito forte, o loiro não tinha certeza, mas achava que que era o kanji para força.

O homem foi para o balcão, seu andar duro e firme, ombros largos e tensos, e mais uma vez o escritor se surpreendeu com o quão forte o outro era. Por debaixo da pele morena certamente havia músculos bem construídos ao preço de exercícios e uma genética favorável, Fay não ignorava o poder da genética, não só porque ele nunca conseguia criar músculos definidos mesmo se matando na academia, mas por ter um irmão gêmeo. Um irmão gêmeo muda tudo, ele é capaz de fazer com que você odeie o espelho, ame uma pessoa e jamais lute por ela…

A genética fora favorável com aquele homem, além de sua força, seus traços faciais eram marcadamente masculinos, um rosto marcial, sobrancelhas adequadas, olhos puxados que exalavam irritação, boca fina, quase sem cor, era um rosto normal e ao mesmo tempo imponente. Ele também se vestia bem, sempre com discrição, com predileção para tons escuros e peças comuns, parecendo sempre confortável com o que usava, seus calçados não variavam muito, ele sempre usava botas de combate, tênis ou algo semelhante, era tolice perceber aqueles pequenos detalhes, mas era assim que Fay analisava e aprendia sobre sua matéria prima.

O homem pediu seu café, pegou o celular e começou a clicar na tela com atenção, sua testa levemente franzida e os lábios cerrados. Parecia nervoso. O escritor anotou mais algumas coisas, ele realmente gostou daquela visão pós-banho. Yukito apareceu do seu lado com uma fatia de bolo, o cheff riu ao ver os inúmeros rabiscos e um esboço de seu cliente tomando o centro da folha azul, um desenho particularmente bom que deixava pouco a desejar, dando um tapa suave na cabeça loira ele se afastou deixando o escritor mergulhado em suas fantasias. Enquanto estivesse escrevendo Fay estaria bem.

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“Quando não estava trabalhando, ele gostava de usar seu tempo livre numa livraria com um pequeno café que ficava a três quadras de sua casa. Ele não gostava de romances ou filosofia, nem perdia tempo lendo psicologia e física quântica, não administrava bem suas emoções e sua inteligência não era suficiente para entender aquilo que não podia ver – essa também era a sua desculpa para não ter uma religião. Mas gostava de quadrinhos, poltronas macias e um bom café, por isso ia àquele lugar. Entre uma página e uma xícara de café seu espírito se acalmava e ele se sentia mais apto à voltar para o mundo real, a livraria com o pequeno café era seu lugar mágico e nada mundano poderia atormentá-lo lá.”

Fay olhou para o balcão, o homem já guardara o celular em um dos bolsos e vestia sua jaqueta, a gorjeta devidamente arrumada ao lado do pagamento pela amarga bebida. Num gesto rápido, como se fosse a resposta de um reflexo, pela primeira vez naqueles vinte e seis dias o moreno olhou em direção à mesa do loiro, vermelho encontrando azul. O homem balançou a cabeça bem de leve, tão de leve que Fay não teve certeza se ele realmente viu o gesto ou se era só sua cabeça lhe pregando peças mais uma vez. Aquilo acontecia mais vezes do que o loiro gostaria de admitir. O moreno se afastou e foi para fora, imperturbável, com o coração disparado o escritor rasgou todas as opções para a cor dos olhos que ele tinha listado até aquele momento, não era rubi e definitivamente não era sangue. Seu protagonista teria aquele tom único de vermelho que quando misturado com azul celeste, formava violeta. E Fay amava violeta.

Quando era bem mais jovem e ainda não tinha se quer uma anedota publicada, o garoto loiro conheceu a cor violeta pela primeira vez nos olhos de seu vizinho mais velho, na época Ashura estava deixando o cabelo preto crescer e sua pele era porcelana pura e acetinada, como sua mãe jamais determinou que meninos deviam gostar apenas de garotas e como seu pai não costumava perder tempo com os gêmeos, Fay acreditava que podia amar quem ele quisesse e não viu problema algum em se apaixonar por seu vizinho. De certa forma, Ashura tinha feito o escritor que Fay era hoje, pois quando ele rasgou o coração de Fay escolhendo seu irmão gêmeo, nem mesmo Yukito foi capaz de ajudar, se Fay não tivesse se afogado em suas próprias histórias, o loiro teria enlouquecido. Ou talvez ele tivesse, só não tinha percebido ainda – quando estava sem criatividade, Fay pensava nessas coisas.

Ele não culpava Yui, não seu pequeno e amado Yui, ele presenciou a luta do irmão em busca de aceitação dos próprios sentimentos, o pavor por gostar de um cara, a insegurança quando o convite para o primeiro encontro apareceu, a felicidade quase febril quando o tal cara ligou no dia seguinte e o orgulho contagiante quando Yui apresentou Ashura para Fay. Por algum motivo, talvez a lerdeza e completa falta de percepção do mundo ao seu redor como Yukito sempre apontava, Yui não tinha notado até o primeiro encontro que Ashura morava cinco casas de distância e que seus olhos eram violetas, não azul escuro. Porém aquilo não importava uma vez que Ashura também não ligava para aqueles meros detalhes, ele só via Yui e nada mais.

Mas naquela noite Fay não pensou em Ashura ou em Yui, ele tinha finalmente encontrado o tom de violeta que sempre buscara, aquele que nem mesmo Ashura tinha e que era a combinação exata do azul celeste de seus olhos com um tom de vermelho único. E enquanto escrevia sua descoberta, pela primeira vez em sua carreira literária o escritor se perguntou o que sua matéria-prima fazia quando não estava naquele café.

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“Ele não costumava ouvir música quando estava sozinho, sua origem em um país oriental fizera sua herança cultural recusar o novo pop ou o que tocava nas rádios. Foi por isso que naquele domingo de manhã, ao levar o cão mestiço para passear no parque ele carregava apenas as chaves de casa, óculos escuros e um boné sem estampa para domar os cabelos rebeldes. Garrafas de água lhe davam raiva e ele acabava as abandonando no meio do caminho. Talvez, se ele soubesse o que viveria a partir daquele dia, se soubesse que não voltaria mais para  casa, ele teria aprontado uma mochila com suprimentos, comprado uma bússola, uma faca, um rim. Mas ele era apenas um órfão que trabalhava de sol a sol, que tinha uma casa e um cachorro mestiço e que passava seu tempo livre lendo quadrinhos e bebendo café. Ele era apenas humano e nenhum humano estaria pronto para o que viria a seguir.”

Fay se deu por satisfeito, até ali o texto estava bom. Sentado ao seu lado e bebericando um chá de menta, Yukito refazia o cardápio, animado com a proximidade do dia dos namorados. O escritor repousou a cabeça no ombro do amigo, ronronando de leve quando seu cabelo foi acariciado, o loiro amava o cheff como a um irmão, aquele café era sua segunda casa e o rapaz ao seu lado sua segunda luz – escrever era a primeira.

Chovia do lado de fora, era quinta feira no horário de menor movimento, os dois homens costumavam passar aquele tempo juntos, mesmo não formado em literatura, o cozinheiro era o primeiro a ler e criticar os trabalhos do escritor, e quando não estava corrigindo detalhes gramaticais, estaria reescrevendo uma receita ou simplesmente jogando conversa fora enquanto Fay buscava sua próxima vítima.

—Soube do sucesso de Valeria – Yukito comentou terminando o cardápio.

—Tem fofocado com meu editor pelas minhas costas de novo? – Fay resmungou fazendo um pequeno bico.

—Ele vem de vez em quando buscar a Sakura e sempre fica para uma xícara de chá.

Fay riu, ele já esperava por algo parecido. Estava prestes a lançar uma provocação mordaz quando os dois garotos de quinta apareceram do lado de fora, encharcados até a alma e com sorrisos gigantescos, o mais velho e alto correu até a porta e a abriu, fazendo o sininho cantarolar, mas ao invés de entrar ele deixou a porta aberta, seu sorriso mudando de divertido para confiante, o garoto menor hesitou, porém, após respirar profundamente ele entrou no café pela primeira vez em três anos. Os dois garotos tomaram uma mesa meio afastada, tirando o paletó escolar molhado e ficando apenas com a camisa branca e a gravata verde, Sakura se apressou em lhes trazer toalhas secas – cortesia da casa – e um prato com bolachas em formato de coração junto com o cardápio, os garotos coraram, entretanto permaneceram ali. Entre uma conversa e outra, o garoto menor tirou da mochila um livro parcialmente molhado, uma careta surgiu em sua face e era óbvio que ele estava prestes a pedir desculpas ao garoto mais velho quando o segundo foi mais rápido e tocou a mão pequena, a apertando suavemente.

—Está tudo bem, você está aqui. Vamos ficar bem.

Foi dito num tom baixo, mas nem Fay nem Yukito tiveram dificuldade para entender a resposta, com cuidado o cheff encarou o escritor, sem ter certeza de como o homem reagiria ao ver “Valeria” sair metade molhado da mochila de um estudante. Mas quando encontrou o sorriso sereno brilhar no rosto do loiro, ele entendeu. “Valeria” tinha alcançado seu objetivo.

—E qual é seu próximo projeto? – perguntou voltando a acariciar os cabelos dourados.

—Algo que vai desbancar “Ceres” – garantiu com convicção – Vai ser tão instigante e viciante que superará tudo o que já escrevi.

—Pensei que nada pudesse desbancar “Ceres” – Yukito murmurou – Afinal é o único livro onde a matéria prima foi você.

—É verdade, mas dessa vez a matéria prima supera todas as outras, até mesmo a minha, pois ela é única, enquanto eu não.

Yukito não comentou aquela afirmação, seu amigo já tinha complexos demais por ter um irmão gêmeo e ele não traria o assunto à mesa. Ao invés disso escolheu um terreno mais seguro.

—E qual será o título?

—Ainda não decidi entre Suwa e Nihon. Mas acho que ficarei com Nihon.

E os olhos azuis se perderam numa maré de ideias. Yukito aceitou a deixa e voltou para a cozinha, a chuva não perduraria por muito tempo e logo seus clientes estariam de volta esfomeados. O escritor ficou no mesmo lugar, vez ou outra ele escreveria furiosamente, sua xícara nunca ficando vazia, quando sete horas estava para acontecer a porta do café foi aberta e o homem moreno com a cor certa de vermelho nos olhos entrou, naquele dia ele usava um conjunto esportivo de uma escola conhecida. Seu olhar hesitou em direção ao loiro, comprovando que aquele era o vermelho perfeito, e então foi para o balcão solicitar sua bebida.

Ele parecia cansado, olheiras marcavam sua pele e sua expressão rabugenta estava mais acentuada, ele descartou o celular no balcão sem dar ao objeto um segundo olhar, seus ombros mais rígidos que o normal. Por algum motivo lembrava um cão irritado e o escritor riu para si mesmo com a comparação.

“Sangue por todos os lados, grunhidos de corpos descarnados prestes a partir para o outro mundo eram a sinfonia absoluta e única em seus ouvidos. Ele limpou o sangue da testa, empurrando os cabelos negros para trás e deixando a mostra seus olhos vermelhos. Olhos de um demônio que encararam com ódio e determinação o anjo da morte a sua frente, em sua terra natal ele o chamaria de Shinigami e o honraria como um deus da morte. Ali, cuspindo sangue e vendo seu cão mestiço se afogar em suas próprias vísceras após sacrificar sua vida miserável tentando proteger seu humano ainda mais miserável, ele decidiu. Se tornaria o demônio que seus olhos revelavam e mataria o anjo, vencendo a morte com a morte.”

Tomoyo, a segunda garçonete, notou quando o olhar o do homem no balcão caiu em direção loiro, preso em sua figura por mais tempo do que a educação permitia, e quando saiu deixando a gorjeta de sempre, ele saiu completamente alheio ao fato de que no momento em que se concentrou em separar o dinheiro, o escritor o olhou atentamente, seu rosto num misto de curiosidade e vício que eram familiares e ao mesmo tempo desconhecidos por tamanha intensidade.

Fay olhou o caderno, ele tinha escrito em três dias mais do que costuma escrever em um mês com seu editor o pressionando e tentando escraviza-lo. Falando no homem, Kinomoto apareceu vinte minutos depois, o rosto sério e preocupado, sem pedir ele sentou na frente do escritor, um envelope branco nas mãos.

O loiro deixou que o editor se acalmasse e revelasse o que quer que o estivesse preocupando, voltou sua atenção ao caderno, pensando no que viria em frente, ele não tinha certeza se mataria o cão, parecia cruel, e ao mesmo tempo era cruel o bastante para justificar a escolha de seu personagem. Talvez ele pudesse…

—Yui ligou. Daqui dois dias ele e Ashura vão estar aqui e ele quer almoçar com você. Parece que Ashura pediu seu irmão em casamento e eles querem fazer de você o padrinho de sua união.

Fay congelou, a xícara de chocolate quente que ele levava até aboca caiu na mesa, a porcelana partindo e derramando a bebida por todo o lugar.

—Fay? – Kinomoto gritou assustado com a reação.

Como se saísse de um transe, o escritor pegou o caderno e disparou para fora do café sem olhar para trás, tão rápido que quando Yukito saiu da cozinha o loiro estava bem longe dali.

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“O homem encarou os olhos mortos de seu cão pela última vez, vendo seu reflexo humano nos olhos vazios e sem luz.”

—Estou feliz por você, Yui – Fay garantiu sorrindo ternamente para seu irmão, aproveitando que Ashura não estava por perto.

—Não, você não está – Yui contradisse, a cópia do sorriso do irmão estampado em seu rosto.

—Yui? – Fay não tinha certeza se ouvira bem.

—Você não está feliz, Fay – Yui repetiu com o mesmo sorriso – Eu vou me casar com o único homem que você amou a vida toda, eu roubei a sua chance de ser feliz bem debaixo de seu nariz – e o sorriso ficou ainda mais infantil – Você, sempre seguro, sempre brilhante, o gêmeo que se destacava… Me diga, Fay, dói ver nós dois juntos?

O escritor não respondeu, atordoado demais com aquelas palavras.

—Dói saber que ele nunca vai te tocar como ele me toca?

 “Também era a última vez que ele seria humano.”

—Dói saber que foi o gêmeo insignificante quem ficou com o protagonista do romance patético que é sua vida? Dói saber que o melhor mentiroso não é o gêmeo que escreve histórias por ter medo de viver e sim aquele que mentiu e fez a vida ser do jeito que ele queria? Dói saber que eu minto melhor do que você?

“O demônio despertou por completo.”

Uma mão tocou com brutalidade o rosto de Yui, destruindo seu sorriso doentio. Com a respiração ofegante Fay berrou sem dar a mínima para o restaurante caro e Ashura que vinha na direção deles.

—Seu imbecil. Você acha que eu me importo? Se é ele que você quer, pode levar – gritou com convicção absoluta – Se ele te faz feliz, case-se com ele. Sim, eu o amei, mas foi há muito tempo e eu sempre te amei acima de tudo, então eu nunca liguei em perde-lo para você, primeiro porque eu não preciso dele para ser ou provar nada a ninguém. E segundo porque você é meu irmão.  Mas se este casamento é só para provar que você pode me superar em alguma coisa, vá a merda Yui e leve ele com você.

O escritor ficou de pé, ele se recusava a acreditar que o homem a sua frente era seu doce irmãozinho. Fay sempre valorizou Yui, ele não esperava gratidão nem amor de volta, mas exigia respeito. Se era uma criatura mimada e cruel que seu irmão se tornara, o escritor não ficaria parado deixando que o outro o insultasse. Ele deu as costas para o gêmeo quando se lembrou do que Kinomoto lhe dissera e decidiu compartilhar.

—E antes que eu me esqueça, o romance patético ainda está na lista dos mais vendidos há mais de um ano e meio.

“Anjo da morte ou não, ele não se curvaria, era mais forte do que aquilo, só agora percebia. Mas após perceber, ninguém o convenceria do contrário.”

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O escritor entrou no café como um furacão, o cheff e seu editor estavam lá, como se já soubessem o resultado daquele almoço.

—Vocês sabiam – Fay acusou ainda tremendo da cabeça aos pés.

—Sim, mas se te disséssemos você não acreditaria – seu editor respondeu com calma.

—Eu nunca tive certeza até ele te convidar para o casamento como padrinho, nem mesmo Yui podia ser tão lerdo, não depois de tantos anos – Yukito revelou – Eu sinto muito por isso. Porém eu acredito que você é mais forte do que qualquer personagem que tenha criado e vai saber lidar com essa situação. E perdoar Yui quando ele perceber o erro que cometeu.

O loiro não respondeu, ao invés disso correu para sua mesa e passou a escrever furiosamente, desde o comunicado de Touya ele não saíra de casa, nem mesmo da sala, tinha escrito sem parar varando noites com uma facilidade invejável. Olhos vermelhos tomavam sua mente e quando ele era obrigado a parar para ir ao banheiro ou roubar algum doce que Yukito trouxera em algum momento daqueles dois dias, ele pensava em Ashura e no irmão. E quando ele finalmente entendeu que o último bocado de amor pelo noivo de seu irmão tinha sido enterrado em “Ceres”, um peso gigantesco foi tirado de seus ombros magros. Ele estava livre, livre para abrir seu coração, para escrever uma história ainda mais fantástica, para correr atrás do tom perfeito de violeta.

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“O meio humano, meio demônio, fechou os olhos e deixou a luz do sol nascendo tocar sua…”.

—Com licença?

O escritor tremeu, o coração quase saltando da boca, ele ergueu os olhos do caderno sofrendo verdadeiramente, estava tão perto do fim perfeito, bastava mais umas dez linhas e ele teria a maior obra de sua vida pronta. Um par de olhos vermelhos o recebeu, apagando qualquer fim incrível que ele tinha construído.

—Oi – o homem de cabelos negros e arrepiados cumprimentou, mais tenso do que era humanamente possível.

—Oi – Fay devolveu, a boca seca e o coração acelerado.

—Tudo bem se me sentar com você?

O loiro piscou, confuso por alguns segundos. Seu texto, seu livro… Se ele não completasse aquele fim agora, ele nunca mais o faria. Ele não podia… Mas aquele tom de vermelho…

—Tudo bem – e recolheu os papéis espalhados colocando-os dentro do caderno e o fechando – Prazer, Fay, escritor – e estendeu a mão.

—Kurogane, lutador de judô pela seleção nacional e professor de kendo nas horas vagas – e apertou com cuidado a mão que lhe era ofertada – Você estava escrevendo, eu estou atrapalhando? Se quiser posso mudar para o outro lugar…

Os olhos azuis quicaram entre o caderno e o homem a sua frente.

—Eu adoraria que ficasse.

E era verdade. Escrever a maior obra de sua vida era certamente algo grandioso, mas Yui tinha errado ao dizer que Fay escrevia para fugir do mundo. Fay escrevia para mudar o mundo e ele sabia que mesmo as palavras mais poderosas não fariam diferença alguma se não fossem acompanhadas por gestos.

Palavras não mostrariam como criar o tom perfeito de violeta.

O loiro sorriu com tranquilidade, o moreno devolveu o sorriso corando um pouco, quando Sakura chegou com o pedido do homem e mais chocolate quente para o escritor, Fay descobriu que não era apenas café preto sem açúcar, havia uma folha de hortelã pairando na bebida escura. Por algum motivo, aquela descoberta o fez querer sorrir.

Sentado no balcão bebericando um chá, Kinomoto olhava seu escritor, gostando de vê-lo gesticular e falar pelos cotovelos, totalmente animado e feliz como há muito tempo ele não via. Yukito também estava feliz, ele sabia que Fay era mais forte que aparentava.

—As coisas vão melhorar para ele a partir de agora – Kinomoto comentou – Ainda mais depois que ele lançar o próximo livro. Eu li bem por cima, mas é de longe o melhor trabalho dele, melhor que “Ceres”.

—Fay não vai publicar “Nihon”. Ou “Suwa”, ele não chegou a decidir o título – o cheff respondeu.

—O quê? Por que não? – Kinomoto exigiu espantado.

—Porque existem história que devem ser escritas. E existem aquelas que devem ser vividas, Touya.

E o cheff estava certo.

Porque o homem de cabelos negros espetados e olhos vermelhos nunca mais ficou no balcão e o escritor nunca mais ficou depois das oito no café. E nunca mais os dois tiveram que voltar para casa sozinhos.

Levou dois anos para que finalmente o livro que desbancaria “Ceres” surgisse, era uma história sobre um garoto que tinha transtorno de dupla personalidade e outro que tinha alucinações com pessoas mortas. De alguma forma eles adotavam uma garotinha e tentavam construir uma família aprendendo a lidar com suas limitações e potencialidades. O livro foi batizado como “Tomoeda”. Yukito exigiu direitos autorais. Kinomoto só aceitou o manuscrito porque ele era realmente incrível.

E na dedicatória, uma mensagem simples.

“Para Kuro-chan. Você foi a história inacabada que completou meu mundo”

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Watanuki acordou com o próprio grito, seu corpo tremendo e suando. No silêncio da loja sua respiração acelerada era o som dissonante que indicava que algo muito errado iria acontecer.

—Watanuki?

Ele encarou Mokona, seus cabelos colados na testa branca.

—O que aconteceu?

—Eu… Não sei – o garoto confessou, lágrimas brotando espontaneamente de seus olhos – Eu não sei…

A criatura ficou em silêncio enquanto observava o adolescente quebrar. Se pudesse, ele protegeria Watanuki do que estava por vir. Mas a verdade é que ninguém poderia.


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Notas finais do capítulo

Estamos chegando ao fim da história do Watanuki e consequentemente de "VEMM". Espero que tenham gostado da história até aqui ^^



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