(Pov Bella)

   Os meses se passaram e, junto com eles, qualquer estranheza que eu sentia em mim. Com o tempo meus vazios foram anestesiados e eu praticamente não os sentia mais, o que era um alívio.
As coisas com o Edward haviam melhorado e eu me sentia feliz ao seu lado novamente. Boa parte disso se deve ao fato de Jasper ter ido embora. Apesar de me fazer sentir culpada, isso fez com que Edward relaxasse e o clima na mansão ficasse menos tenso. Eu nunca quis que ninguém fosse embora, mas seria o único jeito das coisas voltarem minimamente ao que eram antes de toda essa loucura; minha decisão era firme.
   Semana passada Edward me pediu em casamento e eu disse sim. Carlisle desistiu de tentar ter esperança em minhas memórias e apenas aceitou que não havia mais jeito. A maior parte de mim ignorava o fato de ter esquecido um ano tão conturbado da minha vida e, quando esse acontecimento era trancado no almoxarifado da minha mente, tudo corria perfeitamente bem. Os momentos de desespero e ansiedade eram cada vez mais raros e eu me agarrava na ideia de que, um dia, eu estaria completamente curada de qualquer resquício do meu acidente.
Rosalie parecia que me odiava ainda mais do que antes. Quando nos cruzávamos no corredor ela torcia o nariz e não disfarçava o seu nojo por mim. Edward insiste que foi por causa dela que eu corri e sofri o acidente, mas não faz sentido. Por que ela me odiaria ainda mais por isso? 
— Terra para Bella! – Chamou Alice, sacudindo a mão em frente ao meu rosto. Pisquei algumas vezes e suspirei; estava difícil controlar a sua vontade inigualável de fazer eventos gigantescos.
— Nada disso, Alice. Eu não quero uma festa enorme. Só a nossa família está bom.
— Você não quer nem chamar o seu pai!
— Não precisa! Ele sabe que vou me casar. Depois que assinarmos os papéis eu conto a ele. Charlie vai entender o fato de eu não querer fazer disso um grande acontecimento.
— Você é absurda! – Exclamou Alice, marchando para fora do quarto. Nada e ninguém iria me fazer mudar de ideia sobre isso. Não havia possibilidade de eu ser o centro das atenções para quase quinhentas pessoas. Por sorte eu tinha Edward ao meu lado nessa escolha e ele se certificava que ela não estaria armando nada nas nossas costas.
— Alice não irá desistir. – Disse Edward, sentando-se ao meu lado. Ele me envolveu em seus braços e eu suspirei.
— Sorte que sou teimosa.
— Ela acha que se não teremos um grande evento, não faz sentido enrolar para organizar algo só para nós.
— Como assim?
— Nós estamos pensando se não podíamos fazer a cerimônia no mês que vem. Não precisamos de tanto tempo para arrumar os detalhes. O que acha? – Engoli seco. Estar casada no mês que vem? Eu mal havia me acostumado com a enorme aliança de noivado em meu dedo e com a ideia de dar um passo tão grande na minha vida. Imaginava que levaria uns meses, talvez até um ano. Mas um mês?!
— E-eu n-não se-i. – Edward riu, segurando meu rosto com as mãos.
— Se acalme. É um casamento, não uma sentença de morte. Posso pedir mais tempo, mas imaginava que você tinha pressa em se tornar imortal. – Olhei para ele confusa, erguendo a sobrancelha. – Você não queria ser transformada? Essa é a minha condição. Case-se comigo, Bella, e te darei tudo o que quiser. – Minha boca escancarou. Eu pedia isso a ele há tanto tempo que nem conseguia me lembrar.
— Isso é golpe baixo, viu? – Eu disse, rindo um pouco. Conseguia sentir que na imortalidade encontraria meu lugar na terra e pararia de tropeçar por aí, literalmente.
— É só um acordo, amor. Você aceita? – Olhei em volta e levantei, caminhando até a janela. Eu me sentia tão inútil como humana, tão fraca, tão estúpida... era exaustivo estar desconfortável na sua própria pele por tanto tempo sem saber exatamente o motivo, mas agora eu sabia; era o meu destino me tornar vampira. Mesmo sem ainda ser, cada célula do meu corpo pedia por isso e a dor que eu já minimamente conhecia, não me assustava nem um pouco.
— Eu aceito. – Respondi com firmeza. De repente eu mal podia esperar para me casar.
— Já disse o quanto você é maravilhosa? – Sussurrou Edward, antes de me puxar para seus braços e me beijar.
Não havia motivo para sentir medo do que eu havia nascido para conquistar.

                                                (Pov Jasper)

Duzentos e quinze dias. Esse era o tempo que eu não via o amor da minha vida.
Toda noite era um inferno e eu tinha que me controlar, e até mesmo me machucar, para conter a vontade desesperadora de correr até ela e me humilhar, implorando para que ela me escutasse, implorando por uma chance.
Peter e Lole estavam aqui quando cheguei e me ajudam no que podem em minha recuperação, mas não tem sido nada fácil.

quatro semanas atrás...

— Jasper, você pode por favor parar quieto? – Pediu Lole, enquanto eu andava de um lado para o outro. Alice havia me mandando uma mensagem falando que precisava muito que eu ligasse para ela com urgência e agora ela não atendia. Minhas emoções chegaram no limite; teria Bella se lembrado de tudo? Clac.
— Ah, qual é, a árvore não tem nada a ver com isso! – Zombou Peter, enquanto eu desenterrava meu punho de um tronco. Descontar nas coisas a minha volta também me ajudava na vontade de sair correndo de volta para Forks.
— Ela pode ter se lembrado! Pode estar sentindo minha falta... eu preciso voltar agora!
— Não! – Os dois gritaram, pulando em minha frente. – Espere para ver o que é primeiro, Jasper. Por favor. – A ansiedade quicava dentro de mim e parecia que eu ia explodir. Antes que eu pudesse argumentar, o telefone tocou.
— Alice! Por Deuses, que demora! – Exclamei, me sentindo aliviado instantaneamente.
— Desculpa, estava debatendo esse assunto com Carlisle.
— Por favor, fale logo. Se Bella se lembrou, preciso voltar o mais rápido possível antes...
— Bella e Edward vão se casar. Eu... sinto muito. – Levei cinco segundos para processar a informação antes de esmagar o celular.
— Jas... – Ouvi a voz de Peter ao longe; eu já estava correndo. Minha visão pulsava em vermelho e minha boca transbordava veneno. Eu não estava triste, estava furioso.
   Corri pelo o que pareceu uma eternidade, até dar de cara com uma pequena cidadezinha movimentada. Os bares estavam cheios e tudo o que eu mais queria naquele momento era cravar os dentes em alguém; nada mais importava. Olhei em volta e avistei uma menina sozinha em um beco. Ela estava chorando enquanto falava ao telefone, era a deixa perfeita para me aproximar.
— Você está bem? – Perguntei, forçando a minha voz mais sedutora possível. Teria que dar um jeito de faze-la entrar na floresta comigo por livre e espontânea vontade. Me sentia excitado, não experimentava essa sensação há muito tempo. Quando a menina se virou, eu recuei; seus olhos me lembravam os de Bella.
— Não, mas vou ficar. – Ela disse, enquanto limpava as lágrimas e forçava um sorriso.
— Me desculpe pela indiscrição. Vi você chorando e tive que vir aqui. Sou Jasper. – Ergui a mão, em um gesto educado.
— Achei que estava sendo discreta, pelo jeito não. – Ela riu baixo. – Sou Isabel. – Ela esticou a mão, apertando a minha com firmeza. Isabel? Deus estava me pregando uma peça?
— Estava sim, digamos que tenho bons ouvidos. Posso ajudar em algo?
— Só um ex namorado idiota. Infelizmente acho que ninguém pode me ajudar.
— Terminou com você?
— Eu que terminei. Descobri que ele havia me traído mais de uma vez.
— Ele não merece suas lágrimas. – Eu disse, me aproximando e tocando-lhe o rosto. Seus olhos... não possuíam a cor tão linda e única como o meu amor, mas eram tão parecidos. Algo em meu estômago se retorceu e eu comecei a me sentir horrível pelo o que estava fazendo. A menina ergueu a sobrancelha, se aproximando. – Preciso ir agora. – Eu disse, me afastando e saindo do beco rápido o suficiente para não levantar suspeitas. Assim que atravessei a avenida, vi Peter parado no início da floresta por onde vim. Ele abriu os braços e eu me choquei contra eles, tremendo e urrando. Acabou.
 Eu havia perdido Isabella Swan para sempre.
                                                         ~

    Estava insuportável sobreviver. Sempre que eu tentava desviar o foco das coisas, meus momentos com Bella explodiam em minha mente junto com as palavras de Alice ao telefone. Não havia mais nada que eu pudesse fazer a essa altura, e comecei a me perguntar se devia engolir toda a minha vontade de ficar com ela e focar só no meu amor da forma mais pura possível, sem egoísmos, sem raiva, apenas aceitando o que a faz feliz, seja o que for. Será que eu conseguiria ser tão evoluído assim?
— Acho arriscado. – Respondeu Lole a minha ideia de visitar os Cullen e ver como me comportava na presença dos noivos.
— Eu não vou ataca-los, Lole. Não me sinto mais com tanta raiva, apenas deprimido.
— Vampiro com depressão. Essa é boa. – Riu Peter. – Mas concordo com minha esposa, é muito arriscado e você não tem lá o melhor temperamento.
— Jamais machucaria Bella. – Bufei, irritado. – Não estou indo para tentar conquista-la ou algo do tipo, só que não aguento mais estar longe dela. Não saber notícias me tortura a cada minuto do dia. Estou cansado de lutar contra tanto sentimento intenso aqui dentro. – Coloquei a mão sobre o peito e apertei inutilmente. – Se não posso tê-la como mulher, quero pelo menos tê-la na minha vida, quero poder conversar com ela sobre coisas idiotas e ver o seu sorriso que tanto amo. Sinto tanta falta dela... e isso é o que mais me dói. – Eu disse, levantando e me afastado. Era difícil me expor assim mesmo sendo para duas pessoas que tanto gosto e confio, mas não tenho mais forças para manter de pé meus muros de concreto.
— Sabemos disso, Jazzy. O nosso único medo é você se machucar ainda mais. – Disse Lole, me abraçando. – Tem certeza que terá controle o suficiente para ver Edward e Bella como um casal novamente? Ou vê-la se casando com ele?
— Não faço ideia, mas preciso tentar. Não posso ficar afastado pela eternidade e imagino que ela irá se transformar também.
— Assim nunca irá supera-la. – Afirmou Peter.
— Eu nunca irei supera-la. Nunca. Estar longe só faz doer mais.
— Jas...
— Eu preciso fazer isso, por favor. Prometo que se for demais para mim, eu volto. Tudo bem?
— Promete que não vai tentar matar ninguém? – Perguntou Peter.
— Prometo. – Revirei os olhos. Naquele ponto em que eu me encontrava era mais fácil cometer suicídio do que tentar matar alguém. Se eles iriam se casar, era óbvio que Bella estava feliz. Por mais que me doesse, eu não iria estragar isso.
     Assim que cheguei nos limites da cidade, travei. Senti a ansiedade tomando conta de mim e era quase nauseante. Como será que ela reagiria ao me ver? Ficaria indiferente ou com raiva? Eu nunca cheguei a me despedir... será que ela se importava o suficiente para se lembrar da minha existência? Respirei fundo alguns pares de vezes e me esgueirei pela floresta, me movimentando com cautela. Alice já deveria ter visto que eu estava chegando, então talvez não fosse uma grande surpresa. Me aproximei o suficiente da mansão para ouvir o que estava acontecendo sem ser visto, exceto por Edward, é claro.
Muitos passos. Minha família parecia se movimentar freneticamente pelo lugar.
Um coração. Bella... é claro que ela estaria lá.
“Não acha que é suficiente?”  A voz de Bella me atingiu em cheio e eu voei alguns metros para frente involuntariamente. A saudade comprimiu meu morto coração e eu suspirei, me segurando com força nos galhos para não ir até ela e toma-la em um abraço de urso.
“Eu fiz uns cem cursos de maquiagem diferentes, Bella. Sei o que é suficiente, então não se mexa.”  Alice deveria estar brincando de boneca com ela. Ri baixo lembrando o quanto Bella odiava isso.
“Não é um grande evento, tenha isso em mente.”
“Claro que é, boba.”  Evento? Do que elas estavam falando? Mudei minha atenção para o jardim, onde o resto da família se encontrava.
“Ela ainda vai demorar?”  Perguntou Edward. Sua ansiedade era tão latente que eu conseguia senti-la levemente, apesar da distância. Ele estava tão concentrado no que estava acontecendo a sua volta que sequer havia notado a minha presença. Mas o que poderia deixa-lo tão alterado assim? Minha curiosidade pulsou e eu avancei mais um pouco, me camuflando na vegetação.
“A noiva sempre atrasa, filho. Não sabia disso?”  Respondeu Esme, e era possível sentir o sorriso em sua voz. As peças se juntarem na minha cabeça: Eles estavam se referindo a cerimônia... Bella e Edward se casariam hoje.
Peter e Lole tinham razão; eu nunca deveria ter vindo. Assim que decidi voltar para o Texas, meu celular vibrou.
Alice: Fique.
Droga! É claro que ela sabia de cada passo meu. Respirei fundo. Eu precisava lidar com maturidade e ser respeitoso com minha família. Nada de dar uma cena, Jasper.
Saltei da árvore e me aproximei pelo chão, sem me preocupar em disfarçar a minha chegada.
O primeiro a me sentir foi Edward, é claro; seu rosnado ameaçador foi muito receptivo. Alguns segundos depois o resto da família percebeu do que se tratava e o ar se misturou em felicidade, curiosidade e receio.
Quando finalmente consegui vê-los, Emmett já estava nos flancos de Edward, pronto para separar uma briga.
— Olá família. Eu vim em paz. – Brinquei, fazendo o sinal do Spock de Star Trek. Esme foi a primeira a correr para vir me abraçar, extremamente emocionada.
— Meu filho! Senti tanto a sua falta! – Carlisle veio em seguida, me abraçando também.
— Fico feliz que tenha decidido nos visitar em uma data tão importante. – Ele estava feliz, mas seu receio era mais gritante do que qualquer outro sentimento.
— Na verdade eu não sabia que seria hoje. Acho que estou roubando os poderes de minha ex esposa. – Emmett riu e relaxou, se afastando de Edward e me dando um soco no braço.
— Você não pode sumir assim não, cara. – Esse era o melhor jeito de dizer “eu senti sua falta” a la Emmett. Minha irmã loira apenas sorriu para mim, sentindo-se apenas feliz, diferente dos outros.
— O que você está fazendo aqui? – Perguntou Edward entredentes. Me virei para ele de má vontade e sorri.
— Não vim gritar “eu tenho” quando perguntarem se alguém tem algo contra o casamento, irmãozinho. – Ele estreitou os olhos e percebi que usar meu dom de comediante não seria efetivo nele. – É sério, pode ler minha mente. Não tenho a menor intenção de causar problemas ou tentar roubar a Bella e sair correndo. Sabia do casamento, mas não sabia que seria hoje. Apenas estava com saudade de todos vocês e vim visita-los. – Sua desconfiança ainda estava lá, mas ele pareceu relaxar um pouco. Mesmo que em qualquer movimento em falso que eu desse ele tentasse me matar, estávamos de boa momentaneamente.
— Você é sempre bem-vindo! Fique quanto tempo quiser. – Disse Esme, me dando um beijo na bochecha.
Quando o primeiro impacto da minha visita passou, pude olhar em volta e admirar a decoração. Tudo a nossa volta estava com arranjos de rosas vermelhas e brancas, enquanto pequenos laços coloridos voavam em cima de nossas cabeças. Havia um simples altar com um arco de flores brancas ao fundo e seis cadeiras organizadas milimetricamente para assistir a cerimônia de perto. Quando será que Alice me viu chegando?
— Pessoal! – Gritou Alice, descendo a escada animadamente. – A noiva está pronta e irá descer em poucos minutos. Vamos tomar nossos lugares. – Ela se virou para mim e piscou, me puxando para os nossos acentos.
— Você...
— Shhh. – Ela me cortou. – Sempre sei. – Eu ri, abraçando-a rapidamente. Alice também me fazia muita falta.
Era estranho estar no casamento da mulher que eu amo e me sentir completamente normal, mas eu sabia que se pensasse mais profundamente sobre esse fato acabaria desmoronando, então me manteria focado em fazer piadas idiotas e desenvolver conversas vazias. Os outros não perceberam – ou não queriam perceber – que eu estava em pedaços e preferi manter assim. Talvez eu realmente fosse capaz de seguir em frente com o tempo e voltar a minha família, pessoas que eu sentia falta mais do que achei que seria possível um dia. Esse foi até um bom ponto em minha partida; perceber o quanto eu gosto e me importo.
É claro que todo o meu esquema e minha determinação se deram por terra quando Bella apareceu no alto da escada, tão linda que parecia uma pintura, um anjo. Seu vestido branco, apesar de todo rendado, era simples; ele era longo, tomara-que-caia e modelava seu corpo, revelando uma pequena cauda presa a uma presilha azul em seus cabelos. Nada de saltos, como sempre. A pureza da perfeição.
Ela desceu os degraus vagarosamente de cabeça baixa e, quando estava quase no final, sua cabeça se levantou. Prendi o ar na garganta quando seus olhos castanhos afetuosos e marejados me encontraram, e seu nervosismo explodiu entre nós. Não, eu nunca superaria essa mulher por mais que eu tentasse, por mais que mil anos se passassem nada seria capaz de apagar o meu amor por ela; eu havia encontrado a minha outra metade. Vê-la assim só me fez imaginar o quanto eu queria que ela estivesse caminhando em minha direção como minha esposa. Soltei o ar exasperadamente e percebi que estava chorando em meu jeito particular.
Bella sorriu e deu mais um passo e, em mais uma das coisas comuns que sempre aconteciam com ela, ela tropeçou.