A Profecia de Éter - A arma primordial escrita por George L L Gomes


Capítulo 5
Capítulo 05 - Fuga


Notas iniciais do capítulo

Como se uma nova grande profecia sendo proclamada pela Oráculo depois de um grande ataque ao acampamento, uma nova surpresa deixa os semideuses confusos e temerosos sobre o que estaria para acontecer. 12 serão escolhidos e o destino de cada um permanece na escuridão, tal qual os seres que os perseguem.



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Por um momento eu cheguei a acreditar que tudo aquilo tinha sido uma punição pelos meus pecados. Todavia, quando acordei na enfermaria e vi que tantos outros semideuses haviam passado por algo semelhante ao que eu passei, entendi que eu havia sido somente mais uma vítima, o que de certa forma foi frustrante. Sentia dores pelo meu corpo e as imagens do que acontecera na floresta eram apenas um borrão, muito embora eu soubesse bem o que havia acontecido. Senti que alguém cuidava dos meus machucados e em dado momento consegui abrir os olhos, identificando quem era o curandeiro. Senti raiva quando identifiquei que era Rafael Wester (o filho de Apolo mais popular do acampamento), pois de todas as pessoas que eu não queria ter qualquer dívida, esse alguém era aquele garoto.

Depois que ele se afastou, permaneci deitada e de olhos fechados, tentando compreender tudo que havia acontecido. Tinha completa certeza de que aquelas Sombras iriam me matar, mas isso não aconteceu. Sabia que algo havia acontecido, que alguma coisa havia me salvado e como se tentasse lembrar de um sonho, tinha a sensação de que uma voz falara comigo antes que eu apagasse por completo. Não recordar com precisão era angustiante.

Estava quase dormindo novamente quando fui despertada por um voz doce e melodiosa chamando por Rafael. Ao abrir os olhos, dessa vez mais consciente do que antes, reconheci Ellene Valentine, filha de Deméter e claro, a princesinha eleita entre os semideuses. Ela trazia uma mensagem de Quíron e por tudo que eu havia conseguido escutar, o centauro faria um pronunciamento sobre o ataque que sofremos. Esperei que todos estivessem fora da enfermaria para me levantar já que não permitiria que ninguém me visse frágil, ao menos, não mais do que já haviam visto. Sem ajuda foi muito difícil ficar de pé, mas fazia questão de fazer aquilo sozinha e os sátiros que ali estavam já me conheciam bem o suficiente para não chegar perto ou oferecer qualquer tipo de auxílio. Em passos lentos, segui em direção ao Pavilhão do Refeitório.

Demorou o dobro de tempo para eu conseguir chegar ao local, mas posso dizer que cheguei exatamente no tempo certo. Estava a poucos metros de distância quando vi algo que chamou a minha atenção e me deixou admirada! -Aquela é a Oráculo? - me perguntei, vendo a figura da mulher ruiva, envolta de uma luz cálida, flutuando a vários centímetros do chão, aproximando-se do local onde Quíron discursava. Apressei o passo o máximo que pude e consegui acompanhá-la, não muito próxima já que todo aquele brilho não me permitia a tal, como se aquela aura fosse um escudo protetor. Não demorou muito e Rachel, com uma voz que não era dela de certo, começou a entoar palavras que atingiram a todos ali presentes com uma intensidade fora do comum. Senti novamente o mesmo calor acolhedor que me salvara naquela tarde e sentimentos que há muito tempo eu havia esquecido que era possível sentir tomaram conta do meu corpo. Sem que eu conseguisse controlar, lágrimas escorreram pelo meu rosto e foi como se tudo de ruim que eu guardava dentro de mim fosse posto para fora junto àquele líquido.

Em todos os anos que estive no acampamento nunca tive a chance de receber uma profecia que me permitisse seguir em missão fora daqueles limites, mesmo sendo com toda certeza uma das mais preparadas para isso, mas, ainda assim, eu sabia que aquelas palavras que estavam sendo proclamadas por ela era uma profecia, daquelas capazes de mudar o rumo da história conhecida. Cada frase que se completava me preenchia de temor e ansiedade e tudo dentro de mim vibrava, sendo preenchido com a certeza de que tudo estava prestes a mudar.

Da mesa reservada para os filhos de Zeus eu observava a Oráculo revelar uma nova profecia e sentia tudo ao meu redor aquecer com aquele brilho que emanava da mulher ruiva. Sabia que aquele momento ficaria para sempre gravado na memória de cada semideus que se encontrava ali presente e por muitos anos aquela cena seria descrita, sendo contada a cada nova geração do acampamento, tal qual se contava a luta entre gregos e romanos que acontecera naquelas terras há exatos dez anos atrás.

Minha mente trabalhava freneticamente em decorar cada verso daquela profecia e somente sai do meu estado de concentração total quando vi o Oráculo finalizar suas palavras, ainda flutuando a alguns centímetros do chão. Segundos antes de tudo acontecer, tive uma forte intuição e agi sem sequer pensar no que estava fazendo. Correndo de onde estava segui em direção a mulher e a alcancei no exato momento que toda aquela luz que a cercava explodiu em uma grande nebulosa de luz que por alguns minutos tirou a visão de todos. Mesmo sem o uso dos meus olhos, estendi os braços e agarrei o corpo de Rachel já inconsciente. Tal manifestação de poder com toda certeza requeria toda a força e energia da escolhida do Oráculo. -Descanse agora. - sussurrei para ela, mesmos imaginando que a mulher não conseguia me escutar naquele momento.

Aos poucos senti a visão voltar após a explosão de luz que me acontecera. Meu corpo estava quente e uma energia renovadora fervia dentro de mim, fazendo com que todo o cansaço e dor do combate contra as sombras desaparecesse. De alguma forma eu estava renovado e sabia que isso fora resultado daquela luz que antes cercava o Oráculo. Quando por fim tudo voltou à foco, olhei ao redor e deparei-me com diversos rostos voltados na minha direção o que não foi uma completa surpresa, afinal, eu segurava a mulher que acabara de proclamar uma nova profecia. No entanto, a expressão no rosto daqueles semideuses era algo familiar para mim. Eu já vira aqueles olhos admirados duas vezes antes e jamais esqueceria aquelas máscaras. A primeira vez fora na minha primeira noite no acampamento, durante o momento em que meu pai me reclamou e a segunda não havia sido a mais do que alguns dias, quando o filho de Poseidon chegou ao acampamento e o tridente do seu pai iluminou-se sobre a sua cabeça. -Mas o que será... - antes que pudesse completar o pensamento, vi que a atenção dos semideuses se dividia em outro pontos do Pavilhão do Jantar e vários sons de admiração passaram a desfazer o silêncio do ambiente. Não muito distante de onde eu estava, Samantha Dawson, filha de Afrodite, olhava para cima da própria cabeça e encarava um círculo de luz dourada, flutuando sobre ela. -E-ela... Foi reclamada? De novo? - indaguei-me, sem compreender. No instante seguinte, vi que ela não havia sido a única. Espalhados pelas mesas havia outros semideuses com o mesmo sinal de reclamação pairando sobre eles e nesse momento eu entendi o que todos aqueles olhares na minha direção significavam. Sem precisar olhar para cima soube que eu também tinha o símbolo sobre mim.

—Vocês! - a voz de Quíron se sobressaiu aos murmúrios que se intensificava cada vez mais. -Vocês que foram reclamados! - a voz se elevou bem mais e havia espanto e incredulidade nas palavras do centauro. -Vão para a Casa Grande. - ordenou e por um tempo ninguém se moveu. -Agora! - ele gritou, enfático, sem deixar qualquer margem para argumentação. -Os demais, vão para seus chalés e não saiam de lá até que sejam ordenados. - ele completou, saltando de onde estava, vindo em minha direção. -Deixe que eu a levo. Vamos, me siga. - foi o que ele disse, abaixando aquele tronco enorme em minha direção, pegando a Oráculo nos braços e seguindo em direção a Casa Grande. Sem dizer nada apenas o segui, passando pelos outros semideuses que iam em passos lentos para os seus chalés, olhando para mim com curiosidade e espanto no olhar. Estava na saída do Pavilhão quando comecei a reconhecer os outros semideuses que assim como eu, ainda tinham o círculo de luz sobre a cabeça, como uma auréola, agora mais fraca do que minutos atrás. -Samantha, filha de Afrodite. Victor, filho de Ares, Ricardo, filho de Hefesto, Sun e Moon, filhas de Hermes. - sussurrei, lembrando-me dos nomes de alguns daqueles semideuses, sendo que estes estiveram no mesmo time que eu durante o Captura a Bandeira. -Doze. Somos um total de doze. - contei por fim, reconhecendo outros semideuses como a filha de Atena, Luana, o filho de Poseidon, o semideus novato que eu não sabia o nome, Rafael e Ellene, os queridinhos do acampamento, Kaleb, o louco filho de Dionísio e Ravena Whitmore, a temida filha de Hades. -Deuses, o que está acontecendo?

Depois que a profecia foi recitada pela Oráculo, meu primeiro instinto foi correr até onde estava Rafael. Foi no meio do caminho que a luz que envolvia Rachel se espalhou por todo o Pavilhão do Jantar e tirou a minha visão por alguns instantes. Quando voltei a enxergar, havia sobre a minha cabeça um círculo dourado e brilhante o que não fazia menor sentido. Antes de Quíton voltar a se pronunciar, encontrei meu namorado e desde então não soltei mais a sua mão.

Eu já estava no acampamento meio-sangue a tempo o suficiente para saber que dentre as coisas fora do normal que acontecem aqui, essa superava qualquer expectativa. Uma nova grande profecia acabara de ser revelada e ela tudo tinha haver com o que acontecera durante a captura da bandeira e embora ainda não fizesse a menor ideia do motivo, eu e outros semideuses parecíamos também estar ligados a isso tudo. Para meu alívio eu não fora a única a ser mandada para Casa Grande e principalmente, Rafa também fora um dos semideuses escolhidos. -Não sei o que faria se estivesse metida nisso sem você. - falei para ele, agarrada em seu braço direito, enquanto subíamos os degraus da entrada do lugar, Sede do Acampamento. Fitando-o nos olhos eu vi o quanto ele estava preocupado com tudo aquilo. - Juntos, independente do que aconteça! - falei, tentando sorrir e apertando sua mão.

Quíron já estava lá dentro e havia deitado a Oráculo no sofá maior e Rafa logo seguiu até ela. Sendo ele filho de Apolo, havia se dedicado em aprender artes de cura durante todo o tempo em que esteve no acampamento, mesmo que isso não lhe agradasse realmente. Contudo, eu sabia que ele faria qualquer coisa para ajudar. Como eu não tinha qualquer aptidão para isso, caminhei até o local onde Ravenna estava recostada, afastada dos demais. -Como está se sentindo? - perguntei a ela, recebendo apenas um olhar de reprovação como resposta. -Ok. Já entendi, Rav. - respondi, respirando fundo, segurando uma das mãos da garota que estava pousada ao lado do corpo. -Fiquei preocupada com você. Pedi ao Rafa para cuidar pessoalmente de você...

—Então foi você? Por que eu não imaginei isso antes. - ela falou, me interrompendo antes que eu pudesse continuar.

—Um simples obrigado já bastaria. - retruquei, soltando a mão da garota para arrumar uma mexa do seu cabelo acobreado, colocando-a para trás da orelha. -Mesmo que você não queira, eu vou cuidar de você sempre que eu puder. - afirmei, pondo-me ao lado dela, pousando a cabeça em seu ombro. -O que acha que tudo isso significa? - quis saber a opinião da prole de Hades. Mesmo tendo chegado alguns anos depois de mim no acampamento, Ravenna tinha grande experiência e era uma das pessoas mais inteligentes que eu conhecia, principalmente no quesito “coisas de semideuses”, ficando atrás somente de Luana.

—Alguma grande merda dos deuses. - ela me respondeu com o seu habitual tom de indiferença. -Uma grande profecia depois de dez anos e logo após um ataque de seres desconhecidos no Acampamento? A coisa só pode ser grande e feia. E advinha quem vai ter que resolver? - ela me indagou, olhando-me desafiadoramente, coisa que ela sempre fazia comigo sempre que tinha a oportunidade. Esse era um dos motivos que fazia Rafael me perguntar sempre como eu conseguia ser amiga da garota, quando ninguém mais conseguia ou se esforçava para tal. “Eu consigo ver quem ela realmente é”, era o que eu sempre lhe respondia.

Não me dei o trabalho de responder e apenas balancei a cabeça em sinal de negação. Tinha ciência de que realmente era algo sério que estava acontecendo e como sempre nós semideuses teríamos que fazer algo a respeito.

—Prestem muita atenção no que vou falar. - Quíron se pôs no meio da sala após terminar os cuidados com a Oráculo e esperou que todos nós estivéssemos olhando para ele, continuando somente depois disso. -O que aconteceu aqui hoje nunca foi visto antes. Vocês foram mais uma vez reclamados por um deus, como devem ter percebido. Essa reclamação, no entanto, não indica uma descendência divina, mas indica que vocês estão sendo escolhidos para algo grande. A profecia... -e ele parou, respirando fundo, deixando claro que até mesmo para ele era difícil falar sobre aquilo.

—De número do panteão irão surgir, luzes escolhidas pelo filho do mal a emergir. - recitei, olhando para Quíron que balançou a cabeça, confirmando o que eu estava pensando. -O panteão, apesar de significar literalmente um conjunto de deuses, geralmente refere-se aos deuses principais. Certo? - indaguei, olhando dessa vez não para Quíron, mas para Luana. A semideusa loira confirmou brevemente, olhando-me com surpresa como se jamais esperasse que eu soubesse de algo como aquilo. -Temos filhos de todos aqui. Ao menos, daqueles que possuem filhos com mortais. - concluí.

—Sua teoria poderia até estar certa, Ellene. - Luana começou a falar, olhando de mim para Quíron e depois para os demais. -Se não fosse o fato de que o panteão principal, digamos assim, é composto por treze deuses. Estamos em doze aqui.

—Talvez alguém reclamado fora do acampamento ou entre os semideuses que estão desaparecidos? - indagou Ricardo, meu melhor amigo que eu tinha como meu irmão mais velho. Fora ele quem me trouxera ao acampamento meio-sangue e desde então nos tornamos muito próximos. -E esse lance de “A escuridão sem fim despertará e da prisão dos deuses escapará?” - perguntou, olhando para todos.

—Quíron, acha que a profecia se refere às Sombras que nos atacaram? - foi minha vez de levantar uma questão e essa, mais do que a dúvida anterior pareceu importar a todos que juntos passaram a encarar o Diretor de Atividades.

—Não exatamente. Agora que uma profecia foi recitada, não posso mais falar muito sobre o que sei, pois cabe a vocês descobrirem. Mas creio que posso revelar que o que atacou o acampamento essa tarde foram Assombrações.

Uma risada atraiu a atenção de todos e vi, deitado no mesmo sofá que a Oráculo, fazendo tranças nos cabelos cacheados e ruivos da mulher, Kaleb Agron, filho de Dionísio. -Assombrações? Tipo o bicho papão, a perna cabeluda, a loira do banheiro e o Michael Jackson? -ele perguntou, secando as lágrimas de riso.

—Kaleb. Mais respeito! Sai daí garoto. - falei, indo até onde ele estava, puxando-o de la.

—Não. Não esse tipo de assombração, senhor Agron. As que invadiram o acampamento são muito mais antigas e deram origem a esse termo que usamos hoje em dia, muito embora tenham um propósito muito semelhante. Essas... - antes que ele pudesse concluir, a porta da Casa Grande foi aberta de supetão e um sátiro entrou aos gritos, seu rosto transfigurado em uma máscara de medo.

—Ataque! As Sombras... Os semideuses! - e diante dos nossos olhos o sátiro foi coberto por um manto negro que se solidificou, transformando-o em uma estátua de completa escuridão. Gritos e som de batalha invadiram a casa vindo do lado de fora e não foi preciso muito tempo para sabermos que o caos estava espalhado em todo o acampamento.

—Vocês precisam sair daqui. Saíam do acampamento e mantenham-se seguros! Desvendem a profecia. Vocês tem até a virada do ano. - Quíron gritou, sacando suas espadas da armadura. -Darei cobertura à vocês. Vão! Vão! - e sem que pudéssemos raciocinar sobre tudo o que estava acontecendo, saímos todos correndo da Casa Grande, mergulhando em um completo pesadelo.


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