A Profecia de Éter - A arma primordial escrita por George L L Gomes


Capítulo 4
Capítulo 04 – Profecia


Notas iniciais do capítulo

Ainda se recuperando dos ataques que sofreram depois que a escuridão tomou conta do Acampamento Meio-Sangue, os semideuses são surpreendidos com uma nova profecia que mudará para sempre a vida de todos eles. Estarão as proles dos deuses preparados para o novo mal que está prestes a despertar?



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Tudo era escuridão mais uma vez e eu sentia apenas o pavor crescendo dentro do meu corpo. Aliás, cada parte do meu pobre e magricelo corpo estava envolvido por dor e eu cheguei a pensar que aquele era o tipo de castigo que os semideuses recebiam ao morrerem. Tinha consciência que no pouco tempo em que eu pude ser o tipo de semideus ideal e modelo, falhara drasticamente. Poseidon talvez esperasse que eu fosse como outro de seus filhos que marcara um legado por coragem e serviços aos deuses, embora para mim, tudo não tivesse passado de uma terrível maldição na vida do garoto. De toda forma, se aquilo fosse a morte, eu tinha que me acostumar com ela e me apegar às lembranças felizes, como a luz que eu havia visto momentos antes daquela criatura infernal, moldada em sombras, se unir ao meu corpo.

Sabia, com toda a certeza possível, que aquela luz era algo divino e no curto momento que tocou o meu corpo senti como se nada mais pudesse me machucar. Durante aqueles minutos as partes onde aquela Sombra ambulante me tocou pararam de queimar subitamente e consegui sentir novamente o ar preencher meus pulmões. Por aquele curto instante senti-me mais vivo do que qualquer outro momento, o que é algo completamente irônico já que a minha morte veio logo em seguida. Concentrando-me naquela sensação até tive a vaga impressão de ter novamente uma mínima parte daquele calor mais uma vez, bem ali sobre a minha testa. Era algo reconfortante, quase como se uma compressa de panos mornos tivessem sido postas naquela região. Bem, demorei alguns minutos para compreender que na verdade era isso mesmo que estava acontecendo.

Com um pouco de dificuldade consegui abrir os olhos e levei alguns minutos para me acostumar com a claridade do ambiente. Olhei ao redor tentando ver onde eu estava, sentindo-me aliviado por não estar morto afinal de contas. De ambos os lados havia pessoas deitadas em uma espécie de cama um tanto quanto rústica ao meu ver. As pessoas, que pouco tempo depois reconheci como outros semideuses, vestiam ainda as roupas dos times do caça a bandeira e tinham ataduras em volta de partes do corpo como cabeça, braços e pernas o que me fez constatar que eu estava na enfermaria do acampamento. Bem, tive ajuda do cheiro de remédio que estava espalhado pelo ar, devo admitir, e aquele odor fez o meu estômago revirar. Tentei me sentar e logo senti mãos fortes apoiando minhas costas o que ocasionou um grande susto. Sem que eu tivesse percebido alguém tinha aproximado-se de mim e agora pedia para "eu ir com calma". Ao olhar para o lado tive a certeza mais uma vez de que havia morrido e estava nos campos Elísios.

Olhando para mim com aquele sorriso radiante estava o semideus mais lindo de todo o acampamento. -O-obrigado. - gaguejei, levando a mão até o cabelo em um movimento instintivo, tentando arrumá-lo, o que era algo quase impossível, afinal, todos aqueles cachos não se colocariam no lugar a menos que eu usasse meio tubo de gel cola fixação número cinco. -O que aconteceu? - perguntei, olhando com cara de bobo para o filho de Apolo, sem conseguir disfarçar o quanto eu era encantado por ele.

—Bem, muitas coisas na verdade. Do que você se lembra, Angelo? - ele me perguntou, colocando a mão firme no meu ombro, apertando aquela região. -Como está se sentindo?

Como eu estava me sentindo? Agora, sabendo que ele me conhecia pelo nome eu simplesmente me sentia o garoto mais feliz do mundo. Contudo, percebi que não era exatamente sobre aquilo que ele estava querendo saber. -Está tudo muito confuso na minha cabeça. - comecei respondendo, tentando me lembrar de tudo o que havia acontecido até aquele momento. -Me lembro de estar na floresta... No captura a bandeira. - afirmei, sentido que as lembranças ficavam mais claras à medida que eu falava. -Estava perdido e então tudo ficou escuro. Mais escuro do que eu jamais consegui imaginar ser possível! Não conseguia me mexer, gritar ou pedir por socorro. - olhei para ele vendo-o franzir a testa. Soube de imediato que ele compreendia cada palavra que eu dizia. -E então...

—As Sombras surgiram. - ele completou, com a voz tão profunda que senti o meu coração apertar.

—Isso. - concordei, baixando a cabeça, olhando para minhas mãos e vendo, iluminada pela luz produzida pelos archotes do local, as marcas esbranquiçadas que antes não existiam ali. -Mas o que? - indaguei, espantado, mais para mim mesmo do que para Rafael.

—Eu sei. Também ganhei uma aqui! - ele respondeu, chamando a minha atenção e mostrando-me uma marca semelhante no pescoço. A marca dele, assim como a minha, parecia uma cicatriz de queimadura, porém, mais suave e até de certa forma mais delicada. -Você, assim como algumas pessoas aqui foi tocado por aquela... Coisa. - ele começou explicando, parecendo tomar cuidado com as palavras que estava usando. -Em breve o Sr. D. e Quíron vão falar com todos sobre o que aconteceu. Ainda estão investigando, sabe? - era possível sentir o tom de mistério na voz dele.

—Acho que sei. - respondi com sinceridade, olhando novamente para as marcas nas minhas mãos. Sabia que ali havia sido um dos locais em que as Sombras haviam me ferido durante a minha tentativa de luta com elas na floresta. -Elas estavam negras. - disse, vendo-o ficar confuso. -As marcas. - expliquei. -Eram negras, como se meu corpo estivesse apodrecendo. - lembrei da sensação e senti um calafrio percorrer a minha coluna.

—É. Eu sei. - foi tudo o que ele disse antes, ficando em silêncio por alguns minutos, perdido em pensamentos que eu quase conseguia imaginar quais eram. Me perguntei se assim como aconteceu comigo ele também havia visto aquela luz divina. Estava prestes a perguntar quando nossa atenção foi atraída para a entrada da enfermaria, quando uma voz doce e melodiosa chamou por Rafael. Olhando naquela direção assim como o filho de Apolo, vi que tratava-se de Ellene, a namorada do rapaz, mais conhecida como a princesinha do acampamento. Senti-me irritado no mesmo instante e desviei o olhar para o outro lado. Como Rafael não saiu de onde estava soube que ela viria até nós.

Entendam, eu não tinha exatamente algo contra a garota e ela nunca fizera nada de ruim contra mim, pelo contrário até, uma vez que junto à Rafael ela fora uma das semideusas veteranas que me recepcionara quando cheguei ao acampamento. Entretanto, era toda aquela perfeição e doçura dela que me irritava. No fundo, eu sabia que isso podia ser justificado resumidamente pelo sentimento de inveja que eu não queria admitir sentir. -Quíron pediu para eu avisar que ele quer todos que estiverem em condição de andar no Pavilhão de Jantar. - ela falou assim que aproximou-se. -Os sátiros vão ficar aqui na enfermaria com aqueles que ainda estão inconscientes ou não tem condição de se fazerem presentes. - completou. Olhei para ela no exato momento que a garota trocava um olhar diferente com Rafael, o qual eu não consegui compreender naquele momento o que significava.

—Alguma novidade enquanto aos desaparecidos? - ele perguntou, quase sussurrando, mas devido a proximidade que estávamos pude escutar. Senti novamente o calafrio pela coluna e tentei ao máximo esconder o meu espanto.

—Nenhuma. Já contamos um total de doze semideuses desaparecidos. - ela respondeu, com palpável tristeza na voz. -Vamos, não podemos demorar muito mais. - sem dizer mais nada, Ellene se afastou e saiu da enfermaria. Rafael, que ainda permaneceu sentado ao lado da minha cama, fitou-me com um grande pesar nos olhos, os ombros antes firmes em uma postura reta, agora caídos à frente do corpo. Senti uma imensa vontade de abraçá-lo, mas em vez disso, apenas falei o que me cabia.

—Tudo vai ficar bem. Vamos encontrá-los! - disse, sorrindo meio sem jeito e pondo as pernas para fora da cama, sentindo o corpo reclamar de dor. Tentei disfarçar, pois não conseguiria ficar nem mais um minuto naquele lugar sem saber o que Quíron iria informar sobre o ocorrido. -Posso ir também? - perguntei a Rafael, que me avaliou por alguns segundos antes de afirmar com a cabeça.

—Se estiver se sentindo bem o suficiente para ir, pode sim. Lhe dou alta! Mas, quero que volte aqui se sentir qualquer coisa, ok?! - um sorriso fino se formou no rosto dele e levantando-se, Rafael me ajudou a ficar de pé. -Vamos nessa, que ainda temos muita surpresas pelo que me parece.

Enquanto saímos da enfermaria, olhei para os semideuses que ainda estavam ali, vendo alguns se esforçar para ficar de pé e nos acompanhar depois que Rafael repassou o recado de Ellene. Entretanto, um número considerável de semideuses ainda permanecia inconsciente e dentre esses reconheci uma garota em específico. A duas camas de onde eu estava, Ravenna Whitmore encontrava-se desacordada, repleta de marcas esbranquiçadas pelo corpo. Por mais que eu temesse aquela garota, senti naquele momento uma completa compaixão por ela. Aquelas marcas por todo o corpo indicavam que ela fora tocada pelas sombras mais do que qualquer um ali e eu não conseguia imaginar como ela conseguira suportar tamanha dor e sofrimento.

A fogueira queimava viva como era de costume todas as noites no acampamento. Hoje, no entanto, não havia música, nem muito menos a movimentação que estávamos acostumados! Havia uma aura pesada e um silêncio mordaz, tão intenso que era possível ouvir o fogo queimando a madeira! Em meu prato havia uma quantidade mínima de comida e logo metade dela estava sendo jogada nas chamas, sendo consumida em honra a minha mãe. -Obrigado mãe, por proteger-me mais uma vez. - agradeci, sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Antes que ela atingisse meu queixo eu a fiz desaparecer com o dorso da mão. A situação já estava ruim o suficiente e eu não queria que ninguém me visse chorando. Eu tinha que ser forte, não é mesmo?

Ainda ali diante as chamas pude ver as marcas esbranquiçadas no meu braço direito e senti novamente toda a dor que me assolara horas antes. Preso ao meu pescoço, o cordão que carregava o dracma de ouro esquentou como se lembrasse também dos adversários sem forma que havíamos enfrentado logo depois que a escuridão total tomou conta do acampamento. Olhando por cima do meu ombro, vi que mais um grupo de semideuses chegava ao refeitório, muitos dos quais pertenciam ao meu time durante o Captura da bandeira. Notei, pelas ataduras e curativos que se espalhavam pelo corpo, que eles vinham da enfermaria e logo me senti culpada por no momento em que eles mais precisaram da minha ajuda eu apenas soube defender a mim mesma. De cabeça baixa, segui de encontro ao semideus que vinha à frente de todos eles.

—Como está a situação geral, Rafael?  - perguntei, olhando com apreensão para o rapaz vários centímetros mais alto do que eu. -Posso ajudar em alguma coisa? - perguntei por fim, desviando o olhar para o chão.

—O pior já passou. Tudo que eu e os outros podíamos fazer pelos feridos nós já fizemos. Resta agora esperar que eles se recuperem. Ninguém nunca antes havia visto esse tipo de machucados e ainda não entendemos muito bem como ele... funciona, digamos assim. - respondeu-me, respirando fundo, o que me fez ver que ele estava tentando parecer mais positivo do que realmente se sentia.

—Ok. Precisando, estou à disposição. - respondi, olhando para o semideus que estava ao lado dele. O garoto de cabelos cacheados era novo no acampamento e esteve no meu time durante o captura a bandeira, tendo sido convidado por Rafael. Não recordava-me o nome dele, mas lembrei-me que o menino chamou a atenção na sua primeira noite por ter sido reclamado por Poseidon. Uma reclamação dos três grandes deuses depois do acordo feito por eles de não terem mais filhos com humanos sempre causava grande furor no acampamento. -Consegue aguentar? - perguntei a ele, tentando ser simpática e ajudando-o a se apoiar. Pelo seu rosto era possível ver que ele sentia dor, mas ainda assim esforçava-se para continuar andando, o que foi bem admirável. Ao segurar uma de suas mãos vi que ele possuía as mesmas marcas que estavam agora presentes no meu braço, o que indicava que ele também havia enfrentado os monstros das Sombras. O que mais me incomodava em tudo aquilo que havia acontecido era que eu. Luana Mond, não sabia o que eram aquelas coisas.

Logo depois de acordar, ainda no meio da floresta, corri para o chalé seis e passei a procurar em todos os livros ali disponíveis a fim de saber o que eram aquelas criaturas, mas não encontrei nada relevante, o que era absurdamente estranho. Se é que isso ainda era possível!

—Estou bem, obrigado. - ele me respondeu e eu sorri para ele, ajudando-o a chegar até a mesa de Poseidon, que basicamente, era exclusiva dele. Estava a meio caminho da mesa dos filhos de Atena quando vi Quíron surgir e posicionar-se à frente de todos . O silêncio tornou-se ainda mais intenso e consegui escutar a respiração do centauro. O mesmo estivera o início até aquele momento reunido com o diretor do acampamento, provavelmente discutindo o que havia acontecido. Dionísio, todavia, não estava ali o que não era um bom sinal.

—Hoje presenciamos algo que ainda não conseguimos compreender ao todo, sinto informa-lhes. Uma força misteriosa e poderosa o suficiente para ultrapassar nossas barreiras de proteção, tomou conta de todo o acampamento. - ele começou, com a voz grossa e imponente. -Junto a isso, tivemos o relato da aparição de criaturas sombrias atacando todos que viam pela frente. Muitos dos irmãos e companheiros de vocês estão nesse exato momento na enfermaria, tentando se recuperar do encontro com esses seres que eu jamais imaginei, nem mesmo nos meus piores pesadelos, ouvir falar novamente. Alguns semideuses estão desaparecidos e embora o diretor do acampamento, que neste momento encontra-se no Olimpo para discutir com os outros deuses os perigos que esses sinais trazem, não queira ainda que eu revele para vocês o que enfrentaram, acredito que todos aqui tem o total direito de saber. O que invadiu o acampamento...

Antes que Quíron pudesse continuar, no entanto, uma voz se sobressaiu ao do centauro, interrompendo-o e fazendo todos os ali presente olhar em direção da mulher ruiva que emanava uma aura dourada, impedindo que qualquer um ali presente conseguisse fixar-se nela por mais do que alguns segundos. -A Oráculo. - sussurrei, espantada. Já havia estado outras duas vezes com Rachel, recebendo dela profecias que me enviaram a missões fora do acampamento, mas em nenhuma das vezes ela mostrara-se daquela forma. A luz que envolvia o seu corpo era familiar para mim e tão logo as palavras ditas por ela começaram a vibrar, doces e acolhedoras, lembrei-me o porque sentia que conhecia aquele poder. -A luz que me salvou das Sombras. - disse, sentindo a voz falhar e os olhos encherem-se de lágrimas. Enquanto uma nova profecia era proclamada aos quatro ventos do acampamento, eu fui inundada por uma gama de sentimentos e emoções que eu jamais serei capaz de descrever.

“A escuridão sem fim despertará... Da prisão dos deuses escapará.

Imortalidade seu alimento, de sua vingança chegou o tempo.

De número do panteão irão surgir, luzes escolhidas pelo filho do mal à emergir.

A arma primordial deverão recuperar, para novamente o equilíbrio reinar.

Testes precisarão viver, mostrando-se dignos de novo poder.

O tempo em nada ajudará e ao nascer do novo ano o ser das trevas vencerá.”


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