-Você tem menos de um segundo para me explicar o que foi aquilo! –Anna gritou comigo.

     -Anna, eu...

     -Quer dizer que é desse tipinho que você gosta? Então eu devo ser comparada a ela..! Uau foi a revelação do dia, Nico, o garoto esquisito entre os semideuses é a maior sensação das deusas. Ok entendi. Não acredito que você tem 16 anos e já teve, vamos dizer... amantes. –Ela falou imitando Melinoe. Anna não parava de falar, estava irritada e nervosa, mas não deixava um espaçinho para eu poder me explicar. E ela continuava a tagarelar.

     -ANNA! Deixa eu falar caramba! –Ela parou e olhou para mim, esperando eu começar a falar. –Olha, Melinoe não é daquele jeito, mas as deusas também ficam irritadas e sentem inveja. Ela, por mais que seja uma deusa, não chega nem perto de você, minha amada, eu realmente digo a verdade. Eu não sou nenhuma “sensação” em qualquer lugar, no Olimpo ou no Acampamento, mas no reino de meu pai é um pouco diferente, as pessoas me tratam com mais respeito, mesmo assim por lá eu era “o vivo”, o diferente.

     “Foi assim que eu acabei com Melinoe,” eu continuei a me explicar da melhor maneira que pude. “Nós dois éramos incompreendidos e estávamos sozinhos, nós dois éramos (somos eu acho) muito parecidos. Passamos cerca de dois meses juntos no Hades, meu pai aprovava o que fazíamos, mas eu queria voltar para o mundo real. Ela nunca me perdoou, mas nosso passado ficou em segredo.” O assunto tava muito meloso, mudei. “ E não me venha dizer que eu tive váááárias garotas antes de você por que a deusa dos fantasmas foi a única, até que eu...”

     -Até que vieram as outras. –Anna virou de costas para mim.

     -Anna, me escute. O que eu ia dizer era: até que eu me apaixonei perdidamente por você. –Eu a respondi me pondo em sua frente de joelhos ao lado da cama. Sequei uma lágrima que escorreu por seu rosto. –Tudo o que eu lhe disse, tudo o que eu fiz, todas as noites que passamos juntos, noite passada quem sabe? Será que não percebe que você é a única garota que eu amei de verdade? Será que não vê que por você eu faria qualquer coisa? Não sei o que Afrodite fez comigo, por que eu nunca, nunca em toda minha vida, me senti desse jeito, mas eu gostei do que ela fez. Anna, o único motivo pelo qual estou aceitando tão bem esses últimos dias de vida é por que eu estou com você, e nada mais me faria mais feliz. Te disse quando pensei que iria morrer, e lhe digo de novo agora, eu te amo, raio de sol.

     Eu, ela, o mundo estava em choque agora que Nico di Ângelo tinha exposto seus sentimentos como nunca havia feito nem nunca pensou quer faria. Anna estava sentada, seus olhos fixos em mim, porém ela não estava ali, estava muito distante. De uma hora para outra ela voltou a consciência de que nós ainda estávamos naquele quarto de hotel.

     -Me desculpa. –Ela não disse mais nada por algum tempo (garotas são realmente confusas). E então: -Me desculpa por duvidar de você. Me desculpa por só agora cair a ficha. Me desculpa por só agora responder com clareza. Nico eu te amo.

     Nós nos beijamos, mas nem ao menos posso dizer que foi um beijo normal por que além do nosso lindo discurso de apaixonados, nós já estávamos sem roupas. Me deixei levar pelo momento e só recuperei a razão depois de horas.

     Eu e ela estávamos deitados abraçados, não falávamos nada.

     -Mesmo que eu deteste estragar o clima, precisamos nos levantar e acordar se quisermos que essa não seja a nossa última vez.

     -Ah deuses! Nico di Ângelo, como você pode me distrair, nós temos menos de 24 horas para achar uma cura para você e voltar para o Olimpo! –Ela levantou de um pulo e começou a vestir suas roupas com pressa, me vesti também.

    Passamos pelo local onde era servido o café da manhã para comermos rapidamente qualquer coisa.

     -O que acha que Melinoe quis dizer com aquilo de pensar como um semideus?

     -Eu estive pensando sobre isso, ela disse que temos que tentar algo que só meios-sangues saberiam, mesmo assim você não pensaria nisso... Além do que ela falou sobre: “se você tiver entendido, nos vemos logo.”

     -Bom essa parte é até fácil, não? –Eu não respondi, apesar de ter pensado a resposta. –Ela é a deusa dos fantasmas, logo provavelmente deve viver no submundo, ou seja, a resposta para o seu, melhor, nosso problema estará lá. Mais um motivo para eu não pensar nessa, seja qual for ela, resposta.

     Deixei Anna pensando em silêncio e vasculhei minha mente em busca de alguma coisa no Hades que pudesse me curar, que pudesse limpar o veneno de meu corpo. Pensei e pensei, a resposta me veio mais obvia do que eu esperava.

     -Ah papai! Nem parece que eu sou um filho de Hades! –Eu disse sorrindo, Anna me olhou incrédula. –O Rio Estige! –Ela mudou de incredulidade para confusão. –Se eu mergulhar nele vou ficar invencível como Percy e todo o veneno vai sair de mim!

     -Mas isso é perigoso, não é? Sempre tem algo...

     -Não, Percy talvez, mas não pra mim, o que posso fazer sou filho de Hades. –É claro que eu estava mentindo, mas as palavras serviram para tranqüilizar Anna, e a mim também, então não havia problema.

     Mais tarde, no Mundo Inferior.

     O caos reinava mortos correndo para todos os lados, vários deuses fazendo o máximo que podiam para segurar por mais um segundo que fosse Cronos dentro do Tártaro. Eu tinha ouvido, enquanto íamos em direção oposta ao caos, que a aparência de Cronos estava aterrorizadora, que poderia fazer um humano chorar. Puxei Anna mais rapidamente para longe daquilo.

     Ouvi uma voz em minha cabeça: “Parabéns Nico, você entendeu.” Sabia que era Melinoe, e mais uma vez me senti grato por ela. Enquanto andava rápido pensei tê-la visto, com seus olhos negros furiosos olhando na direção da confusão.

     Havia muito menos pessoas aonde estávamos do que aonde tínhamos estado logo quando chegamos. Significava que nós estávamos próximos ao Rio. Logo, acelerei nosso passo, ao vê-lo. Não era bem uma cura muito agradável, mas depois que Anna me levou para fazer aquele troço de desintoxicação com as agulhas o rio parecia até agradável.

     -Quanto você vai demorar?

    -De quinze a vinte minutos.

     -E se... Se você não voltar?

     -É uma probabilidade, mas não creio que aconteça, em todo caso, se eu não voltar tente achar Melinoe ou vá até o palácio do meu pai. Eu vou voltar Anna. –Disse e me inclinei para beijá-la, ela me empurrou.

     -Se está tão certo de que vai voltar, pode me beijar depois. –Ela tinha medo em sua voz, mas estava sendo forte.

     Não disse mais nada, me virei para o Rio Estige e pulei. Era agora ou nunca.

     Na mesma hora, no Olimpo.

     -600° andar. –Eu disse para o porteiro. –E não venha nos dizer que não existe por que sabemos que é o Olimpo e precisamos estar lá agora.

     O porteiro quis resistir, então peguei meu escudo, Aegis, e o abri na frente dele, o pobre homem quase teve um ataque, mas nos deu a chave do elevador.

     Nós quatro (sim, Lou foi embora encontrar com os irmãos dele) entramos no elevador e eu quase eletrocutei a caixa de som que nos propiciava aquela odiosa musiquinha de elevador.

     Chegamos ao Olimpo, Robert ficou encantado com tudo ao nosso redor, aliás todos ficávamos sempre que entravamos no Olimpo, mas não tínhamos tempo a perder quanto antes chegássemos a sala de tronos mais rápido poderíamos impedir Cronos de se levantar. Com força puxei Rob pelo pulso e Percy puxou Annie.

     Paramos na frente do portão que dava para a sala de tronos, percebi que eu ainda segurava a mão de Robert e que ele estava muuuuuuito nervoso. Eu corei e soltei sua mão rapidamente.

     -Tente relaxar, ficando nervoso seus pensamentos vão ficar embolados. –Eu disse baixo para ele, não ajudou muito mas ele começou a tentar se acalmar. Tenho que dizer que, dada a situação em que ele estava, ele era bem corajoso.

     Empurramos a porta e ela abriu nos mostrando sete dos doze deuses principais.

     -Olá todo mundo! –Eu disse com um sorriso forçado, para meu pai, Posseidon, Hades, Atena, Apolo, Afrodite e Lady Artemis.