P.O.V. Anna

     No momento em que ele pulou, meu coração parou por um segundo. Eu não pude acreditar que tinha deixado ele fazer uma burrice daquelas, aliás duas burrices, primeira pular naquele rio, segunda me deixar sozinha no Mundo Inferior do qual eu só conhecia uma pessoa, a ex dele.

     Eu esperei, esperei, esperei, esperei, e quanto mais eu ficava nervosa mais o tempo me parecia confuso. Eu não sabia se haviam se passados dez ou quarenta minutos, não sabia se eu já deveria ficar preocupada ou se ele ainda tinha tempo. Tudo o que me restava era sentar e esperar que meu Nico voltasse vivo e curado.

     “Então é isso.” Pensei. “Já devem ter se passado muitos minutos a mais do que 15 minutos. Preciso encarar a realidade, ser forte e sair daqui.”

     Reuni todas as minhas forças e comecei a caminhar em direção oposta ao rio, empurrei as lágrimas para dentro de volta e me forcei a não pensar em chorar.

     Enquanto caminhava lentamente percebi que há muito não ouvia sons da batalha, aquilo era pior do que a batalha em si pra mim, somente o silêncio a minha volta, além dos destroços por toda parte, fazia parecer que eu nunca sairia dali.

     Vaguei por algum tempo, então comecei a me desesperar. Nico não voltaria para me salvar e meus amigos só dariam por minha conta talvez somente daqui a uns três dias. Eu estava perdida na terra dos mortos e estava sozinha.

     P.O.V. Thalia

     -Thalia! –Meu pai disse e eu não entendi se ele estava contente ou triste por me ver. –Percy Jackson, Annabeth Chase e você aberração. –Meu pai disse com nojo.

     -Ei! Aberração eu não sou!

     -Pelo menos não tanto quanto meu pai pensa, mas ele ainda esta certo.

     -Cala a boca Thalia, ninguém te chamou na conversa.

     -Cala a boca você moleque imprestável!

     E quando Robert abriu a boca para responder de novo, Zeus gritou:

     -CHEGA! Qual é o problema de vocês? –Uma risadinha foi ouvida do outro lado da sala. Ninguém deu muita atenção, a não ser eu que constatei que tinha vindo de Afrodite. Fiquei vermelha instantâneamente de raiva e vergonha.

     -Precisamos debater sobre a profecia. –Ele prosseguiu. –Existe...

     -Zeus, meu filho não chegou. –Hades disse firme. Zeus não disse nada e ele continuou. –Aonde ele está?

     -Senhor Hades nós sinceramente não sabemos. –Annabeth disse.

     -Como não?!

     -A historia é longa, mas a gente encurta. –Contou Percy. –Ele foi picado por um escorpião gigante e quase morreu, Hermes nos ajudou e ele ganhou mais uma semana de vida, então no dia seguinte quando acordamos ele e Anna tinham ido embora. Fim.

     -Ahhh! Essa garota outra vez!

     -Calma ae, Tio Hades olha como fala da minha filhota! –Exclamou Apolo do outro lado da sala.

     -Ora seu...

     -Silêncio! –Meu pai gritou e todos nós no encolhemos. –Já esperamos tempo de mais temos que prosseguir com a nossa reunião.

     P.O.V. Nico

     Desde o momento em que pulei fiquei concentrado no que tinha que fazer. Eu entendia bem o suficiente de Mundo Inferior para saber que o que acontece quando se pula no Rio Estige é diferente para cada pessoa, mas sempre há uma parte comum e eu não sabia qual era.

     Foquei no meu ‘calcanhar de Aquiles’, porém eu não seria tão idiota de escolher um ponto em que não houvesse proteção. Eu escolhi um pequeno ponto no meio do meu pulso esquerdo onde sempre estava meu bracelete de caveira.

     Eu estava concentrado, mas então tudo ao meu redor começou a se modificar, a ficar escuro e as águas antes apenas um pouco agitadas passaram a ficar totalmente remexidas e eu mal conseguia ficar no mesmo lugar. “Aposto que para o Percy foi fácil.” Pensei instantaneamente, e então logo depois lembrei que para ele certamente não deveria ter sido assim.

     As águas começaram a me puxar para o fundo e eu comecei a lutar para voltar para cima, era muito difícil. Enquanto eu tentava nadar para cima ouvia uma voz falando comigo, não era de ninguém que eu conhecesse, mas ela me chamava e eu ficava tentado a olhar. Sabia que qualquer coisa que estivesse ali tentaria me fazer ficar e eu não podia me desconcentrar.

     Eu já estava fraco pois só me restavam poucas horas de vida, mas desde que mergulhei no Rio não tinha me sentido daquele jeito, no entanto não me senti mais forte como se pudesse enfrentar um exército inteiro sozinho e vencer –como eu imaginava que aconteceria se eu mergulhasse no Estige.

     De um segundo para o outro mãos começaram a me puxar para baixo e isso me deixou com uma raiva tremenda. “Eu já estava me arriscando só por pular naquele rio e a correnteza me puxar para baixo, mas agora ainda vinham espíritos ajudar a me matar. Ah vai a merda! Eu só vou morrer uma vez e será de forma digna!” Pensei revoltado e aquilo me deu mais forças para nadar mais forte.

     Com a nova motivação comecei a me sentir mais poderoso e assim comecei a conseguir nadar para cima em direção a terra firme. Ao pensar em terra firme pensei no exato momento em Anna, “será que ela pensa que eu morri, será que ela vai me deixar e voltar para o Olimpo sozinha?”

     -Nico di Ângelo, foco na sua missão! –A voz dela veio como uma forte repreensão.

     E naquele momento pude vê-la, como se estivesse na beira de um belo rio em um dia ensolarado de verão, com o Sol batendo em seus cabelos e os fazendo brilhar.

     -Concentre-se, amado, e agora venha até mim. Pegue minha mão. –Eu fiz o que ela mandou é claro, se funcionou ou não é outra história.

     P.O.V. Anna

     Se a alguns minutos atrás eu pensava que conseguiria segurar as lágrimas até pelo menos sair do Submundo, eu estava completamente e irrevogavelmente enganada.

     Eu já havia chorado tanto que nem mais existiam lágrimas para serem choradas. Tudo o que havia sido acumulado dentro de mim naqueles últimos cinco dias havia ido embora com uma facilidade absurda. Eu já havia chorado por tantas coisas que no momento eu já nem mais pensava, imagens vinham a minha cabeça e antes de eu poder vê-la eu já começava a chorar.

     Eu não sabia mais o que fazer. Estava sentada nos degraus da frente do palácio de Hades sozinha, pois parecia não haver nenhuma alma morta bondosa disposta a me ajudar. Eu já havia gritado, chutado coisas, xingado todos os palavrões que eu conhecia na minha e em outras línguas, até mesmo já tinha implorado para qualquer deus que estivesse a me ouvir que me ajudasse naquele momento (e na hora nem estava falando sobre sair do Mundo Inferior).

     Decorrente algum tempo, as lágrimas pararam de escorrer pelo meu rosto e só os soluços sobraram ecoando na vazia imensidão. Me ocorreu que talvez alguma coisa dentro do palácio pudesse me ajudar, era o primeiro pensamento lógico que eu tinha em horas (ou seriam minutos?).

     A porta estava fechada, mas eu empurrei e entrei não me importando com o que quer que pudesse acontecer comigo, já que qualquer um que chegasse para brigar comigo eu ficaria feliz em ver.

     Andei sem rumo pelos salões e quartos. Até que encontrei um que me chamou atenção, era parecido com os outros, mas nele havia uma foto em cima da cômoda um menino e uma menina, os dois se vestiam ridiculamente iguais com roupas camufladas do exército e eram muito parecidos, eu sabia que eram Nico e a irmã dele, que um dia eu havia conhecido há muito tempo atrás, mas não lembrava o nome.

     Aquela foto fez meu coração apertar de novo e novas lágrimas começaram a cair. Alguns ai até podem pensar que eu sou fraca, mas duvido que iriam aguentar o tempo que aguentei.

     Entre uma lágrima e outra escutei passos e comecei a correr em direção ao barulho inconsciente do que estava fazendo.

     Quando virei um corredor meus tornozelos fraquejaram e eu tropecei e quase cai no chão. Quase, pois Nico estava lá para me ajudar e ele estava lá de verdade me envolvendo em seus braços (agora muito mais musculosos, por sinal).

     Eu estava sem fala, não conseguia ficar feliz ou furiosa ou fazer qualquer coisa que não fosse ser hipnotizada por aqueles profundos olhos de ônix.

     -Sim, meu amor, eu também estava com saudades.