Amor e Amizade escrita por The Escapist


Capítulo 4
Capítulo 4




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Um dia depois da aula, Daniel e Camila saíram juntos em direção ao dormitório.

─ Acho que eu vou pra casa no próximo fim de semana! – disse Daniel.

─ Ah, sério? Que legal! Você não está mais com raiva do seu pai?

─ Estou, mas, ele mandou uma passagem de avião, e o meu aniversário está próximo. E você, vai fazer o que?

─ Ah, acho que não vou pra casa, preciso fazer aquele trabalho de inglês, acho que vou levar o fim de semana inteiro.

─ Que nada, aquele trabalho é muito fácil, eu já terminei até.

─ Eu acho incrível a sua facilidade com inglês!

─ É que eu já falo inglês há bastante tempo.

─ Você é rico, Daniel? – Camila perguntou, e pegou Daniel de surpresa; os amigos pararam no meio do caminho.

─ Como assim? – Camila bateu na própria testa, num gesto de quem acaba de perceber alguma coisa obvia.

─ Ah, você estuda nessa escola, claro que você é rico!

─ Realmente não tô entendendo o por que desse papo, Mila.

─ Você já deve ter viajado bastante para o exterior... – Mila falou, era mais uma constatação do que uma pergunta.

─ Algumas vezes; minhas últimas férias foram na Europa.

─ Hum, eu pensei que você não fosse, sabe, que você fosse mais como eu, é que você não parece um playboizinho mimado!

─ Mas eu não sou um “playboyzinho” mimado – Daniel frisou bem a palavra palyboyzinho – quer dizer, mimado eu sou um pouco, mas se bem que se eu fosse realmente mimado não estaria nessa escola! Mas, enfim, que história é essa de achar que eu sou playboy?

─ Não acho que você é, acho que não é! Quer dizer, olha pra esses caras, eles são tão metidos a besta, se acham os donos do mundo.

─ Eles são ricos!

─ Mas você também é rico e não é assim.

─ Mas eu não sou tão rico quanto o Luis Filipe, por exemplo, o negócio da família dele é petróleo, sabe? E o Gustavo, do segundo ano, sabe quantas cabeças de gado tem nas fazendas do pai dele? Não? Nem eu, mas sei que são muitas... Mas, ahm, e o negócio da sua família, qual é? – Camila deu um risinho sarcástico.

─ Ah! A minha família não tem um negócio próprio! Na verdade, meu pai é frentista – disse meio envergonhada.

─ Frentista, sério? – perguntou Daniel com um verdadeiro fascínio nos olhos.

─ Sério, ele trabalha das 5 da manhã às 8 da noite; a minha mãe é dona de casa mesmo; o Caio é motoboy, mas a mamãe quer que ele largue por que ele já se acidentou algumas vezes, sabe? E o Rodrigo, é atendente de telemarketing!

─ Sério? Seu irmão é um daqueles caras que ficam querendo vender cartões de credito?!

─ É, é sim.

─ Caraca, Camila, que maneiro, sua família deve ser incrível; um dia você me leva lá pra conhecer?

─ Claro, mas não tem nada demais na minha família, Daniel. – Daniel deu de ombros.

─ Aposto que eles devem ser incríveis.

─ Isso é verdade, eles são incríveis mesmo! – todos eles, pensou Camila. – Então, por que você não fala da sua família agora? – foi a vez de Daniel ficar sem graça, e isso não passou despercebido a Camila, ela não entendia algumas atitudes do amigo.

─ Meu pai é empresário, ele tem uma fábrica de peças automotivas, você sabe... a fábrica é a vida dele, eu acho... a mamãe, ela é, dondoca mesmo, mas ela também cuida da casa, e ela é uma boa mãe, tão boa que às vezes cansa, sabe? O Eduardo já se formou, em Administração, e trabalha na empresa com o papai; o Filipe está terminando a faculdade de engenharia e provavelmente vai trabalhar com o papai também; e eu devo quebrar o círculo vicioso, por que não quero ter que trabalhar para o papai também. – Mila reparou que Daniel fazia uma careta, aquele assunto parecia não agradar ao rapaz – Sabe eu quero estudar Medicina.

─ Ótimo, eu também quero fazer Medicina.

─ Vamos acabar estudando juntos.

─ Acho que seria ótimo.

─ Claro; vamos almoçar, antes que a gente se atrase ainda mais.

─ Escuta, eu não vou passar no vestibular se continuar tão mal em inglês, e nesse caso você não vai ter uma colega de curso tão legal quanto eu, então...

─ Eu te ajudo a terminar o trabalho, Camila.

─ Valeu, Dani, você é meu anjo. Thank you so much.

Na sexta antes de viajar, Daniel ajudou Camila com o trabalho de inglês, e ela também pôde ir passar o fim de semana em casa.

Camila esperava que a proximidade do aniversário de Daniel deixasse o garoto um pouco mais animado que o habitual, mas não. O fim de semana que ele passou em casa, ao contrário, parece ter deixado o rapaz ainda mais abatido, pelo menos era a impressão que Camila tinha; a maior parte do tempo Daniel ficava sozinho – quando não estava com ela – e com um ar triste; Camila não conseguia entender o por que.

Encontrou Daniel na biblioteca lendo um dos seus livros preferidos – O Senhor dos Anéis.

─ Oi, Dani.

─ Oi, Mila.

─ Como foi o fim de semana? – Camila perguntou, já imaginando qual seria a reposta; Daniel deu de ombros – Como assim, não foi nem ao menos, divertido? – ele balançou a cabeça negativamente – Não é possível! Daniel, você não fica magoado se eu te perguntar uma coisa?

─ Não, pode perguntar o que você quiser, Camila.

─ Por que você é assim?

─ Assim como, Camila?

─ Você é estranho, não vai ficar bravo, mas poxa, você vive triste, sem motivo, e fica sozinho a maior parte do tempo, e... Enfim, isso é estranho.

─ Você também deve me achar um garoto mimado e bobo. – não era uma pergunta, mas uma constatação; a palavra também não foi ignorada por Mila, então mais alguém achava Daniel, esquisito?

─ Se eu achasse isso não seria sua amiga, Daniel.

─ Sabe, é que... – Daniel riu sarcasticamente, e fechou o livro – Ok, tudo bem, você vai achar que eu sou maluco, dramático, pobre menino rico, e etc., mas é que, eu me sinto tão falso, sabe; é que os meus pais querem que eu seja uma pessoa que eu não sou; eles me idealizam de um jeito, mas... Eles querem que goste de esportes e seja bom nisso; que eu seja simpático com os amigos deles, certamente esperam que eu namore e case com a filha de algum deles; só que eu não sou assim, eu gosto de livros, e não acho que os amigos do meu pai sejam realmente legais. Eles querem que eu seja igual aos meus irmãos – pobre menino rico, pensou Camila – Quando eu cheguei em casa e o meu pai me perguntou como estava na escola, o que eu estava fazendo, eu não disse a ele que passava a maior parte do tempo com uma garota que não é muito feminina, exceto pelas cólicas menstruais, assistindo filminho romântico e falando sobre livros.

─ Obrigada, pela parte que me toca! – disse Mila, com ironia, mas não estava brava com Daniel, estava curiosa pra ouvir o que ele tinha pra dizer.

─ Eu disse que jogava futebol nas horas vagas e tinha uma namorada.

─ Você não tem uma namorada!

─ Eu sei! Mas o meu pai riu, ele deu uma risada, sabe o que isso significa, Camila? O meu pau quase nunca ri!

─ Seu pai riu por que você disse que tinha uma namorada?

─ Não, ele riu por que é machista e agora ele pensa que eu sou o “tal” da escola. Você entende, eu me sinto mal, por fingir que sou outra pessoa; às vezes eu finjo tanto, que nem sei quem eu sou direito;

─ Por que você não fala a verdade para o seu pai, quer dizer, por que você não diz a ele quem você é, de verdade?

─ Por que eu preciso deles, preciso do amor dos meus pais, sabe, eles são... Eles têm um jeito bem difícil, mas são as pessoas mais importantes do mundo pra mim... Meu pai não vai querer um filho esquisito.

─ Quem disse que você é esquisito?

─ O Eduardo, o Filipe, você, todo mundo diz.

─ E você disse que eu não sou feminina!

─ Ah, desculpe, eu não quis dizer isso, bom, mas você não é mesmo, tão feminina!

─ E mesmo assim, meu pai me ama... E eu tenho certeza que os seus pais vão te amar, mesmo com suas esquisitices, eles te amariam mesmo que você seja gay.

─ Eu não sou gay!

─ Eu não disse que você é, bobo.

─ Eu... Eu queria poder falar com eles assim, como eu falo com você, mas não consigo imaginar uma conversa dessas com meus pais.

─ Você pode falar comigo sempre que quiser, ok? – Camila se levantou pra sair.

─ E onde você está indo?

─ Eu? Ah, eu vou, é, vou, ali, é...

─ Qual é Camila, o que você vai fazer?

─ Coisa minha, Daniel.

─ Tem a ver com aquelas coisas de mulher?

─ Putz! Não!

─ Então eu me abro com você e você não me conta nem mesmo o que vai fazer?

─ Você é um chato, você sabe, não é? Tudo bem, eu vou, é que eu vou ver o treino do time de futebol. – Daniel guardou o livro na mochila e levantou pra acompanhar Mila, os dois saíram andando.

─ Desde quando você gosta de futebol?

─ Eu sempre gostei de futebol.

─ Ok, mas esses caras do time da escola nem são jogadores, eles se acham mesmo, mas não passam de idiotas.

─ Pois fique sabendo que eu acho esses idiotas muito gatos. – Camila disse com a clara intenção de irritar Daniel.

─ Então é isso? Você está interessada em alguém. – não era uma pergunta.

─ Eu não disse isso.

─ Olha, eu nem sabia que você gostava de homem – Daniel disse com a clara intenção de irritar a amiga, mas Camila acertou a cabeça do garoto com a bolsa – É brincadeira, Camila, onde está o seu senso de humor, hein? Mas você não vai gostar de um cara do time de futebol vai?

─ E se gostar? – “qual o problema com os garotos do time de futebol?”, pensou Camila, enquanto eles subiam as arquibancadas e sentavam pra assistir ao treino; dois dos jogadores eram da turma de Camila e Daniel. – Eu não sou boa pra um jogador de futebol?

─ Não, não é isso;

─ O que é então?

─ Não é nada.

Daniel!

─ Olha, eles não são do tipo de cara que... Respeitam uma garota, entende?

─ Não.

─ Tudo bem, só não diz que eu não avisei. – Daniel fez uma careta quando Camila acenou para Frederico, o garoto da turma deles, “o cara mais idiota da escola inteira”, “não é possível que a Mila esteja interessada nesse homem de neandertal”.

Assistir o treino do time se tornou uma das “obrigações” de Camila, e embora Daniel não estivesse satisfeito com o súbito interesse dela pelo time da escola, ia assistir o treino também. Daniel não era bom nos esportes, quando era criança, era sempre o maior dos garotos da sua idade e um tanto desajeito, acabava machucando sem querer os outros; um esbarrão num garoto quando estava na quinta serie, durante a aula de Educação Física, que mandou o outro para o hospital afastou-o definitivamente dos esportes, preferia jogar no Playstation – onde era praticamente imbatível.

Daniel se você vai ficar aqui só fazendo careta, por que não vai embora?

─ Por que você quer que eu vá embora? Pra poder mandar beijinhos para o David Beckham do Paraguai? Quer saber, você tem cara de Victoria Adams, sabe?

─ Por que você não some com suas piadinhas, sem graça, seu emo!

─ Não foi engraçado.

─ Desculpa, você me tira do sério.

─ Tudo bem, vai ver eu sou emo mesmo! Mas, então, está acontecendo alguma coisa entre você e o... Frederico?

─ Ah, Daniel, é estranho falar disso, com, um garoto.

─ Tudo bem, é você vive dizendo que conversar é legal.

─ E é, mas...

─ Eu sei, esse é o tipo de coisa que você conversa com uma amiga.

─ Isso.

─ Tudo bem; quem é mesmo a sua melhor amiga? – Camila bufou.

─ Ele falou comigo ontem na aula de Geografia.

─ Hum, e o que ele disse?

─ Pediu pra eu sair da frente do quadro. – Daniel suprimiu uma risada. – Se você fosse minha melhor amiga não ia rir da minha cara.

─ Desculpa, de novo, Camila. Isso é um bom começo, vai ver sua presença estava perturbando os dois neurônios do Frederico.

─ Não sei como você é pior, se é no mode emo, ou no mode palhaço!

─ Você sabe que eu só estou brincando com você, não é Hermione Granger?

─ Você acha mesmo engraçado ficar colocando apelidos em mim?

─ Com certeza, acho;

O romance de Mila não rendeu nada, pelo menos não até as férias de julho, e Daniel ficou mais tranqüilo por saber, que pelo menos por um mês sua melhor – e única amiga – estava segura!

De presente de aniversário, Daniel ganhou uma viajem para a Disney – claro que ele não achava que esse era um presente para uma pessoa de quinze anos, mas afinal era a Disney e ele adorava passar as férias lá. Enquanto ele se divertia na Flórida, Camila passava as férias em casa, mais uma vez, ajudando a mãe com as tarefas domestica, e indo a praia com os velhos amigos da escola; suas férias também foram divertidas. Ela e Daniel não se falaram muito; Camila mandou um e-mail desejando feliz aniversário pra ele, e Daniel mandou um cartão postal de Orlando pra ela.

Quando as aulas voltaram Camila percebeu que Daniel estava um pouco menos infeliz, já que houve muita empolgação por parte dele, no relato minucioso das férias nos EUA.


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