Amor e Amizade escrita por The Escapist


Capítulo 11
Capítulo 11




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Daniel entrou no quarto e encontrou a amiga arrumando as malas; Mila não estava com vontade – ou coragem – de encará-lo; a noite passada tinha sido estranha, mais que estranha; e ela só queria sumir daquela casa pra sempre.

─ Mila... Você não acha que talvez a gente devesse conversar sobre ontem? – Mila ergueu os olhos para Daniel pela primeira desde que ele entrou.

─ Sinceramente? Acho que não.

─ Mila...

─ Dani, o que aconteceu ontem foi... Sei lá, por acaso...

─ A gente não pode ignorar o que aconteceu, Mila.

─ Olha, aquilo foi o momento, o clima de casamento; você estava carente por causa da Amanda, e eu, eu vivo em estado crônico de carência, nos estávamos bêbados...

─ Mila, você não estava bêbada; você não bebe, nem eu! E... Por que você quer negar que está acontecendo alguma coisa entre nós?

─ Por que isso é impossível!

─ Impossível por que Mila? E se esse tempo todo você for a garota que eu espero? Se eu for o cara que você espera?

─ Dani, não, nós somos amigos.

─ Claro que somos, Mila, mas amigos também podem se amar.

─ Olha, vamos esquecer o que aconteceu ontem e continuar sendo amigos, tá legal?

─ Não, não está legal. Talvez você queira encarar aquele beijo como se não fosse nada, mas eu não consigo ver as coisas dessa maneira, Mila.

─ Daniel, olha pra mim, ahm? Sou eu, a Mila, sua amiga, lembra? Sou eu a garota que joga Playstation com você; eu pulei o muro do colégio com você, lembra? Eu não posso ser essa garota, não posso ser a sua garota.

─ Não pode ou você esta com medo?

─ É, talvez eu esteja com medo de perder o meu melhor amigo por causa de uma coisa que a gente nem sabe se é verdade, ou se é uma sensação de momento.

─ É isso que você pensa, que é uma sensação de momento?

─ Eu... Eu... Você está me deixando confusa, Daniel.

─ Olha, talvez você tenha razão, nós estávamos envolvidos pelo clima romântico e tudo, pode ter sido uma coisa de momento, mas pode não ser.

─ E como nós vamos sair desse impasse?

─ Eu tenho ideia; vamos nos beijar de novo, sem clima romântico, sem Amanda por perto, e ver o que acontece. – Daniel arriscou um caminho menos tenso.

─ Essa é a sua ideia?

─ Se a gente se beijar e não sentir nada, então vamos ter certeza de que ontem foi um engano.

─ E se...

─ Se nós sentirmos alguma coisa? Acho que daí vamos ter que conversar sobre isso.

─ Isso é loucura, Daniel.

─ Ora, vamos, Mila, me beijar não pode ser tão ruim assim, pelo menos ontem você gostou.

─ Ah, Dani, não brinca.

─ Olha, no mínimo vai ser uma brincadeira de amigos. – Mila encarava o amigo com um ar incrédulo, tudo que ela queria era que não tivesse beijado Daniel na noite anterior e eles poderiam ser os amigos de sempre, mas agora, ele não desistiria dessa idéia maluca de que eles eram almas gêmeas!

─ Tudo bem. – Mila chegou mais pra perto de Daniel e esperou que ele tomasse a iniciativa; era muito provável que quando ele encostasse seus lábios nos dela, ela tivesse a sensação estar beijando seu irmão mais velho; era o que Daniel também estava pensando. Mas a sensação não tinha nada a ver com irmãos; Mila não beijava ninguém assim desde... Bom, nunca tinha beijado ninguém daquele jeito, exceto é claro, na noite anterior. Estava formada a confusão na cabeça dela; não era possível que estivesse gostando de Daniel, não ele, seu melhor amigo que dividia o apartamento e que apanhava as calcinhas que ela esquecia no boxe, não era possível que depois de tanto tempo esperando conhecer um príncipe encantado ele estivesse embaixo do seu nariz. Mila pensava isso enquanto beijava Daniel, e quando eles se separaram, ela estava corando, nunca tinha tido vergonha de Daniel antes – Uau!

─ Eu sei, é estranho pra mim também, Mila, mas parece que é bem óbvio, eu gosto de você, e sinceramente, acho que você sente a mesma coisa. – Mila teve então a reação mais surpreendente que poderia: ela riu. – O que foi Mila? Qual é a piada?

─ O que você acha, Dani, que nós vamos ser namorados? É isso que você acha?

─ E por que não?

─ Ah, Daniel, pelo amor de Deus! Você não gosta de mim, você nem me acha bonita, eu não sou o tipo de garota que você gosta; você me acha legal, mas eu sou o amigo que você nunca teve, lembra você nem me acha feminina! – Daniel sentiu um calafrio, ela lembrava de uma coisa que ele falou quando estavam no primeiro ano? – Não é resolver que de uma hora pra outra nós vamos namorar e pronto, não é assim que as coisas acontecem.

─ Você estar com medo, Mila, medo de que eu goste de você, medo que qualquer homem goste de você.

─ Cala a boca! Tá vendo o que tá acontecendo, Daniel, você não entende que é impossível?

─ Eu percebi que a minha vida inteira eu fui um idiota, gostando sempre da garota errada, eu percebi que eu não preciso procurar muito, Mila, que a garota que eu preciso está muito perto de mim, e eu não tenho medo de dizer que gosto de você. Mas, olha, se você não sentir o mesmo por mim, claro que eu vou entender, e nós vamos continuar amigos, se depender de mim isso não vai mudar.

─ Você não entende como é confuso.

─ Eu entendo que desde que eu te conheci eu me tornei uma pessoa diferente, e você faz parte da minha vida desde então, Camila.

─ Isso é impossível.

─ Por que você é tão teimosa, hein? Olha, desculpa, mesmo. – Daniel percebeu que não havia nenhuma sombra de brincadeira no semblante de Camila, e preferiu tirar o time de campo e deixá-la sozinha. – Eu sei que parece estranho, é estranho, mas, por favor, não fica com raiva de mim, Camila, eu sei que morro se isso acontecer, pelo amor de Deus, Camila, não fica com raiva de mim!

─ Eu não, não vou ficar com raiva, eu só, estou confusa.

─ Eu peço desculpas pelo que aconteceu, e juro que não volto a falar nisso se você não quiser, está bem? – Camila assentiu – Então, vamos tomar café da manhã e daqui a pouco é o nosso vôo, o meu pai vai nos levar ao aeroporto, ele é muito prestativo! – Daniel se esforçou pra levar as coisas para o campo da amizade novamente, claro que não seria nada fácil, mas ele iria se esforçar, por Camila. Ninguém na família pareceu perceber qualquer diferença em Camila ou Daniel; a festa de casamento de Eduardo ainda era o tema central da conversa; Mariana ainda estava emocionada e já começava a planejar como seria o casamento de Filipe, que balançava a cabeça e tentava desiludir a mãe da idéia de casá-lo nos próximos dez anos. Antes de sair Daniel se despediu do seu cachorro.

Alberto foi levá-los ao aeroporto, e pela primeira vez durante o fim de semana Camila viu ele conversar um assunto sério com Daniel. Durante o trajeto até o aeroporto ele fez muitas perguntas ao filho sobre a faculdade, sobre as intenções de trabalho depois da formatura, enfim, sobre tudo! – um interrogatório sutil, mas minucioso, como Daniel tinha dito que seria. Daniel respondeu a todas as perguntas do pai, com calma, e sem mentir; de vez em quando Alberto balançava a cabeça em sinal de desaprovação, ao que Daniel respondia com um riso constrangido, e Mila percebia o quanto era importante pra ele agradar o pai. O ultimo abraço de despedida de Alberto foi acompanhado por um “cuide-se, e juízo” e Daniel e Camila embarcaram de volta pra São Paulo.

            As coisas não poderiam voltar a ser como antes, mesmo que eles tentassem não iam conseguir; mal se falaram desde que voltaram de Porto Alegre; Camila se trancou nos estudos e no trabalho; ficava na faculdade até a hora de ir pra loja e demorava a sair de lá pra não ter que encontrar Daniel acordado, às vezes até dormia na casa de Flávia; fazia isso tentando convencer a si mesma de que não estava fugindo, só estava mesmo muito ocupada. 

─ O que foi que aconteceu entre você e o Daniel? – depois de uma semana os amigos mais próximos já tinham reparado que as coisas estavam estranhas entre Camila e Daniel, e Flávia foi a primeira a perguntar diretamente; Camila tentou desconversar, mas depois pensou melhor, afinal Flávia era uma pessoa legal, era sua amiga e ela precisava falar com alguém antes que explodisse; então contou a história a ela.

─ Eu estou tão confusa, Flavinha.

─ Totalmente compreensível, Mila; mas, se você gosta dele, investe amiga, o Daniel é um partidão!

─ Eu sempre vi o Daniel como um irmão!

─ Essas coisas do coração são complicadas mesmo, mas vai fundo! – Camila já estava arrependida de ter falado com Flávia, não tinha ajudado em nada e era muito provável que logo, logo a universidade toda soubesse da história, por que a Flavinha era muito gente boa, mas tinha um pequeno problema de ser amiga de todo mundo e falar demais!

            Uma sexta Camila ficou na loja até tarde, até se ofereceu pra arrumar o estoque com Lucia, só pra não ter voltar pra casa cedo e encontrar Daniel; esperava que ele tivesse saído quando ela chegasse, afinal era sexta, o dia que a turma de Miguel se reunia, Daniel tinha que ter saído. Não viu claridade no hall quando chegou e deduziu que ele não estava, se estivesse estaria vendo TV; mas assim que abriu a porta e acendeu a luz teve um susto; Daniel estava sentado no sofá da sala, “esperando por ela?”

─ Desculpa, eu não quis te assustar. – ele disse.

─ Tudo bem – ela mal abriu a boca pra dizer as duas palavras e já ia se virando pra ir para o quarto.

─ Mila, a gente tem que conversar.

─ Agora?

─ É, agora.

─ O que você acha que a gente tem que conversar?

─ O que está acontecendo? Você não para mais em casa, você chega tarde, sai cedo, dorme fora...

─ Para de agir como se fosse meu pai, Daniel.

─ Não estou agindo como seu pai. Eu só... Droga, Mila, parece que você está me evitando. E eu não queria isso... Eu sinto tanto... Eu me arrependo tanto daquele dia, daquele beijo...

─ Se arrepende?

─ Sim, por que você está longe de mim agora, e isso é pior que qualquer coisa na vida. O que você quer que eu faça pra você me perdoar por aquilo?

─ Dani...

─ Eu só quero que você volte a ser minha amiga de novo, que você volte a falar comigo direito, a sentar perto de mim na aula, a sorrir...

─ As coisas não podem ser como antes, Daniel vai existir sempre um elefante branco enorme entre nós.

─ Eu amo você, Camila.

─ Daniel...

─ Não, eu sei que é verdade; e eu entendo se você não sentir o mesmo, mas eu amo você, e não posso aceitar a idéia de não ser nada pra você, de não ter nem ao menos sua amizade, isso é o fim pra mim; você não pode deixar de ser minha amiga da noite para o dia, não é assim que as coisas funcionam; ou será que a aquele beijo teve um significado bem diferente pra nós dois? Para mim, foi a constatação de um fato: eu te amo; mas pra você, foi o contrário, é isso? Você percebeu que eu não sou legal e que você não gosta de mim, nem mesmo como amigo?

─ Você é irritante quando fala sem parar, sabia? Oh, Dani, por que você fez isso comigo, hein? Você bagunçou tudo na minha cabeça, está tudo tão confuso, eu não sei o que fazer.

─ Pode dizer o que você está sentindo, Mila, eu aguento.

─ Esse é o problema, Dani, eu não sei o que estou sentindo; você sempre foi o meu melhor amigo, um irmão... Mas, você é especial de uma forma inacreditável... E seu beijo é muito gostoso. – Camila riu e a tensão entre eles diminuiu; agora Daniel sabia que ainda eram amigos.

─ O seu também. Excedeu as expectativas. – eles estavam sentados, lado a lado no sofá; Daniel pegou a mão de Camila e beijou as costas.

─ E se não der certo?

─ Vai dar.

─ E se você me trair?

─ Eu nunca vou fazer isso.

─ Nem com a Amanda? – pela primeira vez na vida Daniel não ficou nervoso ao ouvir o nome de Amanda, e Camila percebeu isso.

─ Nem com dez Amandas.

─ Você não vai querer que eu mude meu jeito de vestir, que eu me maquie todo dia, ou que eu fique magra esquelética e que eu pare de assistir futebol?

─ Hum, hum, eu quero você exatamente do jeito que você é, Mila. E se algum dia eu te magoar, você pode me matar.

─ Negócio fechado! – Camila passou as duas mãos pelo pescoço de Daniel e o beijou; um beijo longo, demorando e apaixonado, e os dois ficaram deitados no sofá, abraçados, as mãos entrelaçadas, em silêncio, um ouvindo a respiração do outro por um longo tempo. – Daniel? – Camila quis se certificar de que ele ainda estava acordado.

─ O que?

─ Acho que os meus pais não vão gostar de saber disso! – “como ela é estraga prazer”, pensou Daniel, e depois concordou com Camila.

─ Eu sei, os meus também; morar com a namorada está fora de cogitação antes dos vinte e cinco!

─ Então nós já temos um problema!

─ Calma, os seus pais confiam em mim e sabem que eu te respeito muito, e os meus sabem que você é uma menina de família, e ambos confiam nos filhos que tem, então...

─ Na teoria é fácil!

─ Mila, eu tenho certeza de que convencer os nossos pais de que o nosso relacionamento é certinho vai ser o menor dos problemas!

─ E qual vai ser o maior dos problemas?

─ Ter um relacionamento certinho!

─ Que é isso, Daniel, você é meu namorado há vinte minutos e já que me desvirtuar?!

─ Acredite, doutora, o seu poder de sedução é maior do que você pensar!

─ Então eu acho melhor eu ir para o meu quarto, por que eu sou uma menina de família.

─ Claro que sim; boa noite, Mila.

─ Boa noite, Dani.

─ Mila?

─ Ham?

─ Eu amo você.

─ Eu... Também amo você, Daniel.

            Daniel e Camila chegaram à faculdade juntos. Os colegas olhavam satisfeitos enquanto os dois caminhavam de mãos dados. Eles não estavam apenas juntos como nos outros dias; estavam...

─ Juntos! Ai, que maravilha, Mila! Poxa, finalmente! Eu achei que vocês nunca iam resolver isso! – Flavia deu abraços em Daniel e Camila, depois saiu em direção a sala de aula – Gente isso é maravilhoso!

─ Eu pensei que ela fosse louca, agora eu tenho certeza! – disse Daniel.

─ Bom, você não queria que todo mundo soubesse? Problema resolvido!

            Mas eles esperaram um pouco mais antes de contar a família sobre o namoro, principalmente por que sabiam que os pais de Camila iam “chiar” com a novidade.

─ Acho que a gente tem que falar da maneira mais direta possível – Daniel e Camila conversavam no caminho da casa dela.

─ Hum, isso vai ser complicado, Dani, eu nunca apresentei um namorado antes.

─ Bom, eu nunca fui apresentado como namorado! Calma, seus pais gostam de mim, e eles não vão mudar de idéia de repente, e os seus irmãos, eles já pensam que a gente namora mesmo.

            Camila estava nervosa mesmo; o maior problema seria convencer os pais a deixar que ela continuasse no apartamento de Daniel depois da notícia, eles com certeza não estavam preparados pra essa “modernidade”.

─ Mila, isso é um absurdo – Camila estava conversando com a mãe; a primeira parte já tinha passado e graças às brincadeiras de Rodrigo e Caio tinha sido bem mais fácil do que esperavam; quando Rodrigo perguntou, pela enésima vez se ela e Daniel estavam namorando, eles só tiveram que concordar e acrescentar um “de verdade”. Agora, enquanto Camila conversava com Rosa, Daniel estava na sala com o pai dela, Rodrigo e Caio, e ela queria ser uma mosca pra ouvir o que eles diziam.

─ Mas, mãe, não é nada do que você tá pensando.

─ Não é certo, Mila, você não pode morar com o namorado.

─ Mãe, o que você tem medo que aconteça pode acontece mesmo que eu não more na mesma casa que ele! – Camila disse calmamente.

Camila!

─ Mãe, eu não tô dormindo com o Daniel, eu juro.

─ Você fala como se fosse a coisa mais natural do mundo.

─ Vocês estão fazendo tempestade num copo d’água. Você sabe que eu não preciso da permissão de vocês pra sair de casa, eu sou maior de idade.

─ O que você tá dizendo, Mila?

─ Calma, mãe, eu só tô dizendo que se eu quiser fazer qualquer coisa, vocês não podem me proibir, mas pra mim é importante que vocês não fiquem chateados.

─ Como se não bastasse o seu irmão...

─ Não tem nem comparação, mãe; eu estou na casa do Daniel há muito tempo, e vocês concordaram.

─ Agora é diferente.

─ Diferente por quê?

─ Você sabe por que, Camila.

─ E a minha palavra não basta pra vocês confiarem em mim?

─ Garota teimosa!

─ Pode convencer o pai?

─ Espero que você esteja mesmo dizendo a verdade.

            Daniel continuava na sala, sentado numa poltrona com os braços cruzados; de certa forma preferia que Jorge tivesse dado um esporro daqueles nele do que aquele silêncio. O pai e os irmãos de Camila pareciam está com raiva de Daniel, mas não demonstravam. Jorge estava assistindo ao noticiário, de vez em quando olhando meio de lado pra Daniel, já completamente sem graça, naquela casa onde sempre tinha sido bem tratado; quando Caio e Rodrigo chamaram-no pra conversar lá fora, ele ficou na defensiva.

─ Que história é essa de você namorando a doutora? – foi Caio quem perguntou; Daniel engoliu em seco.

─ Hum, você pode explicar?

─ O que... O que vocês querem que eu explique?

─ Que tal, quais são as suas intenções com a Mila? – se a pergunta viesse de Jorge não tinha sido tão estranha, mas de Rodrigo! Daniel pensou um pouco: quais eram suas intenções com a Mila?

─ Eu amo a Camila, será que isso importa alguma coisa?

─ Você tá transando com a minha irmã?

─ O que?!

─ Você ouviu. – “será que ainda pode ficar pior?”, pensou Daniel.

─ Não, claro que não.

─ Ótimo. – Daniel mal podia acreditar que Rodrigo e Caio estivessem fazendo aquela pose de moralistas, logo eles! – Escuta, guri, se você magoar a doutora Mila, um tiquinho que seja, você é um homem morto, entendeu?

─ Entendi.

─ Beleza.

            O clima não pareceu melhor e Daniel resolveu ir pra casa, Camila ficou pra dormir em casa e amansar as feras. Com os dias – e a promessa de que estavam se comportando – a família de Camila se acostumou com a idéia do namoro dela e Daniel e todos voltaram a tratá-lo como da família.

            Para os próprios pais Daniel não tinha pressa de contar; poderia esperar até a próxima vez que ele fosse a Porto Alegre; mas a visita de Filipe mudou seus planos.

─ O que você tá fazendo aqui, Filipe?

─ Eu vou fazer um curso, e pensei em ficar aqui, algum problema?

─ Não, problema nenhum; preparado pra dormir no sofá?

─ Provavelmente dormir não é algo que vá fazer muito, então sem problema. – Daniel riu com a malícia na expressão do irmão.

─ Você não veio estudar?

─ Em tese. – Filipe saiu e só voltou a noite pra tomar banho e se trocar. Daniel estava na sala estudando quando Camila chegou do trabalho, um pouco mais tarde que o normal.

─ Oi, amor, você demorou hoje.

─ É, parece que todo mundo resolveu comprar roupas hoje! Estou morta, Dani! – Daniel se levantou, e sem nem lembrar da existência de Filipe, beijou Mila; os dois ainda estavam grudados quando ele apareceu.

─ Epa! Desculpa, eu não queria atrapalhar – Filipe estava com aquele sorriso sarcástico e malicioso no rosto e Daniel não queria que o seu namoro com Camila fosse mais um motivo de brincadeira para Filipe.

─ O Filipe vai ficar aqui essa semana.

─ Ahm, oi Filipe. – Mila respondeu completamente envergonhada.

─ Oi Camila; eh, vocês estão namorando sério? Merda! Cara, isso é incrível! Poxa, deixa o Eduardo ficar sabendo dessa, ele tinha razão o tempo todo! Hum, maninho, muito bem, cara – Filipe deu tapinhas no ombro do irmão. – Tchau, cunhada! E não esperem por mim, ok, eu voltarei tarde, detesto ser estraga prazer. Boa noite! – Filipe saiu ainda murmurando alguma coisa; Camila e Daniel se entreolharam.

─ Viu, foi mais fácil do que você imaginou que seria!

─ É, aposto que o meu pai não vai esperar que o dia amanheça pra telefonar.

            O telefonema de Alberto veio de manhã quando eles estavam tomando café da manhã; Filipe já tinha saído – ou ele não tinha dormido em casa? – Daniel não sabia. Atendeu o telefone no primeiro toque.

─ Daniel?

─ Oi, pai – tampou a fone com a mão e falou com Camila – Não falei? – Mila preferia não ouvir a conversa, mas Daniel segurou seu braço quando ela ia sair; ela voltou e sentou e ele voltou a dar atenção ao que o pai dizia.

─ O que você acha que está fazendo, Daniel?

─ Não estou fazendo nada, pai.

─ Nada? Nada, Daniel? No meu tempo isso tinha outro nome!

─ A gente não está no seu tempo, papai – Daniel estava bem calmo, preferindo não conseguir uma discussão com o pai logo de manhã.

─ Isso é um absurdo, Daniel.

─ Mas pai, não é nada do que o senhor está pensando.

─ Você não pode viver com essa moça, como se fosse... Como se estivesse casado.

─ Ah, pai, por favor, a gente não precisa ter essa conversa!

─ Claro que precisamos ter essa conversa! O que está acontecendo é imoral!

─ Merda! – Camila se assustou; Alberto devia está pegando pesado a ponto de Daniel dizer merda ao telefone! – Não tá acontecendo nada, pai!

─ Eu não nasci ontem, Daniel.

─ Pai, pelo amor de Deus! Arrr! – Daniel tapou o fone com a mão e proferiu uma série de impropérios que Camila tinha certeza ele nunca diria na frente do pai; Daniel ainda estava nervoso quando voltou a falar – Pai, o que o senhor quer? Quer que eu jure que não estou transando com a Camila, é isso? Eu juro, eu não estou transando com a Camila! – Daniel berrou, irritado, e o tom dele fez Camila arregalar os olhos, assustada – Inferno!

─ Daniel baixe o seu tom, garoto.

─ Desculpe, papai, não quis ser grosso.

─ Você sabe que nós – “só queremos a sua felicidade”, pensou Daniel – só queremos a sua felicidade.

─ Claro que sim, pai.

─ Você pode me explicar o que está acontecendo exatamente?

─ Pai, eu preciso ir pra aula agora, o senhor pode me ligar a noite? Então nós conversamos com calma, está bem?

─ Está bem, Daniel.

─ Até logo. – Daniel não esperou a despedida do pai e desligou o texto.

─ Qual foi o problema? Eu nunca vi você falar desse jeito com o seu pai.

─ Eu... Er... Preciso arrumar um jeito de matar o Filipe. – Daniel escreveu um bilhete pra Filipe (quando você aparecer é melhor sumir ou vai acabar morto) e pegou o material da aula; saiu para o elevador, acompanhado por Camila;

─ Por que você tá com tanta raiva do Filipe? Seus pais iam saber alguma hora não é? Eles ficaram bravos?

─ Não foi por ele ter contado, não é um segredo, claro, foi o jeito como ele contou.

─ E como ele contou?

─ Com todas as besteiras que a mente poluída dele é capaz de pensar.

─ Ah! Seus pais não querem que você... E eu... – eles agora estavam no carro e Daniel dirigia concentrado; ele deu um sorriso.

─ Mila, não é esse o problema, você não imagina como meus pais são antiquados; eles são realmente muito antiquados; então a questão não é eu está namorando – Daniel riu de novo e Camila se perguntou qual era a graça da história – É que o Filipe, o jeito como ele contou sobre a gente deu a impressão de que nós estamos vivendo juntos... Como homem e mulher.

─ Ah é isso! – “claro, pelo jeito como você berrou no telefone”, pensou Mila.

─ É isso. E isso para os meus pais é totalmente inadmissível.

─ E você acha engraçado?

─ Não deixa de ser, por que é tão “século passado”... Tudo bem, Mila, eu vou conversar com os meus pais, sem berros, e esclarecer a situação.

─ E qual é a situação?

─ Hum, a situação é que o nosso namoro é totalmente “século passado”, que eu sou um perfeito gentleman e você uma moça de família e bem difícil, diga-se de passagem. Enfim, que você mora lá em casa por que é arriscado você voltar pra casa sozinha a noite, e que a abstinência sexual entre nós foi a condição que seus pais impuseram pra você ficar.

─ Mais convincente que isso só se você for participar do programa da Marcia Goldsmith. – Daniel deu uma risada gostosa, estacionou o carro e os dois foram pra aula.

            Daniel não teve tempo de “matar” Filipe, por que, por incrível que pareça, o irmão estava ocupado demais com o curso e mal ia em casa. A conversa com os pais a noite foi mais calma e ele conseguiu convencê-los de que não estava fazendo nada que não fosse “moralmente aceitável” e que eles deveriam “confiar na educação que lhe deram”.


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