O Espelho de Delfos escrita por Paulo


Capítulo 3
A Maldição de Charlie


Notas iniciais do capítulo

Após uma revelação bombástica Charlie ainda tem bastante coisas para descobrir sobre sua linhagem. Além disso um novo acontecimento pode tornar as coisas mais difíceis.



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Charlie cambaleou para trás sentindo o impacto da revelação feita por Meredith. Não podia acreditar, não queria. Charlie, um lobisomem? Parecida piada, mas pela feição seria de Mery, com certeza não era.
Sentou-se rapidamente numa poltrona vermelha cruzando as pernas. Colocou as mãos sobre a cabeça depois no rosto esfregando bem os olhos na tentativa de acordar de um terrível pesadelo.
— Isso não pode ser possível! Eu não sou um lobisomem! - falou Charlie.
Meredith fez um gesto com as mãos para que Charlie parasse. Foi até seu quarto e por lá ficou.
— Não acredita nisso, não é Henry? Ou acredita? - perguntou Charlie mostrando-se inquieto.
— Sinceramente, não duvido de mais nada. É até legal, você ser um lobisomem. - falou Henry confirmando Charlie.
— Charlie, não se preocupe, talvez seja engano dela, dentre tantas pessoas no mundo, por que logo você seria um lobisomem? - falou Sam sentando-se do seu lado.
— É claro, para ser um lobisomem não precisa ser mordido por um? - perguntou Henry. - Pelo menos até onde eu sei é isso.
— Você não andou sendo mordido por algum lobo andou? - perguntou Sam, cutucando a barriga de Charlie.
Minutos se passaram até a volta de Meredith, vinha trazendo consigo uma caixa antiga.
— Respondendo sua pergunta Henry, não necessariamente Charlie precisaria ter sido mordido por um lobisomem. Estudei os licantropos por anos e posso assegurar que sou a pessoa mais indicada para tal. - falou Meredith abrindo a caixa.
— Os primeiros lobisomem nasceram de um feitiço muito poderoso criado por uma bruxa chamada Éster, ela deveria deixar seus soldados mais fortes para a guerra, então assim que nasceram os primeiros. A partir desse momento há diversas gerações de licantropos espalhados pelo mundo. Inclusive a sua.
— A minha? - perguntou Charlie.
Meredith entregou a Charlie uma foto que mostrava um homem loiro com olhos azuis, usando vestes antigas do século XV.
— Esse era Thomas Lockwood III, um de seus familiares. - Meredith logo entregou outra foto de mais um homem, este tinha os cabelos negros como seus olhos. Usava vestes antigas brancas. - Esse foi Leonardo Vicent Lockwood, outro de sua linhagem. Meredith entregou mais uma  foto, esta mostrava um homem moreno com cabelos enrolados, como os de Charlie, olhos claros puxados para o azul, usando um belo casaco de tweed negro. -  Essa era Jhonatan Marcus Lockwood, seu pai.
— Meu pai? Meu pai? Está dizendo que meu pai era um lobisomem? É isso o que está me dizendo? Isso, isso é loucura! - protestou Charlie. - meu pai nunca foi um lobisomem​ ok? Eu saberia.
De repente veio em mente todas as noites que seu pai saía para trabalhar e voltava dias depois. Das vezes que fazia viagens longas, dos estresses, das raivas por quase nada. Seu pai nunca estivera traindo sua mãe! Agora tudo fazia sentido.
— No momento em que descobriu ser um lobisomem, seu pai logo me pediu ajuda. Na época eu não morava aqui, morava na Virgínia e sempre que podia o ajudava em tudo. O último de seus pedidos foi que cuidasse para que sua maldição não fosse ativada, ele não ia suportar a dor que seria.
— Você conheceu meu pai? Há quanto tempo se conhecem? - perguntou Charlie curioso.
— Bem, digamos que bem antes do seu nascimento. Me perdoe se te fiz perceber quem realmente é, sei que nessa confusão que entrou junto com Henry, teria que ficar seguro. Não podia deixar que algo acontecesse com você.
— Mas e minha mãe? Ela também era? - perguntou mais uma vez.
— Não, sua mãe era humana.
— E como isso é possível? Um lobisomem e uma humana? - perguntou Sam.
— Lobisomens podem procriar, como os humanos. Então...
— Então a morte deles tem algo a ver com isso, não é?
Charlie nunca acreditou no que a polícia falara sobre a morte deles. Contaram que havia acontecido um acidente de carro na estrada de volta a Nova Jersey, estava chovendo, a pista estava molhada e o carro acabou caindo de uma ponte. Mas Charlie nunca acreditou nessa versão, sempre soube que havia algo a mais nisso, e agora que descobriu quem realmente é, tudo se encaixava. Talvez seus pais tivessem sido atacados ou algo do tipo.
— Charlie, vai descobrir que a morte de seus pais foi realmente um terrível acidente. Não houve nada de sobrenatural nisso. - falou Meredith recolhendo todas as fotos.
— Mery, você falou que o pai de Charlie não queria que a maldição fosse ativada. Como que se ativa uma maldição dessa? - perguntou Henry curioso.
O tempo parou para todos, inclusive para Charlie, até a noite tornou-se mais quente. Henry chegara em uma pergunta delicada, parte dele se arrependeu de ter perguntado, mas a outra parte não. Se deveriam proteger Charlie para que a maldição não fosse ativada, eles teriam que saber como.
— Não é nada muito difícil de se entender, todos com gene de lobisomem tem sua maldição ativada se tirar a vida de alguém. Então, Charlie tem que ficar longe de confusão. Se você por acaso matar alguém, na próxima lua cheia você se transforma. - olhos fixados em Charlie, Meredith levantou-se e foi novamente ao seu quarto.
Ninguém falou mais nada, apenas olhos encarando o além. Tantas possibilidades passaram pela cabeça de Henry que a vontade de deixar Charlie enrolado em plástico bolha preso em uma caixa era grande.
— Olha só, já está tarde. - falou Sam quebrando o silêncio. - Preciso ir para casa.
— Eu te levo, não é problema algum. - falou Charlie.
— Espera. - falou Henry indo em direção ao quarto de Meredith.
O quarto não era tão diferente da sala principal, vários adereços antigos enfeitavam o local. Havia quadros de frutas mortas preso nas paredes, um armário de madeira avermelhado e uma cama de casal grande. Mery estava sentada folheando um livro escrito à mão, percebeu que parte de suas páginas estavam encharcadas de lágrimas.
— Mery, tudo bem? - perguntou Henry.
— Sim, só que isso tudo que está acontecendo é demais e eu sinto uma enorme falta de sua mãe. Ela foi minha melhor amiga por muitos anos. Saberia o que fazer. - falando entre soluços, Meredith esfregou os olhos com um tecido de algodão azul que estava sobre suas pernas.
— Mery, eu te entendo. Também sinto muita falta dela. - falou Henry pegando em sua mão. - Sam está indo embora, então queria saber se você não teria alguma coisa para proteção, ela é muito importante para mim e não quero que nada aconteça.
Meredith respirou fundo e entregou a Henry um colar de prata com um pingente azul em forma de pássaro.
— Isso pode ajudar. Não esqueça de falar o feitiço. - falou Meredith abrindo o pingente. - "praesidium".
Henry voltou para a sala e entregou o colar a Sam.
— O que é isso? - perguntou intrigada.
— Só me prometa que não vai tirar ele do seu pescoço. - falou Henry.
— Tá bom, eu prometo.
Henry segurou as pontas do colar, passou a mão sobre os cabelos de Sam para colocar boa parte na frente. Pôs o colar em seu pescoço e fechou as pontas.
O rosto de Henry ficou corado com o tempo e percebeu que o as bochechas de Sam também ficaram vermelhas. Segurou o pingente e murmurou alto a palavra que Meredith lhe dissera.
— "Praesidium"
O pingente azul cintilou por um momento e depois voltou ao normal.
— Está feito, tomem cuidado ok? A gente se vê amanhã. - falou Henry despedindo-se de Charlie e Sam.
Depois de se despedirem, Henry foi até o quarto de Meredith.
— Mery, será que podemos conversar? - perguntou sentando-se ao seu lado.
— Claro, sobre o que quer conversar?- respondeu Meredith com um belo sorriso.
Na verdade Henry não sabia sobre o quê, tinha tantas perguntas e não sabia como começar.
— Essa confusão toda, o que faremos?
Henry ficou receoso ao falar a palavra "faremos" já incluindo ela no meio dessa confusão. Não sabia se Mery ia querer participar disso.
— Vamos dar um jeito nisso, vamos contornar e no final vamos dar várias risadas disso.
Os nervos de Henry diminuíram mais, esse era o dom que Mery tinha sobre ele, ela fazia um problemão desaparecer em um passe de mágica, apenas com um simples sorriso.
— E o espelho? O que faremos a respeito disso? - perguntou Henry inquieto.
— Vamos dar um jeito nessa bagunça, mas vamos deixar para amanhã, o melhor que você pode fazer é descansar um pouco, teve um longo dia hoje.
Henry não queria dormir, não queria descansar, queria fazer alguma coisa. Sabia que tinha um louco psicopata com um espelho mágico e que estavam todos procurando ele. A última coisa que faria seria dormir. Mas apesar de tudo, o cansaço dominou-o completamente. Henry sentiu os olhos pesarem, sabia que hoje fora um dia cansativo e queria deitar em uma cama quentinha e acordar apenas amanhã de manhã. Meredith ofereceu o quarto de hóspedes que ficava no fim do corredor. Estava indo para lá, deitar e dormir quando recebeu uma chamada de Charlie.
— Charlie? Diz. - falou Henry.
— Henry, me ajuda! - falou Charlie soluçando.
O coração de Henry bateu mais forte.
— Charlie, o que houve? - perguntou.
— Por favor Henry, preciso de ajuda. Está tudo escuro aqui. - falou Charlie desesperado.
— Calma Charlie! - ordenou Henry. - Me diga o que aconteceu.
— Eu acho que matei alguém.
A espinha de Henry gelou, o mundo parou e tudo que ele consiga ouvir era a respiração ofegante de Charlie pelo celular.
— Calma Charlie, eu vou chamar a Meredith, ela vai saber o que fazer.
A adrenalina tomou conta do corpo de Henry, não estava mais cansado ou com sono, estava nervoso e preocupado com seu melhor amigo.
Henry correu até o quarto onde Meredith estava e contou o que aconteceu. Rapidamente ela pegou um livro de couro negro que estava debaixo de sua cama e voltaram para a sala.
— Henry, coloque a chamada no viva voz. - pediu Meredith.
Assim Henry fez.
— Charlie, está me ouvindo?
— Meredith? Graças aos céus, o que devo fazer? - perguntou Charlie.
— Primeiro me fala se tem mais alguém com você.
— Além do homem que atropelei não. - respondeu Charlie ofegante.
— Ótimo, você vai segurar sua mão no corpo está me entendendo? - perguntou Mery.
— Sim, certo. - respondeu Charlie.
— Ok, Henry me ajude.
Meredith ficou frente a Henry, segurou suas mãos nas dele e falou:
— Vamos fazer agora um feitiço de transporte, vamos trazer Charlie e o corpo pela chamada do celular, entendeu?
— Sim, mas eu não...
O que quer que Henry fosse falar foi interrompido por Meredith.
— Repita comigo. "phasmatus tribum veniet interdum".
Henry repetiu.
— Agora limpe sua mente, se concentre apenas no Charlie, a fisionomia dele, tudo. Feche os olhos e fale novamente o feitiço.
E assim Henry fez.
Phasmatus tribum veniet interdum. - tornou a repetir várias vezes.
Logo a sala foi tomada por uma brisa forte e fria, as velas que estavam decorando a casa iluminaram todo o lugar, as luzes tornaram a piscar repetidamente, o feitiço estava funcionando.
Phasmatus tribum veniet interdum. - mais uma vez Henry e Meredith repetiram.
De repente algo aconteceu.
Esparramado no chão jazia o corpo de Charlie e de  um homem loiro usando vestes brancas, pelo rosto espantado de Meredith, certamente ela o conhecia.
—Esse era Louis Smith, trabalhava no Ministério há alguns anos. Depois foi descoberto que ele passava informações para comensais da morte. - falou Meredith passando a mão no rosto do homem.
—Comensais da morte? - perguntou Henry. - O que são?
—Os Comensais da Morte é o nome dado a um grupo que consistia principalmente de bruxos e bruxas supremacistas puro-sangue radicais, que praticavam as Artes das Trevas.
—Será que ele sabia de mim? Que eu sou um lobisomem? - perguntou Charlie mais calmo.
—Difícil responder, não sei se eles estavam observando vocês. - respondeu Meredith. - Contudo, temos que nos livrar desse corpo. - O que faremos com ele? Enterramos? - perguntou Henry.
—Não temos tempo para isso. - respondeu Meredith, estalou os dedos e uma pequena faísca surgiu deles e logo o homem que estava no chão desapareceu.
—O que você fez com ele? - perguntou Charlie.
—Digamos que nos livrei de um pequeno probleminha.
Meredith pediu para que os garotos a seguissem até uma sala que ficava no final do corredor de sua casa. A porta de madeira com runas douradas logo apareceu para eles. Os símbolos estavam sobre a porta em um arco.
—Bem vindos ao meu salão. Henry, tem algo que precisa ver. - falou Meredith com rosto preocupado.
Henry deveria estar acostumado com conversas estranhas envolvendo sua vida ou morte, devia ficar mais calmo com esse negócio de ser bruxo, devia ficar calmo por seu melhor amigo ser um lobisomem, deveria ficar calmo por tudo o que estava acontecendo… Mas não. A cada nova descoberta seria um problema a mais.
Meredith pediu que os garotos se sentassem, foi até uma mesa e pegou uma carta endereçada a Henry.
—Chegou nesta tarde, ia falar assim que chegaram mas as circunstâncias não eram boas.
A carta continha o nome completo de Henry com um “eme” dourado no centro.
—Ministério da Magia? - perguntou.
Apenas leia, vai entender a confusão que está acontecendo.

O senhor Henry Bryan Anderson está sendo intimado para comparecer a um julgamento onde vossa senhoria é considerado réu.

Esperando que esteja bem, Mafalda Hopkirk.

—Réu? Estou sendo acusado? Julgamento? Eu? - perguntou aflito.
—Sinto muito, Henry. Queria poder fazer algo para ajudar. - falou Meredith.
—Isso tem a ver com esse tal espelho, não é? Passei meu dia sendo acusado de ter roubado. É isso, não é?
—Espelho? - perguntou Charlie. _ Por que você roubaria um espelho? Isso não faz sentido.
—Na verdade eu não roubei nada. Mas continuam me acusando. Será que você pode explicar que espelho é esse? - perguntou Henry levantando-se indo em direção a lareira.
—Melhor se sentar Henry, é muita coisa para você processar.


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Notas finais do capítulo

Gente me desculpem pela demora em postar o terceiro capítulo estava tudo pronto mas, formataram (sim não fui eu) meu notebook então acabei perdendo vários capítulos. Refiz o terceiro e pensando bem, ficou até melhor. Prontos para o capítulo 4?



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