O Espelho de Delfos escrita por Paulo


Capítulo 2
Cada vez mais fica pior


Notas iniciais do capítulo

Henry passou por muitas coisas desde que saiu para o colégio e a cada nova descoberta sua vida e de seus amigos fica mais perigosa.



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Henry não conseguia processar a ideia que tal coisa realmente acontecera com seus pais. Era surreal, inimaginável. Procurou na casa inteira, mas nada encontrou. Todos os moveis do quarto de seus pais foram destruídos, a cozinha estava praticamente acabada, quase nada restou.

Pensou em ligar para a policia, mas o que diria?

É que um roqueiro com poderes sequestrou meus pais. Como sei            que ele tem poderes? Ele me prendeu no chão antes de ir para o colégio apesar de não ter saído do lugar.

Não iriam acreditar. Estava sozinho, pela primeira vez não sabia o que fazer.

Pensou em chamar seus amigos, mas será que eles acreditariam? Já estavam com medo dele por causa da confusão envolvendo o Travor, agora o achariam louco.

Pense, pense, pense o que vou fazer? Não tenho como entrar em contato com Adam, não onde ele está não sei onde procurar.

Não tinha jeito, as únicas pessoas que poderiam ajudá-lo seria Charlie e Sam. Charlie com certeza pensaria em alguma coisa.

Pegou o celular, mas lembrou-se que ainda estavam no colégio, não poderiam matar aula... Ou será que podiam? Não ligou, apenas mandou uma mensagem para Sam, ela seria a única que mataria aula e convenceria Charlie a fazer o mesmo.

Preciso de ajuda! Isso é urgente! Venham aqui!

Passaram-se alguns minutos até Sam responder que ela e Charlie estavam a caminho.

A campainha tocou, a esperança surgiu em Henry, mas acabou em um piscar de olhos quando viu que se tratava de um homem vestido de couro preto, e uma camisa branca, possuía os cabelos negros e lambidos caindo até os ombros. Era Adam.

— Adam? – falou Henry com medo, mas ao mesmo tempo furioso.

— Olá Henry, como estão seus pais? – perguntou Adam de maneira misteriosa.

— O que você fez com eles? – falou Henry sentindo o pavor desaparecer e ficar apenas a raiva.

— Você precisa se acalmar... Quem sabe o que você pode fazer quando fica com raiva, não é? – falou Adam indo em direção à sala sentando-se no sofá.

— O que eu posso fazer? Do que você está falando? – Henry não só pareceu como estava muito confuso.

— Então quer dizer que o pobre filho de Alexander Morgan não sabe a própria identidade. – falou Adam dando risadas secas.

Henry estava achando aquela conversa longa demais, estava cansado das mentiras que ele estava falando. A única coisa que importava agora era seus pais.

— Não quero saber disso, só quero meus pais de volta! Estou cansado de seus jogos. – Henry falou irritado.

— É só me devolver o que você roubou, sei que não está aqui pois procurei em toda a casa e não encontrei nada. – falou Adam levantando-se.

— EU JÁ FALEI QUE NÃO ROUBEI NADA! – Henry gritou. Houve um baque surdo e de repente as janelas de vidro se romperam em milhões de pedaços.

Ele ficou imóvel sem saber como aquilo tinha acontecido. Apavorado colocou as mãos no rosto e respirou ofegante.

— Mia realmente estava certa, você é poderoso. – falou Adam impressionado com o feito de Henry. – Mas nem tanto, qualquer um pode quebrar uma ou duas janelas quando está nervoso.

— O que? Isso, isso foi eu? – perguntou Henry ainda não acreditando.

— Eu que não fui. – respondeu Adam.

— O quê? Como isso é possível? – perguntou Henry intrigado.

— Você precisa se acalmar, deixe que eu cuide disso para você. – falou Adam levantando a mão direita. – Somnum.

As mãos de Henry estavam esquentando, seu corpo estava totalmente tomado pela adrenalina, estava sentindo muitas coisas ao mesmo tempo. O medo de não encontrar seus pais vivos, a raiva de Adam por ter sequestrado eles, o pavor de ter quebrado as janelas com o pensamento. Sentiu seus pés ficarem mais pesados, sua visão embaçou e escureceu e com um baque caiu no chão.

Henry estava em uma sala escura de tijolos negros, apenas uma luz momentânea clareava o local. Estava sentado em uma poltrona de madeira com algemas para os braços. Não estava só, havia um público à sua frente encarando-o fixamente. Logo um homem baixo e corpulento com cabelos grisalhos despenteados, usava um terno listrado com uma gravata vermelha, que Henry pensou que era um terrível gosto por moda. Estava sentado em uma mesa de madeira preta com um emblema de “M” no cetro.  Levantou-se com um papel em suas mãos e falou:

— A audiência disciplinar de 23 de abril sobre ofensas cometidas por Henry Anderson deu início às 10:00. Inquiridor Cornélio Oswald Fudge, Ministro da Magia. As acusações contra o réu são as seguintes, que ele liberalmente e com plena consciência de seus atos furtou o Espelho de Delfos, o objeto que além de proteger os mundos dá o equilíbrio necessário à vida de todos nós.

— O que? – falou Henry. – Quantas pessoas vão me acusar de ter roubado esse negócio?

— Não finja que não sabe de nada garoto, o que você fez pode e vai te deixar em Azkaban por muito tempo! – falou o ministro.

— Mas eu realmente não sei do que está falando! Eu juro que não roubei nada. – falou Henry encarando-o com os olhos lacrimejados. Mas logo percebeu que não ia conseguir comover o homem.

— Nós sabemos que foi você, a profecia avisou que isso poderia acontecer e não teria como impedir. – falou o ministro aproximando-se de Henry.

— Profecia? – perguntou Henry.

— Condenado a prisão perpétua em Azkaban! – ordenou Cornélio.

— O que? Não! Não! – Henry berrava.

De repente sua visão escureceu e logo estava em um jardim florido deitado na grama. Havia uma mulher ao seu lado, uma linda mulher de cabelos castanhos e olhos com de amêndoa. Usava roupas brancas como se não fizesse parte do local. Era um fantasma. Era o fantasma de sua mãe.

— Mãe? – falou Henry abismado com a cena.

— Olá querido. – falou a mãe de Henry com um tom doce e protetor.

A culpa tomou conta de Henry, seus olhos encheram de lágrimas. Sabia que o que tinha acontecido era culpa sua, apesar de não ter roubado nada, mas era culpa sua.

— Mãe, me perdoe, eu nunca quis que nada disso acontecesse. – falou Henry aos soluços.

Sua mãe deu um breve sorriso e falou:

— Não é culpa sua querido, você não sabia de nada. Sabia que tanto você quanto eu e seu pai corríamos esse risco. Eu não tenho muito tempo, esse feitiço só funciona por poucos minutos, então terá que me escutar bem.

— Certo. – falou Henry secando as lagrimas do seu rosto.

— Vá até a casa da Meredith, corra o mais rápido que puder e não olhe para trás. Entregue a ela um cordão que está em uma parte do chão do sótão, em um fundo falso. Ela saberá o que fazer.

— Mas por que na Meredith? Mãe, o que está acontecendo? – falou Henry desesperado.

— Ela vai ajuda-lo, agora meu querido. Agora acorde Henry. Acorde!

Sua voz se tornou um eco na escuridão. Não existia mais o jardim, só trevas.  Henry abriu os olhos e percebeu que havia duas figuras embaçadas ao seu redor mandando-o acordar. Quando a visão tornou-se mais nítida, Henry viu que as figuras eram Charlie e Sam. Logo deu um suspiro de alívio.

— Henry, o que aconteceu? Você está bem? – perguntou Sam assustada.

Henry não conseguia falar, estava em choque por saber que sua mãe era um fantasma.

— Henry, você precisa nos falar alguma coisa. – falou Charlie segurando nos seus braços ajudando a levanta-lo.

— Meredith, eu tenho que ir a casa dela. – falou Henry levantando-se do chão.

— O que? O que vai fazer na casa dela? – perguntou Sam.

Henry pensou muito no que deveria falar. Sabia que não podia falar aos seus amigos muita coisa, talvez colocasse a vida deles em perigo como fizera aos seus pais. Mas logo se lembrou de que Charlie e Sam são seus melhores amigos e que ele precisaria de ajuda, então resolveu falar.

— Pode parecer estranho, mas minha mãe pediu para levar um colar para Meredith.

— Henry sua mãe está... – falou Sam, mas logo foi interrompida por Henry.

— Morta, eu sei. E sei que não é possível conversar com os mortos.

— Morta? – as vozes de Sam e Charlie em uníssono ecoaram na mente de Henry.

Como se esquecera de falar isso?

— Minha mãe e meu pai, estão mortos. Pode parecer totalmente esquisito, mas foi o que aconteceu. – falou Henry com os olhos começando a lacrimejarem. – Eu sei quem foi, mas ninguém pode prendê-lo, ele tem poderes.

Poderes... Essa foi a parte que mais temia. Como explicaria que sabia que Adam tinha poderes? Como explicar aos seus amigos essa confusão que está acontecendo? Henry não achou uma resposta adequada, então simplesmente começou a falar sobre como esquisito fora seu dia. Contou-lhes tudo, desde a velha que conheceu na porta da sua casa até aquele momento antes de chegarem e pondo ênfases na parte em que ele irrompera as janelas com seus pensamentos.

 - Henry não estamos te chamando de louco, mas não tem como acreditar nisso. – falou Charlie, como sempre colocando a razão à frente de tudo. – Tudo bem que você acredita, mas eu não. Pode ter sido seu cérebro criando coisas para deixa-lo confortável, para poder viver o luto. Sabemos que você tem a cabeça nas nuvens e que sempre gostou de mundos fantasiosos, não é a toa que ainda joga aquele jogo com o Ted, mas Henry isso não é possível. Não tem como alguém possuir alguma habilidade mágica, isso é coisa da sua cabeça. – concluiu.

— Charlie! – exclamou Sam.

— Não estou pedindo para você acreditar Charlie, eu sei o que vi, eu sei o que aconteceu, pois pela primeira vez na vida não se trata da razão ou do que é cientificamente possível, é questão de acreditar no inevitável, de acreditar na magia.  Só peço ajuda para encontrar meus pais ou apenas me levar até a casa da Meredith. Sei que de longe você seria a última pessoa que acreditaria nisso tudo. Depois do que vi e vivi hoje, não duvido de mais nada.

— Henry, não se preocupe, vamos te ajudar. – falou Sam.

— Mas antes de irmos precisaremos procurar o cordão que minha mãe falou. Ela disse que estaria em um fundo falso no sótão. – Henry falou. – Vamos!

Os três foram até o sótão que ficava em uma porta depois da cozinha. O cômodo estava totalmente destruído, mas incrivelmente as paredes estavam intactas, mesmo que alguém visse do lado de fora não imaginaria que ela estava destruída.

Henry olhou ao redor, mas não viu nenhuma porta, logo se lembrou de que Adam havia procurado em toda a casa. Será que tinha encontrado?

— Não faz sentido, só tem uma única porta aqui na cozinha que leva ao sótão e não está aqui. – falou Henry confuso.

— Mas Henry, se lembre de que o sótão leva a garagem, podemos ir por trás e entrar. – falou Sam.

— E qual a chance desse cara ainda estar na casa? Pelo que sabemos Henry não o viu sair. – falou Charlie. – E se ele estiver justamente na garagem? Esperando por nós.

— Uma armadilha? – perguntou Henry.

— Mas é claro. – falou Sam. – Faz sentido, principalmente se ele soubesse que Charlie e eu vínhamos aqui.

— Então, o que faremos? – perguntou Henry.

— Eu sei o que não faremos: Cair na armadilha desse louco. – falou Charlie.

Os três ficaram parados na cozinha sem saber o que fazer. Henry não parava de pensar em inúmeras possibilidades de Adam estar esperando eles para dar o bote.

— Já chega, já esperei muito. – falou Sam, impaciente.

De repente algo aconteceu. A parede onde deveria haver uma porta brilhou intensamente fazendo aparecer algo que parecia um circulo azul traçado com uma estrela de quatro pontas dourada.

— Olhem! – falou Henry para Charlie e Sam apontando para a parede.

— O que? – falou Charlie.

— O desenho na parede. – insistiu Henry.

— Não tem desenho nenhum Henry. – falou Sam.

Henry foi até a parede tentar mostrar o símbolo aos amigos.

— Isso aqui. – falou tocando na parece.

De repente a parede que estava na frente dele desapareceu por completo, como se nunca estivesse ali, revelando a entrada para o sótão.

Henry virou para os amigos e percebeu por suas expressões que estavam totalmente confusos e assustados.

— C- como isso aconteceu? – perguntou Sam

— A parede, ela... Ela estava ali e agora não está mais, como isso é possível? – perguntou Charlie indo em direção a entrada certificar-se que não havia nada lá.

— Eu não sei talvez... Magia? – falou Henry. – Vamos.

Mesmo com receio o grupo adentrou no sótão, não havia quase nada lá apenas algumas caixas com roupas, brinquedos e enfeites de natal.

— Sua mãe falou onde estava esse tal cordão? – perguntou Sam.

— Chão, ela disse que estava em um fundo falso.

Os três procuraram olhando atentamente para o chão.

— Eu não achei nada. – falou Charlie. – Tem certeza que não está vendo nenhum desenho mágico que possa nos ajudar? – completou.

Charlie era um ótimo amigo, mas quando colocava algo na cabeça ia até o fim e só se provaria ao contrario se realmente conseguisse ver que estava errado. E Henry não desistiria de provar que a magia existe, mesmo que continuasse a zombaria.

— Gente! Acho que achei alguma coisa. – falou Sam.

Os dois foram até ela e abaixaram-se.

— Olhem atentamente, essa parte da cerâmica é diferente do resto, parece ser mais escura. – falou Sam.

Henry pegou uma faca que encontrou em uma das caixas e contornou a cerâmica do chão. Enfiou a faca e puxou para fora, revelando um pequeno buraco escuro.

— O que tem aí? – perguntou Sam.

— Vamos ver. – falou Henry.

Colocou a mão dentro do buraco já iluminado pelo celular de Sam. Puxou para fora um livro grande de capa de couro, um bracelete dourado e um colar de prata com um pingente vermelho.

— Deve ser esse o colar. – falou Henry mostrando aos amigos.

— Ainda tem mais alguma coisa ali dentro. – falou Charlie para Henry.

Charlie colocou a mão no buraco e pegou uma adaga de punho de couro.

— Por que sua mãe tem uma adaga guardada? – perguntou Charlie.

— Para usar em alguma ameaça, caso invada sua casa e sequestre seus pais. – falou Henry lembrando-se de Adam.

— Vamos sair daqui, esse lugar me dá calafrios. – falou Sam.

Os três saíram do sótão, deixando assim, uma parede branca no lugar da entrada.

— Isso é muito estranho. – falou Charlie.

— Você ainda não viu nada. – falou Henry indo em direção à porta de entrada.

Henry, Charlie e Sam saíram da casa e se depararam com um céu escuro e estrelado iluminado por uma lua prateada. Ambos se olharam para certificarem que não estavam vendo coisas.

— Como assim já é noite? Faz apenas uma ou duas horas que estávamos lá dentro. – falou Sam.

— Não faz sentido, mesmo que tivéssemos perdido noção de tempo ainda estaria de manhã. – falou Charlie.

— Depois de hoje, eu não questiono mais nada. – falou Henry entrando no carro de Charlie.

Os outros fizeram o mesmo, Charlie no volante, foram direto para a casa de Meredith.

— Onde fica a casa dela Henry? – perguntou Charlie.

— Siga direto por três quarteirões e depois dobre a esquerda. É uma casa verde com portões brancos, não tem como errar. – respondeu Henry.

Meredith era uma amiga de sua mãe. Todas as quartas se encontravam para um chá da tarde, tradição da própria Mery (para os íntimos), pois ela é inglesa. Mery sempre teve uma amizade com Henry, como nunca teve filhos considerava Henry um. Estava pensando como ela reagiria com a morte de sua mãe. Na verdade, esse estava sendo o pior aniversário de seus dezesseis anos. É impressionante a mudança que ocorre na vida de alguém em frações de segundos, você perde seus pais, sua casa, é acusado de furto, é suspenso...

Henry estava envolto de pensamentos que não percebeu o momento em que chegaram à casa de Meredith como havia dito, uma casa verde de portões brancos.

Os três saíram do carro e foram em direção à porta. Não tinha nenhuma campainha então Henry bateu na porta.

Ouviram passos distantes aproximando-se da entrada, a porta abriu revelando uma mulher bronzeada de cabelos negros enrolados, um óculos meia-lua na frente de olhos azuis feito água. Mery estava usando um roupão de seda florido e segurava uma xícara de chá, provavelmente estava lendo.

 - Henry? Oi querido, o que está fazendo aqui nessas horas? – perguntou Meredith preocupada.

— Mery, esses são meus amigos Charlie e Sam, será que podemos entrar? – respondeu Henry.

A casa de Meredith não tinha mudado absolutamente nada, os moveis coloridos ainda no mesmo lugar, a televisão quebrada ainda no mesmo lugar, os livros empoeirados como sempre, não havia mudado nada. Fazia meses que Henry não a visitava, sentia-se mal por isso. Sentaram no sofá colorido e começaram a conversar.

Henry falou da confusão que foi seu dia, de como conheceu Adam e a velha, a raiva que sentiu na escola e a pior parte, a morte de seus pais.

Meredith não ficou chocada com a situação, pelo contrário, ficou calmíssima. Não jogou sequer uma lágrima de seus olhos.

— Tem mais uma coisa Mery, ela mandou eu te entregar isso. – falou Henry entregando o colar de pedra vermelha.

Os olhos de Meredith pareciam uma tempestade marítima, encararam os de Henry que ficou imóvel com a situação.

— Fizemos uma promessa. – falou Meredith. Fizemos um pacto de sangue por causa da nossa ligação, prometemos uma à outra que daríamos aquilo que nos é mais significativo. Julia me deu o colar de sete vidas dela.

— Colar de sete vidas? – perguntou Henry.

— Henry, estou vendo que você não sabe absolutamente de nada, não é? – perguntou Meredith indo em direção a estante de mogno negro que ficava perto de sala. – Sua mãe sabia que esse dia chegaria e por esse motivo ela o protegeu de diversas maneiras. Quando ela ficou grávida de você, no mesmo dia, surgiu uma profecia que essa criança traria destruição no futuro.

— Profecia? Mas, que profecia? – perguntou Henry curioso.

— Infelizmente não sou um Oráculo, então não posso ditar para você. – respondeu Meredith pegando mais um livro.

— E o que é esse Colar de Sete Vidas? – perguntou Sam muito tempo depois, mesmo Henry até esquecendo que estava ali.

— É uma maldição que uma bruxa chamada Stridja jogou em sua mãe. Ela tinha sete vidas e cada vez que morria perdia uma, e quando a última vida acabasse essa pedra ficaria assim, vermelha. – falou mostrando o colar que Henry lhe entregara.

— Então minha mãe teve sete vidas? Como um gato? – perguntou Henry perplexo.

Era a coisa mais absurda que alguém já lhe dissera, sua mãe viveu por sete vidas e morreu sete vezes. Isso era demais.

— Creio que sim Henry. Sua mãe e eu vivemos há muitos anos atrás. Não só ela, mas eu também fui amaldiçoada. Sou imortal e viverei para sempre, diferente de sua mãe. Stridja percebeu o envolvimento com seu pai e isso gerou ciúme nela, então ela fez o que fez amaldiçoando nós duas.

— Meredith, o que está acontecendo? Por que isso tudo? Por que agora? Essas coisas que estão acontecendo hoje, o que é? – Henry perguntou assustado.

Não só ele, mas Sam e Charlie estavam com as mesmas feições assustadas. Sabia que era arriscado coloca-los nisso tudo, nem ele mesmo sabia como entrou nessa confusão.

Meredith sabia que era arriscado, mas tinha que contar a verdade. A vida de Henry e de seus amigos estavam em perigo. Não podia mais guardar esse segredo. Mesmo com medo e o coração apertado ela falou:

— Henry sinto muito em te esconder esse segredo. - falou Meredith segurando nas mãos de Henry. - Você é um bruxo.

Henry engoliu seco a última palavra, apesar de que algo dentro dele sabia a resposta.

— Então tudo isso que está acontecendo, é porque eu sou um bruxo? Então isso explica a raiva que tive na escola, as vozes, as janelas que eu quebrei... Eu sou um bruxo! – Henry sentia-se como se pudesse fazer qualquer coisa, uma chama de esperança surgiu no meio de tristeza e trevas.

— Não! - exclamou Charlie. - Não, ele não é! Isso não é possível. Bruxos foram desculpas criadas por fanáticos religiosos no século XV para matarem pessoas. Magia, bruxaria, seja lá o que quiser chamar isso, não existe!

Meredith pareceu ficar ofendida com a resposta de Charlie. Apenas olhou para ele com aqueles olhos d'água e falou.

— É isso que eles querem que vocês pensem. A caçada às bruxas foi um evento sanguinário, mas só aconteceu porque as pessoas não aceitavam a diferença. As pessoas têm medo daquilo que elas não entendem, e foi por isso que muitas amigas minhas foram queimadas na frente daqueles hipócritas. Hoje em dia não é diferente daquela época, o mundo evolui, mas as pessoas não. É por esse pensamento que existem pessoas mortas, feridas e que se escondem, e eu nem estou falando de bruxos, as pessoas temem aquilo que sai da sua monotonia.

Charlie não se pronunciou, ficou sentado na poltrona vermelha sem dizer uma palavra.

Meredith o encarou, fechou os olhos por um momento depois os abriu normalmente e falou.

— É estranho que você não acredita na magia e no sobrenatural, já que você tem algo diferente no seu sangue. – falou Meredith em um tom misterioso.

— O que? - falaram Henry, Sam e Charlie ao mesmo tempo.

Ambos pareceram chocados com a ideia de algo diferente em Charlie, o nerd que colocava a razão à frente de tudo, o atacante do time do colégio e o cara mais normal do mundo.

— Sua família é da Virgínia, não é? - falou Meredith em direção a Charlie.

— Como sabe? - perguntou Charlie.

— E onde estão seus pais? - Meredith tornou a perguntar.

— Por que o interesse? - perguntou Sam.

— Meus pais morreram em um acidente de carro.

Henry sabia muito bem que Charlie não engolia essa história, sempre desconfiou que algo a mais aconteceu nesse acidente. Encontraram os corpos em um lago e o carro na estrada, a polícia falou que o acidente aconteceu por excesso de velocidade e principalmente por causa da chuva, mas Charlie sempre soube que seu pai era um ótimo motorista e que não colocaria sua vida e nem de sua mãe em risco.

— Charlie Lockwood? Esse é seu nome? – perguntou Meredith o olhando de esguelha para Charlie.

— Meredith, por que essas perguntas? – falou Henry

— Porque seu amigo aqui Henry, é um lobisomem.


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Notas finais do capítulo

Várias referências e espero que meus leitores encontrem todas. Até o próximo capítulo.
Ah, caso não tenha avisado, os capítulos serão postados por semana. Atrasei nesse segundo pois meu notebook travou a semana inteira, mas já arrumei ele.



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