Nada será como Antes escrita por Crica


Capítulo 5
Capítulo 5




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Capítulo 5:

Alguns dias depois... 

Em meio a uma enorme plantação, no centro geográfico da Armadilha do Diabo, agora livre de suas trancas, Sam, Ruby e Trude e outros poucos demônios menores aguardavam, num velho celeiro abandonado. 

A noite clara e estrelada deu lugar a uma escuridão repentina. O céu encheu-se de sombras e, do brilho da lua, só restou uma mancha embaçada atrás das nuvens. 

- Está na hora, Samuel. – Trude aproximou-se do rapaz e murmurou  palavras num idioma estranho. 

Sam sentiu-se invadido por uma força espetacular, mas resistiu, assim como Ruby o havia orientado. Resistiu e lutou, tentando afastar todas aquelas imagens aterradoras com que Semjaza invadia a sua mente.

 A terra tremeu e rachou-se, libertando uma espessa fumaça negra que envolveu por completo o jovem Winchester. 

 - Finalmente! – Semjaza exibiu seus frios olhos amarelos e gargalhou, triunfante, dentro do corpo de Samuel.

 - Finalmente, o escambau, seu demônio filho da p...!- Dean correu na direção do irmão, carregando um punhal. 

- Quem deixou os vermes saírem? – Semjaza estendeu a mão e, num gesto, fez Den estancar de encontro a uma parede invisível. _Garoto, apesar de pensar o contrário, você NÃO é o Batman. 

Bobby saiu das sombras e atirou-se sobre Sam na tentativa de enlaçá-lo com a corrente da Chave de Salomão, mas não pôde dar mais que dois ou três passos e, antes de voar de encontro à parede de madeira, experimentou o frio olhar  que brilhava no rosto do jovem Winchester.

 _ Sabe o que é mais engraçado nisso tudo? – o demônio ergueu a mão, levantando Dean do chão – Vocês, criaturas miseráveis, sempre tão previsíveis, pensaram que eu não estaria preparado para uma traição. Foi divertido vê-los arquitetar toda essa palhaçada. Tão espertos...-dirigiu o olhar para Ruby.

 Antes que Semjaza completasse a frase, Ruby girou sobre os calcanhares e atingiu Trude, cortando-lhe a garganta com sua adaga.

 _Menina malvada...- o demônio incorporado em Samuel fixou os olhos nela e sorriu, fazendo-a arder.

 Literalmente, o corpo que Ruby habitava ardeu em chamas e seus gritos encheram a noite, fazendo com que até os outros demônios se afastassem.

Dean estava aterrorizado. Sabia que Sam não seria capaz de ferir uma mosca, mas era ele, seu irmãozinho que estava ali, possuído por aquela força maligna, às gargalhadas diante daquele espetáculo medonho.

 _Sabe, Dean, tenho que te agradecer.- aproximou-se e apertou a mão como se a garganta do rapaz estivesse entre seus dedos – Tenho mesmo.Não fosse pelo nosso pequeno acordo, seu irmãozinho estaria bem morto agora e eu teria que encontrar outro fantoche. Azazael sempre ficou com a melhor parte da bagunça.Ele era muito mimado, sabe?E eu, bem, eu estava meio cansado de fazer as vontades dele.Mas numa coisa o idiota tinha razão, o Sam aqui é um belo pacote de  propaganda: sujeito simpático, bonito, bem treinado,uma tremenda lábia...vai ser moleza andar por esse seu mundinho na pele do querido Sammy. Essa cara de anjo pode abrir muitas portas...-sorria ameaçadoramente. 

Dean quase não podia ouvir o que Semjaza dizia, pela boca de seu irmão. Faltava-lhe ar, sua visão estava confusa, o suor escorrendo-lhe pela face, os pensamentos desordenados e aquele cheiro... Aquele cheiro de carne queimada que lhe revirava o estômago.Precisava trazer Sam de volta. Precisava fazê-lo lutar e a única coisa que conseguia fazer era tremer.

 _... Acho até que vou me candidatar a um cargo público.- sorriu sarcástico - Já imaginou, garoto, a legião de fãs que seguiriam o belo Sammy? E, no meio do caminho, reunir a ‘minha legião’?- aproximou-se tanto do rosto de Dean que podiam sentir o hálito um do outro - Vai ser uma farra! Você pensou que Azazael fosse perigoso? Não viu nada ainda, nada! 

_ Sam... – Dean reagiu, num fio de voz.

 _Pena que você não estará por aqui para ver...- apertou ainda mais, arrancando-lhe um gemido. 

“Não!”

 Semjaza sentiu sua mão fraquejar.

“Deixe-o em paz!”

_Qual é, Sammy?! - o demônio falou consigo mesmo - Não vai bancar o sentimental... 

“Temos um acordo!”


_Pelo que me consta, o acordo era livrar o traseiro do seu irmão do inferno. Está feito. O resto... Bem, o resto é o resto.

 _Lute, Sam...- Dean aproveitou o momento em que Semjaza diminuiu a pressão – Lute...-murmurou.

 _Calado!!!-gritou com o mais velho- Está vendo? Até na hora da morte fica querendo te dar ordens. Vai mesmo querer salvar o cara? Nah...-apertou novamente o pescoço do irmão de Samuel, fazendo-o revirar os olhos.

“Se você o matar... se tocar nele... eu juro que vou lutar e impedi-lo de fazer o que quer que esteja planejando!”

_Ah, é mesmo?! Sammy boy, não vá fazer ameaças que não poderá cumprir. 

“Experimente.”

 _Sabe, eu não gosto nem um pouco deste seu irmão. Me daria um imenso prazer quebrar este pescoço – sorriu de lado.

“Liberte-o e farei o que quiser. Não causarei mais problemas. Mas se seguir esses seus instintos maléficos, qualquer dia, numa hora qualquer você vai bobear e, quando isso acontecer, eu vou estar bem aqui, esperando e cuidarei para que não sobre nada de você pra ser mandado de volta ao inferno.”

_Nossa, quanta determinação!- ironizou - Mas há sempre a possibilidade de encontrar outro idiota que deseje ardentemente fama, dinheiro, poder, ou qualquer coisa que eu ofereça em troca de hospedagem. Aí, meu amigo, você já era! Só vai sobrar uma massa disforme dentro dessa sua cabeça oca.

“Você pode arriscar...”

 _Cara, numa coisa o idiota do seu irmão tem razão: você é um pé no saco!- abriu a mão - Que seja!

 Dean caiu atordoado no chão do celeiro, tossindo, engasgado, tentando raciocinar enquanto buscava o ar. Sam estava ali, diante dele, como antes, de pé, com uma expressão assustadora. Tão perto e irremediavelmente longe. Ele queria desesperadamente encontrar uma forma de salvar seu irmão, mas faltavam-lhe forças. Faltava-lhe a determinação para fazer o que havia prometido por duas vezes.Levantou os olhos marejados e encarou Samuel. A custo conseguiu erguer-se e manter-se equilibrado sobre as pernas. Não poderia desistir.Desafiou Semjaza numa tentativa inútil:

 _Você deveria ter me matado, maldito! –Dean ameaçou enquanto a criatura afastava-se seguido por seu séquito - Eu vou caçá-lo e destruí-lo.

 _Ah, não vai não.- voltou-se a passos lentos – e sabe por que? – bateu com a mão espalmada no peito de Dean e arrumou-lhe a gola do casaco - Porque vai ter que matar o irmãozinho...-passou-lhe a mão pela face- e você já provou que não tem peito pra isso... não é mesmo...Dean? 

Os olhos de Dean cintilavam de ódio, seus lábios tremiam, apertados. Aquela coisa, mais uma vez, o derrotara. Seguiu-o, com o olhar, enquanto saía. 

ooooo000ooooo 

Durante semanas Dean Winchester seguiu os passos de Semjaza.

Não o perderia de vista.

Viu o número de seguidores do mal que seu irmão arrebanhava a cada cidade e as atrocidades cometidas por eles.

Andou pela sarjeta, misturou-se aos tipos mais sombrios e estranhos, deitou-se sobre pilhas de livros e manuscritos de feitiços e demonologia na esperança, a única coisa que lhe restava, de resgatar Samuel ainda com vida. Porém, acabava seus dias sempre diante de uma garrafa, no balcão de um bar sujo, num canto qualquer.

Não havia no primogênito de John sequer a sombra do homem que fora um dia.

 _ Está precisando de um banho, meu bem. – Bella comentou por trás do ombro de Dean. _Vê se me erra. – respondeu sem olhar para trás, enquanto entornava mais uma dose. 

_ Estou falando sério, rapaz. – sentou-se a seu lado depois de limpar o banco do bar com um lencinho de seda _ Pra quem já foi o terror da mulherada, meu amigo, você está um bagaço!

 _ Me faz um favor? –voltou-se e encarou-a, exibindo um rosto amargurado – Pegue o seu belo traseiro e suma!

 _ Está certo. –levantou-se _Não vou ficar aqui apreciando a sua crise de autocomiseração. – pôs o colt sobre o balcão, diante dele.

 _Comi... o que ?- torceu o nariz.

 _ Esqueça. Só vim te trazer isso. O Bobby pediu pra você ligar. – foi saindo.

 _Ele está bem ? _ Melhorando.- voltou-se para o jovem _ Só me faça um favor ? Se quer tanto se matar, não fique rastejando. Morra com classe. – saiu.

 As palavras de Bella o atingiram como um soco na boca do estômago. 

 Sentiu vergonha de si mesmo. 

 Seu pai ficaria envergonhado de vê-lo naquele estado.

  Bobby teria vergonha da sua atitude covarde e Sam, Sammy, certamente lhe lançaria aquele olhar apertado de recriminação, tão dele.

 Pagou a conta e saiu. 

Dean não deixou sua via-crucis. Seguia Semjaza por toda parte e descobriu que o tal não estava brincando quando prometeu arrastar multidões atrás de si. 

Aquela coisa suja estava lá, em plena praça pública, usando seu irmão e falando como um pregador para dezenas de inocentes que ouviam atentamente suas palavras, dizendo amém ao final de suas frases.  

Do outro lado da rua, Dean reconheceu alguns rostos. Rostos que antes foram aliados ou amigos de seu pai e que agora caçavam seu irmão menor, arquitetando planos para matá-lo. 

Precisava ser mais eficiente. Precisava, com urgência, de uma solução.  

Passou a entender, como nunca, o cuidado que seu irmão tinha com as pesquisas para os casos nos quais trabalhavam. Sam nunca deixava passar nada. O cuidado com cada detalhe, com cada mínimo detalhe poderia fazer toda a diferença. 

Atravessou a praça lotada, ouvindo a voz suave de Samuel ecoar. Era a mansidão de Sammy, falando aos seus ouvidos. Sacudiu a cabeça, desviando o pensamento.  Passou direto pelos caçadores e entrou na igreja.  Sentou-se no primeiro banco e permaneceu em silêncio, sendo observado, de longe pelos que caçavam o demônio. 

O silêncio dominava o ambiente, mas dentro da cabeça de Dean, havia um turbilhão de palavras ditas e ouvidas durante os últimos dias, gritando em uníssono.

 Parou os olhos diante do altar. Perdeu-se por alguns momentos na alvura da toalha que o cobria e nas flores do campo que o ornavam delicadamente.  

As vozes foram diminuindo o tom até que cessaram e seu coração batia agora num ritmo compassado. 

 Afundou-se um pouco no banco de madeira, esticando as pernas para frente e correu os olhos pelos dois grandes anjos empunhando suas lanças que ladeavam o crucifixo preso no alto, ao centro.

 _ Sabe, eu não sou muito bom nisso.- ajeitou-se novamente e cruzou os dedos das mãos  sobre o colo- Nunca fui bom nessa coisa de ter fé. Acho até que, se rezei uma vez na vida, foi muito.- afastou a lágrima que brotava num dos olhos e fixou-se nas imagens atrás do altar. - Irônico, não ? Foi o Sam que sempre rezou e pediu, sei lá pelo que, a vida toda... – enxugou os olhos novamente e secou o nariz após uma breve pausa – Bem... Eu estou aqui. Estou aqui e não sei mais o que fazer. Eu queria tanto acreditar que você está aí e que vai mandar alguém ou alguma coisa pra me ajudar... Queria tanto... -As lágrimas já não o incomodavam mais – mas eu acho que não vai mesmo acontecer, não é? –levou a mão à boca e segurou o choro _ O tempo todo eu soube que, mais cedo ou mais tarde, nós acabaríamos aqui, sabe?  Eu só não queria acreditar...-precisava de tempo para pensar- Mas tenho que fazer o que é preciso, não é? Esse é o meu papel nessa tragédia?- silêncio - Ele deveria ter me deixado morrer. Se eu estivesse morto, talvez nada disso estivesse acontecendo...- passou a mão pelo rosto e levantou-se - É... Eu sei... Eu sei que não mudaria nada.- respirou profundamente, engolindo sua dor _ E agora, não vai ter jeito.-antes de sair, voltou-se mais uma vez para o altar _Será que um dia você vai poder me perdoar, heim? 

 ooooo000ooooo 


Os caçadores abordaram Dean à saída da igreja e avisaram-no da sua intenção de matar Samuel para destruir Semjaza antes que este conseguisse realizar seu intento.

Ele não discutiu ou brigou. Apenas pediu que os caçadores lhe dessem algum tempo. Garantiu que até a noite tudo estaria resolvido.

 Dean espreitou pelas ruas da cidade e descobriu o hotel onde Sam estava hospedado. Aguardou o momento propício para aproximar-se. 

Todas as pessoas haviam retornado para suas atividades. 

O irmão maior de Samuel passou desapercebido pela recepção do pequeno hotel e ganhou as escadas,bateu à porta e foi recebido pelo próprio Semjaza.

 _Dean, Dean...- sorriu e fez um biquinho irônico – você não tem jeito... sempre se arrastando atrás das migalhas do irmãozinho. Tão previsível...

 _Não vai me convidar pra entrar? – enfiou as mãos no bolso da jaqueta de couro. 

_ O que o traz aqui, além das migalhas, é claro?

 _ Quero falar com meu irmão. – passou pelo outro e foi entrando no quarto. 

_Sinto muito, mas o Sam não está disponível.- cruzou os braços diante do tórax com um sorriso malicioso. _ Muita coragem sua vir até aqui, ou... Muita burrice, o que é mais provável. 

_ Olha só, cara, eu não quero briga, tá?- falou num tom cansado_ Eu tenho andado atrás de vocês todo esse tempo... Eu só quero falar com meu irmão, me despedir. 

_ Garoto, eu até poderia, se quisesse e tivesse um pingo de piedade, deixar você dar um beijinho de boa noite no maninho, mas, definitivamente, não vai rolar. 

_ Qual é? – Dean implorou_ Vocês já mataram os meus pais, arruinaram a minha vida, mantêm o meu irmão preso dentro do próprio corpo e me fizeram descer mais baixo do que qualquer pessoa teria suportado. Que mal pode haver? –havia uma profunda tristeza estampada em seu rosto _Só um minuto. 

_ Se você ainda não percebeu, Dean... seu irmãozinho já entregou os pontos há muito tempo.

 _ Mas ele ainda está aí, não é?- aproximou-se de Semjaza e fitou-lhe os olhos _Você está aí, em algum lugar, não é, Sammy? – retirou a mão esquerda do bolso da jaqueta e, rapidamente, colocou sobre o peito de Samuel a Chave de Salomão. – E você, seu demônio de merda, não vai sair. – passou a corrente ao redor do pescoço do demônio que exibia as órbitas amarelas.

 _ O que você pensa que está fazendo? – Semjaza deu um passo atrás.

 _ Impedindo você de sair ou de usar seus poderes, babaca.- do bolso interno, Dean retirou o colt e engatilhou-o, mirando o coração do caçula.

 _Você não vai atirar. – provocou _Sei que não vai.   

_Eu sinto muito, Sam...eu tentei...muito...- as mãos de Dean tremeram e seus lábios mal puderam pronunciar tais palavras. _ Sammy,me perdoa...

 _Faça, Dean. – os olhos de Samuel, por um breve momento,
já não estavam amarelos e sorriam para o seu irmão mais velho _ Salve-me.

 O segundo que durou entre o pedido do irmão e a pressão que seu indicador exerceu sobre o gatilho, pareceu uma eternidade, passando em flashes frenéticos, toda a sua vida  diante de seus olhos. 

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