Nada será como Antes escrita por Crica


Capítulo 2
Capítulo 2




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Capítulo 2:

 Samuel voltou ao apartamento, juntou o que estava à mão, tomou as chaves do carro e partiu. 

 Em meio à estrada escura, o celular tocou. Era Bobby. Ele já estava no aeroporto. Sam pisou fundo no acelerador. Tinha a esperança de encontrar Dean pelo caminho. Não podia perder tempo. Cada segundo era importante. Não deixaria que seu irmão enfrentasse os últimos momentos sozinho e, nesse meio tempo, tentaria, de alguma forma, encontrar um meio de salvá-lo.  

ooooo000ooooo 


Flash back

-O que é isso? 

-Sei lá, Sammy. É pra você.


-Não olhou o remetente?


-Não.


-Tá. Conta outra.


-Bem, vai abrir ou vai ficar enchendo o saco com esse inquérito que não vai nos levar a lugar algum?

-É uma carta da faculdade, Dean.

-Beleza. Abre logo.

-Eles me querem de volta. Estão reabrindo a minha matrícula...


-Isso é excelente! Parabéns, maninho! Sabia que você conseguiria.

_.Mas só vou poder tentar a bolsa de estudos no ano que vem, se conseguir manter as notas altas.

-Isso é mole.


-Dean?


-O que é?


- Como isso pode estar acontecendo? Você não tem na...


-Você está me superestimando, Sam. 

-É óbvio que alguém andou mexendo uns pauzinhos por aí.Estou errado?

-Talvez um alto funcionário em Washington que teve seu porão invadido por um espírito zombeteiro, esteja  muito agradecido  e, talvez... Só talvez, tenha decidido dar um empurrãozinho, mas quem vai saber?

-Dean, você não presta.

-Definitivamente.


(fim do flash back)

ooooo000ooooo 


O mais jovem dos Winchester foi desperto de suas lembranças pela luz intensa de um caminhão que vinha pela estrada na direção oposta.O Impala voava baixo pelo asfalto, noite à dentro. 

oooo000ooooo


 Há milhas de distância, já fora do estado da Califórnia, Dean caminhava pelo acostamento da estrada. Tinha a testa enrugada e os lábios apertados como que quisesse impedir que algo lhe saísse pela boca. A mochila, com umas poucas mudas de roupa, tinha um peso enorme. Cada passo apressado era seguido pelo arfar da respiração que se condensava diante de seu rosto devido ao ar frio da madrugada. Sua mente passeava entre lembranças e devaneios, mas vira-e-mexe, dava com aquela expressão nos olhos de Sam, que o fizera retomar a estrada. Cada palavra dita na noite anterior havia ficado gravada em seu subconsciente. Seria capaz de reproduzi-las, com fidelidade, uma a uma. E isso doía. 

 ooooo000ooooo

Flash back:


-Sam?


-O que é?


-Estive pensando... Seria absurdo eu ir à faculdade também? Sei lá, um dia...


-É claro que não, Dean. Nunca é tarde.- sorriu animado - Pensou em algo específico?


- Bobagem...-sem graça - você sabe...

-Bobagem, por quê? Não acho que seja bobagem. Você ainda é muito jovem, cara. E é bem esperto. Pode fazer o que quiser.

-Deixa pra lá. Viagem minha.

-Bem, eu não penso assim. Mas há sempre a possibilidade de se especializar, sabe? Um bom mecânico, e isso não há dúvidas de que você é, pode se estabelecer no mercado e fazer uma grana. Principalmente nesse ramo de restaurações.

‘Isso se eu tivesse tempo, Sammy...tempo... ‘- pensou
(fim do FB)
ooooo000ooooo 

O som da buzina fez com que Dean se voltasse e acenasse, usando o polegar, para o carro que se aproximava. Uma carona viria bem a calhar. 

Um utilitário verde-escuro acionou a seta e diminuiu a velocidade ao passar pelo rapaz. As luzes de freio o fizeram acelerar os passos.

Alcançou o carro, abriu a porta e entrou. Não podia crer no que seus olhos lhe revelavam. 

-Ruby? O que está fazendo... 

-Feche a porta, Dean. Está frio aqui. 

-Que fecha a porta nada! Não vou a lugar nenhum com você!- a porta trancou-se ao olhar da mulher. 

 -Meio tarde pra desistir, meu bem. – arrancou. 

-Só me faltava essa...-Dean desejou estar com a Colt - O que você está armando agora?

 - Não seja precipitado... E não tenha medo, não vou machucá-lo. 

- Medo? Eu, com medo de você??? Que ridículo... Eu queria é meter uma bala nessa sua cabeça  loira, isso sim. Pena que não estou armado. 

- Se você estivesse armado, não estaria aqui comigo, certo? Então, larga de ser chato e passemos aos negócios. 

- Negócios? Não tenho nenhum negócio com você. 

-Ainda. Esta é uma palavrinha deveras importante nesta nossa conversa. 

-Ah, é? E que delírio dessa sua mente infernal fez com que acreditasse que, sequer por um segundo, eu pensaria em fazer qualquer ‘negócio’ com você? Se ainda não percebeu, amorzinho, a minha quota de pactos com demônios já foi preenchida. 

-Não seja dramático, Dean. –sorriu sarcástica - pensei que o lado mexicano da família fosse privilégio do pequeno Sammy. Achei que fosse um homem prático.

 -Desculpe-me se a desapontei. Não foi essa a minha intenção, juro que não. Agora dá pra parar essa droga de carro e abrir a merda da porta que eu quero descer?

 -Calminha aí, rapaz... Acelerou ainda mais.

 - Não acha que está correndo um pouquinho demais, não, heim? 

- Está com medo??? – Ruby ironizou - Pra quem está indo encontrar a morte, está bastante preocupado em se manter vivo, não acha? 

- Dá pra parar com a palhaçada, garota? Não estou a fim de gracinhas. PARE JÁ ESSA PORCARIA!!!

 -Ok! Não precisa gritar...- brecou bruscamente. 

O carro parou de repente, atirando o jovem Winchester de encontro ao pára-brisa. Ruby chocou-se contra a direção e, por um breve momento, permaneceu imóvel, ao lado do rapaz. A fumaça que rodeava os pneus espalhou-se e a luz de um poste contra o qual se chocaram piscou. Dentro do carro, o demônio ajeitava-se no banco do motorista ao tempo em que seus ferimentos cicatrizavam instantaneamente.

 - Ops! – Ruby puxou Dean para trás - Esqueci de avisar pra pôr o cinto...- passou a ponta do indicador na gota de sangue que escorria de um corte no supercílio esquerdo do rapaz - Tadinho... vai ter uma baita dor de cabeça. 

ooooo000ooooo 


-Bobby? Teve alguma notícia dele? – Sam estava nervoso ao telefone.

 -Nada, Sam. E ainda estou preso nesta merda de aeroporto. Tem uma droga de uma neblina espessa aqui e todos os vôos estão atrasados. 

 - Tudo bem. Parei pra esticar as pernas e comer alguma coisa, mas já estou voltando pra estrada. A gente se fala.

 - Sam? Sabe aquela máquina maluca do Ash? Estava apitando feito doida. Tem algo estranho acontecendo por aí, garoto. Tenha cuidado.

 -Não se preocupe. Eu terei. – desligou. - Que droga, Dean, onde você se meteu?

 ooooo000ooooo 

Mais tarde, na cidade fantasma, no quarto onde Dean chorou a morte de seu irmão...  

-Trouxe um analgésico pra você. – Ruby ofereceu o comprimido com um copo d’água.

 -Muita gentileza, mas eu passo. –Dean virou o rosto – Dá pra me soltar agora? 

 -Se você prometer se comportar... 

-Claro. Vou me comportar, prometo. Depois que cortar a sua garganta! 

- Está certo. Estou cansada desse joguinho. – sentou-se diante de Dean, em outra cadeira - Vamos falar sério agora.

 -Sou todo ouvidos – sorriu com o canto da boca e, em seguida, lançou um olhar gélido à mulher. 

-A questão é que nós dois temos um probleminha e podemos nos ajudar mutuamente. Você, apesar de todo o esforço para parecer o contrário, não quer realmente morrer e, se quebrar o acordo o belo Sam volta pro buraco. Está acompanhando? 

-Diz aí uma novidade.

 -Eu, por minha vez, tenho uma missão que está se tornando um estorvo, na verdade.

 -E eu com isso? 

-Posso terminar? Obrigada. Quando Azazael armou o circo pra dominar o mundo, ele sempre teve o olho maior do que a barriga, e começou a escolher recrutas para guiar seu exército na terra, deixou lá embaixo um primeiro oficial, assim por dizer...

 -O general tinha um capanga?-Dean se surpreendeu - Só me faltava essa...

 -Bem, na verdade, mais que um capanga. Eu diria, um substituto. Mas, continuando... Há séculos ele vem tentando se estabelecer por aqui. Tem selecionado candidatos pelo mundo à fora desde há muito, muito tempo... e olha, alguns quase chegaram lá. 

- E o que a minha família tem a ver com isso?

 - Vocês só estavam no lugar errado, na hora errada. 

-Espera um instante: está querendo dizer que toda essa desgraça que aconteceu conosco foi só uma cagada do destino? Que nada disso foi planejado ? Que esse palhaço do YED ou ‘Azaqualquercoisa’ passou pela minha casa, matou a minha mãe e amaldiçoou o meu irmão, por acaso??? 

-Bingo!!!

 -Eu não acredito... -Pois acredite, meu bem. A sua mãe era uma pessoa extremamente sensível e, quando entrou no quarto do seu irmão naquela noite, percebeu o que Azazael era e tentou impedi-lo de tocar o bebê. Então, ele a matou. Ele contaminou Sam como fez com centenas de outras crianças, antes e depois dele.Essa sua raça é naturalmente corrupta,Dean. Azazael só deu umas gotinhas de incentivo a alguns de vocês pra ver se colocava mais peso do lado dele da balança. 

-Eu...Eu... – Dean se esforçava para organizar os pensamentos. 

-Está chocado? Eu também ficaria. Mas aquele diabinho levado não contava com a obsessão de Jonh e com você, é claro. 

-Comigo? Eu não tive muita escolha... 

-Você se subestima, Dean... –levantou-se e andou ao redor do rapaz, indo parar atrás dele.

- Já parou pra pensar o que teria sido do pobre Sammy se você não estivesse por perto pra segurar suas pequenas e órfãs mãozinhas?Hum? Se ele não tivesse seu irmão mais velho pra secar suas lágrimas, para ensinar-lhe a não ter medo do escuro? – acariciou-lhe as têmporas -Porque  papa John estava muito ocupado, não é? Muito ocupado pra cuidar dos seus meninos e deixou a peteca na sua mão.- desceu as mãos pelo pescoço e massageou-lhe os ombros -  Talvez o pequeno Sammy já não fosse mais o bom Sammy...

 -Do que você está falando? – Dean estava assustado.- Se está querendo me confundir, parabéns, está fazendo um excelente trabalho! 

-Quantas vezes você matou, roubou, ludibriou, fingiu, mentiu e outras “cositas más”  para que Sam não tivesse que experimentar o mal?- voltou ao seu lugar após cortar as cordas que prendiam o rapaz - Você não tinha consciência disso, mas manteve seu irmão fora do alcance de Azazael, Dean. Todo esse tempo... 

Dean retirou as cordas que marcavam seus pulsos, passou a mão pela cabeça, tentando assimilar todas aquelas informações, antes de continuar.

 -Ruby... se você estiver armando pra cima de mim... 

-Você sabe que não estou. E preciso da sua ajuda, assim como você precisa da minha. 

- O que você quer, afinal? -Que vá até a encruzilhada e entregue-se ao sacrifício, como é esperado.

 -Que interessante...

 -Mas quando a hora chegar, exigirá a presença do dono do seu contrato. É um direito seu. 

Dean levantou as sobrancelhas, esperando um esclarecimento. 

-É lógico que um subalterno virá receber o pagamento, mas a tradição lhe dá o direito de encarar seu devedor no momento final e você exigirá que se cumpra o que está contratado. É aí que eu entro.- manuseava sua misteriosa adaga de um lado para o outro. 

-Você quer matar o desgraçado, não é? É essa a missão da qual falou? – o rapaz estava zonzo - Se você é um deles, por quê??? 

-Sou alguém que, há muito tempo, fez as escolhas erradas. Estou precisando acertar as coisas...Manter o equilíbrio, sabe?

 - Você precisa de redenção, não é? 

-Não é o que todos nós queremos? – estendeu a mão em direção a ele - Como vai ser?

 - Se você pensar, se apenas pensar em me trair, Ruby, eu juro que irei atrás de você nem que tenha que escalar as paredes do inferno pra isso.

 - Não vai acontecer. 

Apertaram as mãos, selando o acordo.

 -Por que será que eu tenho essa impressão de que ainda vou me arrepender disso? – o rapaz a encarou-a, desconfiado. 

-Não se preocupe. – entregou-lhe o analgésico novamente - descanse um pouco. Temos algum tempo. 

ooooo000ooooo 


 Flash back:

- E é só isso? É só isso que você me diz?

-O que você gostaria que eu dissesse, Sam?


-Pai, a maioria das pessoas daria um braço e explodiria de orgulho de ter um filho na universidade e você me diz pra esquecer?


-Isso não é para nós, Sam. Temos outras prioridades.

-Nós? Nós temos outras prioridades? Que prioridades???Caçar essa maldita coisa que sequer sabemos o que é?

-Sam, por favor... Pai, dá um tempo... Vocês poderiam conversar feito gente, só pra variar?


-Não se meta nisso, Dean. Não preciso de você me defendendo.


-É bom mesmo que não se meta, Dean. Seu irmão está achando que já é homem para decidir sobre sua própria vida. 


-Você está dizendo que não sou capaz de cuidar de mim? Pois você vai ver, pai...Vai ver...

-Preste bem atenção, moleque: se sair por aquela porta, é bom que saiba o que está fazendo porque não vai ter volta. Está me entendendo???


-Pai... Sammy...Por favor...

- Não precisa falar outra vez. Já estou indo.

-Sammy!  Pai, o que você está fazendo??? Sammy, volta aqui!!!

-Me larga, Dean.

-Qual é, cara? Dá um tempo. Logo o pai esfria a cabeça e vocês se acertam, vamos lá.

-Sinto muito, Dean, mas pra mim chega.

- Olha, Sam, pensa um pouco. Eu... Eu vou falar com ele, tá? Nós vamos sentar e resolver tudo. 

-E você acha que vai conseguir convencer aquele cabeça-dura de que eu tenho o direito de viver a minha vida? 

-Eu posso tentar. Vocês dois são tudo o que eu tenho. São a minha família. Eu não posso escolher entre vocês, cara!

- Dean, se você vai aceitar viver o resto da sua vida acorrentado à obsessão do papai, é problema seu. Eu estou fora.

- Sammy, por favor, me dá uma chance...

-Você sabe onde me encontrar, se mudar de idéia.


-Sam...

ooooo000ooooo

                                                                                   
No estacionamento do aeroporto de Swanson, Dakota do Sul. 

Samuel acordou assustado com as batidas no vidro do carro. Destravou a porta do carona.

 -Te assustei? –Bobby acomodou-se, jogando a bagagem no banco traseiro. 

-Não. – Sam esfregava os olhos, espantando o sono - Eu estava sonhando, acho. 

-Sonhando, tipo, uma visão? -Não. Era um só um sonho... o dia em que fui pra faculdade...Aquela briga com o pai e o Dean...- seus olhos congelaram no tempo - eu o deixei plantado lá, Bobby, no meio da rua e não olhei pra trás. 

-Não se aborreça com isso, filho. Seu pai era um osso-duro-de-roer. 

-Não estou falando do pai, Bobby. O Dean. Não me lembrava mais disso, mas ele implorou. Ele implorou várias vezes para que eu lhe desse uma chance de ajeitar as coisas e eu sequer olhei pra trás. 

-Quer que eu dirija? – o mais velho desconversou - Já deve estar bastante cansado.

 -Não, tudo bem. Vamos nessa. Já perdemos muito tempo.

 - Tem certeza de que Dean está voltando pra encruzilhada? 

 -Não tenho certeza de nada, mas algo tem me empurrado nessa direção nos últimos dias. Eu não sei mais aonde ir, onde procurar, então, o que temos a perder?

 -Nada. Mete o pé porque não temos muito tempo. – Bobby
sugeriu.  

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