Nada será como Antes escrita por Crica


Capítulo 1
Capítulo 1




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NADA SERÁ COMO ANTES

Capítulo 1:  

 Arredores de Los Angeles, 3 e meia da tarde.

 - Onde você se enfiou o dia inteiro, Dean? – Sam reclamou sentado diante do computador, numa mesa junto à parede do quarto do motel onde o irmão o havia deixado na manhã daquele dia. 

- Levanta daí, Sammy. Temos que ver um lugar. – o mais velho fechou o laptop e começou a juntar suas coisas, pondo-as na mochila.

 -Ver o quê? Onde? – o caçula levantou-se intrigado - O que há com você, cara? Me deixa aqui o dia inteiro, não atende o celular e chega me dando ordens sem a menor explicação? 

-Deixa de drama, Sam. – atirou a outra mochila para o irmão - Arrume logo as suas coisas e vamos nessa.

 -Pois não vou a lugar nenhum até que me explique o que está rolando. – sentou-se na beirada da cama. 

- É uma surpresa, certo? Dá pra não ser um pé no saco pelo menos uma vez na sua vida e me deixar fazer-lhe uma surpresa? Ham? Será que dá ou está difícil? – continuou guardando tudo o que encontrava, fechou a mochila e pendurou-a no ombro direito. - Como é? Você vem ou não? Eu já estou saindo, amigo, com ou sem você. 

Samuel bufou, mas não viu jeito de o irmão esclarecer-lhe sobre a tal novidade, então, juntou seus pertences e saiu atrás do outro.

 ooooo000ooooo


Palo Alto, Califórnia.

 Não muito tempo depois, o Impala estacionou junto à calçada de um prédio antigo de dois andares. Uma mulher de cabelos grisalhos e sorriso amável estava na pequena varanda e desceu os cinco degraus até a rua para recebê-los. 

Dean saiu primeiro do carro e foi até a simpática senhora que entregou-lhe um molho de chaves. Acenou para que Sam se aproximasse.

 -Sra Simmens, este é Sam, meu irmão.

 -Olá, meu jovem. – sorriu animada - Dean falou muito sobre você. Sejam bem-vindos. 

-Olá, senhora. Muito obrigado, mas... – Sam estava visivelmente confuso. 

- Bem, acho que gostariam de ver o apartamento agora, não é?  – apontou a direção da escada que ficava no final do pequeno hall. – Sabem, rapazes, esta é uma construção bastante antiga, mas muito resistente e confortável. – foi subindo os degraus seguida de perto pelos irmãos – Creio que vão gostar bastante. Há a necessidade de alguns consertos aqui e ali, mas nada que dois rapazes fortes como vocês não dêem conta. 

No andar de cima, a Sra Simmens apontou uma porta de madeira azul-escuro que Dean apressou-se em abrir. 

O apartamento era amplo, mas estava bastante desgastado. Uma sala quadrada com duas janelas em paredes distintas e, ao fundo, um balcão que limitava o espaço de uma pequena cozinha, onde se via um fogão e uma geladeira antiga. Havia também alguma mobília: um sofá com um furo no assento, uma mesa de madeira com 3 cadeiras e uma cômoda empoeirada entre as portas dos dois quartos.

 Dean perambulava animado, com um sorriso no rosto, enquanto Samuel observava o ambiente e ouvia as explicações da anfitriã sobre as vantagens de se morar tão perto da cidade com a tranqüilidade do subúrbio.

 - Ficamos com ele. –Dean afirmou, sorrindo para a senhora.

 -Que bom! Tinha certeza de que ficariam. – dirigiu-se à porta - Se precisarem de alguma coisa, qualquer coisa, estarei logo aqui embaixo. Não se acanhem.

 Depois que ela saiu, Dean fechou a porta e voltou-se para o irmão. 

-E então, o que achou?

 -Está meio acabado, mas... – Sam apertou os olhos e sacudiu a cabeça - Espera um instante... Deixe-me entender uma coisa: o que diabos estamos fazendo aqui? É algum disfarce para um trabalho?

 -Nada disso, irmãozinho. – Dean atirou-se no lado inteiro do sofá e esticou as pernas sobre uma mesinha de centro à sua frente. 

-Então do que se trata, afinal?  

-O que você acha de azul?  

- O que?! – Sam parou diante do irmão, empurrou-lhe as pernas para fora e sentou-se sobre a mesinha. - Que papo é esse, Dean? Você andou bebendo? Bateu com a cabeça? 

- Só estava pensando que poderíamos pintar as paredes de azul. Gosto de azul.

 -Isso é alguma espécie de trote? 

 -Nah... 

-Então, o quê?- esperou em vão pela resposta- Tá bom... você vai ficar sentado aí? 

 -Exatamente.- Dean cruzou os dedos e pôs as mãos por trás da cabeça, afundando no sofá. - Estou cansado de motéis vagabundos. 

-Fala sério, Dean!!!- Samuel fez uma pausa - Você alugou um apartamento e sequer falou comigo?- Nova pausa sem resposta - Você, por um acaso, sabe se eu estou a fim de morar em algum lugar? Já se perguntou se...

 -Pra começo de conversa, não aluguei nada. Ainda... 

-Ah, não? Então o que vai ser? Vamos invadir o lugar?

 -É claro que não, Sam. Ele tem fama de assombrado, então... Estão pedindo bem pouco. 

- ... – Sam ergueu as sobrancelhas e gesticulou aguardando uma explicação. 

-Olha, Sammy, eu não estou a fim de passar a eternidade de quarto em quarto, de um motel para o outro enquanto resolvemos os casos. 

- Mas nós fizemos isso a vida toda, Dean. -Pois é. Cansei. Não quero mais. É isso. Quero ter pra onde voltar, Sammy.

 - Mas como vamos pagar por ele? Não temos onde cair mortos,  lembra? 

- Tenho algum dinheiro e o Bobby vai emprestar o resto do valor do depósito – o mais velho levantou-se e caminhou até a porta do banheiro - Olha só, Sam, tem até uma banheira.

 - E quando é que você ia me contar que tínhamos dinheiro guardado? No dia da sua morte? – Samuel percebeu que havia falado além da conta quando viu o brilho nos olhos de seu irmão se apagar. - Foi mal, Dean, eu não queria dizer isso. Me desculpe, cara... 

-Tudo bem - sorriu com o canto da boca -Eu não perco mesmo essa mania de resolver tudo sozinho, não é?  Às vezes esqueço de que você é um adulto...

 - E que somos parceiros, certo?

 -É isso aí. Desculpe-me. Eu deveria ter te consultado antes. Se quiser, desfazemos o negócio...Ainda não depositei o cheque... 

-Não.... Não precisa ser radical. Só fiquei surpreso...- o caçula caminhou até o quarto, abriu a porta que rangia e sorriu, exibindo as covinhas. - Neste aqui tem uma cama de casal. Quer ficar com ele? 

Mais uma vez o rosto do mais velho se iluminou.

 -E que história é essa de assombração? 

 -É só folclore, Sammy. Por isso vim mais cedo e verifiquei como EMF. Nem sinal de enxofre ou qualquer espírito.Nada. Está limpo. Pode ficar tranqüilo. É lógico que não contei isso ao proprietário. A fama do lugar nos rendeu um tremendo desconto. 

-Eu espero que sim. Tem certeza de que é isso mesmo que você quer?

 -Absoluta.- Dean levantou-se e farejou o ar que entrava pela janela aberta – Além disso, temos uma simpática vizinha que é uma ótima cozinheira e foi com a minha cara.-piscou de lado para o caçula - Você tem que provar a torta de maçã da Trude, Sammy, é divina! 

Ambos terminaram o dia vasculhando os cantos do novo endereço e anotando o que precisariam comprar para a pequena reforma que pretendiam fazer: tintas, vassouras, pincéis, roupas de cama, alguns pratos e copos. Ah! Uma TV. Isso era realmente um artigo indispensável. 

ooooo000ooooo 

Na manhã seguinte, depois de adquirirem o necessário para a pintura, os irmãos deram início à empreitada. 

-E aí, Picasso, como vai ser? – Dean dirigiu-se a Samuel enquanto abria a lata de tinta.

 -Como vai ser, o que ? -Qual é, Sammy? Você precisa dar as coordenadas, cara. Eu nunca pintei uma parede na vida. Você já deve ter feito isso antes, não? Se bem que não parece grande coisa... 

-Não é difícil, Dean. Só precisa cuidar para não deixar a tinta escorrer e manter o rolo sempre na mesma direção. -Sam... – parou e fitou, com uma expressão marota, o rolo preso ao cabo de vassoura - Esse negócio de esfregar pra cima e pra baixo, sem deixar a coisa escorrer é meio complicado. Vai ter uma hora que não vai ter jeito. 

-Cala a boca e trabalha, seu pervertido!- o caçula riu , respingando tinta azul sobre o irmão. 

ooooo000ooooo 

Trude Simmens já havia lhes indicado vários endereços nos quais sempre aconteciam vendas de garagem e alertou-os para o poder da pechincha. Podia-se comprar coisas em excelente estado por uma bagatela.

 No outro dia, lá pela hora do almoço, retornaram com o porta-malas abarrotado. Havia embrulhos e pacotes empilhados por todo o banco traseiro. 

 Depois de descarregarem tudo o que haviam garimpado pelas garagens da vizinhança, puseram os móveis no lugar e Trude apareceu com um par de cortinas que costurara para os garotos como presente de boas-vindas. Ajudou-os a colocar a capa no sofá para esconder o furo e deu alguns palpites  a respeito da decoração. Nada como um toque feminino para o lugar tomar os ares de um lar.

Sam depositou o porta-retrato com a foto de seus pais e deles próprios ainda bem pequenos, sobre a cômoda.

 Era estranho aquele sentimento que os invadia, sentados naquele velho sofá, lado a lado, diante de um aparelho de tv, assistindo a uma partida de futebol e saboreando o bolo de carne trazido pela nova amiga.

 Para Sam, era como reviver o período em que morou com Jess nas proximidades de Stanford. Ele sabia o que era um lar, um lugar para se estar. Sentiu saudades dela e daqueles tempos. Gostava da perspectiva de ter essa vida novamente: sem caçadas, perseguições ou fugas espetaculares. Só paz e sossego. 

Dean parecia perdido num sorriso sincero. Tudo aquilo era muito novo para ele. Deliciosamente novo. Observava, orgulhoso, as paredes pintadas e sorria mais. Vez por outra, esbarrava no olhar do irmão menor e sentia que, pela primeira vez em sua vida, havia feito uma coisa direito. Algo de que não se arrependeria. Ali Sam estaria seguro e amparado. Respirou fundo. Estava em casa, afinal.

 -Dá pra acreditar nisso? – Dean olhava satisfeito, ao redor.

 -Se alguém me dissesse que nós estaríamos aqui hoje, não acreditaria.

 -Nada é impossível, maninho, nada! – o mais velho entregou uma cerveja para o irmão. - Enfim, foi uma boa idéia, não foi, Sammy? 

-É, foi mesmo. Mas o que faremos agora? Não vamos mais caçar? E como pagaremos o aluguel, Dean? 

-Deixa isso comigo. Vou tratar de arrumar um emprego. 

-Sério??? –Sam pôs a mão sobre a testa do irmão -Você está com febre? Delirando?

 -Pára de palhaçada, Sam!- empurrou-o para o lado - Estive olhando uns anúncios e acho que consigo uma vaga numa dessas oficinas.-apontou o que havia selecionado numa página dos classificados - Levo jeito pro negócio, você sabe... O que é?! – ergueu as sobrancelhas, indignado diante da incredulidade do outro - Estou falando sério, cara! 

-Bem, se você vai trabalhar, eu também vou.

 -Nada disso, mocinho! Você volta pra escola. 

 -Como, Dean? Você vai trabalhar e eu vou ser o peso morto? Nem pensar! Além do que, acha que é só chegar pro reitor e dizer que quero voltar e aí eles vão me dar outra bolsa de estudos? Eu abandonei a faculdade, lembra? 

-Nisso dá-se um jeito.  

 - No que está pensando?-Samuel apertou os olhos - Deeean... Não vai usar nenhuma identidade falsa ou... 

-Relaxa, garoto. Não vou fazer nada ilegal, tá? 
 
-Espero que não... 

   -Já disse que não. Na verdade EU não vou fazer nada. 

 -Ótimo. Isso é problema meu.-Samuel recostou-se novamente  

-Bem, está meio tarde e estou pregado.- Dean levantou-se, bocejando - Você lava a louça.- saiu sem deixar que o outro retrucasse.

 
 ooooo000ooooo 


Diante de todas aquelas novidades, o tempo passou depressa. 

 Dean conseguiu emprego numa oficina especializada na restauração de carros antigos, quando apareceu para a entrevista guiando o Impala. O dono do lugar ficou admirado pelo estado de conservação do Chevy e não relutou em contratá-lo. O salário não era lá grande coisa, mas pagaria as contas. 

Sam cuidava dos detalhes da reforma do apartamento e fazia uns pequenos serviços para Trude: arrumava os outros dois apartamentos vazios, ajeitava uma lâmpada queimada, trocava torneiras quebradas, aparava a grama do pequeno quintal. Já havia procurado trabalho em alguns lugares, mas Dean sempre dizia que aquilo não era bom o suficiente e terminava por convencê-lo a buscar algo melhor. Sua amizade com a boa senhora crescia a cada dia. Seu jeito doce e meigo o fazia sentir-se aconchegado. 

Todos os dias, Dean retornava do trabalho cheirando a graxa e a removedor, mas com o semblante sereno, abria um sorriso contagiante e cumprimentava a Sra Simmens com um beijo ou um aceno. Levava horas debaixo do chuveiro cantarolando e depois  se esparramava no sofá para assistir  filmes antigos.

 Aquela felicidade explícita não era comum ao irmão de Samuel e isso também o fazia feliz. Poucas foram as vezes em que Dean demonstrou tranqüilidade e baixou a guarda, como agora. Aliás, poderia contar estes momentos nos dedos de uma das mãos, com sobra. Seu habitual sarcasmo estava de férias e o arsenal sequer saiu do porta-malas do Impala. 

ooooo000ooooo 
                                   

  - E aí, Sammy, como foi o seu dia? – Dean entrou no apartamento depois de mais um dia na oficina -O Hanry vai me deixar restaurar um Mustang. – atirou o casaco sobre o sofá - Você precisa ver o carro, Sam.- Abriu a geladeira e encheu um copo com água - Está um bagaço, mas quando eu terminar com ele, vai ver só...- percebeu que seu irmão estava diante do computador com uma expressão transtornada - O que houve? Você está bem? Está sentindo alguma coisa? – Aproximou-se. 

- Você... Você conseguiu, não é? – Afastou o mais velho de si -Você fez outra vez, Dean... 

-Ei, espera aí! O que foi que eu fiz?! 

- Eu sou mesmo um completo idiota! – deu as costas para o outro. 

-Mas de que diabos você está falando, Sam?! – deu a volta para encarar Samuel. 

- Todo esse papo de mudar de vida, de recomeçar... E eu caí feito um patinho...- Seus lábios tremiam.

 - Agora você me deixou realmente confuso. Dá pra ser mais claro? 

-Você sabe que dia é hoje, Dean? 

-É claro. Quinta-feira. E daí? 

- Não seja cínico! Que dia e de que mês, Dean?! – Samuel falava entre os dentes.

 -Oh, isso...- Dean passou a mão pela barba. 

-Ah! Parece que agora estamos nos comunicando! Você fez de propósito, não é? Armou esse circo todo só pra me distrair!

 -Olha, Sam, eu não vou negar, mas... 

-Mas, o quê? Parabéns, Dean! Você venceu! Você conseguiu mesmo desviar a minha atenção do que era realmente importante. Está satisfeito agora?- Deu as costas ao irmão novamente. 

-Sam... Olha pra mim.... Sam, por favor.

 - Cara, você só tem mais quatro dias! Quatro dias!!! Está me ouvindo??? Quatro dias e você vai morrer! Vai direto pro inferno, Dean!!! E eu perdi todo esse tempo nessa fantasia idiota de família feliz! – As lágrimas se romperam num misto de dor e ódio. 

- Pára, Sammy. - Dean puxou o ar e seguro-o por instantes -Vamos deixar isso pra lá, Ok? – Segurou a cabeça do caçula entre as mãos e fitou-o nos olhos -Vamos aproveitar o tempo que nos resta. Vai dizer que você não estava feliz? Porque eu nunca fui tão feliz em toda a minha vida... Esquece isso, tá? Por mim... 

- Eu sinto muito, mas não dá – Samuel desvencilhou-se do irmão e saiu batendo a porta atrás de si. 

Dean permaneceu ali, imóvel, tentando não pensar, ouvindo os passos apressados de seu irmão afastando-se nos degraus da escada. Ouvindo o bater da porta do hall e sentindo o chão abrir-se sob seus pés. Tinha uma vontade louca de gritar, mas não conseguia pronunciar uma palavra. Queria correr atrás de Samuel, mas suas pernas não obedeciam, pareciam pregadas ao chão. Tinha a garganta entalada, o ar era pouco para a velocidade em que seu peito arfava. Desejou que seu coração estancasse naquele momento para não ter que suportar aquela dor. E, mais uma vez, aquele cansaço de algumas semanas atrás, invadia a sua alma. Estava cansado... Estava tão perto... Tão perto... Seus olhos ficaram embaçados pelas lágrimas que teimavam em verter, uma após a outra.Tudo em que ele pensava era em como consertar o que havia quebrado no coração de seu irmão. Como ajeitar o que não tinha jeito?  

Pela primeira vez, desde o pacto da encruzilhada, teve medo de morrer. Medo daquela expressão no rosto de Sam. Medo de morrer sem o seu perdão.

 ooooo000ooooo 


Samuel voltou no meio da madrugada. Estava exausto e muito confuso. Estava com raiva. Muita raiva de Dean por tê-lo enganado daquela forma e de si por ter-se deixado enganar tão facilmente.

Abriu a porta do hall e subiu as escadas devagar. Por duas ou três vezes relutou em abrir a porta, mas o fez, no maior silêncio possível. Não queria encarar seu irmão. Não estava disposto a ouvir suas explicações e não tinha a menor intenção de perdoá-lo. Queria deitar a cabeça no travesseiro e tentar dormir. Como não viu luz sob a porta do quarto de Dean, seguiu direto para o seu. Trancou a porta por dentro e atirou-se na cama como estava. Ali, viu o sol nascer através da vidraça da janela.

 No meio da manhã, o mais jovem dos Winchester, já com o corpo dolorido, decidiu levantar-se. Não ouviu qualquer barulho do lado de fora e, imaginando que o irmão já teria saído para trabalhar, abriu a porta. Aproximou-se do outro quarto, viu a porta entreaberta e a cama arrumada. Seguiu para a cozinha, onde a cafeteira estava vazia e desligada. Não havia sinais de seu irmão naquela casa: Dean nunca arrumava a cama antes de sair e sempre deixava a cafeteira cheia e ligada para que Sam tivesse café pronto. 

 Samuel sentiu o sangue gelar. Num impulso, voltou apressado ao quarto do mais velho e deu falta da mochila que estava sempre jogada no chão, perto da porta do armário. De volta à sala, viu as chaves e os  documentos do carro sobre a mesa de jantar. Agora seu coração estava aos pulos. Tomou o telefone e ligou para o celular do irmão. Caixa postal. Digitou o número da oficina. Hanry confirmou suas suspeitas, afirmando que Dean não aparecera para o trabalho. Onde diabos ele teria se metido? Ligou para Bobby, em vão. Por um momento quis espantar do pensamento o que já sabia, na esperança de que Dean tivesse se metido num motel qualquer com uma caixa de cerveja e uma garota, mas no fundo, bem lá no fundo, tinha certeza de que ele tinha partido.

Desceu as escadas apressado e bateu à porta de Trude.

 - Você viu o Dean hoje? – Questionou-a sem sequer cumprimentá-la. 

-Ele não está na oficina, trabalhando?

 -Não, não está. Já liguei e o Hanry disse que ele não apareceu. –Samuel apertou os lábios. Suas mãos tremiam. 

-Sente-se comigo, querido. Conte-me o que está acontecendo.

 - Nós tivemos uma briga feia ontem à noite.- Era difícil respirar - Eu disse coisas... Coisas que não deveria, mas estava muito zangado...- seus olhos estavam fixos nas mãos que espremia uma contra a outra.

 - Mas o que Dean poderia ter feito para que você ficasse tão aborrecido, querido? Vocês pareciam se dar tão bem... 

-Ele está morrendo, Trude. –Samuel respondeu depois de relutar por algum tempo -Meu irmão está morrendo e eu não posso fazer nada...- precisava dividir aquele fardo com alguém. 

-Oh, pobre menino...-Abraçou o rapaz, afagando-lhe os cabelos - Eu sinto muito. Sinto muitíssimo. Jamais imaginaria algo tão terrível, Sam. Dean sempre me pareceu tão saudável... 

-Eu preciso encontrá-lo. – Afastou-se da senhora, limpando o rosto molhado e retomando o controle de suas emoções - Não posso deixá-lo sozinho. Não agora.

 -Entendo, meu amor...- Segurou as mãos de Sam - Mas você já pensou que seu irmão pode estar precisando de um tempo para digerir toda essa situação? Que talvez seja melhor dar-lhe um pouco de espaço ? Quem sabe, assim que esfriar um pouco a cabeça ele acabe voltando. – sorriu.

 -Você não conhece o meu irmão. Ele não vai voltar. Não depois do que eu disse. A vida toda Dean cuidou de mim e, até no fim, se preocupou em me deixar amparado, em evitar o meu sofrimento. E olha só o que eu fui fazer...

 -Então, quem sabe tenha ido atrás de alguém em quem confia. Um parente, talvez?

 -Nós não temos mais ninguém.Somos só eu e ele. 

-Um amigo? 

-Já liguei pro Bobby. Ele está a caminho, mas não tem notícias do Dean desde que conversaram sobre o apartamento.

 -Vou preparar um chá para nós. –levantou-se - precisamos pôr a cabeça no lugar para pensar com clareza, querido. 

-Trude...- Sam ergueu os olhos inchados - acho que sei pra onde ele foi.- saiu sem dar maiores explicações.


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