Som das Palavras escrita por Gabriel


Capítulo 2
parafilias patológicas


Notas iniciais do capítulo

Baseado em Sugar, do Robin Schulz com o Francesco Yates.
Envolve álcool, cigarro e apologia a outras drogas; violência leve (se é que violência é leve); e fogo. E, com fogo, não se brinca.



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before you play with fire, do think twice. and if you get burned, don’t be surprised

(Sugar — Robin Schulz ft. Francesco Yates)

 

Na festa, a música tocava alta demais para que alguém se fizesse audível a uma distância menor de trinta centímetros. Por isso, ele andava pelos cômodos da casa — de algum conhecido do colégio ou coisa assim — apenas rindo, trocando abraços e olhares maliciosos, o copo de álcool vacilando na mão. Na verdade, sentia-se meio sem rumo; o grupo de quem normalmente ficava próximo não chegara ainda, então ele tivera que se virar para ser sociável.

Para evitar a grande confusão de corpos juvenis, que insistiam em se entrelaçar com outros corpos, formando basicamente uma orgia coletiva dividida em pequenos núcleos, ele subiu ao andar de cima, onde sabia que tinha uma varanda. Por lá, contudo, a situação não era muito melhor; o que não significava que fosse ruim, uma vez que menos casais se engoliam.

Ali, também, era a área dos fumantes — qualquer substância que fosse fumável. (E mesmo as que não eram, mas exigiam mais discrição.) Uma fumaça mista criava uma névoa particular para o ambiente que, mesmo aberto, parecia infestado de labaredas.

E foi uma delas que puxou a atenção do menino.

Era um pequeno foco de incêndio, na ponta de um cigarro vagabundo, que estava sendo acendido naquele exato momento por uma garota. Ela não aparentava ser muito mais velha ou mais nova; regulava consigo, uns dezesseis, dezessete anos. De maquiagem leve, mas uma jaqueta de couro preto, ele não soube identificá-la: já a vira pelos corredores da escola?, talvez. Não tinha certeza. Mas já havia se apaixonado.

Mais do que se apaixonar pela garota, se apaixonara pelo seu cigarro — pelo fogo de seu cigarro.

Aquela pequena brasa, que queimava o tabaco, que produzia fumaça; era aquela pequena brasa que o fizera se aproximar e puxar papo. Nada de muito interessante, só uma daquelas formalidades sociais para não ir diretamente ao ponto, ainda que fosse comum a quase todos os presentes daquele evento: sexo, ou o mais próximo que pudessem chegar disso.

Bem, fê-la rir. Era essa a conquista breve que servia para a juventude embriagada: o beijo veio logo depois.

E beijou-a com gosto; o ritmo leve, mas esquentando; as mãos de ambos eram bem usadas naquela dança de volúpia. A língua alheia tinha gosto de fumo, que se mesclava ao hálito alcoólico dele; poderiam ser um dragão se juntassem as duas. Mas o ponto maior do beijo eram os lábios: lábios quentes, lábios atiçados e inflamados, indomáveis.

Lábios de fogo. E, com fogo, não se brinca.

Mas ele nunca fora muito sensato. Brincou, e acabou queimado.

Com um empurrão, o namorado dela os afastou e já dirigiu-lhe um soco na boca do estômago. Vieram os rapazes do “para com isso”, “se for brigar, vai lá fora”, e ele resolveu deixar a briga para o casal, pois já tinha o que queria: uma queimadura e o isqueiro que roubara.

Fora à cozinha, pegara uma garrafa; sutilmente, despejou o líquido pelo chão e pelas cortinas, findando o caminho no banheiro, onde se trancara.

Quando foi encontrado rindo, louco, pelos policiais, sua pirofilia patológica já havia sido saciada.


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Notas finais do capítulo

Ainda não corrigi os capítulos, ou seja, estou postando-os "secos", como os escrevi da primeira vez.



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