Som das Palavras escrita por Gabriel


Capítulo 3
o país da poeira


Notas iniciais do capítulo

Baseado em Dust Bowl Dance, do Mumford & Sons.



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there was no one in the town and no one in the field, this dusty barren land had given all it could yield

(Dust Bowl Dance — Mumford & Sons)

Erguia-se, em meio ao deserto, uma cidade feita da própria areia: suja, velha, dura, tal como ela. Depois que o nome original foi perdido, chamaram-na País da Poeira, a capital de alguma civilização antiga e perdida.

As construções no local foram engolidas pelas areias do tempo, que agora as cobriam impiedosamente. Antigamente próspero, o lugar, atualmente, nada mais era do que a definição concreta do conceito de esterilidade. Qualquer tipo de vida orgânica havia deixado há muito o espaço, povoado unicamente por ruínas e memórias soterradas. Animais correram, plantas morreram; nada nem ninguém se atrevia a aparecer.

O paraíso arqueológico nunca fora inteiramente mapeado, nem seria — e nem era, somente, por causa do medo de maldições. Nenhuma máquina conseguia cavar a tal profundidade para encontrar a cidade; nenhum mecanismo conseguia localizá-la a tanta distância da superfície. Os arredores inóspitos também não permitiam expedições muito duradouras.

Por causa disso, muito se questionou a real veracidade do País da Poeira, mas alguns ainda mantinham a lenda viva. Afinal, a ideia de uma “Atlântida do Deserto” é, por si só, alvo de qualquer curioso; mas nunca fora encontrada a tal cidade. Como uma nômade, ela parecia nunca estar precisamente nas coordenadas anteriores — que os supostos descobridores tinham.

Colocavam, os céticos, a culpa em ventanias que mudavam as dunas de lugar ou as recorrentes tempestades de areia que poderiam empurrar a cidade, mesmo enterrada, de local. Poucos aventureiros já disseram encontrá-la, mas sem provas concretas.

Havia, obviamente, um misticismo que a envolvia, uma nuvem de mistério que a impedia de revelar os segredos — a mitologia não-fictícia — do oásis que secou. Diziam, como sempre fazem, que havia um tesouro enterrado; outros reviviam lendas de outros lugares e acabavam criando e colaborando ainda mais para a superstição local; corriam boatos de alguma sociedade secreta planejando destruir o planeta em meio à tecnologia — avançada para a época —, mas nada comprovado.

Em fato, nada nunca fora comprovado.

Os únicos resquícios de povoamento daquele solo estavam enterrados, mas nunca emergiriam à superfície, como uma semente que nunca brotaria — nunca achada, nunca averiguada, nunca estudada, simplesmente esquecida, varrida da existência material. O País da Poeira era feito da própria poeira: sujo, velho, tal como ela.

A única dureza era uma torre: possuía, no máximo, uns cinco metros acima da superfície, quando aparecia. Era ela a marca do País da Poeira, diziam os livros. Quem a encontrasse, deveria chegar até o fundo para encontrar as ruínas.

Dessa torre, havia uma foto de veracidade pouco contestada. A torre existia — tanto quanto o resto da cidade.

A lenda dizia que a torre era uma biblioteca, mas funcionava como um labirinto. Por ele, corriam um homem e uma mulher. Havia uma sala redonda no centro que emanava um contínuo dedilhado de uma música silenciosa. Em tese, ali, eles deveriam se encontrar para uma dança — e era durante essas danças que a torre ficava visível e, consequentemente, a cidade se tornava acessível.

Brincavam que, aparentemente, alguém desligou a música.

Ou só não a escutavam?


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