Mente de Coordenadora Pokémon escrita por Kevin


Capítulo 9
Pressão


Notas iniciais do capítulo

E vamos ao episódio... Eu prometi que ele justificaria um episódio menor anteriormente, então... vamos nessa!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/724688/chapter/9

<><><><> 1º de Mirian na Prisão <><><><>

 

O uniforme acinzentado parecia gasto. O cheiro de alvejante era forte o suficiente para causar náuseas nos primeiros minutos de quem tinha seu primeiro contato. Sem nenhum adorno, nem mesmo um número de identificação, aquele uniforme era apenas para padronizar, assim como os sapatos pretos que nem mesmo depois de muito engraxar poderiam ficar usáveis.

Qualquer mulher sabia que aquelas não eram as vestimentas apropriadas para o público feminino, mesmo dentro de uma prisão. Também não seria a melhor vestimenta para o local, pois todas as paredes eram acinzentadas e dependendo do quanto a roupa estivesse gasta, ambos eram iguais. O chão também era cinza e caída no chão, qualquer detenta poderia passar despercebida.

 

— Caterpi no chão! -

 

Do chão, derrubada pela quinta vez no dia, Mirian constatava que a cor do seu uniforme era da mesma tonalidade que o piso. Das quatro primeiras vezes que foi derrubada, achou ser um acidente, ou uma tentativa truculenta de avalia-la. Mas, ao ser comparada a um caterpi, um pequeno inseto esverdeado, quase verme, que muitos consideram inofensivo e patético percebeu que era de propósito. Ainda mais ao perceber, pelo canto do olho, sua bandeja de comida sendo levada, enquanto ainda tentava se levantar.

 

— Espera... -

 

Ergueu-se o mais rápido que pode, mas além de não conseguir identificar para onde sua comida foi, percebeu alguns olhares ameaçadores em sua direção. Estava sozinha num lugar hostil e sabia, não tinha a menor possibilidade de se defender. Todas as internas pareciam maiores e mais fortes que ela, ao menos tinham muito mais corpo que elas.

 

— Sente-se, baixe a cabeça e coloque as mãos entre as pernas por debaixo da mesa. Haja o que houver, não me encare! -

 

Ela ouviu um murmurar. Sentara-se isolada após três ou quatro tentativas de tentar um contato em algumas mesas, então para ela foi uma surpresa escutar alguém falar com ela. Pensou em olhar quem estava dizendo aquilo, mas a frase final foi especifica, não encarar.

Sentou-se como lhe foi sugerido, ou talvez até mesmo ordenado. Pode ver que a pessoa estava sentada a sua frente. Pensou em olhar, mas quando tomou coragem, sentiu uma mão tocar a sua por debaixo da mesa. Sua cabeça já estava baixa e por isso pode ver que a mão tinha um pedaço de pão junto.

Agarrou o pedaço de pão e levou a boca com velocidade, mastigando como se fosse a última refeição de sua vida.

 

— Fique longe dos macacões laranja, são consideradas as mais perigosas. Saia para o banho de sol sempre, ou vão se aproveitar que está sozinha na cela. Seja a primeira das refeições, assim conseguira comer algo. –

 

A voz murmurou. Mirian teve vontade de erguer a cabeça, mas resolveu aceitar a ajuda da única voz que estava tentando lhe ajudar.

Examinou de cabaça baixa o restante do refeitório e viu umas seis garotas com os tais macacões laranja. Não se lembrava de tê-las visto antes, pareciam poucas e nem pareciam tão ameaçadoras quanto as outras que tinham lhe recepcionado antes.

 

— Sou Mirian. - Disse a meia voz para a pessoa a sua frente, que a ajudava.

 

— Dove. -

 

<><><><>

 

Meu nome é Mirian Miller e me tornei uma Coordenadora Pokémon para conquistar uma taça em homenagem a minha mãe que está doente. No entanto, fui tão mal em minha jornada que acabei presa, através de uma armação, acusada de ser caçadora ilegal e falsificadora. Depois de sair da prisão, fui desafiada a conquistar uma vaga no Grande Festival para assim descobrir o verdadeiro passado da minha mãe e as pessoas que armaram para que eu fosse presa.

Agora estou em Saffron e acabo de encontrar uma de minhas algozes!

 

Mente de Coordenadora Pokémon
Episódio 09: Pressão

 

— Me fala! - Mirian gritava agarrando a gola da Blusa de Blue, erguendo e pressionando-o contra a parede espelhada do hotel! - Eu te vi com a Dove! O que estava fazendo com ela? O que ela queria com você? O que ela queria? -

 

Mirian havia voltado ao hotel Hannay decidida a se entender com Beta, sua nutricionista, de uma vez por todas. No entanto, ao preparar-se para atravessar a última rua, já de frente para o hotel, saiu correndo, deixando Allan para trás, e jogando-se em fúria contra Blue.

Muitas pessoas pararam para olhar o que estava acontecendo, inclusive os seguranças do hotel vieram a socorro do rapaz, imaginando que se não separassem o início da briga, a jovem descontrolada mataria o jovem gordo.

Mas, não tiveram chances de interferir já que Blue levou a mão ao bolso e sacou uma pokebola. O feiche branco sequer foi percebido por Mirian, que só se deu conta do pokémon quando foi acertada pelo jato de água que além de fazê-la soltar Blue e lançou para o lado, fazendo-a cair no chão.

 

— Isso tudo é ciúmes? - Blue havia acabado de ser solto e respirava com certa dificuldade. - Já vou avisando que não gosto de garotas ciu... Segura! -

 

Mirian não havia dado tempo para Blue gracejar com ela, simplesmente saltou novamente para cima do gordo, mas foi repelida por um novo jato de água. Mirian olhou para a fonte dos dois ataques e viu um pokémon tartaruga, com cerca de um metro de altura, corpo azulado e orelhas estranhas.

O trânsito havia parado e muitas pessoas pararam para ver a cena que começou com uma garota aparentemente louca atacando um transeunte, mas a cena passou por um ataque pokémon a humana.

 

— Farfetch’d! - Berrou Mirian pegando a pokebola do pokémon e a lançando.

 

O pato selvagem de Mirian apareceu forte e com seu olhar agressivo olhando em volta da multidão e identificando Mirian, molhada e caída o chão. Foi instintivo para o pato botar-se em frente a sua parceira humana e ameaçar ao único que poderia ter jogado agua nela daquela forma, o pokémon tartaruga a sua frente.

Um jato de água rompeu contra a ave que fez seu bastão brilhar e golpeou o pilar de água que ia contra ele, desfazendo o ataque. Wartotle, a tartaruga pokémon de Blue ficou surpresa pela ideia do pokémon pato. Ele já vira muitos defenderem e desviarem do ataque. Já vira muitos combaterem o golpe com outro anulando, mas nunca destruir o golpe cortando-o ao meio.

A surpresa era tanta que só percebeu que o pato havia saltado sobre ele, usando o fúria, quando seu treinador gritou alertando-o para esconder-se no casco.

Farfetch’d permaneceu golpeando o casco, mesmo com a retirada do pokémon. Certamente nunca havia visto tal adversário, pois não percebeu o momento em que o casco começou a girar e acabou acertando-o e o mando de volta para junto de sua treinadora, que permanecia caída.

 

— Vamos parar com isso! -

 

Um grito afeminado apareceu na porta do hotel. A multidão abriu passagem deixando que Beta fosse identificada, irritada, mas parou aturdida diante a cena. Levou um grande período olhando para Farfetch’d, como se tentasse entender o que ele estava fazendo ali.

 

— Recolha seu pokémon, Blue. - Disse Beta que virou-se para Mirian estendendo a mão para ajudá-la a levantar. - E você também! -

 

— Beta... Foi ela quem começou! - Disse Blue. - Eu... Que roupa é essa? -

 

Blue começou a argumentar, mas parou percebendo que Beta estava com um roupão de ceda rosa cobrindo o corpo e sequer parecia que havia algo por baixo. Os pokémon chegaram a virar o rosto, assustados e surpresos com a cena.

 

— Não quero saber! Eu estava prestes a começar a melhor massagem da minha vida e fui interfonada por causa que minha visita de mais cedo estava brigando na calçada da frente. - Beta percebeu que algumas pessoas estavam olhando-a. - Recolham seus pokémon e passem para dentro, agora! -

 

<><><><> 3º dia de Mirian na prisão <><><><>

 

Loira com os cabelos que iam até um pouco depois dos ombros, pareciam ser lisos, os cuidados não eram tão grandes dentro da prisão, assim a dúvida permanecia. Uma pele clara, quase rosada. Olhos verdes que parecia andar junto com olheiras continuas. Altura mediana, talvez próprio de uma garota de quinze anos, mas ainda assim pequena em relação a maioria das internas. Isso fazia seus dotes físicos, mesmo que próprios da idade, fazerem Dove parecer uma garota pequena e as demais mulheres feitas.

O que mais chamava atenção eram seus lábios delicados. Quando Mirian finalmente conseguiu ver Dove, no dia seguinte, ficou impressionada com os lábios. Eram pequenos e delicados e pareciam ter sido algo de alguns socos, pois em um canto estava inchado.

Dove havia entrado a dois dias no lugar e como Mirian estava sofrendo para se adaptar. A diferença era que Dove aprendia rápido as coisas e conseguiu as detentas mais perigosas após a surra de boas-vindas. Mirian por outro lado parecia ainda não ter compreendido que após as trombadas de boas-vindas durante o dia, viria a surra de boas-vindas na madrugada, no chuveiro, no banho de sol e na própria enfermaria.

 

— Eu tenho um alvo nas costas? - Questionou Mirian encostada numa parede do pátio do banho de sol. - Eu sequer consigo me mexer. E nem foram as de laranja. -

 

Dove olhou para Mirian com certa piedade. Era difícil dizer que ela estava pedindo por cada surra, nas tentativas de fazer amizade, de evitar as detentas e especialmente na forma de olhar.

 

— Peça para que elas acertem seus olhos. Talvez ajude. - Disse Dove.

 

Mirian olhou para Dove sem entender. Lembrava-se de Rose, sua companheira de cela, ter dito a mesma coisa, segundos antes de sair da cela, em meio a madrugada, fugindo da chegada do comitê da surra de boas-vindas.

 

— É sério que você não entendeu? - Dove suspirou. – Maya! – Ela gritou de repente fazendo Mirian tremer.

 

Maya era uma das detentas que roubava a comida de Mirian a cada refeição. Ela não era exatamente forte, mas era muito rápida. A menina se aproximou e fez com a cabeça um sinal de que Mirian entendeu o que elas queriam.

 

— Por que você está aqui dentro? -

 

Maya encarou Dove por alguns instantes sem entender a pergunta. Olhou para Mirian, amedrontada e depois de alguns instantes deu de ombros.

 

— Roubo. Sou mais cleptomaníaca do que ladra, mas você rouba as pessoas erradas e ninguém quer saber. - Disse Maya. - No meu caso roubei um Mestre Pokémon. Afinal, esta é uma prisão de alta periculosidade para pessoas que cometerão altos crimes contra o mundo pokémon. -

 

Mirian piscou de repente parecendo espantada. Dove riu da cara dela e foi seguida por Maya.

 

— Ela não sabia que todas que estão aqui cometeram crimes contra o mundo pokémon? - Maya saiu rindo. - Isso talvez explique o olhar preconceituoso. -

 

— Olhar preconceituoso? - Mirian pareceu confusa.

 

— Você acha que está apanhando porque é novata? - Dove olhou em volta. - Boa sorte! Sobreviva a próxima! -

 

<><><><> Saffron - Festival dos Milhões <><><><>

 

— Agora que estamos todos calmos, vestidos e sequinhos, alguém me diga o que foi que aconteceu. - Dizia Beta.

 

Foram cerca de dez minutos de espera, após Beta coloca-los em seu quarto e adverti-lhes de que bateria nos dois se voltassem a brigar daquela forma, Beta deixou que Mirian fosse ao banheiro se secar e colar, ao menos uma blusa de algodão seca, enquanto ela escolhia roupas para se trocar.

Bruno ficou sentado no sofá tentando lembrar-se do que Mirian havia gritado, ou se ele por ventura havia feito algo para ela e não percebera, mas ao final não entendia nada. Pensou em descer a recepção do hotel onde Allan ficou para fazer algo e questionar, mas acabou que as duas acabaram voltando. Com Mirian sentando-se numa cadeira, afastada de Blue, e Beta sentou-se em outra cadeira, no meio dos dois.

 

— Ele estava com minha arqui-inimiga, provavelmente sendo usado! -

 

Mirian falou raivosa fazendo Beta piscar aturdida e Blue ficar de boca aberta. Os dois se olharam por alguns instantes para ter certeza que ambos escutaram e entenderam a mesma coisa e então voltaram-se para Mirian.

 

— Eu queria ficar feliz agora. A menção de uma arqui-inimiga e você ficar raivosa a ponto da agressão física me anima. Você não é uma boi com abobora! - Beta parecia tentar conter a animação.

 

— Não seria vaca? - Questionou Blue.

 

— Você acha que Mirian tem vocação pra vaca? - Disse Beta em meio a risos. - Vamos resolver sua contenda com Blue, despachá-lo e você vai me contar tudo sobre ela! -

 

Beta pareceu animada a ponto de bater palmas animadas. Uma ação tipicamente adolescente que ela vivia fazendo. Se havia ações que diziam que era para encará-lo como mulher, aquela era uma delas.

 

— Não tem graça! Aquela garota é um demônio! - Berrou Mirian.

 

— Tenho certeza que a um motivo razoável para vocês brigarem. - Disse Blue suspirando. - Se eu soubesse que era sua arqui-inimiga... - Ele parou pensando. - Teria pego de qualquer jeito. - Ele riu. - Mas, me diga de quem está falando! Você gritou tanto que nem consegui entender de quem estava falando. -

 

— Da Dove! Loira, olhos verdes, altura mediana! Eu vi vocês dois conversando lá em baixo. No outro quarteirão. -

 

Blue franziu o cenho e levou a mão ao queixo. Dove era a garota por quem ele estava ficando obcecado e deixou ficar com ela na noite anterior para procurar e ajudar Mirian que estava perdida em Saffron. De tudo que sabia de Dove, o que não era muita coisa, não parecia que havia alguma relação entre Mirian e ela.

 

Mesmo que Dove e Mirian se conhecessem, Mirian nunca se mostrou agressiva desse jeito, nem mesmo em TPM. Mas, como ela me viu com Dove no outro quarteirão? Eu apenas esbarrei com ela e falamo-nos por menos de um minuto... Blue sacudiu a cabeça, em uma negativa.

 

— Sei quem é Dove. Não fiquei com ela, mas bem que quero. - Disse ele vendo a Mirian se enfurecer. - Não sabia que se conheciam e sequer falamos de você. Eu estou dando em cima dela desde que o festival começou, mas ela está se fazendo de difícil e tem algumas idiotas atrapalhando. - Ele olhou para Mirian fuzilando-a com o olhar, mas a menina estava irritada demais para entender a indireta. - De qualquer forma, se você não gosta dela evitarei que vocês se encontrem... -

 

— Muito pelo contrário! - Mirian levantou-se. - Eu quero encontrá-la e fazer ela se arrepender de todas as surras que me fez levar! -

 

Beta e Blue se olharam novamente e depois olharam para Mirian que parecia ter percebido o que acabara de falar e sentou-se, tentando se acalmar.

 

— De onde vocês se conhecem? - Questionou Beta.

 

— Beta... - Mirian pareceu ter se acalmado e ficou um tanto quanto acanhada e oprimida. - Blue me desculpe por isso. Só fique longe dela, ela é perigosa e traiçoeira. - Disse Mirian que virou-se para Beta. - Não posso contar onde a conheci e nem questionem-na. Ela não deveria estar aqui e estando significa que algo ruim aconteceu ou vai acontecer. -

 

— Mas... - Beta e Blue tentaram interromper Mirian.

 

— O que importa é que vocês precisam ficar longe dela. - Disse Mirian. - Eu não posso contar onde estive nos últimos meses, mas podem acreditar que estou 100% decidida a voltar aos palcos e ganhar ao menos uma fita. -

 

Não posso deixá—la em contato com meus amigos, ou eles vão descobrir que fui presa. Como Dove saiu da prisão? Ela não é inocente! Ela realmente é uma assassina de pokémon! Mirian sentia a situação ficar cada vez mais difícil. Seus amigos queriam saber onde ela esteve por tanto tempo e já era difícil para ela esconder, mas agora havia uma pessoa da prisão rondando próximo deles e era difícil não imaginar que ela estava tentando chegar nela.

 

— Que seja! -

 

Blue deu de ombros de imediato. Ele não era do tipo curioso ou mesmo ia se meter na briga de suas garotas. Se Mirian já havia pedido desculpas e não ia mais enlouquecer o atacando, não arrumaria caso com isso.

No entanto, Beta não tinha mesma postura de Blue naquele momento. Queria saber mais e não apenas por curiosidade, mas por ser a primeira vez que via Mirian tão alterada.

 

— Tudo bem! - Beta disse levantando-se. – Estou impressionada com sua determinação e por você finalmente ter perdido completamente sua compostura, talvez sua personalidade pokémon seja agressiva. - Riu beta. - Mas, como disse antes, você falhou muito com nosso contrato e... -

 

Beta parou por alguns instantes, novamente o interfone estava tocando. Ela revirou os olhos imaginando se Hina, que ainda estava pelo hotel, agora estaria criando algum tipo de confusão.

Ela caminhou até o telefone atendendo-o e pareceu apenas escutar franzindo o cenho. Olhou para Mirian por alguns instantes e depois levou-o ao gancho.

 

— Aconteceu alguma coisa? - Questionou Blue.

 

— Tem um armário quatro por quatro sem camisa chamando por Mirian e causando uma certa agitação na recepção. - Disse Beta.

 

Mirian não conseguiu entender o que foi falado por Beta, mas viu-a sorrir maliciosamente compreendendo que tratava-se de uma pessoa.

 

<><><><> 5º dia de Prisão <><><><>

 

— Mirian? -

 

A Voz parecia longe, mas o toque em seu corpo indicava que estava bem perto. A água que caia em seu corpo cessou, mas nem por isso deixou de sentir frio. Tentou mexer-se, mas sentiu dor por todo o corpo molhado. Os olhos pareciam pesados e ardiam como nunca arderam antes.

 

— Vamos garota. Essa de passar a noite da enfermaria pode ser pior do que pensa. -

 

Mirian escutava a voz de Dove e sentia que ela estava tentando erguê-la. Seu corpo saia do chão gélido e por alguns instantes tentou se abraçar ao corpo quente de Dove. Abriu os olhos e percebeu que estava no banheiro, completamente nua. Agitou-se rapidamente assustada com aquilo e mais confusa do que o habitual, fazendo com que Dove caísse e ambas fossem ao chão.

Visão turva, cabeça doendo, lembranças indo e vindo quase como a consciência. Lembrou-se de ter sido atacada no banheiro. Sim, agora entendia tudo. Apoiou-se em Dove novamente, que já de pé, tentava mais uma vez levantá-la para retirá-la das áreas dos chuveiros.

Mirian havia ido tomar banho, mas foi cercada por algumas garotas que a surraram com uma toalha molhada até ela desmaiar. Não parecia tão gratuito ou devido ao olhar de medo e preconceito que Mirian apresentava. Diferente das outras vezes, elas pareciam interessadas em desmaia-la a qualquer custo.

 

— Eu... – Mirian estava exausta. - Preciso da enfermaria. -

 

— Não posso deixar você ir para lá. -

 

Disse Dove fazendo-a sentar num banco que encontrara enquanto a enrolava numa toalha afim de aquecê-la. Viu que Mirian a olhou, ainda um pouco debilitada, questionando o porquê não deveriam ir a enfermaria.

 

— Hoje é dia da gaiola das loucas. -

 

Mirian escutou Dove falar vacilante. Pensou sobre o que havia acabado de escutar e fosse a debilidade em que se encontrava, fosse a sua própria ignorância, não conseguiu chegar a nenhuma conclusão que fizesse aquela informação ser importante. Olhou para Dove que procurava pelas roupas espalhadas.

 

— Eu não sei o que é. - Dove dizia voltando para junto de Mirian com as roupas. - Eu estava limpando o refeitório quando escutei duas guardas falando que os convidados já estavam começando a chegar para a gaiola das loucas. - Dove que olhou em volta, baixou o tom de voz. - Minha companheira de quarto não me disse o que era, mas disse que era para evitar, a qualquer custo, ir parar na enfermaria, antes ou depois do evento, ou eu descobriria o que é dor, sem direito a lutar. -

 

Mirian voltou a tremer deixando Dove sem saber se era de frio ou de medo.

 

<><><><> Saffron – Festival dos Milhões <><><><>

 

Eu não entendo muito a questão de gostar de outra pessoa, sentir desejo ou simplesmente ter uma atração por alguém. De fato, nunca me interessei de verdade por ninguém e por mais que tenha tido um pseudo namoro, que as pessoas falam ficar ou lance, não me empolgava ou me importava tanto assim com ele. Isso mudou quando comecei minha jornada, conheci muitos rapazes interessantes, uns que a beleza me hipnotizava e outros que tudo mexia comigo. Mas, ainda assim não consigo entender o gostar, o desejar e a atração que as pessoas sentem uma pelas outras.

Talvez seja por isso que não consigo entender os homoafetivos. Bom, não é que o conceito eu não entenda, mas eles estão olhando para Drun como se ele fosse um copo de água no deserto. Estou até com medo de me aproximar, mas não tem jeito.

 

Mirian havia ido à recepção do hotel junto com Blue e Beta. Encontrou o tal armário sem camisa, com cara de poucos amigos, esperando por ela, ficando a cada segundo que passava, impaciente.

Perto dele estava um Allan visivelmente curioso para saber como aquela situação desenrolaria dentro do Hannay. Era visível que o assistente do ginásio tinha completo conhecimento do que estava acontecendo ali e parecia pronto para assistir a uma cena a parte.

No entanto, nada disso chocava a jovem Miller, apenas o fato de que vários dos hospedes estavam a encarar Drun dando risadinhas enquanto cochichavam qualquer coisa entre eles. Mirian percebia que o desconforto do mestres de artes marciais era justamente em cima dos olhares para ele.

 

— Se não queria esse tipo de olhares deveria andar mais vestido. - Comentou Mirian ao se aproximar dele, vendo o quanto ele parecia desconfortável e quase raivoso.

 

— Gosto de andar sem camisa. - Disse Drun. - Mas, não é para esse tipo de menina ficar me olhando. -

 

Foi visível a acidez na fala. Mirian percebeu que ele ainda falou baixo para evitar confusão e por sorte ninguém estava tão perto.

 

— Não gosta muito deles, né? - Mirian sorriu sem graça.

 

— Se eu disser o que acho e o que eu faria com eles... - Drun deu um sorriso estranho, mas o desfez rapidamente. - Mas, não temos tempo para isso. Vim aqui impedir que você seja roubada. -

 

— Eu vou ser roubada? - Mirian gritou assustada fazendo Allan, Blue e beta se aproximarem para entender o que estava acontecendo. - Como? Quando? Por que? -

 

— Você fica exibindo dois milhões e meio de pratas no meio de mais de um milhão e meio de pessoas e quer mais motivos? –

 

Drun disse parecendo não acreditar que Mirian não tinha noção do que havia feito. Mas, percebeu que Blue também não parecia entender bem do que ele estava falando.

 

— Desconfiei que isso poderia acontecer, mas me distrai com o papo de arqui-inimiga. -

 

Beta falou sorridente fazendo Blue olhá-la de cima em baixo. Os dois se encararam por alguns instantes e apesar de Beta não esboçar nada, Drun tinha um olhar de nojo. Mirian percebeu a situação e se lembrou de quando conheceu Beta a briga que rolou, mas nem perto seu antigo companheiro de viagem tinha aquele olhar.

 

— Do que estão falando? – Questionou Mirian tentando não deixar que as coisas piorassem. - Eu não tenho nada tão valioso assim comigo. -

 

— Farfetch’d. - Disse Beta.

 

Mirian arregalou os olhos e uma enxurrada de informações surgiu em sua cabeça de repente. Farfetch’d não era o tipo de pokémon raro por seu poder, mas sim por sua carne e estava cada vez mais difícil encontra-los na natureza. Quando encontrou o seu ele estava sendo caçado para virar uma iguaria para um milionário qualquer e quando saiu da prisão e reencontrou-o quase o perdeu para caçadores de momento que queriam o pato para uma iguaria rara. Se ela bem lembrava ele poderia valer algo em torno de dois milhões de pratas realmente.

 

— Como... Como sabe que tenho um Farfetch’d? - Questionou Mirian tentando se acalmar. - Acha mesmo que vão tentar roubar meu pokémon? –

 

— Neste momento, em Saffron, há mais de um milhão de pessoas. Algumas mais ricas do que você nunca sonhou e algumas mais sujas do que você jamais verá em um filme. - Disse Beta.

 

— Alguém filmou sua esquisita batalha utilizando-o, aqui na frente do Hannay. Já tem mais de um milhão de acessos e todos comentários falam sobre como uma retardada desta anda com uma delícia destas. - Drun parou. - Alguns falaram que comeriam pokémon e treinadora, mas acho que eles não sabem que você é coordenadora. -

 

Mirian arregalou os olhos assustada com o comentário. Não tinha ideia do que fazer, já estava tão preocupada em esconder que havia sido presa, foi surpreendida pela presença de Dove e agora tinha que lidar com alguém querendo roubar seu pokémon.

 

— Eles não vão ter coragem de tentar me roubar, vão? - Questionou Mirian.

 

Drun, Beta e Blue nada disseram. Parecia que ambos concordavam que Mirian seria um alvo muito fácil de se tirar qualquer coisa, ainda mais algo tão valioso em uma cidade tão conturbada.

 

— Te matariam por isso! -

 

A voz de Allan causou arrepio em Mirian. A menina virou-se rapidamente para o rapaz que percebeu o quanto a informação que dera foi pesada.

 

— Infelizmente é a verdade. - Allan suspirou. - Saffron possui muitos restaurantes famosos que servem pratos feitos com Farfetch’d. Custam quase dois milhões, mas dizem que um selvagem como o seu tem sabor melhor do que os criados para abate. -

 

— Isso não é motivo para me roubarem ou matarem. - Diz Mirian tentando se convencer que ficaria segura. 0 Se bem que, é o que acontece com os pokémon servidos. São roubados e mortos. -

 

— Bem... Já temos cinco mortos e alguns furtos que contabilizam 7 milhões. - Diz Allan. - Eu não contaria com a sorte se fosse você. -

 

Allan falou baixo para que não alarmasse o hotel. Mas, a reação de Mirian de quase desmaiar com os números era um aviso de que algo estava muito errado. Apesar da compostura dos outros, claramente era uma surpresa para Drun, Beta e Blue que as coisas estivessem daquele jeito.

 

— Não saiu nada disso nos jornais. – Disse Blue. - Tirando alguns atentados racistas, homofóbicos, quebradeira por causa de bebedeiras, não havia nada que realmente preocupasse. - Blue parou por alguns instantes pensando no que disse. - Retiro o que disse. -

 

 

— Tecnicamente as notícias estão lá, mas quem se importa com uma agressão, um assalto ou coisas desse gênero se tudo que querem é diversão. - Disse Allan. - Por isso vim aqui conferir se algumas das pessoas agredidas realmente eram daqui. -

 

— Eu vou embora! - Disse Mirian que foi ajudada por beta a se levantar. - Vou sair de Saffron agora. -

 

— Seria mais seguro ficar e só enviar seu pokémon ara seu especialista. - Disse Drun. - Se partir agora, próximo do anoitecer seria presa fácil na estrada. Se te pegarem seu o pokémon vão fazer de tudo para você pegá-lo com o especialista. -

 

— Você pode ficar no ginásio até alguns dias após o festival. - Comentou. - Acho que depois que o alvoroço Festival passar vão esquecer-se de você. -

 

Mirian escutou Blue e não pareceu muito convencida daquilo, mas após o terror na prisão e a certeza de que uma tal entidade Lado Sombrio provavelmente iria querer matá-la, o medo de morrer já estava no máximo.

 

— Por que esse tipo de coisa só acontece comigo? - Mirian reclamou desanimada.

 

<><><><> 5º dia da Prisão <><><><>

 

Eram onze da noite e Mirian já havia começado a cochilar, apesar de sua colega de cela estar totalmente agitada. Diferente de qualquer outro dia, tudo havia se tornado silêncio na prisão. Até algumas preces, como tentativas desesperadas de orações, foram escutadas por Mirian anteriormente e depois o silêncio, como nunca escutara antes.

Passos pelos corredores iniciaram. Era uma marcha, com pelo menos sete ou oito pessoas. Paravam, as grades eram abertas, uma ou outra tentativa de luta e sons de golpes eram escutados, seguidos de grades fechando e botas que marchavam até que tudo era silêncio novamente.

Mirian escutou aquilo três vezes antes de perceber que o medo estava ficando mais forte que suas dores. Abriu os olhos e olhou para a companheira de quarta que estava sentada em seu protótipo de cama.

 

— Não pergunte. - Disse Rose, a companheira de quarto de Mirian a meia voz. - Você vai por ser novata, mas talvez essa noite eu não seja escolhida. -

 

Mirian permaneceu deitada e calada sem entender o que Rose dizia, mas pensou em Dove e a menção da gaiola das loucas. Parecia algo perigoso, assustador e completamente ilegal. Mas, o que seria? Mirian pensou em tortura, abusos e outros, mas não chegou a nenhuma conclusão que parecesse razoável. Ela não conseguia deixar a racionalidade de lado e talvez por isso tivesse conseguido ficar calada durante boa parte da noite, até que os passos chegaram próximos demais e as grades de sua cela foram abertas.

 

— Novata. -

 

Mirian sentou-se na cama, em um movimento lento e de olhos baixos. Levantou-se e olhou na direção das oito guardas que estavam no corredor. Pensou em perguntar algo, mas lembrou-se dos sons de golpes que eram escutados nas tentativas de argumentar. Decidiu-se por simplesmente caminhar para frente.

Ao sair a grade se fechou atrás de si e pode sentir que toda a tensão de Rose desapareceu, como um alivio por não ter sido chamada. Mirian sentiu um nó no coração naquele momento.

A cada passo que dava pelo corredor das celas, sentia os olhos das detentas que fingiam dormir a acompanhar. Nenhuma parecia ter os mesmos olhos ameaçadores e perigosos que tinham durante todos os dias e momentos anteriores. Quase acreditava que havia pena por parte de algumas, mas na penumbra, não tinha certeza de nada.

Cinco corredores depois parou junto a uma longa escadaria, onde cinco outras detentas estavam paradas, sendo escoltadas por outras guardas. Reconheceu Dove, que tinha os olhos tão assustados que Mirian chegou a sentir as pernas falharem e caiu.

Uma guarda a chutou, grunhindo uma ordem que Mirian mal pode identificar, mas aceitou apenas que deveria se levantar e se comportar.

Mirian compôs a fila com as meninas que começaram a descer as escadas. Pensou em contar os degraus, mas após o centésimo primeiro, distraiu-se com uma espécie de música que começou a ecoar. Inicialmente tímida e quase inaudível, em seguida foi ficando forte. Dove era a primeira da fila e não tinha ideia de como a amiga estava, mas podia ver as duas da sua frente tentando conter as lagrimas. Tirando ela e Dove, todas as outras já pareciam ter ao menos dois meses de prisão, no mínimo. Elas sabiam o que as aguardavam e temiam.

Ao final da escadaria havia uma grande porta de aço onde duas novas guardas estavam, muito mais armadas do que elas já haviam visto na prisão. Mirian percebeu que as guardas da frente simplesmente deram meia volta, na escada mesmo, enquanto as que estavam atrás nem chegaram a descer todos os degraus.

 

— Para as duas novatas. -

 

Uma voz de homem se fez presente e Mirian percebeu, os guardas eram homens. Era o primeiro que encontrava trabalhando naquele lugar.

 

— Vão entrar e fazer o que mandarem fazer. Obedeçam e talvez não se machuquem. Criem problemas, ou falem com qualquer um sobre o que acontecer a partir de agora e tenham certeza que o inferno que é atrás desta porta recairá sobre vocês e sobre quem amam pela eternidade. -

 

Mirian sentiu as pernas tremer e viu a porta se abrir e uma gritaria invadir seus ouvidos, deixando-a desorientada. Os guardas empurraram todas para dentro e cambaleando Mirian pode ver diversas pessoas bem vestidas e mascaradas, sentadas em uma espécies de camarotes privados, com vidros escuros e cortinas adornadas. No entanto, o local onde pisava estava cercado por barras de ferro até o teto, uma verdadeira gaiola na qual havia acabado de ser inserida.

 

— Mirian! - Dove Correu para junto dela, pegando na mão da amiga, completamente assustada.

 

A jovem Miller olhou a cara de choro e pavor da amiga e deixou seus olhos vagarem pela gaiola até pararem no que apavorava Dove e as outras garotas.

 

— As novas desafiantes! - A plateia aplaudiu animada. - Aquelas que permanecerem conscientes após cinco minutos, ou a última de pé, serão premiadas com um jantar no terceiro camarote, as demais seguirão para a fase das apresentações. -


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo episódio a coisa vai pegar na prisão... Ahhh vai! ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mente de Coordenadora Pokémon" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.