— E você me arrastou para ficar aqui doze horas? - Mirian gritou louca da vida e Laris olhou para ela sem entender. - Não posso ignorar meu editor e deixar Aries preso tanto tempo. Não posso ignorar esse jornal! -

Era uma situação inesperada para Mirian. Ela tinha planos de ir para Caladon participar de um café da manhã para promover seu livro e em seguida tentar participar do concurso que ocorreria na cidade, mas ela não tinha ideia de que dia isso aconteceria. Infelizmente chegou a cidade atrasada, após muitas situações estranhas com Aries e nem pensava mais em concurso. Mas, Laris fez questão de arrastá-la para assistir ao concurso e surtou ao descobrir que o concurso duraria 12 horas continua só na primeira fase.

A música que tocava para distrair as pessoas presentes parou e um rufar de tambores surgiu. Era o início do concurso especial que aconteceria em Celadon. Doze horas seguidas de apresentações de coordenadores para definir, entre os quase 300 participantes, os 16 classificados para a segunda fase.

O mestre de cerimônias Elliot Gray, caminhando por um dos três palcos acenando e parecendo que hoje suas ações seriam bem distintas das habituais.

— Saudações público e sejam todos muito bem-vindos para essa edição especial do Concurso de Celadon, idealizado, gentilmente, por nossa queria líder de ginásio e estimada fã dos concursos, Erika. -

— Espero que estejam preparados para 12 horas de muita apresentação pois são exatas nove horas e o nosso show vai começar nos três palcos. -

Todos começaram a gritar e Elliot fez surgir nos telões três nomes, indicando para onde cada coordenador deveria ir. Era algo que todos que leram as regras e assistiram os vídeos de explicação. O computador sortearia os inscritos de forma aleatória e lançaria nos telões dando a oportunidade em seguida de Eliot fazer um pouco de sua própria apresentação.

—

Sim! Quem vai abrir nosso quadro de apresentações e Amora, Havard e Mirian! -

— O que? -

Mirian estava estática. Já não entendia porque seu nome estava aparecendo no telão e ao escutar o seu nome sendo chamado por Gray começara a tossir e a engasgar com aquilo.

A humilhação vai continuar! Era isso que aquela idiota queria dizer! Mirian ofegava diante a lembrança de Amora dizendo que ela continuaria o festival de humilhações naquele dia.

Perdida em pensamentos ela pouco percebeu que sua pulseira laranja começou a brilhar e as pessoas em volta olharam para ela quando ela foi erguida em pleno ar pelo pokémon psíquico que Elliot havia soltado no palco para que ele próprio levitasse por cima da multidão e os três coordenadores da vez fossem levados aos palcos para suas apresentações.

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Meu nome é Mirian Miller e me tornei uma Coordenadora Pokémon para conquistar uma taça em homenagem a minha mãe. No entanto, fui tão mal no início que acabei presa acusada de ser caçadora ilegal e falsificadora. Depois de sair da prisão, retomei minha jornada para descobrir as pessoas que armaram para que eu fosse presa.

Não bastasse armarem para eu ser presa, agora armaram para que eu seja humilhada! O que falta acontecer agora?

Por que uma coordenadora vive esse tipo de coisa?

Mente de Coordenadora Pokémon
Episódio 18: Experimentando a outra Mirian

O que eu faço? O que eu faço? Eu não me inscrevi no torneio! Eu tenho certeza que não me inscrevi neste concurso! Estive em Saffron por dias, trancada dentro do ginásio pokémon e chequei a Celadon ontem ao final do dia e não falei de concurso com ninguém.

Inscrições podem ser canceladas a qualquer momento antes do início oficial do concurso. Após isso precisa ser declarada desistência. Infelizmente a cada duas desistências o coordenador, independente dos motivos, gera punição de multa e suspensão por um mês. Não posso fazer isso! Ser suspensa por desistência é humilhação.

As inscrições precisam ser feitas pessoalmente e no geral encerram-se as cinco da tarde e precisam ser feitas pessoalmente com sua identificação de coordenador. Não fiz inscrição, mas meu nome está lá! Então alguém a fez no meu lugar e as opções seriam quem teve acesso à minha pokewatch, Laris, Aries ou a Joy. Além de quem tem procuração para me representar e poderia alegar qualquer coisa para me inscrever sem minha credencial de coordenador presente, neste caso meu Editor e qualquer pessoa do Grupo Olimpo poderiam…

“Sério?”

Quem está ai? Espera? Essa voz é minha!

“Eu questionaria e explicaria quão ridículo parece você pensando em qual amigo armou para te ridicularizar, caso já não estivéssemos em cima do palco e com pouco mais de trinta segundos para inciar a apresentação.”

Talvez eu esteja, de novo, pensando por tempo demais e o tempo tenha avançado de novo. Mas, quem é você? Por que está falando na minha mente como se fosse eu?

“Eu sou você! Ao menos uma parte que você não acessa normalmente! Agora, deixe-me resolver essa situação e depois você tenta entender o que está acontecendo. Relaxa e deixa eu assumir o controle do corpo!”

Mirian sacudiu a cabeça tentando se concentrar. Aquilo parecia ser coisa do estresse do momento e da pressão causada por Sabrina, nunca havia conversado com ela mesma de forma tão esquisita. Mas viu que a plateia olhava ansiosa para os palcos. Conseguiu identificar que Havard e Amora estavam prontos e que nos telões uma contagem regressiva em dez segundos para mostrar quando deveriam começar. Mirian fechou olhos com medo.

Céus! O que faço? O que faço? Eu até estou com a pokebola de Audino aqui, mas não tenho a menor chance de consegui-la tirar da pokebola, do que dirá improvisar com ela uma…

“Não precisa improvisar. Eu sei o que fazer! Na verdade, você sabe… Já que eu sou você!”

Por que essa voz não vai embora! Vai embora!!! Vai Embora!

“Como quiser… mas, já começou!”

Mirian arregalou os olhos e viu no telão que o tempo para a apresentação já estava contando. Havard e Amora estavam realizando suas apresentações e a plateia próximo que a encarava já cochichava imaginando o que teria acontecido. Sentiu os olhos encherem-se de lágrimas e as pernas fraquejarem. O chão veio tão rápido que ela temeu que as risadas viessem mais rápido do que ela pudesse se levantar.

— Tudo bem… Eu aceito! -

Mirian disse em um sussurro para ela mesma, já estava caída no chão e derramando lágrimas, o que mais tinha a perder? Respirou fundo e fez o que a voz dizia, relaxar. De repente sua mão foi até seu bolso e pegou a pokebola, ampliando-a e jogou. Mas, não teve efeito algum. A pokebola ampliada bateu no chão e nada aconteceu, sua pokemon ainda se recusava a sair.

— Eu sinto muito Audino. - Mirian disse em meio aos choros. - Eu não sabia o que estava fazendo em nossa primeira apresentação e muito menos no dia que decidi fugir de tudo isso. Eu estava magoada, com raiva, com medo e cega para não perceber que tudo o que eu vivia também te afetava. -

A plateia começou a dar alguns risos abafados.

— Eu sei que não quer sair da pokebola por estar com raiva e furiosa e eu aceito isso. - Mirian levantou-se. - Mas, saía por você mesmo… Porque alguma idiota sem noção nos inscreveu no concurso sem nossa permissão e agora você está por passar por mais uma humilhação que não merece! -

Mirian começou a gritar parecendo desesperada. A plateia olhava sem entender o que estava acontecendo. Amora terminara sua apresentação e estranhara não ter muitos aplausos e virou-se percebendo que as atenções estavam voltadas para o palco de Mirian.

— Não por mim! Por você! Para que não seja vítima de piadas e comentários maldosos por minha incapacidade de ser coordenadora e das maldades de … -

A pokebola começou a vibrar e uma luz branca foi emitida. Materializou-se a pokémon rosada com os olhos cheios de lágrimas. Audino ficou parada olhando para Mirian diante de todos.

— Audino? Me perdoa? - Disse Mirian andando em direção a ela com o rosto todo manchado de lágrimas. - Você me… -

Audino correu para junto de Mirian com os braços abertos. Alguns sons de compaixão e emoção da plateia foram escutados. Alguns aplausos também foram, mas esses eram para apresentação de Havard que encerrava. A cena de reconciliação que estava acontecendo não estava agradando tanto quanto parecia, mas de repente um estalo fez todas as atenções se voltarem para Mirian e Audino.

A pokémon agarrou sua treinadora dando um grande tapa na cara dela.

— Audino? -

Mirian questionou assustada, mas a pokémon continuou a bater em sua treinadora gritando e perseguindo-a por todo o palco, até que conseguiu derrubá-la, quase que na ponta do palco, onde Audino conseguiu ficar de pé sobre ela e bradar irritada para o público, como quem aviasse, são os próximos.

Um apito ocorreu e de imediato, palmas empolgadas e gritos de bravo começaram a ocorrer. A plateia aplaudia de forma tímida, alguns por terem apreciado apresentação e a surra que a coordenadora levara, outros por estarem seguindo a onda do respeito pela tentativa de apresentação. Mas, a maioria procurava quem era a pessoa tão empolgada. Acabaram seguindo o olhar até a cabine dos jurados do palco de Mirian. Lá estava o senhor Sukizo e uma enfermeira Joy olhando para o terceiro jurados, como se não estivessem entendendo por ele estava tão empolgado.

Gray ativou o microfone da sala de jurados daquela cabine e a plateia pode escutar o que ele falava.

— … não via talento como esse. Duas atrizes sem sombra de dúvidas. Lágrimas tão reais e uma fúria tão real que eu diria que isso é o que eu chamo de dar o sangue por sua arte! -

O jurado aplaudia ainda empolgado.

— E vocês ouviram Julian Pierre, Diretor de cinema mundialmente premiado que está em Kanto filmando seu próximo filme! - Disse Gray tentando ser animado diante da perplexidade da plateia. - Então peço mais uma salva de palmas para Amora, Havard e Mirian! -

A plateia começou a aplaudir, longe da empolgação inicial, já que não tinham ideia ao certo do que achar da apresentação de Mirian que havia ganho a atenção de todos no palco.

Levou o tempo de outras duas apresentações até que Mirian chegasse onde estava com Laris anteriormente e agradeceu por ver um rosto conhecido que não parecia estar questionando-a sobre o que teria sua apresentação. Apesar da maioria estar concentrada nas apresentações, havia aqueles que pareciam interessados em encará-las.

— Você está sangrando. -

Mirian levou a mão a boca, o lugar que mais doía após golpes e constatou que realmente um filete de sangue havia descido. Suspirou limpando-se com as costas das mãos.

— Eu não sei o que dizer. - Laris parecia realmente com dificuldade de expressar-se naquele momento. - Suas apresentações são bem estranhas. Muito empolgantes, mas definitivamente você escolhe temas e estilo bem inusitados. -

— É isso que dá quando preciso improvisar. - Disse Mirian. - Felizmente eu sabia que Audino me escutaria mesmo de dentro da pokebola e não aceitaria que eu ficasse chorando na frente de tantas pessoas e sairia ao menos para me bater. -

— Improvisar? - Laris olhou para o palco onde novos nomes apareceram para apresentação. - Aquilo foi real? -

Mirian aproximou-se de Laris para falar a meia voz.

— Eu não me inscrevi no concurso. Alguém armou para que eu fosse desclassificada por desistência e acabasse suspensa por ser a segunda vez que eu desistiria. -

— Céus! - Laris arregalou os olhos Mirian assustada. - Não fui eu! Juro! Eu não sabia! -

— Pare com isso! - Disse Mirian mostrando que ela estava chamando a atenção das pessoas em volta. - Você queria que eu viesse ao concurso de qualquer jeito! Graças a isso consegui ainda ir ao palco! Se tivesse sido você o mais lógico era me manter longe do concurso. -

Laris parou pensando naquilo. Para ela o mais lógico seria arrastá-la para o concurso e deixá-la entrar em pânico ao ser chamada. De fato, talvez entrasse em pânico ao receber a pulseira laranja de identificação dos coordenadores, mas parecia que Mirian ignorava aquilo. Mas, até mesmo Laris que sempre era falante e cheia de vida naquele momento não sabia o que dizer. Ficara perplexa com a apresentação de Mirian que de alguma forma tinha sido entendida como apresentação, mas de tão real que parecera, por realmente ser, deixou as pessoas confusas com o que realmente estaria acontecendo no palco.

Uma apresentação teatral era uma das situações menos usadas por coordenadores pois realmente necessitava de talento e dos pokémon e dos coordenadores, além de ser um risco o não entendimento do público. Talvez fosse essa a situação que perturbava Laris, como Mirian poderia ter feito aquela apresentação arriscando tudo se ela nem sabia que existia um jurado produtor de filmes entre os que ficaria em seu palco?

— Acho que você deu sorte em ter um jurado como Julian Pierre, produtor de filmes premiado, entre os jurados de seu palco - Laris pareceu sorrir maravilhada com Mirian. - Mas, não me agradeça por conta disso… Foram motivos totalmente egoístas… ou de culpa melhor dizendo. -

Mirian franziu o cenho por alguns instantes tentando compreender.

— Eu ia te contar mais tarde… Mas, diante a essa confusão toda, acho melhor falar agora antes que pense que eu armei para você. - Laris Mirian sacudir a cabeça mostrando que aquilo jamais poderia acontecer. - Ontem quando você não apareceu no café da manhã do livro menti para seu Editor dizendo que você estava com caganeira no centro e por isso não havia aparecido. - Laris disse rapidamente. - Eu só queria te ajudar… Quando vi que seu Editor estava a beira de um ataque por não ter aparecido ainda, compreendi que nem ele sabia onde você estava. Ele caiu na mentira e desculpou-se com as pessoas dizendo que você estava passando mal… Mas, uma repórter ouviu o que eu havia dito e ficou no centro pokémon o dia todo para ver se era verdade. Quando você surgiu toda fedorenta daquele jeito ela deve ter criado a matéria juntando os pedaços que ela tinha. Sinto muito! -

— Então… Essas notícias do jornal nasceram desta mentira e coincidências… - Mirian pareceu surpresa. - TE agradeço de qualquer forma… Não fosse você… eu… -

Mirian parou de falar começando a sentir uma leve tontura. Olhou em volta em meio a toda aquela agitação e encarou Laris.

— O que foi? - Questionou Laris percebendo que ela parecia estar lenta, quase como se estivesse passando mal.

— Preciso ir… Não tenho como explicar isso… Mas, sinto muito não poder ficar e torcer por você. Prometo que volto para participarmos da segunda fase. -

Laris nem conseguiu responder, viu apenas Mirian saindo apressada em direção ao mesmo túnel pelo qual entraram no evento.

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Audino sempre atacava Mirian diante das lágrimas dela. De felicidade ou de tristezas lágrimas significavam fraquezas na concepção da pokémon rosada parceira de Mirian e nenhuma fraqueza poderia ser admitida, logo o resultado era sempre Audino atacando sua parceira humana com inúmeros tapas em sequência para que ela parasse com aquilo.

Mirian havia descoberto a duas noites atrás que além de Aries, que havia voltado para seguir viagem com ela novamente, ser profundamente orgulhoso, ela também o era. E, de alguma forma, Audino também era profundamente orgulhosa e isso era tudo que foi preciso para criar a apresentação pokémon improvisada que o subconsciente de Mirian realizou.

Mirian sabia que de alguma forma as pokebolas permitiam que os pokémon escutassem o que acontecia em sua volta quando estavam encapsulados, apesar de não ter ideia de onde vinha o conhecimento e como realmente funcionava. Em total desespero ela não tinha a menor possibilidade de usar esse conhecimento, não saberia trabalhar em pressão, ainda mais como aquela. Ficaria procurando o motivo daquilo por horas, sem resolver ou amenizar o problema.

No entanto, existia uma parte de Mirian, que ela lutava para nem perceber que existia, que era mais prática e ativa. Sabia resolver as coisas e tinha conhecimento de muito sobre o mundo pokémon. De onde havia surgido aquela parte dela ela não sabia e nunca havia conversado com ela, mas em pleno desespero e a segundos de ser humilhada qualquer coisa era valida, especialmente quando a parte não quer ser humilhada no processo.

A apresentação de desculpar-se com Audino no palco, assumindo culpa e implorando para que ela saísse e não fosse sofresse humilhação por uma armação de alguém era teatral, mas muito real. O orgulho da pokémon jamais permitiria que algo assim acontecesse, tanto que saiu da pokebola decidida a reverter aquele quadro ela mesma.

No final todos estavam diante de uma cena de reconciliação, algo dramático e emotivo, que sofria uma reviravolta chocante em ação de espancamento pokémon contra humano, revelando tapa duplo, vigor pokémon, personalidade forte e o criar de uma sintonia.

Mirian não se lembrava, mas seu subconsciente sim. Um dia, muito tempo atrás, vira uma apresentação como essa, junto a sua mãe. De acordo com sua mãe apresentações teatrais eram arriscadas, pois nem todo mundo entendia ou gostava de teatro. Que no geral, quem ia a concursos queria apresentações pokémon e não com os coordenadores envolvidos.

Mas, era um risco que se corria ou se corria. Não havia outra coisa fácil a se fazer. Se havia funcionado não se saberia até o momento da classificação e talvez não importasse passar realmente, apenas ter realizado uma apresentação para não zerar e ser desclassificada.

Eu jamais pensaria em fazer algo assim nos palcos e por mais que eu não tenha certeza de como aquilo realmente foi visto, tenho que admitir que foi uma ótima ideia. Sabrina diz que essa parte oculta minha, essa parte perdida, é minha parte coordenadora pokémon. Acho um absurdo e totalmente sem sentido, mas definitivamente ela soube o que fazer.

No meu mais profundo desespero esse lado acordou e flertou comigo para nos salvar. Confesso que não sei como aconteceu e agora estou curiosa para saber o que foi aquilo.

— As vezes eu acho que você é idiota, mas as vezes eu acho que o mundo é idiota o suficiente para te entender. -

Caminhando de volta para o centro pokémon, apressada como nunca esteve em meio a uma cidade em que tudo poderia chamar sua atenção para distrair-se, Mirian chegou ao centro sendo surpreendida por Aries esperando-a na porta.

— Você está livre! - Mirian correu até ele, surpresa. - Como você… - Ela parou a pergunta de como ele havia conseguido sair. - Do que está falando? -

Aries deu aquele sorriso debochado e olhou para dentro do centro pokémon. Uma rápida olhada e as portas se abriram deixando que Mirian ficasse frente a frente com um rapaz negro de roupas pretas e olhar intenso.

— Maumal… -

Ela deixou escapar.

— Maumal? - Aries questionou sarcástico. - Então realmente eram melhores amigos? Eu deveria ter imaginado que ela colocaria um apelidinho carinhoso em você. Neste caso, ele o chama de Mimi… -

Aries estava rindo de si mesmo quando sentiu seu corpo deslocar-se para trás com velocidade e chocar-se contra a parede com brutalidade. Os olhos mostravam seriedade e um aviso tão velado que desta vez ele não iria querer vingar-se por aquilo, ele sentia que realmente houvesse passado dos limites.

— Não tem permissão de me chamar assim. -

Segurando aries com toda a força que possuía contra a parede, Mirian pouco percebeu o momento em que Mauricio começou a caminhar, afastando-se dos dois. Foi só quando ele já estava a uns dez passos que Mirian saltou Aries apressada e correu até ele.

— Onde vai? Por que não fala comigo? -

A maioria das pessoas da cidade estavam no concurso especial, que mais parecia uma festa. Por isso não havia telespectadores para ver a cena de Mirian abordando o amigo diante o centro pokémon além de Aries,

Maurício Malta havia sido o melhor amigo de Mirian Miller na cidade natal deles. Após Mirian sair em jornada o rapaz negro havia prometido que ela se arrependeria daquilo e no primeiro encontro deles após aquilo Mauricio havia procurado o Grupo Olimpo para honrar o contrato no lugar de Mirian e passou a responder como Dark Mau, o coordenador que provocava arrepio nos adversários e publico e ganhava todos os concursos que entrava.

— Não temos o que conversar Mimi. - Disse Mauricio sem parar de andar, mas parecia ter diminuído o passo. Ao escutar o Mimi Aries até ensaiou uma risada, mas sentiu os olhares de Mirian para ela e conteve-se. - Não enquanto continuar com mimimi. -

— Como eu não pensei nisso antes? - Rindo descaradamente Aries pareceu ignorar o olhar reprovador de Mirian para ele. - mimimi. -

— Eu mimimi? Eu pedi desculpas e estava toda empolgada por te encontrar depois de tanto tempo e você ameaçou matar meu pokémon no palco! - Mirian exclamou meio abalada. - Eu é que estou de Mimimi? -

— Concordo. -

Maurício parou de andar e virou-se para a menina. Parecia que os dois não se conheciam pela forma como ele a encarva, com frieza e um certo ar de superioridade. No entanto, também era nítido que eles se conheciam já que não desviavam os olhos um do outro e pareciam querer que o outro dissesse ou fizesse algo para que tudo aquilo acabasse.

— Eu é que estou de mimimi por não ter mantido minha palavra de matar seu pokémon. - Ele disse friamente. - Perdoe-me por ter sido fraco e usado uma técnica fraca com você. Levei em conta apenas a coordenadora e não o pokémon. Da próxima vez seu pokémon morre no palco. -

Ele está falando sério. Ele realmente está falando sério. Conheço a expressão de seriedade e determinação dele e ele está falando sério! Mirian deu um passo para trás assustada.

— Podemos evitar que coordenadores do Grupo Olimpo se matem antes de uma final? - Questionou Aries. - Mauricio, agradeço por ter ido me tirar da cadeia! Nos vemos em Cinnabar. -

O negro apenas fez que sim com a cabeça e virou-se sem dar nenhuma outra atenção a Mirian que ainda parecia assustada.

— Não está participando deste concurso? - Mirian forçou uma fala para mantê-lo ali e entender o que estava acontecendo com o amigo. - Achei que estava atrás de toda e qualquer fita que pudesse. -

— Só um idiota participaria deste concurso, ou uma pessoa desesperada. - Ele não parou de caminhar para seguir viagem. - Quem entra num concurso de doze horas seguidas num pseudo concurso especial tendo um de verdade em poucos dias? - Ele parou e virou o rosto com um sorriso quase malvado. - Espero que não seja suspensa por ausência hoje. -

Já estava surpresa com todo aquele encontro e assustada pela postura que seu melhor amigo apresentava. Sentiu medo ao ver o sorriso malvado dele mas viu o mundo girar ao escutar sua última frase. Maurício havia armado para ela ser suspensa.

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Como ele fez isso?

Era a pergunta que vagava pela cabeça de Mirian durante tanto tempo que ela não tinha certeza se dez minutos ou uma hora se passaram desde que escutara Maurício dizer “Espero que não seja suspensa por ausência hoje.”

Entrou no centro pokémon sem eira nem beira, perdida com aquele questionamento de como ele poderia ter feito isso com ela e de como ele poderia ter conseguido recursos para fazer aquele tipo de coisa. Aries ria e tagarelava piadas perto dela, mas nada parecia tirá-la de seus pensamentos e questionamentos.

Nada, nem mesmo as broncas de seu editor que afirmava que ela não poderia perder outro compromisso da editora. No entanto, ela ainda não conseguia se concentrar em nada a não ser em Maurício e sua armação para ela ser suspensa.

— Bem… - O editor pareceu fazer uma pausa. - Não saia de Celadon se fazer uma participação no jornal local pedindo desculpas, autografe os livros que vou mandar para que possamos distribuir entre as pessoas que foram ao café te ver, almoce com os autores locais e tire um dia para ficar coma líder de ginásio local. - Ele sorriu. - Além disso, sucesso com o concurso. Vi sua apresentação e achei ela bem peculiar… Mas, chamou a atenção de Julian Pierre que já ligou para nossa editora para conversarmos. Então acho que você mandou muito bem nessa a ponto de relevarmos suas transgressões. -

Mirian sorriu acordando para uma realidade inegável. Ela tinha que voltar para o concurso e agora que Aries não estava na cadeia e seu editor já estava informado, só restava voltar para o concurso.

Mas, ainda havia a questão dela não estar preparada. A questão dela só ter sobrevivido por causa de uma parte perdida dela.

— Então você era mais forte com ele. -

Mirian olhou para o lado e viu Aries sentado numa cadeira do centro de convivência do centro pokémon, observando-a. O Editor havia acabado de ir e aparentemente ela havia dado sinais de que ficaria inerte ali por algum tempo.

— Ele disse que não falaria com você enquanto não parar com o mimimi. - Disse Aries. - Significa que você era uma Mirian diferente quando estavam juntos em Holy. -

— Não me enche Aries! - Disse Mirian se levantando.

— Tudo bem… Vou pegar dinheiro para irmos ao concurso. Tenho certeza que o que fez foi improviso e quero ver você improvisar de novo na próxima fase. - Aries viu que Mirian olhou para ela surpresa. - O que foi? -

— Você acha que vou passar para a próxima fase? -

— Sua apresentação foi diferente e única. Isso deve ser valorizado de alguma forma. - Disse Aries dando de ombros. - Eu estou torcendo por você. -

Mirian ficou olhando-o por alguns instantes e fez um sinal para que ele esperasse ali e começou a se dirigir em direção aos quartos do centro pokémon.

Aries está torcendo por mim. Meu Editor está torcendo por mim. Laris está torcendo por mim. Mauricio pode ter armado para mim e eu não tenho como explicar isso ainda, mas se eu quiser entender isso vou ter que confrontá-lo no palco… E o único jeito é seguindo em frente até ele e para isso preciso terminar esse concurso sem ser desclassificada. Não tenho como me preparar com esse tempo tão curto, então… Tenho que ficar completa.

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Mirian foi para sua cama e fechou os olhos demorou um pouco mais do que esperava. Aquilo foi repetida tantas vezes naquela semana que passou com Sabrina, em Saffron, que duvidava não ter prestado atenção ou ter esquecido qualquer parte.

Sabrina insistira dia e noite para que ela entrasse em contato com seu subconsciente e achasse o pedaço que faltava para ela ser completa. O pedaço que faltava nela para ela ser uma coordenadora completa. Disse que bastaria chamá-la mentalmente dizendo que aceitava, não importasse o local em que estivesse, que ela iria para lá imediatamente para fazê-lo.

— Devo ter entendido errado. Agora lembro que ela não pode ler minha mente ou controlá-la, então não poderia me escutar chamando-a só com a mente. -

— Posso se você estiver determinada a me chamar com todas as forças. Pois todas as suas faces estarão alinhadas e me permitiram lê-la. -

Mirian saltou da cama, assustada com a voz. Laris viraria a noite treinado e deixou que ela trancasse a porta, então ninguém poderia entrar. Mas, ali estava ela, Sabrina, pronta para fazer o que desejava a dias.

— Podemos começar? -