Mente de Coordenadora Pokémon escrita por Kevin


Capítulo 19
A parte que faltava


Notas iniciais do capítulo

Senhoras e senhores... Com vocês, a parte que faltava (já que o capitulo estava faltando mesmo... huahau)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/724688/chapter/19

O centro pokémon estava silencioso, não havia quartos vagos e alguns deles estavam comportando mais pessoas do que suas capacidades normais permitiam. Ainda assim, naquele momento estava tudo silencioso. Apenas duas das cinco Joys que ali trabalhavam estavam presentes e meia dúzia de hóspedes que por algum motivo estavam no prédio, sendo que uma delas ninguém sequer viu entrar.

 

— Um concurso especial veio a calhar. - A voz era calma. - Aries está entretido na televisão da sala de convivência, as Joys ocupadas com seus afazes e os outros três estão se arrumando para andar pela cidade. Teremos a privacidade que precisamos. -

 

Sabrina comentou sentada em uma cadeira no quarto em que Laris e Mirian estavam hospedadas, certa de que aquilo que faria demoraria mais do que meros minutos. Afinal, já havia ajudado muita gente a se interiorizar, mas normalmente podia ler a mente delas, o que não aconteceria com a senhorita Miller.

Após tomar água e ir ao banheiro, Mirian voltou a deitar-se na cama, tendo regulado o ar-condicionado para que o ambiente permanecesse agradável. Havia chamado a psíquica para ajudá-la a entrar em contato com sua parte interior que parecia ter um conhecimento pokémon incomum, mas que também aciona uma parte violenta que a assustava.

 

— Não tenho como usar meus poderes com você, mas o conhecimento de fazê-la interiorizar é fácil. - Comentou Sabrina, tudo que precisa é tomar isso aqui. -

 

Mirian olhou para Sabrina e viu que ela segurava um frasco de remédio sem rótulo ou qualquer outra identificação. Questionou o que seria aquilo e se realmente queria saber o que era e que efeito teria.

Sabrina levantou-se da cadeira e fez sinal para ela manter-se deitada e abrir a boca. Ela o fez e Sabrina abriu o frasco e derramou líquido quase todo na boca dela. Mirian sentiu o gosto amargo na boca, enquanto a queimação na garganta começou. Preparou-se para gritar, mas assustou-se ao ver que Sabrina havia desaparecido do quarto.

 

<><><><>

 

Meu nome é Mirian Miller e me tornei uma Coordenadora Pokémon para conquistar uma taça em homenagem a minha mãe. No entanto, fui tão mal no início que acabei presa acusada de ser caçadora ilegal e falsificadora. Depois de sair da prisão, retomei minha jornada para descobrir as pessoas que armaram para que eu fosse presa.

O problema é que a primeira pessoa que eu peguei armando para mim é meu melhor amigo e agora estou começando a me sentir incompleta sem ele.

Por que uma coordenadora vive esse tipo de coisa?

 

 

Mente de Coordenadora Pokémon
Episódio 1
8: A parte que faltava

 

Era estranho, mas estava tudo silencioso como Mirian jamais vira. Caminhou por alguns minutos pelo centro pokémon até entender que ele estava vazio. Era completamente inesperado e sem lógica, estava com Sabrina em um instante e segundos depois de tomar a substância estranha que Sabrina lhe oferecera, se vira sozinha em seu quarto.

 

— Eu lembro que Sabrina falou que o centro estava quase vazio, mas eu deveria achar algu… -

 

Faltou palavas diante a visão. Parada na recepção Mirian olhou para a porta e viu algo que não esperava, o céu estava vermelho. Correu para fora e a porta automática do centro se abriu e ela se viu do lado de fora do prédio e ficou perplexa. O céu era vermelho e o restante era nada, não existia os prédios, as árvores ou nenhuma outra estrutura da cidade de Celadon estava ali, exceto o chão.

 

— Efeito da substância que Sabrina me deu. Ou estou sonhando ou alucinando. A diferença é que alucinando posso me machucar e sonhando eu não corro perigo. - Uma tentativa de pensamentos rápidos, mas… não chegou a nenhuma conclusão. - O que faço? -

 

Mirian olhou em volta esperando que algo lhe indicasse sonho ou alucinação. Mas, nada parecia indicar uma das duas opções.

 

— Não se preocupe … Pode ficar com a opção de Sonho, Mirian Racional. Se for alucinação Sabrina deve estar te acompanhando, você é que não está percebendo. -

 

A voz era animada e quase fofa. Mirian olhou em volta diversas vezes e não identificou onde estaria a pessoa que falava com ela. De certo modo, até achou ser ela mesma, já que a voz era tão parecida, mas deixou essa ideia de lado por alguns instantes. Identificou outra estrutura além do centro pokémon.

 

— A cúpula de eventos… - Mirian exclamou vendo-a não a não mais de três ou quatro quarteirões. - Tenho certeza que ficava muito distante do centro. -

 

Olhou em volta e resolveu ir até lá, ignorando se era ou não alucinação e se estava ou não caminhando realmente pelas ruas de Celadon, correndo todo e qualquer tipo de risco por estar alucinando. Sim, aquele era o maior medo de Mirian no momento, se estivesse alucinando nada impedia de estar caminhando pela cidade de verdade, achando que estava sozinha, mas na verdade podendo ser atropelada por um carro ou chocando-se com qualquer outra pessoa a qualquer momento.

Mas, a voz tinha razão quando a não ter que se preocupar com aquilo. Sonho não a machucaria, e em caso de alucinação estaria protegida por Sabrina. Afinal, foram dias de Sabrina pedindo para que ela fizesse aquilo e certamente não a deixaria para morrer como uma drogada a vagar pela cidade.

Chegando diante da cúpula

 

 

A cúpula externamente era igual a original, no entanto, pode perceber que o túnel não levava para a parte da arena, já que iniciava uma estranha subida que levou a área que ela acreditava ser os camarotes. Observou que curiosamente tudo ali na parte elevada era do jeito que ela imaginava.

Caminhou até a borda do camarote, de onde poderia ver toda a área grama e assustou-se ao perceber a multidão que lá estava. Talvez tão cheio quanto estava no concurso, aquela cúpula estava lotada de pessoas realmente familiares.

 

— Olhe mais de perto, vai perceber que essa familiaridade é por um motivo bem forte. -

 

Mirian olhou em volta procurando a voz que falava com ela e ao olhar para trás deu de cara com uma garota de cabelos castanhos longos, pele lisa e bem cuidada, roupa branca e sorriso radiante.

 

— Vo.. Vo... -

 

Mirian tentou, mas não conseguiu colocar em palavras o que estava pensando. A menina a sua frente era exatamente como ela, um poco mais animada e vivida, mas ainda assim era igual a ela.

 

— Eu sou você! Ou melhor um traço de você. Sua parte criativa. - A Animação era quase contagiante, a voz se assemelhava muito a dela, mas tinha um Q animado. - É verdade... Quando pensa em parte você acha que é pedaço. Isso complica! Se Sabrina usa-se os termos certos você não teria tanta resistência e não estaria temerosa. Não pense em mim ou nelas como parte ou outras Mirian, pensa em nós como atitudes. Eu sou a Mirian da Atitude Criativa! Me chama de MAC. -

 

— Mac... Mirian de Atitude Criativa... Nelas.. Parte. - Mirian fechou os olhos suspirando. De alguma forma ela tinha conseguido acompanhar todas a fala animada e rápida, mas não havia conseguido entender. - O que é você? Que lugar é esse? -

 

— Antes de eu responder isso, posso fazer você ficar ainda mais confusa para não correr o risco de começar tudo de novo? - Ela sorriu e apontou para a arena gramada.

 

Mirian apenas sacudiu a cabeça e direcionou seu olhar para a arena. Começou a perceber que todas aquelas pessoas além de familiares eram parecidas umas com as outras e parecidas com ela. Arregalou os olhos ao identificar que todas eram versões dela. Ou como a Mac dizia, atitudes dela. Havia Mirian musculosas, vaidosas, grandes, pequenas, algumas que eram versões dela tão belas que ela julgava ser impossível realmente ser ela.

 

— Tem razão! Eu ficaria confusa e teria que começar do começo. - Mirian parecia tão perdida com tudo aquilo que não tinha ideia nem do que perguntar. - Comece do principio. -

 

— Você pode aceitar isso como um sonho, mas está sonhando com o seu subconsciente. - Mac disse. - Todas as pessoas tem muita informação guardada dentro dela, até informações de coisas de quando foram gerados. Alguns estudiosos acreditam que terapeutas usam deste ponto para tratar algumas doenças psíquicas como traumas ou manias, ou simplesmente para que as pessoas entendam o porquê possuem determinada personalidade e jeito de ser. -

 

Mirian escutou aquilo com certa calma, lembrando-se que foi uma das últimas coisas que leu antes de sair em jornada. Um artigo sobre psicologia e terapias que a mãe estava revisando para uma revista.

 

— A substancia que Sabrina nos deu permitiu que você relaxasse ao ponto de enxergar seu subconsciente como se estivesse numa terapia. Este mundo em que estamos é uma manifestação do seu subconsciente utilizando tudo o que você conheceu em algum momento. Então, qualquer coisa sobre você está acessível, seguindo a premissa de alguns terapeutas que a maioria dos problemas psíquicos podem ser resolvidos dentro de nós mesmos quando ajustamos algo. -

 

— E como Sabrina acredita que tem algo perdido dentro de mim que não me deixa ser eu mesma ela me colocou para procurar dentro de mim mesma. - Mirian pareceu entender. - Acho que entendi o que é esse lugar. Mas, o que é você? E  o que são elas? -

 

— Não me incomodo muito por me tratar como uma coisa. No geral, nós somos muito racionais, o que limita um pouco minha atuação. Mas, tente não falar esse tipo de coisa alto demais, temos algumas atitudes mais sensíveis e podem começar a chorar ou querer te bater. -

 

— Me bater? Mas, estamos dentro do meu subconsciente e elas são eu. Não podem me machucar. Podem? -

 

Mac deu um sorriso quase que maroto, fazendo com as mãos de que não se responsabilizaria se algo acontecesse deixando Mirian quase que em dúvida do que deveria ou não falar ali.

 

— Compreendido este mundo, vamos ao que sou. Não sou uma parte, uma outra Mirian ou versão. Sou uma atitude, um comportamento, um traço que se ativa quando há necessidade de ser criativa. -

 

— Mas, se é um traço, não é uma parte? - Questionou Mirian. - Talvez por isso seja você que esteja conversando comigo, precisa ser bem criativa para me convencer disso. -

 

Mac riu naquele momento.

 

— Pense em um bolo de chocolate. - Esperou ver que Mirian parecia visualizá-lo. - Agora pense nos ingredientes necessários para o mesmo. - Esperou alguns segundos. - Liste-os para mim. -

 

— Trigo, ovos, açúcar... -

 

— Forma para colocar a massa, tigela para a mistura, forno para assá-lo. Lascas de chocolate para derreter no meio. Granulado para por em cima. -

 

— Não pensei num bolo deste tipo. - Disse Mirian vendo que MAC adicionava muito mais ingredientes do que ela pensava. - Granulado não seria essencial e eu poderia usar chocolate em pó. Só iria listar o essencial. -

 

— Exato! Você listou o essencial para um bolo, as partes, os pedaços. Eu listei algumas coisas que não são essenciais, mas dão um toque a mais no bolo. - Um sorriso de formou em Mac. - Então vamos supor que o ser humano é um bolo, o chocolate é a personalidade e o restante são atitudes. Entende o que é pedaço e o que é traço? -

 

— Traço é o que complementa e não faz falta, enquanto pedaço é essencial e faz falta. - Mirian pareceu entender. - Mas, você é meu traço criativo e é essencial para mim. -

 

— Você é uma fofa! - Mac se jogou em Mirian, abraçando-a. - Eu sempre soube que era sua atitude favorita! -

 

Mirian ficou completamente sem jeito com o abraço e tentou se livrar da garota que a abraçava, era uma sensação completamente esquisita ver alguém igual a ela a abraçando.

 

— Bem... - MAC pareceu tentar se comportar. - Humanos possuem suas partes essenciais, possuem suas personalidades que nascem e vão evoluindo, não deixando de ser o que são com muita facilidade. Com exceção das crianças que ainda estão com suas personalidades em formação. Uma pessoa tímida nunca deixa de ser tímida, cria formas de ter atitudes que minimizam sua timidez.No geral, personalidades não somem, são apenas maximizadas ou minimizadas pelos seus comportamentos, ou seja as atitudes. - MAC apontou para si mesma animada.

 

— Tem certeza que você é a Mirian da Atitude Criativa e não da animação? - Mirian finalmente ficou completamente desconsertada com toda a animação e felicidade da jovem a sua frente. -

 

— Acredite, a Mirian Animada não é bem como eu. -

 

Ela pareceu procurá-la no meio das outras na arena, mas não encontrou, fazendo Mirian se perguntar quantas vezes nos últimos tempos realmente ficou animada com algo.

 

— Voltando... Está dizendo que uma pessoa tímida pode ser extrovertida por optar ter uma atitude extrovertida? - Questionou Mirian.

 

— Eu acho que peguei o pior exemplo... - Mac suspirou. - Nós e Aries somos orgulhosos. Mas, somos por motivos diferentes e de formas diferentes. Aries é orgulhoso com atitudes arrogante, pois acha-se superior, nós somos orgulhosas com atitudes de auto-defesa pois não gostamos de ver nossas fraquezas. -

 

Mirian pareceu não gostar do que havia escutado, mas claramente havia compreendido. De fato Aries e ela eram orgulhosos, mas cada qual agia de uma maneira diferente com este orgulho. Enquanto Aries colocava uma atitude arrogante no orgulho ela colocava uma atitude defensiva.

 

— Uma pessoa tímida pode ter uma atitude corajosa enquanto outra pessoa tímida pode ter uma atitude medrosa. - Mirian decidiu voltar ao exemplo da timidez que incomodava-a menos. - Então você e elas são minhas atitudes, minhas decisões de como agir. -

 

Mac sorriu aplaudindo o entendimento e apontou para a arena. Mirian olhou para lá esperando identificar o que sua Atitude Criativa queria que ela visse. Não havia nada que chamasse sua atenção de imediato, mas divertia-se em perceber que cada Mirian que personificava uma atitude sua era de um jeito. Cortes de cabelos diferentes, roupas diferentes, postura e muitos outros.

 

— Estou surpresa que ainda não perguntou qual Mirian representa o que. - Mac falou pensativa. - Consegue identificar cada uma? -

 

Mirian balançou a cabeça que sim. Não era difícil perceber que as atitudes que ela mais manisfestava eram as maiores e mais chamativas, mesmo que fossem atitudes que se manifestava discretamente. Conseguia ver a Mirian da atitude violenta que vinha crescendo dentro dela, assim como percebeu a Mirian da atitude Sexy que era tão pequena e desengonçada que não tinha nem coragem de continuar olhando para ela.

 

— Como isso funciona? Quero dizer... Eu tenho uma personalidade e as atitudes servem como complemento. Como vocês me complementam? - Mirian virou-se de volta para Mac. - E meu pensamento caótico? E quem foi que pediu licença para dominar minha mente? -

 

— Pensamentos são diferentes de atitudes. A questão do seu pensamento caótico não vem daqui. Teriamos que ir a outro lugar do subconsciente para você ver os motivos, mas posso simplificar que a vida encontra caminhos para sobreviver. Aconteceram coisas que fizeram sua ligações nervosas procurarem outros caminhos para poderem continuar funcionando. Não é nada que precise se preocupar, não está doente. Apenas a eletricidade  que passa por caminhos diferentes em baixas e altas frequências a cada novo local. -

 

Mirian teve quase certeza que não havia entendido, mas ali era seu subconsciente e a informação era que não precisava se preocupar com isso, não iria. Afinal, veio para saber da sua parte Coordenadora Pokémon e não saber o motivo de ser resistente a leitura mental.

 

— Mirian Miller, nós, temos uma personalidade racional, orgulhosa e dedicada. - Mac parou. - Prefiro colocar assim, porque aquelas coisas de extrovertido, introvertido, amável são mais complexos para exemplificar. - Esperou Mirian concordar com a cabeça e prosseguiu. - Nossa personalidade, fica é todo esse ambiente. As atitudes vão até um determinado para serem utilizadas quando necessárias. As principais atitudes ficam em volta deste ponto indo buscar as que precisam em algum momento e as colocarem mais próxima da personalidade. É assim que funciona, ponto de conexão com atitudes mais frequentes em volta dando suporte para chamar outras atitudes quando precisar. -

 

Mirian franziu o cenho. Havia entendido o mecanismo de funcionamento, apesar de achar que era simplório demais e certamente era apenas uma forma de desenhar o que acontecia, assim como as Mirians ali presentes eram apenas personificações das atitudes. Olhou para arena e não via o ponto de conexão que Mac falava. De fato, poderia ser algo não visual, apesar de duvidas disso, já que aquele mundo estava sendo criado por sua mente para que ela entendesse as coisas. Mas, o mais curioso era não via atitudes que estivessem agrupadas sendo elas as principais. Estavam todas em desordem em um caos completo.

 

— Onde é o ponto de conexão? Por que não parece que as atitudes estão agrupadas? - Mirian olhou para Mac por alguns instantes. - Por acaso é você quem assumiu o controle da minha agora pouco? -

 

— Nem que eu quisesse. Apesar de ser sua parte criativa, somente uma decisão criativa não poderia controlar um corpo inteiro. Não sou uma personalidade. - Comentou Mac. - Quem fez isso não foi uma atitude, foi algo mais possessivo. -

 

Mirian franziu o cenho sem entender.

 

— Antes de eu explicar onde está o ponto de conexão e porque as atitudes estão em completo caos, preciso que se lembre o motivo que a trouxe aqui. - Mac pareceu muito tranquila, mas parte da animação pareceu desaparecer. - Sabrina não mentiu quando disse que você poderia sair daqui sem ser você mesma, ou até se machucar. -

 

— Não lembro dela ter falado em se machucar. - Comentou Mirian que viu Mac dar de ombros. - Bem... eu vim aqui atrás de uma parte minha que está faltando e que parece ter tomado conta do meu corpo a uma hora atrás. -

 

Mac sacudiu a cabeça compreendendo e sorriu.

 

— Você cresceu em volta de pokémon, apesar de tentar negá-los. Sua mãe foi coordenadora e em casa a televisão era coordenação vinte e quatro horas por dia, vamos colocar que seu irmão saiu em jornada para facilitar, seu pai era um treinador que desapareceu em jornada e nunca mais voltou, a cada 10 palavras que seu melhor amigo Mauricio dizia 7 eram sobre pokémon e outras 2 eram de assuntos que de alguma forma estavam ligados a pokémon. Você suprimia essa ideia dentro de você de forma constante. -

 

Mirian nada disse diante a afirmação da Mac, era verdade que ela suprimia a ideia sobre pokémon na cabeça constantemente. Não os odiava, mas também não conseguia morrer de amores por eles. Afinal, o pai sumiu, a mãe parecia louca pensando só em concursos e o irmão só se metera em confusão por causa deles. O melhor amigo era zoado todo o tempo por só falar de pokémon. Não parecia que pokémon fosse lhe trazer algo bom.

 

— Aqui estão todas as suas atitudes, a atitude de suprimir coisas que não gosta está bem ali. A maior e Mais forte Mirian. - Mac apontou e Mirian olhou para uma Mirian que parecia muito um cavaleiro de armadura. - Você se tornou tão boa em suprimir as coisas, praticando com os pokémon, que a atitude de suprimir ficou muito forte. -

 

Mirian olhava a personificação da Supressão tinha quase certeza, ela não era a maior, mas pensando nela como uma pessoa, bateria facilmente em qualquer outra, mesmo se fossem três contra ela.

 

— Quando você descobriu sobre a possibilidade de sua mãe morrer você beirou o desespero, afinal é sua mãe a quem muito ama. A Mirian da Atitude Supressora tentou suprimir as ideias de que ficaria sozinha, desamparada e que sua mãe sofreria, que era justamente o papel dela. Mas, vendo que nada adiantava ela saiu afastando todas as atitudes que fazem mal como Mirian da Atitude do Choro, Mirian da atitude do Medo, Mirian da Atitude do Apego e outras tantas. - Mac suspirou. - A ideia não é afastar as atitudes é trazer as que precisam agir para mais perto. Mas, seu desespero fez você começar a querer afastar não só as ideias, mas as atitudes de forma desesperada. -

 

Mirian pensou em dizer que não, mas era verdade. Logo no começo ela pensou que iria perder a mãe e tentou lutar contra a ideia e acabou decidindo dar a ela o troféu antes de morrer. Concentrou-se em sair em jornada unicamente para manter longe a ideias ruins, com as ideias ruins também viam as atitudes ruins. Por estar tão acostumada a suprimir ideias que poderiam ser ameaças acabou começando a suprimir atitudes.

 

— Quando saiu em jornada e sofreu todos aqueles duros golpes até entrar em surto a Mirian da Atitude Supressora tentou não apenas suprimir ideias, mas também quis suprimir, novamente, atitudes que pareciam ameaças. Não conseguiu lidar com tantas coisas para afastar, ainda mais que era contra o fluxo natural das atitudes que corriam para tentar ajudá-la. Como a Atitude Supressora não conseguia resolver, quebrou tudo. Bateu em todas as outras atitudes, afastou todas. Ficaram todas nesse perfeito caos após você ter tido um surto de pânico. -

 

— Isso em sentido figurado, né? - Mirian parecia quase que preocupada. - Mirian da Atitude Supressora não realmente bateu nas demais, né? - Ela parecia realmente preocupada de uma briga na cabeça dela. - É uma forma de representar visualmente como o pânico que tive no primeiro dia me afetou a ponto de me traumatizar, né? -

 

— Isso! - Mac balançou a cabeça animada. - Somos tão criativas. - Ela parecia gostar de afirmar aquilo, talvez gostasse do elogio ou fosse orgulho. - De qualquer forma, esse é o ponto. Você ainda está traumatizada. Nunca parou dias para se aclamar, tirar a pressão do que aconteceu de cima de você. Você sempre esteve a fugir do desespero de perder sua mãe, não parando para lidar com isso. Você sempre esteve no caos do desespero que a jornada vinha se tornando, não sendo capaz de se acalmar e lidar com isso. -

 

— Estou estressada! - Mirian exclamou diante da visão que Mac ajudava-a a obter.

 

Era algo que ela sabia, mas nunca tinha parado para perceber que cada coisinha que lhe aconteceu desde que iniciou a jornada estava se acumulando. Da possibilidade da morte da mãe até a morte de Hina e os demais, tudo estava ficando preso dentro dela, pressionando-a e ela não podia parar para sentir pena de si mesma ou dar um jeito de se sentir melhor.

 

— Estresse afeta em muito o comportamento humano. Quanto mais tempo o estresse fica, mais efeitos causa, as vezes psiquicamente e as vezes fisicamente. No seu caso, você está tendo dificuldade de acessar as atitudes. Melhor dizendo, você está tendo dificuldades de tomar decisões. - Mac comentou. - Não é que o ponto de conexão sumiu, é que o sistema de atitudes está caótico com a Supressora atacando a todas e a mente está totalmente estressada. A decisão de suprimir o que é ruim está sendo realizada de forma inconsciente, enquanto o estresse está dificultando o raciocínio e como resultado a tomada de decisão está lenta. -

 

Mirian piscou aturdida. Todas as vezes que ela se perdia em pensamentos, todas as vezes que ela demorava para decidir algo, todas as vezes que ela não viu o tempo passar pensando em algo era na verdade o estresse prejudicando sua tomada de decisão, prejudicando a sua tomada de atitude. Fazia tanto sentido que até sentiu leve com aquilo.

 

— Espera... Mas, por que não conseguiu me acalmar? Cade a Mirian da Atitude Calma e Mirian da Atitude de Paz? -

 

— Não existe Mirian da Atitude de Paz. Não há atitude de se sentir em paz é uma sensação, um sentimento. - Mac pareceu perder o sorriso. - Agora que você sabe o porquê você está do jeito que está, você sabe exatamente que precisa se acalmar para poder voltar a ser a Mirian da cidade Holy ou mesmo a Mirian que evoluiu durante a jornada. O problema é como você vai se acalmar. -

 

Mirian escutou aquilo e viu a falta do sorriso e da animação. Sentiu aperto no coração e preferiu não perguntar qual era o problema. Aquela era uma personificação sua e se Mac já sabia o que faltava para encontrar a paz e se acalmar, ela também sabia. Pensou e antes mesmo que conseguisse terminar de fechar os olhos a resposta estava ali tão clara quanto as roupas de Mac.

 

— Mauricio? -

 

Mirian questionou para ter certeza.

 

— Exatamente! - Confirmou Mac. - Ele sempre esteve ao seu lado e você está sentindo falta dele. Ele te ajudava em muitas coisas, mas o principal era a paz e confiança que ele te fazia ter em qualquer situação. É a primeira vez que está lidando com tantos problemas sem ele. Não é que ele resolveria as coisas para você, te faria ver tudo de forma diferente ou qualquer outra coisa mágica que resolveria as coisas. Ele só iria passar por isso com você como nenhum dos outros amigos conseguiria passar. -

 

Era a pura verdade. Mirian escutava as palavras de Mac e compreendia que era um pedaço importante da vida dela que não estava mais presente. Era sempre o seu porto seguro.

 

— A parte que falta é o Mauricio. - Mirian tentou segurar as lágrimas. - Por isso está sem sorrir agora? Por que ele está me odiando? -

 

— Sim! - Mac disse meio desanimada. - De alguma forma acreditamos que ele tenha motivos para fazer isso e queira o nosso bem ainda. Mas, sem ele a paz vai demorar a vir e com ele hostilizando-nos a cada encontro as coisas vão piorar. -

 

Mirian fechou os olhos precisando de um tempo daquela estranha conversa com ela mesma. A Mirian da Atitude Criativa parecia ter todas as respostas e parecia realmente estar sendo criativa em expor as coisas, pois muito fácil seria chegar e dizer que tudo que estava vivendo era estresse, que tudo era por falta do Mauricio, mas tinha certeza que se assim fosse feito racionalizaria a ponto de não aceitar tais informações. Mas, mesmo diante toda aquela criatividade que emanava alegria, Mac não tinha ideias para como lidar com Mauricio e aquilo significava que ela também não teria.

 

— Obrigado Mac! - Mirian disse abraçando a sua versão criativa e sentindo-se estranha novamente por abraçar a si mesma. - Vamos encontrar uma forma de resolver isso. Uma forma bem criativa! -

 

Mac riu. Normalmente com Maurício precisava ser bem criativa e com a mente bem aberta, era até engraçado pensar que para fazer as pazes com ele precisaria ser criativa.

 

— Sabe como faço para sair daqui? -

 

Mac desfez o abraço e olhou para Mirian sem compreender a pergunta que ela estava fazendo. 

 

— Provavelmente voltou pelo caminho que fez até chegar no ponto pelo qual entrou no subconsciente. - Mac respondeu meio incerta. - Mas, você já vai? -

 

— Sim! Estou tempo demais aqui e já achei a minha parte que faltava. - Mirian respondeu sorridente.

 

— Interessante! Achei que tinha vindo atrás de mim! - A voz parecia ecoar pelo túnel que Mirian usou para subir até ali.

 

Mac arregalou os olhos fazendo Mirian fazer a mesma coisa por impulsos. O coração passou a pulsar forte e sentiu o próprio corpo se agitar. Era como se algo estivesse tomando conta dela aos poucos. Como um sentimento que ia crescendo repentinamente.

 

— Sentimento Pokémon! - Mac disse assustada. - Não toque nela e não a deixe chegar perto das atitudes! -

 

— O que? - Mirian pareceu não compreender e de repente começou a ser empurrada por Mac, de forma apressada para o túnel.

 

Mirian podia perceber que a atitude personificada da criatividade estava muito assustada e empurrava-a com tanta força que sentia que se ela tivesse forças, jogaria Mirian pela rampa do túnel.

 

— Atitudes se ligam a personalidades! Sentimentos são como personalidades, mas são dominadoras! Personalidades pedem ajuda das atitudes! Sentimentos dominam atitudes. - Mac empurrou Mirian e saiu correndo em seguida para se afastar, gritando - Lembre-se, não a deixe tocar em você nem nas atitudes! -

 

Mirian sentiu um empurrão maior e começou a descer a rampa do túnel aos tropeços sem entender o que estava acontecendo, mas então sentiu-se trombar com alguém. Não viu quem era, mas sentiu seu coração pulsar ainda mais forte. O corpo se arrepiou e a mente parecia ter acelerado e imagens de pokémon começaram a aparecer em sua mente, com uma vontade louca de realizar uma batalha pokémon que começou a crescer. Se reequilibrou e encarou a pessoa com quem trombou, tentando se afastar o máximo que pode, imaginando que aquela seria a personificação dos sentimentos pokémon que Mac falava.

 

— Nossa! -

 

Apenas de olhar sabia ser realmente a personificação dos sentimentos pokémon. Encostar nela, por cima das roupas, havia lhe causado um furor, se tocasse na pela imaginava que cederia. Mas, mesmo que não tivesse encostado nela para sentir aquela vontade de batalhar, teria identificado que era o sentimento por pokémon personificado, afinal a visão era perturbadora.

 

Roupas de um couro azulado

 

Justamente as roupas especiais que ganhara para usar em concurso e, sendo com um ar e olhar de quem realmente sabia o que queria. Era assustador que mesmo tendo se olhado diversas vezes o espelho, vídeos e fotos, jamais ficara daquela forma. Mas, uma arte conceitual feita pelo Grupo olimpo, era idêntica a aquela Mirian a sua frente.

 

Talvez eu tenha ficado tão impressionada com a arte conceitual que essa imagem passou a ser meu ideal como coordenadora pokémon.

 

— Vejo medo em seus olhos. - Comentou a jovem com quem Mirian trombara. - Fazer mal a você é fazer a mim. - Ela olhou para o topo do túnel. - A atitude criativa não gostou muito de quando trabalhamos juntas, não a culpo por estar com medo de nos juntarmos novamente. -

 

— Ela disse que você domina as atitudes. Você é realmente os meus sentimentos pelos pokémon? - Mirian questionou tentando se acalmar com o fato de que ela havia dito que não iria machucá-la.

 

— Talvez você não me reconheça por coloca a Atitude Supressora constantemente para me reprimir. Basicamente você sempre tentou não pensar muito em pokémon, nem para o lado de gostar e nem para o lado de odiar. - Ela parou por alguns instantes. - Mas, sim... sou seus sentimentos por pokémon. A Mac me chama de Sentimento Pokemon. -

 

Mirian ficou a encará-la sem saber que tipo de conversa deveria ter com ela. Mac a assustou falando que ela não deveria tocar nela e nem deixar as atitudes tocarem nela, mas tê-la tocado quase a deixou louca com os pensamentos e sensações sobre pokémon e batalhas que invadiram sua mente. Ainda tentava se refazer.

 

— Não vou dificultar as coisas para você. Siga-me. -

 

A Sentimentos Pokémon virou-se e começou a descer a rampa, dando a certeza para Mirian de que iria sair da cúpula. Respirou aliviada de imediato e seguiu-a, sem ter certeza de como aquilo acabaria. Estava ainda tentado acalmar-se pelos sentimentos que lhe invadiram sobre os pokémon e diante a visão desta Mirian Ideal que parecia tão longe dela, que só naquele momento começou a questionar-se sobre que tipo de sentimento era a Sentímento Pokémon.

Acabaram por caminhar para fora da cúpula e alguns metros de distância até metade do caminho entre a cúpula e o centro, sem nada dizer, ou mesmo parecer querer informar algo. Durante todo o tempo Mirian tentou ficar uns cinco a seis passos atrás, sempre olhando-a com atenção sem saber o que viria a seguir.

 

— Aqui já está bom. - Disse a Sentimento Pokémon. - O que deseja saber? -

 

Mirian escutou a pergunta com surpresa. O que ela desejava saber? Sabrina falou sobre uma parte dela perdida e ela identificara que era a presença de Mauricio em sua vida. Mas, assim como Sabrina previa existia uma parte que dominava as habilidades pokémon com maestria e parecia estar em sua frente naquele momento, sendo ela um sentimento.

 

— Vai soar repetitivo, mas...O que é você? - Questionou Mirian. - Por que você me dominou? -

 

— Sou um sentimento, sentimento dominam seus donos. Além disso, sou o sentimento que você reprime constantemente. - Mirian pareceu surpresa com uma explicação que ela já deveria ter percebido. - Sentimentos são emoções humanas que dependendo da força chegam a dominar as ações da pessoa quase completamente, funcionam como uma outra personalidade. Para exemplificar, uma pessoa dominada pelo ódio ou pela paixão tende a fazer coisas que não faria normalmente. Por isso a Mac tem medo de mim, como sou um sentimento que se tornou muito forte, por ter sido reprimido com tanta veemência pela Atitude de Supressão que está descontrolada, eu domino as atitudes para ditar como você vai agir. - Ela parou por alguns instantes. - Entendido o que sou e o que ando fazendo. Como qualquer sentimento reprimido eu estou tentando me libertar e quanto mais você interage com os pokémon em sua jornada, mais a necessidade de você afirmar o que sente por eles vai ficando evidente. -

 

Não parecia um sentimento ruim, mas naquele caso ela tinha ainda que entender o motivo pelo qual o reprimia.

 

— Bem... Você pode escolher lidar comigo logo ou mais tarde. - Disse a sentimento. - Mas, vou dominá-la mais vezes, tenha certeza. Afinal, você vai continuar me alimentando por estar em jornada, mas certamente vai continuar me reprimindo. Então... -

 

Elas se encararam por alguns instantes e Mirian ficou se questionando se realmente era só pelo pai, mãe, irmão e melhor amigo terem se dado mau com os pokémon que ela tentava manter distância deles.

 

— Sabe que só vou conseguir te aceitar quando eu descobrir o motivo pelo qual tento manter distância dos pokémon, né? - Mirian parou pensando no que acabou de dizer. - Perto estou, mas dos meus e se pensarmos bem nem tenho tantos sentimentos por ele... -

 

— Isso não é problema meu, as consequências quem sofre é você! - O sentimento sorriu e virou-se para ir embora, mas parou por alguns instantes e virou-se. - Na próxima apresentação, caso passemos, continue nesta ideia de reconciliação com Audino. Ser rebelde e ousada soa bonito no meio de todo esse brilho e pompa. -


Mirian viu a sentimento se afastar após dizer aquilo, como se estivesse certa de que demoraria para realmente ser aceita. Ficou ali parada pensando no que havia aprendido sobre si mesma. Começou a voltar para o centro pokémon vendo aquele céu estranho e ruas vazias e logo estava de volta a sua cama onde deitou-se e fechou os olhos.

 

 

<><><><>

 

 

Sabrina estava voltando a sentar-se e ao acabar de sentar viu Mirian abrindo os olhos e sentando-se assustada na cama.

 

— Você precisa relaxar. - Comentou Sabrina. - Deite-se e… - Sabrina ficou parada por alguns instantes. - Você já fez a interiorização? -

 

Sabrina levantou-se e ficou encarando Mirian e quase chegou a parecer frustrada por alguns instantes, mas suspirou e soltou um sorriso.

 

— Não consigo escutar mais nada em sua mente, nem mesmo fragmentos ou as frequências diferentes. - Sabrina pareceu curiosa. - Aqui se passaram apenas alguns segundos. Quanto tempo passou na sua mente? -

 

Mirian não disse nada, apenas levantou os ombros indicando que não sabia. Mas, não se sentia diferente. Toda a informação que trouxe não a fazia se sentir diferente, mas de alguma forma sabia que estava pois Sabrina estava sentindo-a diferente.

 

— Eu já vou. -

 

Sabrina caminhou para um canto do quarto para teleportar-se.

 

— Não vai querer saber o que aconteceu lá? - Questionou Mirian surpresa. - Não vai querer saber sobre minha parte que faltava? -

 

— Você a encontrou? - Questionou Sabrina.

 

— Sim. -

 

— Sabe o que fazer para conseguir se sentir completa? -

 

— Basicamente. -

 

— Então para mim já está bom. - Disse Sabrina. - Veja bem… Tenho esses poderes e habilidades. Posso usar para mim, ou para os outros. Eu escolho para os outros. -

 

Mirian escutou aquilo e em seguida a viu desaparecer. Ficou sentada sozinha por alguns instantes, até que escutou a batida na porta. Respirou fundo, precisava encarar o mundo que a esperava lá fora, mesmo que ainda estivesse incompleta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam?