Mente de Coordenadora Pokémon escrita por Kevin


Capítulo 14
Elo


Notas iniciais do capítulo

O que une os seres vivos? Por que será que somos tão diferentes e ainda assim nos aproximamos tanto?

—--

Postagem mais cedo para não correr o risco de amanhã não conseguir.



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<><><><> Início da jornada de Mirian <><><><>

 

— Já era para ela estar melhor, está na mesma posição a uma hora! E olha que já a examinei e limpei de cima em baixo. - Mirian pode escutar o comentário seguido de uma risada. - Soubesse tinha aproveitado! -

 

Mirian encarou o dono da voz, pela primeira vez, durante alguns instantes e acabou arrepiando-se. Ele havia examinado-a e limpado? Como não percebera? Não havia como não o notar tocando. Era um rapaz alto e de feições grossas e cabelo preto todo espetado. Usava calça e jaqueta de couro preto, assim como suas botas, camisa vermelha e algo estranho estava pendurado em seu pescoço. Seus olhos azuis acinzentados eram quase brancos, altamente assustadores!

Nunca havia visto olhos com aquela tonalidade e muito menos um olhar como aquele. Era um olhar louco. Talvez eu estivesse apenas muito assustada, mas a feição dele era de quem estava deliciando-se com a cena que via, e Mirian era a cena.

 

— O... O que aconteceu? -

 

— Você não se lembra? -

 

Ouviu novamente a voz angelical e sentou tentando localizá-la. Piscou um pouco, pensando que a visão a traia, estava tendo a visão de um anjo. Loira, olhos tão azuis quanto o céu em dia ensolarado sem nuvens, um vestido branco que se prendia pelo pescoço e delineava bem os seios, um pequeno cinto preto onde via pokebolas penduradas e que indicava que possuía uma cintura fina, uma calça preta de um tecido que não podia identificar e uma sandália de couro preto. Ela nunca não imaginou que uma treinadora poderia ser tão elegante, bonita e bem vestida no meio de uma floresta.

 

— Acho que desmaiei! Não lembro de nada além de vozes e chamas. -

 

— Sou Angel e ele é Aries. - A jovem fez uma pausa. - Como é o seu nome? -

 

— O nome é Idiota! -

 

Aries falou aquilo com um sorrisinho sacana. Mas, ele não estava chamando Mirian de idiota atoa e ela bem sabia. Enquanto deitada, estava em posição fetal, e mesmo depois que sentou, permaneceu na posição.

— Sou Mirian Miller. Obrigada por me salvarem! -

 

Angel foi até Mirian estendendo um cantil.

 

— Vou explicar algo e no final farei uma pergunta. Conforme sua resposta, até pedirei desculpas por chamá-la de idiota! -

 

Mirian Aceiteu o cantil por impulso. Estava morrendo de sede e ainda confusa com tudo aquilo. Tentou observar Aries, mas o olhar dele parecia faiscar, como se o que ele fosse falar fosse mais louco do que ele aparentava ser. O corpo de Mirian estremeceu e por isso virou o cantil sem pensar duas vezes, para não ter que falar nada a ele.

 

— Existem dois tipo de pokémon: com parceiros humanos e os sem parceiros. Os sem parceiros podemos classificá-los em dois tipos, também: aqueles que aceitam aproximação de outras espécies o que chamaremos de sociáveis e os não sociáveis, aqueles que por instinto atacam quem se aproxima deles, especialmente se invadem seu território ou no nosso caso, ninhos. - Ele deu um sorriso debochado. - Na escola ensinam que não se pode entrar na mata ou zona de vegetação, mesmo que seja um pequeno gramado do parque de sua cidadezinha, sem um pokémon para proteção por causa dos não sociáveis. - Ele estava de pé e parou diante de Mirian com aquele sorriso louco. - Então, se Mirian entra numa floresta, a noite, sozinha e sem nenhum pokémon para protegê-la, ela é o que? -

 

Parada sem dizer nada enquanto ele a olhava ansioso por uma resposta, Mirian percebeu que talvez todos os outros estivessem equivocados, mas Aries não. Qualquer pessoa sabe que não se pode entrar na floresta sem um pokémon ou não terá como se defender.

 

— Sou uma idiota! - Mirian respondeu a meia voz sentindo que aquilo não seria nenhuma novidade.

 

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Meu nome é Mirian Miller e me tornei uma Coordenadora Pokémon para conquistar uma taça em homenagem a minha. No entanto, fui tão mal em minha jornada que acabei presa acusada de ser caçadora ilegal e falsificadora. Depois de sair da prisão, retomei minha jornada para descobrir as pessoas que armaram para que eu fosse presa.

O problema é que tudo de ruim que vivi na prisão outras detentas viveram e uma agora está em Saffron tentando se vingar. Ela já matou um monte de gente e agora segue para explodir bombas por toda a cidade.

Por que uma coordenadora vive esse tipo de coisa?

 

 

Mente de Coordenadora Pokémon
Episódio 13: Elo

 

Beta estava sentada no chão com as costas encostadas numa parede. O cronometro marcava vinte minutos e ela já havia desistido de argumentar com Drun ou de procurar uma forma de sair.

 

— Pode ser apenas uma pegadinha. -

 

A voz de Drun ecoou, mas não incomodou Beta. Se aquilo fosse uma pegadinha era a de muito mal gosto. Se fosse um programa de televisão, ela ganharia milhões processando a emissora. Estava a menos de vinte minutos da morte e não tinha ideia de como resolver se livrar daquele destino.

Sentiu lágrimas encherem seus olhos e soube havia se entregado ao desespero. Era algo que a muito não fazia, desde que decidira assumir-se como Beta, não havia chegado a um ponto de desespero tão grande que a vontade de chorar a dominasse.

Lembrava com perfeição o dia em que participando de um grande festival acabou sendo beijado por um garoto que ele tinha certeza ser garota. Como seu pai inoportunamente viu a cena e o surrou com toda a vontade. Lembrava-se do dia que resolveu sair de casa ao perceber que não parava de pensar naquele beijo que lhe roubaram.

A coordenação desde então começou a se tornar perigosa. O que amava fazer tornou-se problemática. Não era mais sobre arte e ser bom no que fazia, por ser homossexual sua legião de fãs eram compostas de pessoas querendo seu sucesso para dizer que um gay estava tendo sucesso. Não era o tipo de atenção que ele queria ou gostava, por mais que fosse reconfortante estar no meio de pessoas que não o julgavam por seus gostos.

Se ele gostava de uma roupa mais delicada e cuidar-se bem? Quem tinha algo a dizer sobre aquilo não o deveria. Mas diziam. Enquanto coordenador ele estava se tornando um dos garotos propagandas do movimento LGBT. Se não chorou de forma desesperada na surra ou na decisão de fugir de casa, deixar a coordenação de lado definitivamente foi o momento em que suas lágrimas deixarem seu corpo junto a soluços e falas desconexas.

Talvez para quem estivesse de fora fosse o misto de deixar sua carreira tão amada, de sentir que na verdade estava sendo usado pelos seus iguais e de assumir para o mundo algo que nem ele ainda entendia o que era. Mas, toda a angustia e desespero do que estava por vir da decisão de enterrar Max e passar a ser Beta, resumia-se apenas em nem mesmo os que diziam ser seus iguais deixarem ele ser ele mesmo.

O seu primeiro beijo com uma pessoa do mesmo sexo não foi escolha sua e por mais que o tenha despertado para sua verdadeira orientação e que a pessoa tivesse muito sentimentos por ele, a pessoa simplesmente não deixou ele descobrir as coisas por ele mesmo. Seu pai e família não o entenderam e queriam que ele fosse outra pessoa. A comunidade que dizia entendê-lo e acolhia-o como família no final queria que ele lutasse e se portasse de forma mais chamativa e não era o que ele queria.

Max era enterrado para que uma pessoa que fizesse o que quisesse que não pudesse ser controlado surgisse. Era a decisão de ser o que desejava, do jeito que desejava fazendo o que desejava. Talvez um processo complexo e lento no qual Max se quer sabia que estava fazendo, mas o resultado era a Beta que todos conheciam.

Sua orientação sexual estava definida, ele queria se relacionar amorosamente com homens e não faria algo diferente a não ser que sentisse vontade e pelos anos nunca sentira. Se aquilo era ser homossexual, ele não ligava.

Socialmente sua opção era vestir-se como homem. Uma roupa social de homem, com todas as cores e toques femininos. Era pensar e portar-se como mulher que o fazia sentir-se bem, mas sem querer usar as roupas que não favoreceriam seu corpo. Qualquer tentativa dos mais fervorosos da comunidade a incentivarem a travestir-se era dispensável e ignorada.

Ser Beta era se descobrir bem consigo mesma e isso passou a ser sua missão pessoal. Estar bem consigo mesma e fazer os outros ficarem bem consigo mesma. Talvez o pior traço de sua personalidade, já que fazia defender todos os seus ideias e o dos outros com unhas e dentes. Não era como se estivesse defendo a comunidade ou sentindo-se ofendida, mas a cada rotulação que sofria de gay ou o que fosse, era uma ofensa a seu estilo de vida e seus ideais.

 

— Você está chorando? -

 

Beta escutou a voz de Drun e olhou-o assustada. Não imaginou que daquela posição ele poderia vê-la.

 

— Claro que estou chorando! Eu não estou interessada em morrer e muito menos ver você morrer e Hina. - Beta disse em meio as lágrimas. - Eu posso merecer isso aqui, mas a Hina não fez nada para merecer isso. É só uma garotinha! -

 

— Pessoalmente não acho que uma menina que viaja em jornadas pokémon possam ser vistas como garotinhas. - Drun pareceu suspirar. - Mas, o que quer dizer com merecer isso? -

 

— Eu posso ter irritado alguém. - Beta levantou-se. - Tenho ideias muito fortes e costumo defender isso de uma forma meio... -

 

Beta parou de falar percebendo que Drun ficara pensativo. No mesmo momento ela percebeu, os dois achavam que tinham irritado alguém, os dois de alguma forma defendiam seus ideais com unhas e dentes. Não eram tão diferentes um do outro quanto pareciam, até mesmo em comportamento.

 

— Tira esse lençol de cima de mim e abaixe minhas calças. - Drun disse deixando beta assustada. - Tem algo de metal e frio preso por dentro das minhas calças. Não lembro de nada assim nos meus bolsos, talvez seja uma das chaves. -

 

Beta ficou olhando para Drun durantes alguns segundos.

 

— É sério? Podia ter falado isso quando o contador estava nos trinta minutos! – Gritou Beta.

 

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Trinta pessoas corriam de um lado para o outro no ginásio. No geral, cinquenta pessoas trabalhavam ou estudavam ali por dia, mas nunca todos juntos. Aglomerações nunca foram do agrado de Sabrina, mas com ela apagada não havia muitas alternativas para Allan manter todos seguros e descobrir se havia uma bomba no ginásio.

Sabrina era uma paranormal poderosa. Com poderes psíquicos elevados podia fazer telecinesia, telepatia, teleporte e alguns outros que se assemelhavam aos três. Nenhum de seus alunos era tão poderoso ou mesmo possuía uma das três habilidades de forma avançada. Por azar, o melhor aluno de Sabrina era justamente quem de psíquico nada tinha.

Allan era dito como um garoto gênio. Conseguia analisar as coisas em sua volta, definir diversos cenários e ao final ainda tomar a decisão baseado no que melhor favorecia a vida humana e não as necessidades pessoais ou dos objetivos propostos por alguém. No geral, gênios tinham o problema de socialização junto a mais algum traço de personalidade perturbador.

Nenhuma pessoa era recebida no instituto de Sabrina sem que apresentasse algum traço de paranormalidade ou misticidade. Mas, a líder do ginásio achou interessante que Allan fizesse quase tudo que seus alunos faziam com poderes tendo apenas genialidade. O normal seria não recebê-lo, mas as vezes gênios só precisam de oportunidades para não usarem suas habilidades contra as outras pessoas. Ninguém era recebido ali para aumentar suas habilidades, mas sim para aprender a usá-las com responsabilidade.

Allan havia aprendido desde cedo a ser um gênio oculto, parecendo mais responsável e certinho do que gênio. Misturado entre pessoas um pouco desajustadas com tendência a adivinharem as coisas o jovem era querido e conseguia até inspirar confiança para que as pessoas se sentissem bem.

Havia para Allan todo um respeito e admiração dele para com Sabrina, por isso a chamava de Senhorita Sabrina. A oportunidade que ela havia lhe dado era retribuída com a devoção e que foi reconhecida com sua posição de aprendiz e assistente pessoal.

 

— Ótimo trabalho galera! -

 

Allan estava a frente das quase trinta pessoas, excetuando os seguranças que haviam aumentado o perímetro de proteção do ginásio. O grupo havia acabado de confirmar que não havia bomba ou outro tipo de ameaça no local.

 

— A enfermeira Joy informou que os centros pokémon também estão limpos e que a análise do que ocorreu com a Sabrina já tem resultado. - Allan escutou uns murmurinhos. - O que achávamos ser veneno na verdade era uma droga. A droga aos poucos vai sair da corrente sanguínea dela como qualquer outra. A droga, que não sabemos como ela ingeriu, ainda está em análise quanto aos efeitos. Mas, a julgar que a maioria das drogas deixam a pessoa num pequeno barato, a explicação dela estar desacordada e o cansaço é que a alucinação deve tê-la desgastado. -

 

Ninguém falou nada, pois já sabiam que se Sabrina ficou alucinada a ponto de ter ficado cansada e apagar, ela devia ter usado seus poderes durante a alucinação e provavelmente não tinha nada bom.

 

— Como sabem a polícia está tentando identificar mais de vinte bombas na cidade, com pessoas presas junto a elas. Temos que encarar que Sabrina é uma suspeita, então temos vinte minutos para evitar que essas bombas explodam. Dividam-se em equipes e usem tudo que aprenderam de seus poderes psíquicos para achar essas bombas. -

 

Se Sabrina desapareceu e estava drogada, tudo o que parecia inexplicável parecia levar a ela. Ninguém no ginásio deixaria ela ser acusada daquilo e Allan garantiria aquilo.

 

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— Isso é sério? Vou ser tratado como criminoso? –

 

Blue estava algemado em uma cadeira na casa que havia se tornado base de operações da polícia para descobrir onde estavam as bombas. Depois que Blue ajudou a polícia a chegar ao local e disse o que sabia tentou partir para tentar encontrar sua irmã.

Liberaria todos os seus pokémon que poderiam farejar e deixar que eles procurassem. Era uma corrida contra o tempo antes que a bomba explodisse e levasse a vida de sua irmã. Eram os melhores amigos um do outro, tanto que viajavam juntos pela primeira jornada pokémon dela.

Como todos os irmãos desavenças existiam. Por parte de Blue, Hina achar que as demais pessoas podiam ensiná-la melhor sobre os pokémon que ele. Mas, era a forma da irmã tentar fazer amigas. Por parte de Hina, Blue parecia sempre tentar ficar com todas as amigas dela. Mas, ele fazia isso até com as inimigas.

No final, eram coisas que superavam para se protegerem. Havia um elo entre os dois, mesmo que fosse só da irmandade. Então, não Blue arriscaria a própria vida por ela.

 

— Não é criminoso. - A oficial Jane parou alguns instantes as diversas ordens que estava distribuindo para dar atenção a Blue. - Suas informações estão nos ajudando e apesar de precisarmos colher seu depoimento oficial e averiguar que realmente não tem nada com isso, acreditamos em você. -

 

— Então me solte e deixem-me ajudar nas buscas! - Berrou Blue.

 

— Se eu fizer isso você vai direto para uma das bombas e serei responsável por sua morte. Por sinal, sua mãe não gostaria de ter dois filhos mortos por incompetência da polícia. - Comentou a policial. - Confie no esquadrão antibombas. Já achamos dois locais com bombas. -

 

Blue ficou calado. Sacudiu duas vezes na cadeira tentando se soltar, a verdade era que teria que assistir sua irmã ser salvar ou morrer.

 

<><><><>

 

A corrida pela cidade não era tão fácil quanto Mirian achou que seria. A cidade continuava com as ruas desertas, com pessoas se escondendo temerosas pelos diversos atentados que ocorreram durante a madrugada daquele dia, sem saber que o pior ainda estava por vir. Mas, isso facilitava sua investida pelas ruas em direção ao quarteirão atrás do Hannay, o que tornava o percurso tão difícil era seu cansaço muscular da corrida anterior, onde as pernas já não respondiam mesmo no tom de urgência que as coisas iam tomando.

Possuía menos de vinte minutos para conseguir cruzar quase metade da cidade e salvar seus amigos. Tudo era feito ao toque das diversas sirenes que tocavam insistentemente pela cidade, mas ela não encontrava nenhum policial ou similar para pedir ajuda e avisar das bombas e em que lugar seus amigos estavam. Era apenas ela correndo, ela e mais ninguém.

Caiu, tropeçando em algo que não quis verificar pois duvidava não ter sido nela mesma. Estava exausta e mesmo não podendo desistir, começava a perceber que não aguentaria continuar correndo daquela forma, ainda mais que qualquer lugar do trajeto poderia ser outro ponto de bomba.

 

Eu preciso levantar. Beta, Hina e até mesmo Drun já fizeram muitas coisas por mim. Tenho que ao menos tentar retribuir essa amizade deles... Eu tenho que ao menos... Esforçou-se para conseguir reagir e nisso viu a pokebola que Aries lhe deu cair e rolar um pouco para a frente.

Se sentiria mais segura e confiante ao lado de um pokémon e só poderia ser Farfetch’d, afinal era o único pokémon que Aries poderia lhe dar para ajudar. Certamente uma ave conseguiria guia-la, ser mais rápida na desobstrução e a determinação que o pokémon pato possuía realmente era inspiradora, não deixaria Mirian desistir no meio do caminho, ou deixar que algo acontecesse com ela.

Esticou a mão e pegou a pokebola e sentiu uma onda de energia invadir seu corpo. Era confiança aumentando só de pensar em Farfetch’d. De pé fez o movimento de liberar o pokémon. O raio branco começou a iluminar o local com a materialização do pokémon.

 

— O que? -

 

Mirian caiu para trás junto ao rosnar que escutava vindo do pokémon materializado. Era para ser uma ave, sua ave. Mas, na sua frente estava um grande cão negro com ossos ornando seu corpo e olhos que transmitiam todo um terror que amedrontaria até o mais corajoso dos guerreiros, que dirá a assustada Mirian.

 

<><><><><>

 

Audino em sua nova forma tinha suas mãos brilhando e lançou um forte raio luminoso contra Houndoom que também surpreso foi acertado e jogado contra uma árvore. A árvore chegou a rachar e lascas voaram para todos os lados, um ganido pude escutar, um ganido de dor e confusão.

 

— Audino! -

 

Gritei alarmada. No dia anterior Houndoom havia lutado e mesmo apanhando muito ele não havia emitido muitos gemidos como aquele. De certo, o golpe de Audino não fora tão forte, mas o cansaço do dia anterior mais os ferimentos não curados da batalha contra Staryu deixaram-no com poucas condições de luta, presa fácil até mesmo para um pokémon com pouca experiência como a minha inicial.

 

— Houndoom! -

 

Aries gritou, mais como uma ordem preocupada que eu pouco pude entender, até perceber que o cão de fogo levantava com os olhos em chamas e mirando-me. Ele não mirava Audino, ele me mirava. Por algum motivo ele não entendia que Audino havia atacado sozinha para me defender e sim acreditava que eu havia comandado. Estávamos numa batalha e por mais que o golpe tenha sido feito pelo pokémon para qualquer ser vivo o treinador era responsável por aquilo. O cão negro de fogo avançou, mesmo seu treinador tentando impedir. Tudo ficou escuro em questão de segundos. Eu havia sido atacada pelo pokémon que a havia me protegido tantas vezes.

 

<><><><><>

 

As lembranças daquele dia estavam gravadas ainda em sua memória como se tivessem sido feitas com ferro em brasa. Ela tentou ir para trás, mas o pokémon a encarava com tanta atenção e hostilidade que tinha certeza que o menor movimento desencadearia um ataque mortal.

O primeiro encontro com aquele pokémon também havia sido traumático. Ele a caçou por metade de uma floresta, como se ela fosse alguma espécie de lanche, mas ao final acabou salvando-a de um ataque de Ekans. Sim, a maioria das vezes aquele pokémon assustador se mostrava raivoso e nada inclinado demonstrar algum tipo de afeição por ela, mas sempre a protegia no final. Infelizmente o último encontro havia sido problemático a ponto dele achar que ela o estava atacando, mesmo que não fosse aquele o caso.

 

— Eu sinto muit... -

 

Mirian começou a falar, mas foi interrompida por um latido alto e forte. Era quase como se o pokémon mandasse ela calar a boca e realmente, pareceu. Pois ela viu que ele voltou sua atenção para algo que estava um tanto quanto distante deles.

Houndoom olhava de um lado para o outro procurando entender o que estava acontecendo ao seu redor. Certamente ele não estava a simplesmente estranhar que era Mirian que estava próximo a ele e não seu treinador Aries, mas sim as diversas sirenes que tocavam e uma rua completamente deserta próximo ao meio dia.

 

— A cidade está cheia de bombas. -

 

A fala de Mirian parece ter ganho a atenção do pokémon que voltou a olhá-la. Seu olhar era tão sério e intenso que Mirian sentiu um arrepio percorrer o seu corpo.

 

Você é muito esperta, Mirian! Como dizer a um pokémon que tem bombas por toda a cidade e você o tirou da pokebola para irem direto para uma? Ele sequer deve entender o que é uma bomba. As vezes esqueço que não sou o tipo de pessoa que consegue se comunicar facilmente com os pokémon... No mínimo, se ele me entendesse, ele deveria estar questionando o quão idiota eu sou de fazer isso comigo e com ...

 

— Ei! -

 

Os pensamentos de Mirian foram cortados pelo pokémon que avançou contra ela. Escancarou a boca e abocanhou o cós de sua calça jogando a para cima e a deixando cair sobre seu corso e saiu correndo, carregando-a, pela cidade, em direção a saída da cidade.

 

— Pare! Pare! -

 

Mirian gritava, mas era claro que o pokémon não escutaria ela. Já haviam passado por aquela situação antes e se Aries havia lhe mandado junto de Mirian era para mantê-la segura e nada a manteria segura naquela cidade cheia de sirenes tocando e ruas vazias.

O pokémon poderia não entender exatamente o que era uma bomba, mas era universal que sons repetidos de forma estridente em áreas completamente vazias de vida significavam que algo estava errado por ali.

 

— Temos que salvar Hina! - Mirian saltou do pokémon caindo no chão e rolando. - Temos que salvar Hina, Drun e Beta! –

 

Ela disse já no chão após o pokémon parar a corrida e virar-se para ela.

 

Os olhares se cruzaram por alguns instantes. Não tinha ideia do que estava acontecendo, mas tinha certeza Mirian já estaria a fugir de qualquer perigosa e aquela era uma situação muito perigosa. Para ela querer ficar, ou ela estava louca ou algo era mais urgente do que salvar a própria vida, ao menos na concepção dela.

O cão de fogo noturno rosnou umas cinco vezes como quem tentava dizer algo e virou o rosto de uma forma irritada caminhando em direção a ela. Abaixou-se abocanhando-a novamente, agora de uma forma mais leve e delicada e a jogou em seu dorso, desta vez com ela montada.

 

— Vai me ajudar? –

 

Mirian questionou e acabou sendo esnobada pelo pokémon que simplesmente girou a cabeça como se não fosse dar muita atenção para a falação dela.

 

— Naquela direção, o mais rápido que puder! -

 

Mirian ao dizer isso não viu, mas o pokémon deu um sorriso completamente malicioso antes de inclinar as patas dianteiras e partir correndo pela rua, enquanto deixava um rastro luminoso por onde passava. Ele não estava apenas correndo, estava usando o Ataque rápido para se locomover e fazer Mirian gritar devido a velocidade.

 

<><><><>

 

— Isso é sério? -

 

A mata dos limites de Saffron eram tranquilas a maior parte do ano. Mesmo com muitos treinadores frequentando a cidade, poucos eram os que iam até aquelas matas, ou início da floresta procurar por pokémon selvagens já que não existia pokémon selvagens que ficassem próximos a cidade devido a iluminação e barulho, principalmente durante o festival. Naquele momento ela estava bem agitada, havia sido palco do fim de uma perseguição de uma discussão muito acalorada e agora era palco de uma batalha. No entanto, a batalha parecia ser interrompida pela desistência inusitada de Aries que recolhera seu pokémon deixando Dove no comando de Ponyta sem nada para defende-lo.

 

— Não está achando que agora vai poder sair correndo atrás de Mirian, né? -

 

Aries parecia ter perdido o interesse na batalha. Havia colocado Cubone para combater o Ponyta, mas o que ocorreu foi uma facilidade de defesa dos movimentos feitos pelo pokémon de fogo que Aries não sentia aquilo como um desafio. Admitia que os movimentos eram inteligentes e completamente eficientes, deveriam ser capazes de rivalizar por horas numa partida oficial, mas ainda assim não parecia haver nenhuma sintonia entre pokémon e treinadora. Voltou seu pokémon um tanto quanto desanimado.

 

— Sou do tipo louco! - Disse Aries com um sorriso sinistro na fac. - Mas, não idiota. Você me parece ser algum tipo de gênio que arquitetou e planejou tudo isso sozinha. Mas, eu diria que não conseguiu planejar tudo. Por exemplo, você pegou esse pokémon de alguém, provavelmente induzindo a pessoa a dizer a Ponyta que era um empréstimo e deveria te obedecer. Mas, nunca imaginou que teria realmente que usá-lo em batalha, acredito que era apenas para uma fuga rápida. -

 

Os olhos azuis por um instante demonstraram estranheza enquanto os olhos quase brancos de Aires faiscaram algo estranho. Um estranho olhar que Dove escutara Mirian falar algumas vezes na prisão e não compreendia.

— Ponyta, eu sei que esta não é sua treinadora. Deixa eu te perguntar, por acaso seu treinador ou treinadora costuma atacar as pessoas do nada e aceitaria que você fizesse isso? - Comentou rapidamente. – Meio que foi isso que você fez a Mirian, aquela garota que saiu correndo daqui, alguns minutos atrás, e provavelmente será o mesmo que ela mandará você fazer se eu tentar ir para a cidade. -

 

Dove cerrou os punhos irritada e viu Ponyta virar-se para ela parecendo estar em dúvida. Era a verdade, Dove nunca fora treinadora ou entendera de pokémon, manteve-se na batalha sabendo comandar desviar e usar os golpes que conhecia em posições e de formas que fossem perigosas e obrigassem seu adversário a recuar ou ficar atento, mas nada representaria real perigo.

Ponyta pareceu entender o que Aries estava dizendo e simplesmente voltou para sua pokebola, sem que nada fosse dito. Arregalou os olhos diante daquela situação.

 

— Não sabia que pokémons poderiam fazer isso, né? É algo que não ocorre com frequência, mas... - Aries parou de falar de repente. Dove olhava-o com certa curiosidade sem parecer estar abalada com o ocorrido e tendo se refeito muito rapidamente.

 

— Você sabe que Mirian não tem capacidade de fazer o que ela se propôs. - Disse Dove. - Ela vai morrer por sua culpa! -

 

Aries começou a rir deixando Dove novamente surpresa. Ele levantou um dedo pedindo alguns instantes enquanto levava a mão na barriga, tentado conter a histeria que estava começando a acontecer.

 

— Você a conhece? - Aquela pergunta saiu em um tom de deboche como se o louco não fosse Aries e sim Dove! O moreno aproveitou os segundos para se acalmar e voltou a falar. - Aquela menina é imortal. -

 

— Imortal? - Questionou Dove. - Imortais sangram? Pois a vi sangrar bastante. -

 

— Ela sangra, ela se machuca, Ela chora e sente dor. Mas ela não morre. - Disse Aries. - Ela foi atacada por spinaraks, Ariados, Beedrils, Ekans e Tauros. Uma tempestade caiu sobre ela e tudo isso sem nenhum pokémon para protege-la em vinte e quatro horas. Se machucou, sangrou e ficou marcada por toda a vida e ela não morreu. - Aries deu um passo à frente. - Eu a chamo de idiota porque é a explicação mais simples para alguém ser tão azarada e incapaz a de aprender o básico para não correr riscos. Mas, a melhor resposta é que Mirian tem a habilidade de sobreviver a qualquer situação se estiver focada nisso. -

 

— Ela sempre precisa ser salva! - Disse Dove. - Ela não tem essa habilidade. -

 

— Bem... Não acha estranho que ela sempre encontra alguém para ajudá-la? Não acha estranho que desconhecidos completos se apiedam dela no momento de sua fraqueza e resolvem salvá-la? -

 

Dove piscou aturdida diante daquela fala. Mirian era uma sobrevivente, todos poderiam taxa-la de azarada, mas na verdade tinham que admitir que ela era sortuda por sempre conseguir ajuda no minuto final. Todos poderiam dizer que Mirian era mole e tinha que aprender a não depender das outras pessoas, mas era curioso que sempre resistia até o momento que alguém aparecia para ajudá-la, até mesmo na prisão.

 

— Ela certamente não vai salvar aquelas pessoas, certamente vai conseguir estar no meio da explosão, mas vai ser idiota o suficiente para resistir a qualquer ferimento que leve e permanecer viva, pois esse é o tipo de pessoa que Mirian é. O tipo de pessoa que não se entrega, que se agarra ao último fio de esperança e opera milagres que nós sequer entendemos e isso tudo do jeito dela, sem necessidade de parecer guerreira. –

 

Aries mal acabou de falar e explosões começaram. Ele se virou por instinto para a direção da cidade e via o fogo e a fumaça começar a surgir, quando virou-se para Dove, ela já não estava mais lá.


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Notas finais do capítulo

Hehehe... Acho que já sabiam que eu terminaria um episódio em bum! hehehe
O que acharam?
Será que Mirian conseguiu?