Mente de Coordenadora Pokémon escrita por Kevin


Capítulo 13
Passado que condena


Notas iniciais do capítulo

A maioria de nossos problemas são cultivados no passado. Infelizmente, alguns problemas tem o potencial de serem perigosos, especialmente quando não temos ideia do que fizemos anteriormente.



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— O bixa… Acorda! -

 

O tom de irritação era grande. A voz esbravejava como se a vida dependesse disso e talvez, nem tivesse ideia do quanto aquilo era real. Ele apenas via se preso a uma cama, com um homem deitado junto a ele, desnudo e uma espécie estranha de quarto que ele definitivamente não conhecia. Tinha certeza que escutava um barulho de relógio irritante.

 

— Vou ter que gritar quantas vezes para você acordar e sair de perto de mim, sua coisinha esquisita! -

 

Um berro mais forte fez o homem saltar assustado. Olhando em volta levou a mão a cabeça sentindo a cabeça um pouco zonza.

 

— Bebi demais. - A voz um tanto afeminada saiu quase que num resmungo. - Não deveria ter bebido tanto, ou isso nunca foi um problema. -

 

— Pare de falar besteiras, bichona e desencosta de mim e me solta para que eu possa te dar uma surra! -

 

— Não gosto desse tipo de amor, Rovan! -

 

A resposta foi feita com um encarar de olhos e a expressão de susto do homem de voz afeminada foi grande.

 

— Drun? -

 

— É claro que sou eu, Beta idiota! -

 

Confuso e completamente perdido. Não era exatamente como Beta esperava acordar. Havia saído para uma noite de farra com Rovan, um milionário que havia simpatizado com ele só para se aproximar de Mirian, mas que nada tinha funcionado a noite anterior. Não se lembrava de ter ido para a cama com ele, mas não seria tão estranho acordar com ele. Mas, acordar na cama com Drun.

Saiu da cama sentindo-se mais tonto que o habitual. Olhou em volta e arregalou os olhos ao perceber as coisas em volta. O local não era muito grande e poucas coisas estavam ali para chamar a atenção. Definitivamente havia muita coisa para chamar a atenção.

Não havia apenas um Drun irritado preso a cama. Havia uma caixa transparente lacrada com várias chaves dentro, Hina desacordada dentro de uma caixa de vidro e um esquisito contador.

 

— Se vai demorar para achar as chaves dessas porcarias de algemas, ao menos desligue essa porcaria de relógio. - Gritou Drun. - É um tictac irritante demais. -

 

— Então… Quais as chances deste quarto ser seu e você ter um relógio com contador regressivo com espécies de bananas de dinamites presa a ele? - Beta falou olhando para Drun que fez uma expressão de quem não havia entendido a fala. - Temos uma porcaria de uma bomba no quarto! -

 

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Meu nome é Mirian Miller e me tornei uma Coordenadora Pokémon para conquistar uma taça em homenagem a minha. No entanto, fui tão mal em minha jornada que acabei presa acusada de ser caçadora ilegal e falsificadora. Depois de sair da prisão, retomei minha jornada para descobrir as pessoas que armaram para que eu fosse presa.

O problema é que em Saffron estou sendo atormentada por lembranças da prisão enquanto corremos contra o tempo para encontrar pessoas desaparecidas e impedir que mais gente morra.

Isso é ser coordenadora?

 

 

Mente de Coordenadora Pokémon
Episódio 13: Passado que condena

 

 

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— Já achou uma forma de libertar daqui? -

 

Drun estava irritado com a lentidão de Beta para conseguir soltá-lo. Preso a cama por duas correntes e um cadeado, o musculoso mestre de artes marciais praguejava a cada segundo passado sem que ele fosse liberto ou que beta, ao menos, lhe desse algum parecer da situação. No entanto, a nutricionista já tinha uma imagem clara do quadro a muito tempo.

Estavam presos numa saleta onde Drun estava aprisionado na cama, Hina estava desacordada numa caixa de vidro, uma caixa menor continha diversas chaves e em outra caixa algo que estavam encarando como uma bomba. Tirando isso havia apenas uma câmera que Beta já havia identificado e feito alguns gestos, mas percebeu que tratava-se justamente de algo para monitorar como eles sairiam dali.

Fosse qual fosse o jogo que enfiaram os três, tudo começava por achar a chave que iria abrir a caixa de vidro de chaves.

 

— Quebra essa merda de caixa de vidro! -

 

Drun após gritar uma ordem par Beta viu o rapaz que se assumia moça sentar na beirada da cama com um sorrisinho debochado, levando consigo a caixa e ali ficou por alguns instantes.

 

— Sua cabeça parece dura o suficiente para que eu bata com ela na sua cabeça para ver se despedaça. - Disse Beta.

 

— Tenta a sorte, boneca! - Disse Drun desafiando-a a ataca-lo.

 

Beta revirou os olhos e tacou com toda a força a caixa no chão, mas além do barulho, nada mais aconteceu. Beta pegou a caixa e mostrou para Drun que o objeto ainda estava inteiro e sequer parecia ter sido arranhado.

 

— Você é fraca demais para quebrar Vi... -

 

Um tapa dado no rosto dele, rápido e com força, fez Drun parar de falar. Ele fechou os olhos respirando fundo e pareceu analisar o estrago em seu rosto.

 

— Vamos... Eu sei que quer dizer algo do tipo: Isso é o seu melhor? - Beta sorriu maliciosamente. - Ou talvez algo como: Bate como mulherzinha. -

 

— A eficiência de um tapa em relação a um soco é a ardência que deixa no local. - Drun resmungou.

 

Beta piscou algumas vezes tentando entender se aquilo era uma forma de admitir que seu golpe havia causado dor ou não. Drun não parecia querer continuar o papo e o cronometro estava marcando trinta e cinco minutos, o que significava grandes problemas.

 

— Isso foi um elogio. - Comentou Drun por fim. - Confesso que para um homem você tem menos força que deveria. Imagino que acreditar ser mulher influencia até mesmo na forma como bate... Então não tem uma merda de grampo ou algo assim? -

 

— Você consegue insultar as pessoas até quando está tentando elogiar. - Beta balançou a cabeça desaprovando a atitude. - Fique sabendo que decidi ser mulher quando ainda era adolescente, então não fiquei a desenvolver muitos músculos ou fiz atividades que iriam por minha força a prova. - Beta ponderou. – Não que isso fosse fazer diferença nessa situação, mesmo você não conseguiria quebrar essa ou as outras caixas com sua força. –

 

— Eu quebraria a cama para te libertar e usaria os pedaços para forçar ao menos a porta. - Comentou Drun. - Mas, me desculpe por querer que você haja como eu. Vou ficar quieto para ter ideia de como nos tirar dessa. –

 

Beta voltou a piscar surpresa com a fala de Drun. De fato o rapaz truculento sabia ser educado e por mais que visivelmente não quisesse deixar tudo nas mãos de outra pessoa, não havia alternativa. Além disso, parecia haver medo no rosto dele.

 

— Tem ideia como ou o porquê veio parar aqui? -

 

Beta levantou-se abaixando-se e olhando de baixo da cama, a procura de uma chave ou qualquer outra coisa que pudesse ser útil. Mas, não parecia haver nada além de sujeira e um estrado de aço.

 

— Sinceramente posso ter irritado muita gente. -

 

Drun respondeu para a surpresa de Beta que não imaginava que ele iria realmente responder. Durante todo aquele tempo tinha tentado dialogar com ele, mas tirando xingamentos e reclamações da demora, não havia uma resposta descente.

 

— Eu tenho essa coisa de querer ajudar todo mundo, ao menos tentar ajudar. A não ser que ameace meu ganha pão, dificilmente vou negar ajuda a alguém. - Drun pareceu dar uma risada. - No geral a ajuda é sempre com meus punhos, mas duvido que alguém que bati seja louco para querer fazer algo desse tipo. -

 

Beta pensou em comentar que de vista todos são normais mas preferiu ficar calado. Só existia duas coisas a verificar naquele lugar e havia começado a fazer em uma delas.

 

— A última coisa que lembro é de estar trabalhando naquela festa. Posso ter respondido mal a um dos convidados. Acredite que dar boa noite é motivo de reclamação para aquela gente. - Drun percebeu que Beta parou olhando para ele. - O que foi? Lembrou-se de como veio parar aqui? -

 

— A última coisa que lembro é Rovan e eu dançando. - Beta balançou a cabeça negativamente. - Mas, isso não é importante. -

 

— Não acha que deveríamos descobrir quem nos trouxe para cá e porquê? Foi você quem começou essa questão. – Drun pareceu não compreender.

 

— Revirei quase tudo aqui e não achei chave. Falta apenas este local onde está e você. -

 

— Nem vem! - Berrou Drun.

 

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A impaciência nunca foi um dos defeitos de Bruno Bluenda, tanto que não ligava de ser chamado de gordo, mulherengo ou qualquer outro adjetivo que quisessem colocar nele. De fato, Blue não era apenas um apelido carinhoso que saiu de sua irmã que não conseguia falar seu nome quando mais nova e acabou sendo adotado pela família e posteriormente pelos amigos e outros conhecidos, que acreditavam ser abreviação do nome de sua família.

Muitos sequer pensariam em Blue como uma pessoa impaciente, já que ele poderia dar em cima de uma garota por dias até conseguir fazê-la ceder aos seus encantos. Talvez fosse a melhor característica de quando era coordenador, pois esperava o momento certo para atacar. Talvez viesse a ser sua principal característica como Coordenador, não fosse as distrações com as garotas que viviam surgindo.

Mas, naquele momento ele havia vestido a camisa de impaciente. Andava de um lado para o outro, olhando constantemente as horas e verificando apressadamente tudo ao seu redor.

 

— Onde está? -

 

A oficial Jane chegava na casa, com uma pequena comitiva de outros policiais, sem fazer estardalhaço. Aquela situação era séria e poderia resultar nas mortes de muitos.

Blue apontou para a mesa da casa de forma apressada e todos puderam ver o cronometro chegar a 30 minutos. As diversas janelas abertas mostravam o desespero da maioria das pessoas que estavam trancadas junto a uma bomba.

 

— Vocês vasculhem a casa, você rastreie e você conte-me tudo de novo com calma. - A Oficial que havia entrado primeiro distribuiu ordens de forma apressada, não havia tempo a perder se a informação estivesse certa.

 

Blue e Mirian haviam ido ao bairro onde acreditavam que poderiam encontrar Dove, a jovem loira que fora a última a falar com Hina antes dela desaparecer. Quando chegaram a casa onde puderam vê-la pela janela a menina se alarmou e fugiu, sendo perseguida por Mirian. No entanto, Blue acabou ficando e ao entrar na casa identificou um computador que mostrava uma contagem regressiva e várias câmeras de vigilância que pareciam colocadas em locais onde pessoas estavam aprisionada junto a bombas.

O jovem Bluenda entrou em contato com a polícia, mas não recebendo muito crédito entrou em contato com Allan, o aprendiz de ginásio de Saffron que acreditou nele e acionou a polícia.

 

— Senhora, deixe a conversa com o menino para daqui a pouco. – Disse um dos policiais que começara a mexer no computador. - Acho que isso é sério. Os sinais estão sendo roteados por várias cidades e regiões diferentes e realmente é um sinal remoto de algo. Sem contar que as pessoas que aparecem nessas telas são exatamente as pessoas desaparecidas. -

 

— Quantos locais são? - Questionou a Oficial.

 

— Vinte. -

 

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Perseguir uma pessoa nunca esteve nos desafios que Mirian imaginou para sua vida de coordenadora. Talvez perseguir um pokémon, mas quando o fez teve certeza que jamais conseguiria voltar a fazer. Agora perseguia uma pessoa e tudo parecia tão diferente, a sensação, a situação e principalmente a motivação.

A cena era atípica. Perseguição a pé, motorizada, independente do tipo de veículos, ou mesmo sobre rodas daria ainda uma sensação de normalidade pelas ruas de Saffron. Mas, a normalidade havia ido embora a muito tempo naquela cidade, jamais um local como aquela metrópole estaria com as ruas vazias próximo a hora do almoço.

Ver uma perseguição montada em meio a uma metrópole de ruas desertas era para ser o ápice da atipicidade. Mas, uma perseguição inversa era realmente a visão vencedora.

 

— Estou começando a me sentir, idiota! -

 

Havia uma menina loira montada em uma Ponyta, o equino de fogo veloz, distanciando-se veloz mente de uma garota de cabelos castanhos que a cada passo de sua pseudocorrida, arfava como louca. Mirian havia iniciado uma perseguição a Dove que fugira assim que vira ela e Blue. Não havia muitas saídas a não ser persegui-la, mas a pé a tarefa parecia bem idiota e ela começava a se tocar disso.

Talvez tivesse parado de correr ao perceber e expressar aquilo, já suava e dez minutos de corrida pareciam o suficiente para entender que jamais alcançaria a pé alguém montada em um pokémon veloz. Mas, parecia que a distância não diminuía, mesmo quando ela quase parava de correr, sofrendo com a falta de preparo.

Viu a saída da cidade se aproximar a mata em volta ficando mais nítida e a floresta aparecendo atrás de si. Apertou o passo, o máximo que posse, forçando as pernas a correrem o que elas já não podiam mais. Se Dove saísse da cidade, nunca mais a encontraria. Mas, o seu esforço pareceu em vão, alcançou a mata sem já conseguir ver as chamas da montaria branca com crista de fogo em que Dove estava montada.

Caiu sentada. O suor escorrendo do seu rosto, os músculos das pernas queimando, o corpo estava mole e sua vontade de gritar só era superada pela falta de ar que estava tentando. Puxou o ar profundamente, tentando recuperar-se da corrida. Olhou o a pokewatch em seu braço e viu que correra por 15 minutos.

Deixou o corpo cair para trás, deitando-se de costas na relva, enquanto tentava se recuperar e retirar da mente que havia falhado novamente.

 

— Você sempre foi difícil de salvar! -

 

Mirian assustou-se, tentando levantar-se rápido, mas o corpo não permitiu. Quando finalmente levantou-se viu Dove parada próximo a uma árvore observando-a. Era realmente uma menina loira de feições delicadas, talvez qualquer dissesse que ela seria muito mais nova que Mirian, mas a verdade é que a diferença de idade era de apenas um ano.

 

Quanto tempo ela está parada ali? Será que eu não a vi quando cheguei aqui?

 

Mirian preparou para dar um passo em direção a ela, tentando colocar toda a sua força e determinação naquele avanço para agarrá-la e fazê-la falar. Não apenas sobre o que estava acontecendo em Saffron, sobre o que ela poderia ter feito com Hina, mas também sobre porque a traiu na prisão. No entanto, notou a ausência de Ponyta e travou.

 

Ela tem um pokémon com ela, forte e robusto. Eu estou apenas com a Audino que não me obedece e sequer sai da pokebola. Não posso confrontá-la desta forma.

 

— Como assim me salvar? - Respirou fundo e tentou se acalmar procurando entreter-se com a fala de Dove.

 

Dove franziu o cenho por alguns instantes, mas acabou suspirar e encostar-se numa arvore do início da floresta. Não parecia preocupada ou tensa e isso chamava a atenção de Mirian.

 

— Vejamos... Impedi, por mais de uma vez, que você fosse para o camarote ou acabasse feriada a ponto de ter que ir para a enfermaria durante a Gaiola das Loucas. Mandei informação para fora de que você estaria presa e acabo de tirá-la da cidade para que não morra em meio as explosões. - Dove disse sorrindo. - Se isso não é salvar, eu não sei o que é. -

 

— Como você me impediu de ir para a enfermaria se... - Mirian pareceu se irritar, mas parou pensando nas palavras de Dove. - Você disse morrer em meio as explosões? -

 

Dove confirmou com a cabeça calmamente enquanto Mirian arregalava os olhos e virava-se para olhar para gigante cidade atrás dela. Haveria várias explosões na cidade e isso significava que certamente as pessoas desaparecidas morreriam ou seriam acusadas, no pior dos casos morreriam e seriam acusadas.

A imagem de Hina, Drun e Beta vieram a mente de Mirian como um relâmpago. Eram as três pessoas que ela conhecia e que estavam desaparecidas e não tinha como não se preocupar com elas. Deu três passos, se preparando para correr para dentro da cidade, não importava o perigo, eram pessoas que se de alguma forma tinham valor para ela.

 

— Como temos um tempo até tudo terminar, acho que posso explicar. -

 

A voz de Dove acabou por deter a tentativa de voltar a cidade de Mirian. Ali estava uma situação que Mirian precisaria, de explicações. Não mais sobre a traição na prisão, mas sobre o que acontecia na cidade. Ela claramente sabia sobre algo e se fosse a culpada poderia ajudar a salvar seus amigos. Virou-se de volta para a menina e a encarou.

 

— Nossa, nunca vi esse olhar antes! -

 

Dove pareceu surpresa ao perceber o olhar sério de Mirian. Era quase como se quisesse ataca-la.

 

— Estávamos presas e naquelas horas que antecediam a nossa primeira ida a Gaiola das loucas acabei sabendo que algo aconteceria e que evitar a enfermaria era o essencial. De te falei isso e fomos para aquela gaiola onde enfrentávamos os pokémon. Fomos atacadas e uma a uma íamos sendo abatidas, uma das meninas que estavam lá irritou-se ao ver que alguém resolveu enfrentar de frente o pokémon e foi na hora que percebi, ela tinha um plano de sobrevivência. Em troca de ajuda-la em seu plano ela me contou o que era aquilo e o que ela sabia. -

 

Mirian se lembrou do ocorrido diante as palavras de Dove e chegou a tremer com as lembranças.

 

— Aqueles pokémon eram meio que treinados para fazer um determinado movimento para cada tipo de ação que as detentas fizessem. Subir pela gaiola gerava o raio de gelo para congela-las. Ficar paradas significava ser atacada com investidas. Estar caída no chão era presa pelas Teias Pegajosas. Correr significava ser acertado pelo Jato de Água. Todos ataques que no geral não tinham como ferir gravemente as detentas. – Dove comentou. – Basicamente, esta fase não gerava ida para enfermaria se a detenta tivesse habilidade e não fosse do tipo violenta. Por que ao ser atacado o pokémon iria revidar, em nossa primeira estada o pokémon contra-atacava com Golpe cortante. -

 

Mirian escutou aquilo sem acreditar muito. Sua mente tentou vagar por aquele dia e quase concordava com Dove, mas era difícil não pensar na dita explosão que aconteceria em breve.

 

— A menina queria ir de fase em fase, sem ir para enfermaria ou ser levada para o camarote. Questionei o porquê naquele dia e ela falou que na enfermaria você seria abusada pelos guardas, homens e mulheres da polícia e da penitenciaria que compactuavam com tudo aquilo. Mas, quem ia para o camarote tinha o mesmo destino, mas ao invés de guardas eram os milionários e outras pessoas da alta elite. -

 

— Mentira! - Mirian arregalou os olhos. Ela sempre tentou ir para o camarote, mas não tinha ideia do que acontecia lá. Sempre achou que estaria segura no camarote e que Dove havia a traído para se salvar.

 

— O que? - Dove pareceu surpresa. - Achou que te fiz ser atacada da primeira vez, por teias, que sabia que você tinha pavor, para que eu fosse para o camarote em seu lugar por nada? As teias não te machucariam e na fase seguinte você se sairia bem por causa das habilidades como coordenadora. - Dove percebeu que Mirian parecia incrédula e surpresa ao mesmo tempo. – Eu não iria te trair por causa de um jantar. Você era minha única amiga até aquele dia... Por sinal foi a única. -

 

Dove pareceu desanimar naquele momento, talvez as lembranças estivessem tomando conta da mente dela.

 

— Você nunca mais falou comigo depois daquele dia. – Disse Mirian. - Como pode dizer que é minha amiga? –

 

— Não podíamos conversar sobre o que acontecia na gaiola e você é do tipo que fica questionando as coisas, mesmo que não verbalmente. - Diz Dove. - Além disso eu caí nas mãos de um velho babão desgraçado que não era apenas um pedófilo tarado, gostava de orgias com muitas garotas e envolvia até outros homens e pokémon. - Dove fechou o rosto cerrando os punhos irritada. - Desde o primeiro momento ele ficou perguntando se eu tinha amigas, que ele gostava da intimidade da amizade que as detentas tinham. –

 

— Dove... – Mirian pareceu sentir as palavras.

 

— Todas as vezes que a gaiola aconteceu eu ganhava e ia direto para aquele velho asqueroso. De lá eu manipulava-o para tentar te proteger de lá. Votando contra ou a favor, e até mesmo dando alguns lances baixos para subir seu valor e não ficar na garra dos guardas. -

 

Ela me protegeu aquele tempo todo?

 

Mirian pareceu ficar desnorteada com as falas de Dove. As quatro vezes que participou da jaula por duas vezes quase terminou com os guardas. Na primeira o tempo havia acabado. Na segunda vez enrolou no leilão e viu que lances eram dados insistentemente por uma cabine, mas que quando ia para a tal, a hora estava avançada e o tempo havia terminado. Na terceira vez perdeu, mas o pokémon que a atacou não teve habilidade para machuca-la, já que parecia ser um bebe e ela acabou numa sala de espera por várias horas temendo o que aconteceria. Apenas na última vez imaginou que seria seu fim ao perder na competição de apresentação e o pokémon a atacou, mas estranhamente ela conseguiu derrotar o pokémon de mãos nuas. Certamente Dove poderia estar envolvida em uma ou duas situações, mas não em todas.

 

— Você disse que mandou minha localização para fora? - Questionou Mirian. - Quer dizer que você avisou a Kenan que eu estava lá? E como você saiu? –

 

Mirian parecia começar a acreditar em Dove, mas não via que enquanto elas discutiam o tempo passava rapidamente.

 

— Kenan? Está falando do campeão? - Dove pareceu pensativa. - Então foi Kenan que a tirou da prisão? - Dove riu surpresa. – Você não é tão inocente e sonsa quanto parece. -

 

— Você disse que havia mandado a informação que eu estava lá. - Disse Mirian. – Está mentindo? –

 

— Escopolamina é uma droga que entorpece os sentidos e o deixa sucetível a ser controlado. Você diz algo a pessoa e ela faz sem perceber e quando recobra os sentidos, não lembra de nada. - Diz Dove. – Um milionário chamado Rovan, amigo daquele velho, um dia juntou-se a festa e começou a dopar as meninas e alguns guardas para a festinha particular deles. Fingi que fui drogada e pude acompanhar a conversa dos dois e quando ele se distraiu eu o droguei e fiz o falei para ir embora e passar a informação para alguém confiável que tivesse contato com você para procura-la na prisão. -

 

— E ele o fez e por algum motivo entrou em contato com Kenan. – Mirian concluiu entendendo o que poderia ter acontecido. Com seu desaparecimento diversas reportagens surgiram questionando onde estava a jovem promissora, certamente entre nomes como Grupo Olimpo, a família Bluenda e sua mãe, alguma reportagem deve ter mostrado que Mirian e Kenan passaram algum tempo conversando em Tin e certamente era mais fácil para Rovan conseguir o telefone do campeão da Liga pokémon local. - Espera... Rovan? Droga que apaga a memória? Por isso eu não lembro de nada de ontem a noite? –

 

— Depois que você saiu eu armei um plano de fuga usando mais dessa droga hipnótica. - Dove sorriu. - Mas, não antes de preparar minha vingança. Droguei algumas pessoas chaves naquele local e preparei-me para matar a todos aqui em Saffron. -

 

Mirian começou a respirar com dificuldades e acabou por cair no chão. Mas, Dove não se importou.

 

— Todos os envolvidos naquele absurdo estariam em Saffron, os poucos que não estavam eu dei um jeito de trazê-los. A força policial extra para o Festival era justamente a corja daquele lugar. - Dove dizia como se aquilo fosse muito simples de ser feito. - Droguei a Sabrina, a maior psíquica e maior empecilho que havia no meu plano e a fiz controlar a cidade com sua mente. Você deve ter percebido que não acordou onde dormiu ontem à noite. Sabrina a manipulou psiquicamente para implantar as bombas, junto com um outro grupo de pessoas inocentes que foram colocadas em locais que não serão afetadas. -

 

— Você... - Mirian tentava falar, mas sua mente estava lutando para acreditar naquilo.

 

— Os milionários e elite envolvidos morreram naquele hotel. Os guardas e outros estão trancados em locais com bombas prontas para explodir, estão conscientes e tentando lutar pela vida deles, mas morrerão. - Dove comentou. - Eu nunca achei que poderes psíquicos existissem ou fossem tão eficientes, mas ter Sabrina sendo controlada fez eu mudar minhas convicções. Ela fez tudo ficar fácil. -

 

— Você me sequestrou! - Berrou Mirian levantando-se.

 

— Sua mente. - Disse Dove concordando. - Fiz Beta te chamar para cá para você poder apreciar, junto a mim, essa vingança. Quando Sabrina dominou seu corpo eu queria garantir que você fosse deixada em um lugar seguro das bombas. Não se preocupe que ninguém que entrou naquela van fez algo ruim, só foram levadas para locais seguros. -

 

— Mas eu estava segura no Hann.. - Mirian não conseguiu terminar de falar. Em sua mente ficou tudo claro.

 

Dove foi sua amiga dentro da prisão e a protegeu dos abusos que aconteciam no lugar, mesmo sem falar nada com ela. Ajudou a tirá-la da prisão e depois fugir pretendendo vingar-se e acabar com aquilo tudo. Drogando uma das maiores psíquicas do mundo, coisa que Mirian sequer sabia o que significava, Dove conseguiu levar todos os milionários e gente de elite que participava da Gaiola das loucas, assim como os guardas que para o Festival dos Milhões.

Enquanto os guardas acreditavam estar indo para trabalhar, acabaram sendo dominados mentalmente por Sabrina e certamente usados para capturar as pessoas, prendê-las, fazer as bombas e muito provavelmente chacinas a todos do hotel Mundiale.

Parecia coisa de cinema, ou de livros como bem gostava a Mirian. E cada palavra de Dove parecia esclarecer qualquer dúvida que Mirian tinha sobre oq eu estava acontecendo. Por exemplo, porque retirá-la do Hannay durante a noite para mantê-la segura? Se era para mantê-la segura, significava que no Hannay ela estaria em perigo e isso significava que o Hannay corria perigo.

 

— Tem uma bomba no Hannay? - Questionou Mirian assustada. - Tem gente inocente lá e por toda a cidade! - Mirian berrou e agora avançou contra Dove querendo agarrá-la, mas parou no meio do caminho. - Que tipo de doente mental você é? –

 

— Tem uma bomba no Hannay porque os seguranças e metade daquela comunidade LGBT pode não ter estado na gaiola das loucas, mas receberam convites para o mesmo. Nunca fizeram nada para parar aquilo. - Disse Dove calmamente. - Ninguém inocente vai morrer. O dono e os gerentes foram retirados, o chefe de segurança é o único que me preocupa pois não deu para droga-lo ou capturar a mente dele. - Dove pareceu chateada com aquilo. - Talvez um inocente ou outro morra, mas só se estiverem fora do lugar que deveriam. -

 

— Você é doente! Tem que parar isso! - Gritou Mirian com medo de se aproximar de Dove. Ainda existia um pokémon e tinha certeza que ela atacaria. - Você vai matar pessoas inocentes como Hina, Beta e Drun! -

 

— Você sabe o porquê eu fui presa? - Questionou Dove a Mirian.

 

Mirian forçou a mente, mas não se lembrava dela ter dito aquilo na prisão.

 

— Drun tem uma empresa de eventos com pokémon, serviram na minha festa de formatura da oitava série onde Beta foi uma das pessoas convidadas para palestrar e Hina foi acompanhando Beta naquela noite. - Dove pareceu suspirar ao contar tudo aquilo. - Drun não ficou para cuidar de seus pokémon e de algum modo meus colegas idiotas acharam que seria engraçado ver os pokémon bêbados. - Dove suspirou. - Os pokémon lutadores ficaram violentos, um me atacou e eu tive que me defender, Hina e Beta viram e acharam que eu estava agredindo o pokémon e não o contrário. Os outros pokémon debandaram, bêbados enquanto as câmeras filmaram eu batendo num pokémon com uma vassoura. A polícia veio e me prendeu, meus colegas tentaram explicar e pediram para que Drun permitisse que seus pokémon passassem pelo teste do bafômetro, ou qualquer versão parecida para pokémon. Mas, aquele brutamontes disse que seus pokémon estavam em perfeitas condições e não permitiu e com isso Hina e Beta continuaram afirmando que eu ataquei o pokémon. -

 

— Não pode ser... Drun está sempre disposto a ajudar as pessoas, Hina não julga as pessoas e beta... - Mirian parou. - Beta é Beta. Tem o costume de exagerar. -

 

— Se Drun dissesse que deixou os pokémon lá e foi embora sua licença para a empresa seria caçada e ele poderia ser processado. - Comentou Dove. - Na audiência Hina não apareceu, mas Beta fez questão de detalhar como eu agredia o pokémon. Mas, o problema real era o advogado de defesa que parecia querer me mandar para a cadeia. -

 

— Se foi o mesmo que o meu... - Mirian lembrou-se do quanto ser defensor público era imprestável.

 

— Era o mesmo. – Disse Dove. – Mas, não se preocupe que ele já está morto também. -

 

Mirian sentiu um gelo na espinha. Era como se Dove fosse uma jovem desequilibrada e que achava que tudo se resolvia matando as pessoas.

 

— Tem que parar de matar as pessoas! - Disse Mirian. - Não é porque eles eram que precisam morrer. Eles não te mandaram para a prisão para sofrerem aqueles abusos. Eu tenho certeza! Eles me ajudaram diversas vezes! -

 

Dove pareceu pensar e por um momento olhou para a cidade. Fez um ar de deboche e olhou para Mirian e a encarou por alguns instantes.

 

— Apostaria sua vida nisso? - Questionou Dove. - Apostaria que aqueles três são realmente boas pessoas e que apesar de terem contribuído para meu sofrimento, não merecem morrer? -

 

— Sim! - Mirian respondeu sem pensar duas vezes fazendo Dove ficar até surpresa com a convicção de Dove. - Por favor, pare com isso! Não se vingue das pessoas! Vai matar gente inocente. -

 

— Não estou me vingando, estou parando as pessoas que fizeram isso comigo, com você e tantas outras. São de policiais a juízes, não tem como denunciar e achar que vão parar. O negócio é garantir que eles não vão mais fazer. - Disse Dove. - Mas, aceito o pedido pelos seus amigos. O problema é que não tem como desarmar as bombas sem ir até elas, especialmente a dos seus amigos que estão num galpão a três quadras do Hannay. Então você vai ter que se arriscar pelos três e... - Dove sacou uma pokebola fazendo surgir na frente de Mirian a ponyta. - Passar por mim primeiro. Te protegi até agora, não vou deixar você se arriscar. -

 

— Você está louca! – Gritou Mirian.

 

— O passado de todos condenou-os! O destino deles está traçado! Mas, se acredita que eles são bons, ao menos aqueles três e que não merecem morrer, passe por mim. Você tem vinte e cinco minutos para me derrotar e chegar até o galpão, libertar seus amigos e sair de lá. - Disse Dove.

 

Mirian pensou em argumentar, gritar e bater na menina, mas agora não tinha mais como. O tempo estava correndo e se quisesse salvar seus amigos precisava passar por ela. Não tinha como salvar a cidade, mas ao menos os três tinha que salvar.

Levou a mão no bolso e sentiu o corpo arrepiar. Possuía apenas dois pokémon, uma ave, que era fraca contra pokémon de fogo, e um pokémon normal que tinha levado uma surra em sua primeira batalha contra um pokémon, justamente do tipo fogo. A ave era Farfetch’d que não estava ali com ela e isso fazia estar no seu bolso apenas uma pokebola.

 

O que vou fazer? Audino não me obedece mais e sequer sai da pokebola. Mesmo que ela saia e aceite lutar para salvar o grupo ela tem uma saúde delicada que impede dela poder receber ataques de energia. Não posso fazer isso com ela... Colocar a vida dela em risco para salvar a vida dos outros três. Céus... Eu tenho que tentar. Mirian tremia ao retirar a pokebola do bolso.

 

— Por que sempre tenho que te salvar, Idiota? -

 

Mirrian arregalou os olhos diante de Dove que também assustou-se com a frase e a voz. Era uma voz com ar de deboche e um Q de loucura. Vinha do meio da mata, como se a pessoa ainda estivesse se aproximando.

Ponyta relinchou parecendo nervosa quase usou o lança chamas ao ver a mata se abrir diante todos e um rapaz com roupas de couro, cabelo preto, olhos acinzentados quase brancos que davam a ideia de loucura surgir diante deles.

 

— Aries? -

 

Mirian balbuciou espantada ao ver o rapaz. Pensou em ir até ele, mas viu os olhos dele estarem quase a faiscar loucura, como sempre acontecia quando ele estava empolgado com algo.

 

— Só ouvi da parte onde ela te desafia a apostar sua vida para salvar seus amigos e justificava que não era vingança em diante e confesso que nem tão bem assim. - O rapaz parecia alucinado, seu olhar estava fixo em Dove. - Então vamos fazer assim, antes que essas bombas explodam vá e tire as pessoas de lá enquanto eu me divirto com essa maluca. – Ele estalou os dedos sorrindo. – Eu me ofereceria para me divertir com as bombas, mas acho que essa garotinha será mais difícil que elas. -

 

Aonde ele viu diversão? Dove pensou por alguns instantes analisando o recém chegado.

 

Mirian ficou parada olhando o rapaz que a salvou no seu primeiro dia de jornada e acompanhou por muitos outros desafios depois. A pessoa de quem ela fugiu e acabou sendo presa posteriormente. Aries Olimpo era não apenas um dos sócios do Grupo Olimpo, mas também era uma das pessoas que Mirian mais confiava.

 

— Pode deixar! - Mirian correu, mas Ponyta disparou um lança chamas bloqueando sua trajetória.

 

— Não posso deixar você ir. – Dove pareceu calma, mesmo diante a aparição de Aries. - Não posso deixa-la morrer na nossa vingança. -

 

— Nossa nada! Eu não tenho... -

 

Mirian parou de falar agarrando, no susto, uma pokebola que lhe foi lançada. Ela olhou confusa para a pokebola e depois para Aries.

 

— Use quando precisar! -

 

Aries dizia colocando-se na frente dela, servindo de escudo para qualquer tentativa de interceptação que viesse novamente.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam curtindo, pois a conclusão desta saga está chegando.
Para aqueles que não conhecem Aries, peço desculpas por não fazer a introdução dele de uma forma bem detalhada, mas o episódio estava chegando a uma quantidade de palavras maior que o previsto.



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