—Clary, to aqui na porta.

—Ok, já estou descendo. –Corri escada abaixo e antes de sair de casa, soltei um grito para que meus pais pudessem ouvir. –Tchau pai, tchau mãe.

Assim que entrei no carro da Maia, ela sorriu pra mim e ajustou o radio em um dos nossos canais favoritos. Ela me levava pra escola todos os dias, já que meus pais não gostavam muito de me ver dirigindo, embora eu já tivesse carteira. Sempre fazíamos nossas viagens em silencio, mas não um silencio constrangedor, era um silencio confortável sabe?

Meu final de semana tinha sido um saco. Passei a maior parte dele na cama, as meninas vieram aqui e tomamos sorvete enquanto víamos filme, tive que fazer um pequeno discurso pros meus pais sobre quanto o baile tinha sido incrível, e o pior de tudo. Eu não parava de pensar no Jace.

Eu tinha que encontra-lo de novo, eu precisava descobrir o que é isso que eu estava sentindo. Provavelmente era gratidão, por ele ter me ajudado. Mas eu precisava ter certeza. Eu estava decidida, eu ia achar um jeito de encontrar ele e falaria com ele mais uma vez, aí eu descobriria do que se tratavam esses sentimentos e pronto, voltaria ao normal. Era um bom plano, não era um plano completo, estava mais pra uns 40%, mas era um começo certo?

Passei o caminho inteiro divagando os meus planos e nem percebi que já havíamos chegado na escola. Saímos do carro e encontramos Emma e Aline (Argh, Aline). Nem deu tempo de conversarmos já que o sino tocou. Rapidamente cada uma se encaminhou pra sua aula e eu fui enfrentar o meu martírio, aula de economia. Olha, eu gostava da matéria, mas o professor era intragável, então não me culpe.

Cheguei na sala, me sentei no lugar de sempre, atrás de uma garota de cabelos pretos, alta, muito bonita, mas eu nem sabia o nome dela, o que é estranho já que eu sou a presidente do grêmio, mas ei, essa escola tem quase mil alunos, é impossível saber o nome de todos.

O professor Hodge entrou na sala, nem nos deu bom dia e já começou a escrever no quadro, me abaixei para pegar os meus materiais e começar a copiar, quando senti alguém me olhando, levantei o olhar e dei de cara com a garota que sentava na minha frente, olhando com uma cara de poucos amigos pra mim. Eu me senti desconcertada.

—Ééér, oi. –Ela sorriu de um jeito irônico pra mim. –Oi princesa sem príncipe. –Perai, o que? –Como? Me desculpe, não entendi.

Princesa sem príncipe? Essa menina bebeu o que?

—É claro que não entendeu, é o seguinte, meu irmão te fez um favor, está na hora de você retribuir. –Olhei confusa pra ela, quem era o irmão dela? Ela me olhou impaciente e bufou. –Jace, meu irmão, aquele que fingiu ser o seu namoradinho, porque o de verdade te chutou. –Ela sorriu de uma maneira quase angelical pra mim, mas que nada combinava com os olhos que pareciam estar com raiva. –Espera, você é a irmã dele? Graças a deus, eu preciso muito falar com ele.

Ela fechou a cara pra mim, é, acho que alguém não ia com a minha cara.

—Eu não quero que você seja amiga dele, eu só quero que você o ajude amanha e acabou. Conheço o seu tipo patricinha, e meu irmão já sofreu demais por garotas como você, então nem tente se aproximar muito. –Olhei assustada pra ela, esse menina era completamente louca. –Olha, acho que você. –Ela me interrompeu. –Olha nada, meu irmão te ajudou e agora precisa de um favor, você vai ajudar ou não? –Bom, parecia ser a única forma de eu me encontrar com ele, e além do mais ele realmente tinha me ajudado, eu não podia deixar ele na mão, certo? Ela pareceu ver a decisão no meu olhar e assentiu. –Certo, esteja nesse endereço aqui amanhã as 16:00 hrs, é a nossa casa, e vá arrumada por favor.

Ela disse isso enquanto me entregava um papel e se virava pra frente novamente, ok essa foi rápida.

Peguei o papel e o guardei na mochila, eu estava pronta pra começar a prestar atenção na aula e me esquecer momentaneamente da garota esquisita, quando me lembrei de algo.

—Espera, qual é o seu nome? –Sussurrei pra ela, já que o professor estava correndo os olhos pela sala. Ela não se virou pra mim, somente escutei sua resposta, abafada. –Isabelle, agora me deixa prestar atenção nessa droga de aula.

Me calei depois disso, o resto do dia correu normalmente, como sempre era, almoçar com as meninas, reunião do grêmio estudantil, enfim o mundo não parecia saber que minha vida estava um pouco fora dos eixos desde a ultima sexta feira.

Eu, Maia e Emma estávamos reunidas perto do estacionamento, Aline tinha ido embora com a mãe, porque ia fazer uma viagem e voltava daqui a dois dias (graças ao meu bom Deus) e eu acabei soltando que tinha que sair amanha, droga Clary boca grande.

—Huuuuuuuum, é um encontro, com quem? A gente conhece? –Emma automaticamente se empolgou e Maia me lançava um olhar de “parabéns garota, já ta esquecendo o babaca”. Droga, o que eu ia falar agora? Eu não podia falar que era com o Jace, elas iam querem saber quem ele era e como eu ia explicar? –Ahn, eu não sei sabe. É meio que um encontro às cegas. Mas se for ver realmente, não é bem um encontro, encontro sabe. –As duas me olharam confusas e soltaram ao mesmo tempo. –Como assim Clary?

Suspirei, eu teria que mentir de novo, não queria fazer isso, não queria mentir pras minhas amigas, droga de vida complicada. Inventei uma historia rapidamente na minha cabeça e torci pra elas acreditarem.

—Bom, uma colega minha da aula de economia me pediu pra ir a um passeio com o irmão dela, ela iria, mas surgiu um compromisso e ela me pediu pra acompanha-lo. É só isso. –Elas pareciam bem céticas no começo, mas no final se empolgaram. –Mesmo assim, é legal, vai que ele é um gatinho, você tem que ir arrasando. –Emma como sempre era a mais animada pra esse tipo de coisa. –Sim, mas nada demais, pra não parecer que estava ansiosa, além do mais o encontro é a tarde ne? –Maia perguntou.

—Sim, e eu já disse que não é um encontro.

Isso não parecia surtir nenhum efeito nelas, eu e Maia nos despedimos da Emma, mas não antes das duas combinarem que iriam lá em casa amanha pra me ajudar a me arrumar.

Maia me deixou em casa e disse que ia ter que mandar o carro agora pra revisão e que só pegaria amanha depois da escola. Eu disse que não tinha problema, afinal eu tinha carteira, eles tinham que me deixar pegar o carro ne?

Nos despedimos e eu entrei em casa. Meus pais ainda não haviam chegado do trabalho, então eu me encontrava sozinha com os meus pensamentos. É, amanha o dia vai ser longo.

...

O que acha do vestido rosa? Sexy sem ser vulgar? Eu já disse que Emma se empolgava demais nas coisas? –Não Emma, ainda está de tarde, e eu já disse que não é um encontro.

Ela bufou e continuou procurando no meu guarda roupa juntamente com Maia.

Já eram duas e meia, então eu tinha que começar a me arrumar, eu estava nervosa. Desde ontem eu estava uma pilha de nervos pra ser mais sincera. Assim que meus pais chegaram em casa eu pedi pra eles pra me deixarem ir pra escola hoje de carro e expliquei que Maia tinha mandado o dela pra revisão, eles me deram as chaves, ponto pra mim. Assim que cheguei da escola hoje, rezei pro universo me ajudar um pouquinho mais.

Flash Back On

—Pai, já que vocês me deram o carro hoje mesmo, eu queria saber se posso ir com ele até a casa de uma amiga. –Por favor pai, deixa, deixa. –E fazer o que na casa dessa amiga mocinha?

Droga, eu não podia falar que ia ver o irmão dela, se não meu pai não me daria o carro nem ferrando.

—Trabalho da aula de economia, temos que entregar amanha, então é provável que eu demore. –Meu pai pareceu pensar, mas por fim acabou cedendo. –Ok, mas dirija com cuidado e não volte muito tarde.

—Ta bom, obrigada.

Flash Back Of

Eu estava me tornando uma mentirosa e isso estava me atormentando. Eu sempre odiei mentiras e agora estava me vendo enrolada nelas.

—Acheeeeeeei, com certeza é esse. –Dei um pulo na cama com o susto, estava tão perdida em pensamentos que até tinha me esquecido das meninas. Maia segurava um vestido, amarelo, eu nem me lembrava dele. –É esse Clary, com certeza, agora vai tomar banho que nós vamos escolher o sapato e ver o que vamos usar pra te maquiar.

Sorri agradecida pras meninas, o vestido era realmente bonito, e combinava com o horário. Me levantei e fui tomar o meu banho, assim que sai do banheiro enrolada em um roupão, vi que as duas já tinham separado tudo em cima da minha cama. Elas me guiaram até a cadeira em frente a minha penteadeira e começaram a me arrumar. Depois de uns quarenta minutos eu estava pronta. O vestido realmente tinha ficado muito bonito, elas haviam escolhido uma sandália rasteira que combinava perfeitamente, tinham feito uma maquiagem leve e arrumado o meu cabelo ruivo em um coque bagunçado.

—Você está linda, agora vamos, que você vai acabar se atrasando.

Descemos as escadas, elas desceram primeiro na verdade pra se certificar que meus pais estavam na cozinha, se meu pai me visse toda arrumada desse jeito, notaria que eu não estava indo estudar. Eu peguei alguns livros e levei comigo, deixaria no carro é claro, mas assim que voltasse precisava que eles vissem que eu realmente estava estudando.

Entrei no carro rapidamente e me despedi das meninas, dirigi até o endereço que Isabelle havia me dado, e me deparei com uma casa muito bonita, me lembrava aquelas casas antigas da era vitoriana. Isabelle estava na porta me esperando. Assim que desci do carro e me aproximei, ela me mandou fazer silencio e me puxou rapidamente pelo braço. Subimos as escadas até o que me pareceu ser o quarto dela e assim que entramos ela suspirou aliviada.

—Graças a Deus, Jace não nos viu, ele ainda está no quarto se arrumando. –Eu estava confusa, por que ele não podia nos ver? – Isabelle, por que seu irmão não pode nos ver? –Ela me olhou com um sorriso divertido. –Porque Jace não sabe que você vai com ele!

Eu estava em choque.

Meu Deus, onde eu fui me meter?