—Jordan?

O amigo do Jace se aproximou e sentou-se ao meu lado.

—Ei Clary, o que aconteceu? Sua cara tá péssima. –Senti uma risada estrangulada sair pelos meus lábios e dei de ombros. –Eu vou ficar bem, não é nada demais. Algumas coisas ruins aconteceram hoje, mas não é nada que eu não vá superar um dia. –Jordan deu um sorriso de canto e assentiu. –Sabe, o primeiro passo é lavar o rosto e respirar fundo, vem eu te ajudo. –Ele se levantou rapidamente e me ajudou a levantar também, eu estava emocionada. Tirando o meu pai, Jordan era a primeira pessoa a ser remotamente legal comigo hoje.

Ele me puxou pelo braço delicadamente e abriu a torneira da pia, automaticamente eu baixei o rosto e deixei a agua gelada levar pelo ralo todo e qualquer resquício de lágrimas. Assim que ergui o rosto, Jodan me estendeu algumas toalhas de papel e comecei a seca-lo, quando terminei joguei as mesmas no lixo e dei um sorriso fraco pra ele em forma de agradecimento. 

Ele se aproximou e começou a limpar delicadamente algumas gotas que haviam escapado e ainda estavam no meu rosto, eu senti o coração apertado, ele estava perto demais e eu não tinha mais certeza se era só por solidariedade. Tentei me afastar casualmente, mas ele firmou o aperto em meu rosto, não ao ponto de me machucar é claro, mas deixado explicito que eu deveria ficar parada.

—Você é tão linda Clary. –Jordan disse isso enquanto se aproximava lentamente de mim, tentei me afastar, mas uma de suas mãos saiu do meu rosto e se prendeu em minha cintura, eu tentava me soltar do seu aperto a todo custo, mas parecia impossível. Senti novas lágrimas querendo cair do meu rosto, era puro desespero.

Respirei fundo e decidi agir friamente, por mais que meu corpo estivesse tremendo, fui parando de me debater aos poucos e Jordan foi se aproximando de maneira mais confiante achando que eu estava cedendo.

PORCO NOJENTO.

Quando Jordan estava quase encostando sua boca na minha, puxei minha perna pra trás e desferi um chute em seu membro com a maior força que consegui, o desgraçado caiu pra trás urrando de dor e se contorcendo no chão.

—Nunca mais tente encostar essa sua boca nojenta na minha, você é mais falso que o Raphael, Jace com certeza merece amigos melhores.

Sai do banheiro a passos rápidos, definitivamente eu precisava ir pra minha casa, ficar fora dela está muito perigoso hoje. Estava de cabeça baixa desejando mentalmente que o dia de hoje não pudesse ficar pior quando senti meu corpo trombando com o de alguém.

Eu precisava me benzer, o MAIS RÁPIDO POSSIVEL.

—Meu Deus, me desculpa moça. Deixa que eu te aju...Camille? –Ai meu Deus, era só o que me faltava agora.

O meu dia tinha acabado de piorar consideravelmente.

—Eu não preciso da sua ajuda. –Camille praticamente gritava enquanto se levantava sozinha. Sorte que a lanchonete estava praticamente vazia, se não com essa pequena frase ela já teria conseguido atrair uma multidão.

Respirei fundo e virei às costas, eu não estava com paciência para aturar essa vaca, não hoje. Não cheguei a dar três passos quando senti suas unhas se fincando no meu braço direito.

—Quem disse que você podia ir embora, em? –Olhei pra ela, vendo que a mesma ostentava um sorriso de provocação no rosto. Apenas respirei fundo mais uma vez e arranquei o meu braço da mão dela. –Quem disse que você manda em mim em? Até onde eu me lembro eu posso ir e vir pra onde bem entender.

Ela estava nervosa, eu podia constatar isso pelo leve tremor em sua mão direita, mas Camille não deixaria isso transparecer, ela tentava mascarar tudo com aquele sorriso irônico no rosto. –Você acha que ele vai ficar com você? Ele é meu, você é só um passatempo. –Essa foi a minha vez de rir ironicamente, eu estava perdendo o controle. –Seu? Não querida, deixa eu te explicar uma coisinha. O Jace é uma pessoa e não uma propriedade, você não é a dona dele e deveria parar de querer trata-lo como um objeto.

Camille parecia sem palavras e eu me aproveitei desse momento pra virar as costas e ir embora, já tinha dado uns bons cinco passos quando a escutei berrando.

—Isso mesmo, foge. Vai chorar no colinho da mamãe, porque isso é a única coisa que vai te restar pra fazer quando ele te der um pé na bunda, ele é meu sim, sempre foi e sempre vai ser. Acha mesmo que um gnomo ruivo como você, sem nenhum atrativo, sem nada de interessante, pode comigo? Acha mesmo que vai conseguir me superar na cama?

Ok, agora ela me tirou do sério de vez. Me virei pra ela em um rompante e comecei a gritar também.

—Você se vangloria de ser boa na cama e está certa de fazer isso, afinal essa é a única coisa que você tem pra oferecer a alguém. Ele gosta de mim, ele escolheu estar comigo, porque finalmente viu que você não vale a pena, você é uma vadia Camille, deveria ter vergonha de falar essas coisas quando teve a coragem de começar a namorar o melhor amigo dele.

Mal terminei de falar quando senti meu rosto ardendo, a desgraçada me deu um tapa. Camille pulou em cima de mim e me jogou no chão, ela era mais forte, mas eu tinha a vantagem de já estar uma pilha de nervos hoje. Logo consegui subir em cima dela e comecei a desferir tapas e socos na cara daquela vadia, ela se arrependeria de ter mexido comigo logo hoje.

Começamos a rolar pela calçada como duas loucas, agora era ela quem estava por cima, eu sentia fortes puxões no meu cabelo, mas a raiva era tanta que eu nem sentia dor. Eu estava preparada pra usar a força e joga-la contra o chão de novo, quando a mesma se jogou sozinha e começou a se debater fracamente, minha mente estava tão turva de ódio que nem parei pra pensar no que aquilo significava, apenas pulei em cima dela e continuei a desferir socos e tapas, dessa vez ela não revidava, apenas tentava se defender.

—Para Clary, por favor. –Eu não estava entendendo nada, por que ela estava fazendo essa voz de choro como se ela fosse a vítima? Só percebi o que aquilo significava quando senti braços me puxando pra longe dela.

—Clary, o que você tá fazendo? –Eu olhei pra trás atordoada e me deparei com aqueles olhos dourados.

—Jace, eu não sei o que aconteceu. Ela começou a me atacar do nada, eu disse que não queria mais confusão. –Camille já havia se levantado e agora chorava compulsivamente.

VACA FINGIDA.

Então foi por isso que ela se jogou no chão e fez essa ceninha toda, ela viu o Jace chegando e decidiu armar pra mim. Me virei desesperadamente pro Jace e segurei na sua mão.

—Jace, você sabe que ela tá mentindo não sabe?  Eu tava indo embora e acabei trombando nela, ela me falou um monte de merda e depois veio pra cima de mim, isso aí é tudo fingimento. –Jace assentiu devagar e retribuiu o aperto em minha mão, respirei aliviada quando vi em seus olhos que ela acreditava em mim.

—Ela tá mentindo Jace. –Olhei na direção da voz e vi Jordan parado segurando um saco de gelo no meio das pernas. –Eu vi a briga toda, ela foi pra cima da Camille, eu até quis vir separar as duas, mas eu mal consigo andar depois do chute que a sua namoradinha me deu.

Jace soltou a sua mão da minha bruscamente e me olhou espantado.

—Clary o que está acontecendo aqui? –Ele olhava de mim pro Jordan e vice-versa, eu estava em estado de choque pela cara de pau desse babaca. –Você lembra que eu te disse que vinha aqui pro IHOPE certo? Eu tava sentado quando vi a ruiva correndo pro banheiro feito um furacão, decidi ir lá pra ver se ela estava bem e a encontrei chorando, eu a ajudei a lavar o rosto e acho que depois ela confundiu as coisas e tentou me beijar, eu a afastei e disse que não podia fazer isso com você, ela ficou com raiva e me deu um belo chute, quando eu consegui sair do banheiro a vi falando um monte de coisas pra Camille, antes que eu conseguisse fazer alguma coisa a ruiva já tinha jogado ela no chão.

Eu sentia meu corpo tremer por inteiro, como esse desgraçado podia ser tão fingido assim? Camille aproveitando a deixa do Jordan começou a chorar mais alto ainda. Jace me olhava chocado.

—Pelo amor de Deus Jace, é claro que ele tá mentindo. Eu realmente entrei no banheiro correndo e ele me ajudou, mas quem tentou me agarrar foi ele, eu bati no Jordan pra que ele me soltasse, ele só tá inventando tudo isso porque tá com raiva de mim.

Jace olhava de um lado pro outro totalmente atordoado.

—Jordan cuida da Camille, eu vou levar a Clary pra casa. –Ele apenas concordou e foi em direção a Camille, Jace entrou no carro e abriu a porta pra mim.

Fizemos o caminho até em casa em um completo silencio, eu segurava as lagrimas em uma tentativa de não desabar na frente dele.

Quando Jace parou o carro em frente a minha casa, retirei o cinto e me preparei pra sair quando o senti segurando meu braço.

—Você não acredita em mim, não é? –Jace abaixou a cabeça e suspirou nervoso-Olha, me desculpa por tudo isso. Mas ele é meu melhor amigo e você já tem um histórico de...

—Mentirosa? –Eu estava chocada, não conseguia acreditar que estava ouvindo isso.

—Clary, eu quero acreditar em você, quero mesmo. Só que o meu melhor amigo de infância me diz uma coisa e você diz outra, dá pra entender a confusão que é a minha cabeça agora?  -Eu não tinha forças pra lutar ou pra tentar me defender, então apenas assenti. –Eu entendo e espero que você também entenda que eu não posso ficar com uma pessoa que não acredita em mim. Raphael também era seu amigo de infância e olha o que ele fez.

—Clary...

—Por favor, não me procura mais.

Saí do carro batendo a porta e corri pra minha casa, escutei o barulho do carro e nem me dei ao trabalho de me virar pra constatar que ele já havia ido embora. Demorei pra encontrar as chaves devido aos meus olhos embaçados, mas assim que consegui entrar em casa, me joguei no chão e desabei ali no escuro da minha sala mesmo.