As Crônicas dos Amaldiçoados, Caimitas escrita por Elias Pereira


Capítulo 12
Março de 1878 parte 2




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Faltava pouco para chegarmos ao aeroporto de salvador. Nina mexia no notebook, Jefferson estava sentado olhando o corpo sem vida da comissária, Paolo estava sentado agora olhando pela única janela aberta no avião. Caminho até ele e sento em sua frente.

—Sinto-me entediado. - Suspiro e olho pela janela. – Quer ouvir a continuação da história?

—Claro senhor Vivale! – Ele responde animado.

—Pois bem! – Pego um cigarro e acendo. - Inglaterra, Londres, março de 1878...

                              ...

Acordei assustado, olhei ao redor e vi que estava em uma cama estranha. Não reconhecia o quarto e nem minhas vestes. Usava uma camisa de linho, uma calça que parecia ser cara. Levanto e vejo que no chão tinha um par de sapatos pretos, recentemente engraxados, calço e sigo para fora.

Sai em um corredor longo com varias e varias portas que seguiam tanto pela minha esquerda quanto pela direita. Resolvo ir pela minha esquerda. Vou seguindo lentamente até chegar a uma escada levando ao andar de baixo.

—Olá senhor Jackson! – Uma voz surge repentinamente atrás de mim.

Eu tomei um susto imenso. Podia ter certeza de não ter ninguém ali. Ao me virar reparo que era uma mulher, usando roupa formal e luvas brancas, ela tinha os mesmos olhos de Caim.

—Por favor, siga-me! Mylord Caim aguarda-o na biblioteca. – Ela segue andando sem nem olhar se eu estava indo atrás.

Resolvo ir então, vou andando atrás dela. Passamos pelo que parecia uma sala de visitas e chegamos à área de leitura. Caim estava segurando um livro em uma mão e uma xícara em outra.

—Sente-se Tyler. – Ele fala sem tirar os olhos das páginas. – Sirva-se também. – Ele faz um gesto com a cabeça mostrando uma mesa a minha esquerda com pães, café, ovos e frutas.

Caminho até a mesa e só ai percebo o quanto estava faminto. Encho um prato com um pouco de tudo, encho um copo com suco e sigo até Caim.

—Ainda sente dor? – Ele fecha o livro e olha para mim.

Eu ainda sentia arrepios com aqueles olhos amarelos me encarando. Ainda sentia ódio pela morte de Joseph, mas jogaria seu jogo sádico. Reparo então que eu não sentia mais dores.

—Não sinto mais dor alguma. – Mexo em minhas costelas, meu braço. Não estava mais machucado. – Eu dormi quanto tempo?

—Um dia mais ou menos. – Caim toma um gole de seu café e coloca a xícara novamente no pires. Ele pega um porta cigarros do bolso interno do seu blazer e põe entre os lábios, pega uma caixa de fósforos e acende. – Aceita? – Diz ele estendendo o porta cigarros prateado e os fósforos.

Pego e retiro um, coloco entre os lábios e acendo. Quando inspiro o ar com o cigarro na boca, a fumaça descendo pelas minhas vias respiratórias me faz engasgar e tossir. Meus olhos começam a arder.

—Primeira vez? – Caim sorria me observando.

—Sim! – Falo entre tosses. Tento tragar novamente, dessa vez não engasgo. Sinto meu corpo relaxar um pouco.

—Seu coração desacelerou um pouco devido o ópio misturado com o fumo. – Caim diz e termina seu café. – Diga-me Tyler... – Ele expira a fumaça pelo nariz. – A imortalidade lhe atrai?

—Pra que eu iria querer viver eternamente nesta terra amaldiçoada? – Repouso o cigarro em um cinzeiro e volto a comer.

—E uma imortalidade seguida do poder para comandar esta terra? – Caim me observava atentamente, parecia ler minha alma.

—Você crer ter poder para dominar todos?

—Filho... – Caim levanta, apaga seu cigarro no cinzeiro e caminha pela sala observando os livros em suas estantes. – Sabe a quanto tempo estou vivo?

—Não... – Paro de comer e observo o seu andar silencioso pela sala. – Você é o Caim da bíblia? Filho de Adão e Eva?

—Sim! Sou o Caim da bíblia! E não! Não sou filho de Adão e Eva! – Ele para e estende a mão e pega um pergaminho que parece ser muito antigo. – As pessoas escreveram isso na bíblia, mas na verdade meu pai era Samael, e não Adão. – Ele abre o pergaminho em uma mesa no centro da biblioteca e me chama.

Levanto empurrando minha cadeira para trás. Sigo até onde ele estava e me aproximo do pergaminho. Estava escrito em uma linguagem desconhecida por mim.

—Lerei para você o que tem aqui. – Caim passa os olhos e então começa.

"Houve dez gerações entre Adão e Noé, para que ficasse demonstrado quão paciente é o Senhor – pois todas as gerações provocaram-no à ira, até que ele trouxe sobre elas o dilúvio. Por causa da impiedade deles Deus mudou o seu plano de chamar mil gerações entre a criação do mundo e a revelação da lei no monte Sinai; novecentos e setenta e quatro dessas ele suprimiu antes do dilúvio.

A perversidade entrou no mundo com o primeiro ser nascido de mulher, Caim, filho mais velho de Adão. Quando concedeu o Paraíso ao primeiro casal da humanidade, Deus advertiu-os em particular contra a prática do intercurso carnal um com o outro. Porém, depois da queda de Eva, Satanás abordou-a disfarçado de serpente; o fruto dessa união foi Caim, ancestral de todas as gerações ímpias que se rebelaram contra Deus e levantaram-se contra ele. O parentesco de Caim com Satanás, que é o anjo Samael, ficou patente em sua aparência seráfica. Por ocasião do seu nascimento brotou de Eva a exclamação:

— Através de um anjo do Senhor foi-me dado um homem!

Adão não esteve na companhia de Eva durante a gravidez que gerou Caim. Depois de sucumbir pela segunda vez às tentações de Satanás, permitindo-se ser interrompida em sua penitência, Eva deixara seu marido e partira para oeste, temendo que sua presença pudesse continuar a trazer-lhe aflição. Adão permaneceu no leste.

Quando completaram-se os dias para ela dar à luz e começou a sentir as dores de parto, Eva rogou a Deus por auxílio, mas ele não deu ouvidos às suas súplicas.

— Quem levará a notícia a meu senhor Adão? – ela perguntou a si mesma. – Vocês, luminárias do céu, eu lhes rogo, contem a meu mestre Adão quando voltarem para o leste!

Naquela mesma hora Adão exclamou:

— A lamentação de Eva atingiu-me os ouvidos! Talvez a serpente a tenha assediado novamente! – e apressou-se ao encontro da esposa.

Ao encontrá-la em sofrimento profundo, Adão implorou a Deus em seu favor, e surgiram doze anjos, acompanhados de dois poderes celestiais. Todos esses assumiram juntos postos à direita e à esquerda de Eva, enquanto Miguel, também em pé à sua direita, passava a mão sobre ela, descendo do rosto até o seio, e dizia:

— Abençoada seja você, Eva, por causa de Adão. Foi devido às súplicas e as orações dele que fui enviado para prestar-lhe assistência. Prepare-se para o nascimento do seu filho.

Imediatamente nasceu o menino, uma figura radiante. Não demorou e o bebê pôs de pé, correu para longe e voltou trazendo na mão um talo de capim, que deu à sua mãe. Por isso ele recebeu o nome de Caim, que significa haste de capim.

Adão tomou então Eva e o menino para sua casa no leste. Deus mandou-lhe diversos tipos de sementes, pela mão do anjo Miguel, e Adão foi ensinado a cultivar o solo e fazê-lo produzir grãos e frutos, a fim de sustantar sua família e sua posteridade.

Depois de algum tempo Eva deu à luz um segundo filho, a quem deu o nome de Havel/Sopro, "porque", disse ela, "ele nasceu para morrer"."

—Você é filho do satanás... – Eu olhava amedrontado para ele.

—Sim... Mas, meu poder não vem daí. – Ele enrola novamente o pergaminho. – Nasci como um Nephilim. Isso apenas me tornou um pouco mais forte que um humano, meu poder veio da maldição que Deus lançou sobre mim após eu matar meu irmão. Havel era seu nome, vocês conhecem como Abel.

—Informação demais para minha mente. – Afasto-me um pouco da mesa. – Qual o motivo de contar isto a mim?

—Uma hora cansamos de viver Tyler... – Caim leva o pergaminho até a estante novamente e guarda-o. – Já estou aqui há milênios. Vi a torre de Babel subir e ruir, o fim de Sodoma e Gomorra, humanos se tornarem principados, o fim de impérios. Vi Yeshua caminhar pelos homens. – Caim percebe minha feição de duvida. – Perdão, Jesus.

—Eu sei o que é Yeshua. – Digo para ele. – Mas... No que eu me encaixo nisso tudo?

—Você será o sucessor de meu poder! – Caim diz seriamente e volta para perto de mim.

—Eu não quero sua maldição. – Falo seriamente e dou um passo para longe de seu alcance.

—Darei a você um poder alem da compreensão humana. – À medida que eu me afastava ele se aproximava. – Você será um deus entre os homens. Um predador entre criaturas inferiores. Não temerá nada, mas todos temerão a você.

Paro quando minhas costas tocam a parede e ele segura levemente meu rosto, fazendo-me olhá-lo nos olhos.

—Meu sangue curou-o. – Ele alisa meu rosto com o polegar. – Ainda corre pelas suas veias. Apenas diga-me sim. Você poderá se vingar de todos que humilharam você. – Ele sorri ao ver que tinha acertado um ponto.

Eu me lembro das prostitutas que me fizeram aquilo. Lembro as pessoas que me batiam pelas ruas. Lembro da morte de Joseph.

—Eu aceito teu poder Caim! – Digo sem duvidas mais. Agora estava decidido.

—Perfeito! – Sua língua bifurcada passa pelos seus lábios. – Irá doer um pouco.

—O quê... – Minha voz trava quando ele perfura minha barriga com sua mão.

Sinto suas garras perfurando meu intestino. Ele tira a mão de dentro de meu corpo e o sangue se espalha pelo chão. Caio de joelhos e sinto minha visão escurecer. A morte chegava... Podia sentir meu corpo parando aos poucos, até que minha mente se apaga. 


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