A Vida em um Romance escrita por J R Mamede


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Esse é o penúltimo capítulo da história. Espero que estejam gostando e, em breve, o último capítulo será postado.

Boa leitura!



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Um anúncio para um baile viera da casa dos Williams, convidando toda a família Austen e seu visitante, o Sr. Benjamin, a fazerem parte da grandiosa festa.

Mais do que nunca, Sofia viu-se realizada. No dia do esperado baile, ela enfeitava-se e não conseguia parar de se admirar diante do espelho, contente com o vestido elegante e as joias decorativas. Já Lídia, sua única empolgação era a comida que seria servida durante a noite, mas não podia negar que gostou do resultado de sua aparência, embora Sofia teimasse em lhe dizer que era ridículo ela continuar usando aqueles tênis vermelhos.

─ Eu gosto deles ─ foi a resposta da caçula.

A carruagem aguardava as moças e os cavalheiros. O Sr. Austen dispôs-se a oferecer o braço à Sofia, enquanto o Sr. Benjamin ficou encarregado de Lídia. O rapaz, quando viu sua querida amiga, não poupou elogios à aparência da moça. Ele a ajudou a subir na carruagem ─ onde Sofia e o Sr. Austen já haviam se acomodado ─, sem antes fazer um comentário ao notar um dos pares do tênis vermelho de Lídia, mostrando curiosidade.

─ Que sapatos mais interessantes esses que você está usando, minha querida Lídia.

─ São meus favoritos ─ disse a jovem, entrando no apertado meio de transporte.

Em pouco tempo, os quatro estavam na mansão dos Williams. A Sra. e o Sr. Williams fizeram as honras, recepcionando os convidados com sofisticação. A Srta. Fanny e a Sra. Mary ─ esta ao lado do marido ─, espantaram ao ver as irmãs Austen, recordando-se da última tarde em que estiveram juntas. Friamente, elas acenaram à Sofia e à Lídia, e tinham a intenção de não cruzar mais com o caminho delas o resto da noite.

Logo os Austen encontraram os Watson. Sr. Stone estava presente, como sempre. Assim que avistou Sofia, pediu a ela conceder-lhe uma dança, a qual foi prontamente aceita. Lídia, observando alguns casais dançando, questionou-se se Sofia sabia os passos ou pensava que ela simplesmente poderia fazer qualquer movimento com as pernas e os braços. Pegando Sofia de lado, fez esta pergunta em segredo.

─ Não se preocupe ─ assegurou a mais velha, simplesmente. 

Desta forma, Sofia e Sr. Thomas dirigiram-se ao salão e, quando a nova música começou a tocar, Sofia sabia exatamente o que fazer. Lídia viu-se sorrindo ao assistir a irmã seguindo os mesmos passos dos outros convidados, sem hesitar. Ficou impressionada com os conhecimentos da mais velha.

Quando a dança terminou, Sofia voltou a ficar perto de Lídia, que logo perguntou:

─ Como você sabia os passos?

─ Aprendi com vídeos na internet ─ sorriu Sofia, orgulhosa. ─ Quem diria que um dia iria colocar em prática!

─ Você é bizarra! ─ riu Lídia, contagiando a outra.

O Sr. Benjamin aproximou-se de Lídia a fim de convidá-la a uma dança. Ela até ficou tentada a aceitar, pois parecia bem divertido. Contudo, como não sabia os passos, achou melhor não arriscar a passar vergonha. Benjamin insistiu, garantindo que ele a ensinaria enquanto praticavam. Após tanto persistir, o rapaz convenceu sua amiga a ser sua parceira, conduzindo-a ao meio do salão, junto com os outros casais preparados para dançar.

Lídia sorria feito uma criança à Sofia, que estava ao seu lado para a sua segunda dança com o Sr. Stone. Parecia divertido, apesar de ser uma dancinha medonha. Ela comparou a uma quadrilha de festa junina, só que mais pomposa e com mais detalhes nos passos.

Assim que a música começou, o Sr. Benjamin, com grande paciência, conduzia a dama e dizia-lhe o que precisava fazer. No começo, Lídia se atrapalhou toda, sendo motivo de risada à Srta. Fanny e à Sra. Mary Williams, as quais se divertiam em vê-la perdida no salão. Mas logo Lídia pegou o jeito, visto que os passos eram repetitivos e limitados, então foi fácil decorá-los. Quando se deu conta, batia palmas com os outros e ria de pura satisfação. O Sr. Benjamin extasiava-se com sua companheira, admirado com a beleza e espontaneidade da moça. Achava-se o homem mais sortudo do mundo por estar ao lado de uma dama tão cheia de vida e exuberância.

Ao lado, Sofia também se sentia feliz com seu par, que, durante a dança, não poupou elogios à jovem quanto à dança e à roupa. O charmoso Sr. Stone orgulhava-se de sua parceira e não disfarçava sua admiração. Sofia sorria e enrubescia a cada comentário delicado de seu acompanhante, admirada com os galanteios cada vez menos discretos do rapaz.

No salão, o Sr. Austen conversava alegremente com o Sr. Watson e com o Sr. Williams, prestando, de vez em quando, a atenção na dança, prevendo bons futuros para ambas as sobrinhas. A Sra. Watson tagarelava com a Sra. Williams e outras damas da alta sociedade. Fanny e Mary olhavam a dança com desprezo. O marido desta última detestava dançar e a Srta. Fanny não recebera convite de nenhum cavalheiro presente. Isso as deixava mais amarguradas. Anne dançava com um jovem chamado Sr. Potter. Era um rapaz ruivo e sardento, de risada tão incomparável quanto o de sua parceira. Pareciam se entender muito bem.

Ao final da dança, todos foram jantar, servindo-se dos mais apetitosos pratos. Lídia não sabia nem por qual delícia começar. Eram tantas variedades, tantas sugestões, que ela se viu indecisa em colocar um pouco de tudo no prato ou ir pegando um por um, mudando sempre que acabasse. Pensou que precisaria deixar espaço para as sobremesas, as mais importantes.

O fim do jantar trouxe a dança, as conversar grupais e os jogos de carta de volta. Benjamin aproveitou que cada um estava ocupado em suas tarefas prediletas do baile para convidar Lídia a um passeio pelo jardim. Esta o olhou com uma expressão séria, desconfiada, mas aceitou o convite, pois precisava mesmo refrescar-se e respirar um pouco o ar puro.

Lá fora, fazia um pouco de frio. Lado a lado, os dois caminhavam em silêncio. Lídia questionava-se o que Benjamin queria lhe falar, pois era óbvio que queria dizer alguma coisa a ela, algo sério, pela expressão de sua fisionomia. O rapaz estava inquieto em suas reflexões, evitando encará-la. Por fim, quando conquistou a coragem que devia ter para o momento, disparou a falar:

─ Lídia, querida Lídia, acredito que saiba de meus reais sentimento em relação a você. Desde a primeira vez que a vi, após tantos anos, não consegui mais tirá-la da minha mente. Lembro-me da pequena Lídia, a menininha que brincava correndo por Northfiel Park, então imagina a surpresa quando a vi, uma linda mulher, cheia de graça e espírito! ─ Respirou fundo. ─ Naquele momento, doce Lídia, não tive dúvidas: você é a mulher dos meus sonhos. ─ Pegou a mão de Lídia, que o encarava com os olhos arregalados. ─ Então aqui estou diante de você, minha querida, com a proposta de dar-me a alegria de fazer parte de minha vida para sempre, tornando-se, assim, minha esposa. Juntos, podemos ser muito felizes e construir um maravilhoso lar.

─ Calma, calma, calma ─ interrompeu Lídia, voltando a si. ─ O que você está fazendo, Ben? Poxa, cara, você está estragando tudo! Somos amigos, não quero que isso acabe. Não pretendo me casar agora e nem nunca. Além disso, há outros motivos pelos quais não posso aceitar isso aí.

─ E eu posso saber quais motivos são esses? ─ perguntou o Sr. Benjamin, profundamente magoado. ─ Está apaixonada por outro cavalheiro?

─ Não, nada disso! É algo complicado.

─ Pode tentar explicar-me, se quiser. Acho que mereço saber o motivo, após ser recusado com tamanha veemência.

─ Ah, Ben, não leve a mal. ─ Lídia ficou triste ao vê-lo chateado. ─ É que eu não posso me casar com você e nem com ninguém, mesmo se quisesse. A verdade é que eu não sou daqui ─ confessou, obrigando-o a encará-la com curiosidade. ─ Eu sou de outra época. Século XXI, para ser mais específica. E você e toda essa gente aqui não são reais! São personagens de um livro, que trouxe, de forma muito louca, Sofia e eu para dentro da história. Todos vocês são personagens de um romance britânico. Sei que não deve ser legal escutar que você não existe, mas essa é a verdade!

O Sr. Benjamin a fitava perplexo. Quando Lídia tentou segurar seus ombros, o rapaz se esquivou.

─ Eu entendo a sua recusa, Srta. Lídia ─ falou, pausadamente. ─ Mas não aceito que a senhorita brinque com os meus sentimentos, inventando uma história descabida como essa. Nunca escutei tanta atrocidade! Como se não bastasse a humilhação de eu ter me declarado à senhorita, exposto o meu coração, para, no fim, ter minha proposta de casamento negada, a senhorita zomba de mim com essa fantasia. Nunca pensei que a senhorita fosse cruel. Se magoar era o seu objetivo, saiba que conseguiu com êxito.

─ Ben, por favor, não fale assim! E pare de me chara de senhorita, que coisa chata! Eu estou falando a verdade, eu juro.

─ Poupe-me de suas mentiras, Srta. Lídia. E, por favor, não se dirija a mim com tanta intimidade, pois não há motivos para termos tanta liberdade um para com o outro. Evitemos a informalidade, por gentileza.

O Sr. Benjamin virou as costas, deixando Lídia aos berros, chamando-o e implorando que voltasse. Ela viu-se sozinha no jardim, então começou a soluçar.

─ Droga! ─ murmurou. ─ Agora estou chorando feito as mocinhas de novela das seis.

A jovem não ficou por muito tempo solitária. Escutou passos se aproximando e uma voz familiar chamar seu nome. Sofia, espantada ao ver sua irmã chorar, foi-lhe ao encontro para abraçá-la.

─ O que aconteceu?

─ O Ben me odeia! ─ choramingou Lídia.

─ Não, não odeia ─ Sofia lhe depositou o sorriso mais carinhoso. ─ Ele gosta muito de você, Lídia, e acho que você gosta muito dele também.

─ Isso não importa mais. Agora ele me detesta!

Aos soluços, Lídia contou tudo o que acabara de acontecer no jardim, deixando Sofia boquiaberta. Quando terminou a narrativa, a mais velha deu uma pequena bronca na irmã tristonha.

─ Você não devia ter dito a verdade a ele, Lídia!

─ Eu precisava. Não queria que ele pensasse mal de mim por recusar o pedido de casamento. Precisava explicar que nunca daria certo.

Sofia assentiu, voltando a abraçar a caçula. Ficou absorvida em seus próprios pensamentos e sentimentos. Lídia tinha razão: aquilo nunca daria certo. Era tudo mentira, tudo imaginação de alguém. Sofia, por mais que soubesse disso, gostava de se iludir com a possibilidade daquilo ser real. Do Sr. Stone ser real. Mas não era. E ela compreendeu a força das palavras de Lídia quando dissera que nunca daria certo. Mesmo querendo muito, era impossível. Precisava parar de viver na fantasia e voltar à realidade. Não podia mais fazer aquilo consigo. Precisava parar, antes que se machucasse profundamente.

─ Vamos, Lídia ─ sussurrou, fazendo carinho nas costas da irmã. ─ O Sr. Austen está nos esperando. Precisamos ir embora.

─ Sim, Sofia ─ disse Lídia, enxugando as lágrimas e fitando a mais velha nos olhos. ─ Precisamos ir embora.


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Notas finais do capítulo

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