Bacchikoi escrita por Lunnarea


Capítulo 1
Prólogo — Vapor


Notas iniciais do capítulo

Bem, sejam bem-vindos a estória, espero que 'cês gostem e se sintam livres e a vontade por aqui. Sinceramente eu digo que as críticas sobre o texto são super bem vindas e que darei-lhes ouvidos sempre que houverem, então, não se acanhem.
Ah! Sim, quase ia me esquecendo... em meio ao texto, existem alguns termos que, ou por conta da difícil representação na Língua Portuguesa, ou por conta da ambientação, que podem ser desconhecidos para a maioria de vocês, e por conta da curiosidade e coisas assim, eu deixarei um glossário nas notinhas, está bem...?


1 — Yukata :: É uma roupa semelhante ao kimono, entretanto, é feita com materiais leves para que possa se usar no verão. Geralmente são postos yukatas quando se vai aos festivais.

2 — Wagashi :: São os doces tradicionais do Japão, geralmente feitos com vegetais.

3 — Origami :: São as famigeradas dobraduras japonesas.

4 — Tanka :: Significa, literalmente, poema curto. É um estilo literário tipico japonês, se é que posso chamar assim, que consiste em um poema de cinco linhas, divididas em duas estrofes com um número limite de sílabas.



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Naquela noite enevoada em especial, onde o céu trouxe seu cheiro e se escondia detrás da fina camada branca entre ele e a cidade. O rapaz que apreciava a paisagem urbana, apoiado nas cercas que limitavam o cume do monte, observava o ir e vir dos carros, que não passavam de grandes borrões, pela larga avenida que, mesmo com aquela neblina, ainda era visível dali.

O vento passeava nos arredores fazendo as folhas bailarem no ar, soando aos ouvidos em meio ao silêncio que pairava no ambiente, o rapaz ainda precisava de tempo para assimilar o que lhe fora dito, tomou o restante do suco de caixinha com o intuito de prolongar o momento, adiar o que o consumia de dentro para fora, o que era irremediável. Durante muitos invernos ele murou seu coração, bastava não o ouvir só mais outra vez, mesmo que soubesse que se arrependeria disto durante toda a sua existência restante.

Ainda assim, para evitar que seu amigo sofresse tanto quanto ele sofreria com a separação dos dois, preferiu não contar a real importância que Seiichi tinha, pois de uma maneira ou outra, ele nunca teve coragem suficiente para deixar de reprimir o que sentia durante todos esses anos que viveram juntos. O garoto que se apoiava na cerca suspirou lentamente, à medida que voltava a encarar o amigo.

— Ren? — indagou Seiichi.

O rapaz nada demorou para sair de seu transe, em um reflexo involuntário desviou o olhar para a face do outro, desvencilhou-se da cerca enquanto curvou os lábios em um sorriso amigável.

— ‘Cê vai passar o resto do dia aí? — continuou — A loja não fica aberta até tarde, sabe muito bem disso, não é? — Cruzou os braços recostando-se na parede, fazendo a típica expressão de seriedade que se tornou famosa entre eles em momentos assim. — Eu não iria ficar nada feliz se perdêssemos aqueles doces limitados.

— Um ou dois minutos a mais não fariam mal algum. — Andou até o arco que adornava a entrada do parque, onde Seiichi o esperava, com um sorriso alegre no rosto.

Tentou parecer o mais confiável possível, para que sua amargura não fosse notada, torcendo para que não houvesse delonga alguma durante o caminho ao estabelecimento, pois já estava se tornando exaustivo guardar este segredo durante todo esse tempo. De fato, as lágrimas rolariam, já tinha certeza disso, seu corpo sussurrava silenciosamente para si, enfiou suas mãos, que tremiam suavemente, no bolso do paletó negro que fazia parte do uniforme escolar, afinal, o dia estava gélido.

Olhava o céu estrelado enquanto rumavam pelas calçadas cinzentas, ainda assim entreolhavam-se às vezes, a ponto de passar a duvidar de que conseguira esconder o que sentia, só despertou de seu delírio com o som do abrir da porta de correr da loja.

— Você está bem? Não me parece bem — perguntou enquanto erguia a sobrancelha. — Quer que eu veja se eles têm água, chá ou coisa assim?

Assustou-se por um instante, mas logo se recompôs, não podia se arriscar e deixar que ele descobrisse tudo aquilo que arduamente escondia, se ele já não o havia feito. Formou um sorriso vazio nos lábios e sutilmente olhou em sua direção.

— Não precisa, estou bem — disse enquanto se recostava em uma parede.

Seiichi entrou na loja fazendo soar mais outra vez o mover da porta, o silêncio havia reinado novamente na calçada e não havia vento algum para afastá-lo, se sentou no banco gelado enquanto aguardava o amigo tornar para fora. Fazia muito frio na noite, coisa que outrora lhe enchia de alegria, e que agora se tornou algo a mais para se distrair enquanto falhava em seguir seus sentimentos. Certamente uma pura crueldade consigo mesmo.

Saiu de dentro da loja trazendo dois sacos de papel consigo, e o vapor que saía da embalagem dizia que os bolinhos estavam frescos, isto podia se ver também pelo brilho que jazia no olhar dele. Se perguntava se outrora seus olhos também reluziam assim.

— Estes são seus. — Deu um dos pacotes a ele. — Cuidado, ainda estão meio quentes e realmente não seria legal se queimar com docinhos. — Deixou um riso escapar.

Perguntou-se até quando continuaria com aquilo, talvez, se mostrasse a ele a real importância que fazia em sua vida e insistisse nisso, ele deixasse de ir. Seria egoísta demais, impedir que seguisse seu destino por conta de algo assim, e que, talvez, não fosse nem mesmo recíproco.

Seguiram lado a lado para suas casas que ficavam na mesma direção, fazendo o caminho que todos os dias tinham de tomar, e enquanto se perdia nos seus inúmeros pensamentos, imersos na cacofonia da rua movimentada que tinham de atravessar, chegavam cada vez mais perto do fim. De onde deixaria de carregar seu fardo.

Quando pôde dar-se conta, estava em frente ao grande portão de madeira da casa de Seiichi, era de fato marcante o quão tradicional era a casa em que ele vivia. Contrapunha com o jeito alegre que compõe sua personalidade extasiante, mesmo que sempre usasse seu yukata¹ nos festivais e que, entre todos os doces, preferia os wagashi² e que insistia em dobrar origami³ onde escrevia tanka⁴ em seu interior.

Despediram-se como se fosse outro dia qualquer, com palavras ligeiras e um único aceno, mesmo ambos sabendo que nunca mais se veriam.  O rapaz, antes de adentrar totalmente no terreno, olhou-o nos olhos de relance, não entendia o que tanto chocou Ren. Voltou atrás e, para que nunca ele se culpasse por não se despedir direito do amigo, entrelaçou-o em seus braços e pode sentir ele fazendo o mesmo, abraçou-o como se o tempo estivesse parado em um único momento. Não houve palavra alguma, só o cômodo ressoar como do vento, como um quadro de inverno, onde partilhavam o calor de seus corpos em meio ao frio e a neve que veio a cair. Para ambos, aquele momento poderia durar para toda a eternidade.

Deslaçaram-se logo depois, o rapaz saltou para dentro do portão e o baque que as abas fizeram despertaram-nos daquele devaneio. Ambos, recostados no portão, sem notar a presença um do outro suspiraram quase que em uníssono, mas nem um, nem o outro queriam deixar o momento menos mágico.

De cabeça baixa, uma lágrima não pôde evitar de rolar pela bochecha de Ren, deixando o rastro molhado pela pele, quando se sentiu só, longe do alcance do amigo. A liberdade que ganhou ao deixar de carregar aquele fardo não lhe trouxe alívio qualquer, apenas lhe mostrou o quanto o outro lhe faria falta, não só por todas as manhãs em que ele deixaria de estar lhe esperando, ou das reuniões na sala do clube.

De fato, o muro veio a cair.


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Notas finais do capítulo

Ah!, ia me esquecendo de novo ~talvez isso seja recorrente~ venho perguntar quanto ao glossário, se ele ficaria melhor nas notas iniciais, onde estão agora, ou se eles ficariam melhor aqui nas notas finais, ou mesmo se eu devo por em ambos os lugares.

Espero que tenham gostado.



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