Medula escrita por Bellie H


Capítulo 2
Futuro


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos ao segundo capítulo! Espero que gostem!



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Quarta-feira, 25 de outubro de 2350

Benson, Arizona, EUA

Alguém abriu os olhos em Benson, Arizona, EUA, e percebeu que estava vivo. E percebeu que outras pessoas também estavam.

— Acabou? - Alguém sussurrou para si mesmo.

Tinha acabado. A Terceira Guerra Mundial acabou em Outubro de 2350 e todo mundo tinha perdido. Não se pode haver vencedores em um confronto que dizima a população de um planeta inteiro. Mas, por algum motivo, a pequena cidade de Benson, 6 mil habitantes, havia sobrevivido.

Os sobreviventes não falavam muito entre si. O medo não deixava. Vez ou outra, uma criança quebrava o silêncio com um choro estridente e era rapidamente calada pela mãe.

Não se sabia muita coisa. As últimas notícias foram de que a Europa havia se tornado inabitável por conta do excesso de radiação que penetrava cada vez mais pelo continente, e que tanto a Ásia quanto a África não tinham mais recursos. A América Central e a do Sul estavam devastadas, o Japão tinha se perdido há muito tempo e a Oceania tinha sido bombardeada pela China há mais ou menos uns 5 anos. A China, que tinha sido bombardeada pelos Estados Unidos, que tinham sido bombardeados pela Síria, que tinha sido bombardeada pela Inglaterra.

O mundo havia se bombardeado. Não sobrou mais ninguém além de Benson. A população havia sobrevivido, embora suas casas e demais contruções não tenham tido a mesma sorte. Os destroços foram usados como moradias improvisadas enquanto as pessoas esperavam algum ataque nuclear do Brasil ou do Afeganistão para leva-las. Esse ataque não aconteceu. Estava na hora de retomar a vida. Uma multidão se reuniu.

— Precisamos reconstruir nossas casas. - Alguém sugeriu.

— Primeiro, precisamos garantir comida. - Disse outro alguém.

— E os feridos? - Lembrou mais um novo alguém.

Todos começavam a falar ao mesmo tempo. Ninguém mais se ouvia e ameaças de briga surgiam em diversos pontos da multidão. Algumas crianças choravam e se perdiam dos pais. Uma menina reclamou que haviam pisado em seu pé. Alguém respondeu com uma palavra grosseira e, de repente, todos estavam se xingando.

— Não podemos nos voltar uns contra os outros! - Gritou alguém. Esse alguém era Lily. - Parem!

Não é fácil deixar o stress de 50 anos de guerra de lado, mas as pessoas pararam de se atacar e escutaram.

— Precisamos votar em um presidente - Disse Lily. - para organizar a reconstrução da cidade.

— Não há necessidade de votação - Surgiu uma nova voz. Era o prefeito de Benson, Charles Grant. - Eu estou bem aqui.

Charles Grant era, todos na cidade sabiam, um pilantra. Sua habilidade mais afiada era subornar populares e fazer propagandas de si mesmo.

— Acho que a situação exige uma nova eleição. - Argumentou Lily, sendo apoiada imediatamente pelos demais, cansados da gestão ineficiente de Grant.

Alguns candidatos surgiram. As regras eram simples: cada pessoa de idade superior a 16 anos tinha direito a um voto, e deveria votar colocando uma pedra na frente do candidato escolhido. Os votos seriam contados e validados pelo juiz Harrison, o juiz Estadual presente. As filas se formaram e a votação começou ali mesmo, naquela tarde. Para a felicidade da maioria dos votantes, Grant não conseguiu a reeleição. A eleita foi Ama Steel, uma mulher de 50 anos muito bonita e querida na cidade. Era dona da maior farmácia de Benson, que acabou destruída durante a Guerra.

Ama começou a organizar os planos para a reconstrução de Benson. Dividiu a população em grandes times para agilizar as tarefas: um deles cuidava da reconstrução de moradias, outros da plantação e outros da confecção de remédios, do qual a própria Ama fazia parte. Havia, ainda, entre outros, o grupo de médicos para cuidar dos feridos pela Guerra e o grupo responsável para restabelecer a energia elétrica.

Grant amargou a derrota, mas não por muito tempo. Os grupos formados por Ama começavam a avançar no objetivo de reconstruir Benson quando Grant subornou os policiais que faziam a segurança improvisada da cidade com ajuda de seus antigos aliados políticos, principalmente Lewis Davis e Oscar Hill. Davis e Hill eram homens ricos, donos de maquinário agrícola, e que exerciam grande influência em Benson antes da Guerra.

Em 2352, Grant invadiu, juntamente com Davis e Hill, o gabinete improvisado de Ama. Estavam acompanhados de policiais subornados que acusaram Ama de facilitar a entrega de medicamentos para determinados pacientes em detrimento de outros e, assim, tiraram-na do poder. Grant não permitiu que se fizessem novas eleições e assumiu, ele mesmo, a posição de presidente.

Com mão de ferro, Grant iniciou o governo de Benson. Formou, para lhe auxiliar na presidência, uma Cúpula de autoridades políticas que incluía Davis e Hill. Privilegiou a instalação de comércio, criou rígidas normas de conduta e de vestimenta, instituiu toque de recolher para a cidade toda e proibiu que a população falasse ou escrevesse qualquer palavra que desonrasse o governo. Controlava a quantidade de comida que era destinada a cada família e colocou o limite de natalidade, pelos próximos 20 anos, de um filho por casal, para evitar superpopulação. Benson não mais existia. A nova e única cidade do planeta tinha, agora, um novo nome.

— Juntos por um futuro melhor. Bem vindos à Medula. - Terminou Grant, em seu primeiro discurso como presidente.

O golpe arquitetado por Grant e seus comparsas, aliado ao governo inflexível, desagradou profundamente à população. Os dois primeiros anos do governo Grant foram relativamente tranquilos. A Cúpula ameaçava parar o fornecimento de comida e a não mais equipar as lavouras, já que o monopólio agrícola era gerenciado por Davis e Hill, caso a população protestasse contra os abusos do presidente.

A segurança da cidade era meramente decorativa. Os policiais recebiam diretamente de Grant e obedeciam seus caprichos, prendendo pessoas da vontade dele em uma prisão temporária e garantindo que ele, sua família e seus aliados recebessem as melhores porções de comida e roupas dos melhores tecidos.

Dessa forma, a vigilância da cidade estava precária. Havia registros de estupros, assaltos e assassinatos. As pessoas temiam o governo e temiam umas as outras.

Em 2354, Grant condenou à morte e mandou executar três mulheres que ficaram grávidas já tendo um filho, desrespeitando o controle familiar colocado por ele. Esse fato faz eclodir os protestos latentes desde que Grant assumiu o poder, especialmente por parte dos jovens.

Com alguns protestos acontecendo e alguns na iminência de explodir, Grant ordenou a reforma de uma penitenciária de segurança máxima que existia em St. David, a 10 quilômetros de Benson, antes da Guerra. Em 2355, a reforma estava pronta e Grant podia mandar prender todos aqueles que se rebelavam contra suas ordens.

Não existia julgamento, apenas a vontade do presidente e de um xerife nomeado por ele. De tempos em tempos, o xerife mandava para a prisão um grupo de jovens protestantes, além de suspeitos de crimes graves, como latrocínio e tortura. Os presos chegavam até a prisão, chamada Linfo, por meio de um dos únicos veículos sobreviventes da Guerra, um caminhão que, antes, era usado para transportar porcos.

Não se sabia muito sobre a Linfo, apenas que ela ficava em St. David e que a vida lá era ainda mais difícil que na Medula. O mesmo caminhão que levava os presos para a prisão levava os parentes dos presos para visitá-los, às terças e sextas-feiras, das 15 horas às 18.

Lily entrava nesses caminhões todas as sextas e nas terças em que não estava escalada para trabalhar na lavoura, ou ajudando os feridos. O motivo era visitar a filha, Angelina, presa em 2356, por um motivo que nem a mãe sabia.

Em 2360, a Linfo completava 5 anos. A cada ano que passava, as dúvidas e curiosidades sobre a prisão aumentavam, uma vez que, atrás de suas barras, estavam todos os criminosos do mundo.

 


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Notas finais do capítulo

Por favor comentem e voltem sempre! (:



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