Don't bless me father escrita por Undisclosed Desires


Capítulo 6
Capítulo cinco: Épura.


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaa! Mais um capítulo!
Com todo o meu amor!



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Instituto de Ensino Eastern (I.E.E) - 12:30 - Refeitório. 

Aquele refeitório era tudo o que Clary esperava de um colégio particular. Um amontoado organizado de mesas pequenas, forradas com toalhas de mesa nas cores branco e azul. Havia um buffet para os alunos, com um caixa no final, pegando o dinheiro. Clary pegou a bandeja, colocando um dos potes de salada de frutas na mesma e pegando um sanduíche de frango também. Ponderou sobre levar algum refrigerante, mas optou pelo tradicional suco de maçã.

Pagou e seguiu para uma das mesas vazias, repousando sua bandeja e sentando-se na cadeira, que era muito confortável. Já estava quase mordendo o sanduíche quando uma figura loira deslizou na cadeira à sua frente. 

— Oi. - Ele sorriu. Tinha um hambúrguer enorme na sua bandeja, e batata frita. E refrigerante. Ele iria infartar em breve, ela previu. 

— Oi. - A resposta dela não foi tão amistosa assim. Ela não estava entendendo muito bem o porquê dele estar insistindo numa amizade que já começou fadada ao fracasso. 

— Como foram as suas aulas?

— Hã... - Como foram as aulas dela? Que tipo de conversa fiada era aquela? Por que ele não ia direto ao ponto? O que ele queria, afinal? - Boas. Eu acho. 

— Que bom, que bom. Fico contente por você estar se adaptando à escola e...

— O que você quer?

Ele pareceu confuso e repousou o hambúrguer que tinha em mãos. Os olhos dele pareciam muito maduros, com aquela seriedade habitual. Tirando o momento em que ele sorria e suas feições o faziam parecer uma criança alegre. 

— Eu não estou entendo o seu ponto, Clarissa.

 

— O que você quer de mim?

— Por que você acha que eu quero algo de você? - Ele suspirou. - Não me entenda mal, quero a sua amizade. Quero mesmo. Mas não estamos no filme "segundas intenções". 

— Hum... - Ela respondeu, ainda descrente. Mordeu seu sanduíche de frango. Que delícia! Mordeu outro pedaço, como que para confirmar. 

— Na verdade... - Ele continuou. 

— Sabia... - Ela murmura, de boca cheia. Ela sabia que era falta de educação, mas não se importava. 

— Não fale com a boca cheia, é nojento!

— Me obrigue. - Ela respondeu, ainda comendo. Ele riu e jogou um guardanapo nela. - Seu boboca. 

— Boboca? - Dessa vez ele gargalhou. - Clarissa me chamou de boboca. Só falta me dizer que você tem um nome do meio obsoleto. Como Magda, Virgínia ou...

— Adele. 

— Como?

— Meu nome do meio é Adele. - Ela já tinha engolido a mordida e então bebeu um gole de seu suco de maçã. - Clarissa Adele, agora Parker também. 

— Posso fazer uma pergunta? - Ele estava cauteloso. 

— Já fez. - Ela respondeu, mordendo o sanduíche. 

— Eu estou sendo sério. Posso? - Ela deu de ombros, bebericando o suco. Ele tomou isso como um sim. - Como é ser adotada?

Ela arregalou os olhos e no mesmo instante ele se arrependeu de ter perguntado. Então a cara dela ficou trêmula. Sua boca tremulava, como se ela fosse capaz de chorar a qualquer instante. Ai meu Santo Anjo do Senhor, que idiotice eu acabei de fazer— Questionou mentalmente, envergonhado. Mas então ela começou a gargalhar. Realmente gargalhar. Largou o suco e apoiou a cabeça na mesa e começou a soluçar de rir. Ele, constrangido e sem saber como agir, ficou parado, vendo as pessoas do refeitório inteiro virarem para vê-los. Ela parou com sua reação minutos depois, vermelha, levantando a cabeça para enxugar suas lágrimas. 

— Uh, Uh... Desculpa... - riu mais um pouco e respirou fundo. - Ok, Ok. Parou, Clary? Ok. Desculpe. É que você tinha que ver a sua cara. 

Ele coçou a cabeça e sorriu. - Desculpe-me por ser indelicado. 

— Quê? Pffff. Não encana nisso. - Ela bebeu um gole de seu suco de maçã. - Bem... como é ser adotada? Não sei dizer bem. Hum... Não me leve a mal mas ficar passando de mão em mão é horrível. Primeiro, o estado toma conta de você. Os orfanatos são caóticos, mas você consegue uma família temporária se ficar em silêncio e se comportar. Esse tipo de família toma conta de você por uma mesada estatal, mas não é alta o bastante para que eles te tratem realmente bem. Eu passei por seis desses lares até encontrar a Sra. Parker. Foi uma mera coincidência, porque tinha voltado ao orfanato no mesmo dia em que eles foram o visitar. Lembro que a irmã Beatrice estava lhes apresentando as crianças menores e Emma veio direto falar comigo. Eu estava lendo a minha edição velha de Orgulho e preconceito e ela disse "Uma boa moça, pelo que vejo". Eu perguntei para ela a definição de uma boa moça e ela me respondeu, vestida num daqueles terninhos caros de gente rica, que uma boa moça é aquela ensinada a pensar. Ela me perguntou meu nome e nós conversamos um pouco e ela decidiu me adotar.  Não sei o que é ter pais biológicos, então esse é meu único parâmetro. Desculpe por não saber responder bem.

Ele sorriu. - Relaxa.

— E pra você? Como é ser filho biológico. 

— Muito bom. Eu tenho ótimos pais e um irmão mala, mas sou muito grato por tudo. E, além disso, eu... - Jace sentiu braços ao redor do pescoço dele e fios de cabelo comprido caindo pela sua cabeça. 

— Maninho! - Sebastian puxou a cadeira do lado e se sentou. - Ora ora, o que temos por aqui... 

— Você! - Clary esbravejou, na defensiva. 

— Uh, Clary, você o conhece? - Jace estava confuso. 

— Esse garoto me derrubou no corredor hoje, duas vezes

— Ah, sim, querida! Eu lembro de você! - Ele puxou a mão dela contra a vontade e depositou um beijo. - Meu nome é Sebastian, grave-o, porque você saberá a quem chamar nas dificuldades. 

— Eu saberei a quem culpar, isso sim... — Ela achou que estivesse pensando a frase, mas acabou falando. Jace revirou os olhos. 

— Sebastian, sem querer ser rude, você pode POR FAVOR se retirar?

— Não. - Ele respondeu. Jace socou a mesa e esbravejou. 

— Argh! 

— Cale-se, Jonathan. Eu e sua namoradinha temos o que conversar. - Ele chegou mais perto de Clary, pegando o resto de seu sanduíche de frango. - Então, me diga, Claaaaary, - Ele esticou o a da palavra em um desdem polido. - você e meu irmãozinho já enfim andaram de mãos dadas? Porque, não me leve a mal, mas do jeito que ele é lerdo, esse é o máximo que ele pode fazer por você em um namoro. Na verdade, achávamos que ele era gay. Bem, minha mãe achava, porque eu apostei que ele era assexuado. 

Clary deu um tapa na mão de Sebastian, derrubando o sanduíche de frango na mesa, e se irritou. - Basta. Jace, vamos sair daqui? De repente o ambiente passou a ser mal frequentado. - Ela levantou-se, Jace também, mas Sebastian não ficou contente. 

— Jesus, Jonathan, olhe o tamanho dela! É pedofilia! 

Isso foi a chama necessária para que os cabelos ruivos de Clary pegassem fogo. Ela pegou o pote de salada de frutas e o virou todo no cabelo prateado de Sebastian. Ele entrou em choque, paralisado, enquanto ela limpava a mão na camisa dele. - Ops. O engraçado é que eu sou a criança, mas você que se suja na hora do almoço. - Ela segurou a mão de Jace e o puxou para fora do refeitório, com os olhares dos outros alunos queimando suas costas. 

                                   * * * * * * * * * *

— Você é louca! - Jace disse quando eles chegaram no jardim externo da escola. 

— Eu sou. - Ela disse, respirando fundo e rindo. - E então, o que você quer de mim?

— Hã? - Ele procurou na memória. - Ah, sim. Lembrei. 

— E então? 

— Bem... Minha mãe e sua mãe estão organizando um baile beneficente para essa sexta. Eu tenho que ir obrigatoriamente e... como você não conhece muitas pessoas e... pra sei lá... ser divertido? Eu gostaria de saber se você quer ir comigo. 

— Ir com você? Como...

— Acompanhante. 

— Sem segundas intenções?

— Sem segundas intenções.

— Então eu não quero. - Ela respondeu, concisa. 

— Ótimo, então a gente pode se encontrar amanhã, depois da aula, pra encontrar roupas, se você quiser e...

— Jace!

— Oi?

— Eu disse não. - Ela riu. 

— Hã? Mas... Por que?

— Nossa, que convencido... - Ela respirou fundo. - Porque não quero me chatear. 

— Chatear? Eu não chatearia você propositadamente, Clary.

— Eu sei que não, mas... - Ela estava corada, então, e fitou as próprias botas. -... já ficou claro aqui que eu tenho uma queda por você. E depois de ontem... Bem, eu sei que não é nenhuma interação da sua parte, mas da minha é e eu não quero passar por isso novamente. 

Ele revirou os olhos. - Mas é esse justamente o meu ponto.

— E qual seria?

— Você tem uma queda por mim. Algo superficial. Mas eu sou um careta, Clary. E, se você passar tempo o suficiente comigo, você vai ver que eu sou o cara mais chato desse subúrbio chato. 

— E se isso não acontecer? 

— Acredite em mim, vai. Eu dobro minhas meias antes de colocar na máquina de lavar.

Clary riu graciosamente. Jace ficou bem atento naquela risada. - Tudo bem, me convenceu. Eu vou passar tempo o suficiente contigo mas, se você machucar o meu pobre coraçãozinho, eu vou cortar o seu cabelo na navalha. 

— Nossa, que agressiva! - Ele protegeu os cabelos e ela riu. 

— Agora vamos, menininho chato, antes que percamos aula. 

                                * * * * * * * * * * 

A última aula do dia era de Artes. Estranhamente, Jace estava lá quando ela chegou. 

— Você está me perseguindo? - Ela questionou, sentando-se ao lado dele. - Primeiro, a primeira aula. Depois, o almoço. Agora isso. Estou começando a pensar que você está levando esse lance de passar o tempo juntos a sério demais. 

— Há! Nada é sério demais para mim! 

— Ok. Entendi o lance de você ser careta. 

A professora adentrou a sala. Ela era mignon, como Clary, e com um cabelo ruivo preso em um coque bagunçado. Usava uma saia verde longa e camisa num tom mais claro. Uma típica professora de artes. 

— Boa tarde, aluninhos queridinhos do meu coraçãozinho amargurado. - A professora cantarolou. - Sou Jocelyn Fray, a nova professora de artes de vocês.

— Boa tarde, professora Jocelyn. - A turma falou em uníssono. 

— Bem, muitos de vocês - e eu digo muitos - eu conheço de outros anos. Sejam bem-vindos ao ano sênior! Vocês conseguiram, hein! Incluindo você, Simon. 

— Urgh! Morra! - Um garoto meio emo-gótico-trevoso falou, do fundo da sala. Ele usava lápis de olho e cordões de símbolos do supernatural. 

— Eu adoro quando vocês manifestam suas artes interiores na minha aula! - Jocelyn bateu palmas. - Ok, soube que temos uma aluna nova-NOVA na classe, então, você, apresente-se. - Ela apontou para Clary e sorriu. - Venha aqui na frente, por favor. 

Clary levantou-se, corada e tímida, e foi até o lado da professora. Virou-se para a turma. 

— Diga seu nome, querida.

— Clarissa. Mas gosto de ser chamada de Clary. - Jocelyn levou a mão instintivamente a um colar que mantinha no pescoço. 

— Que lindo nome, Clary, e você tem um ótimo gosto para cabelos. Ouviu isso, Simon?

O garoto passou a mão pelo seu cabelo negro escorrido, provavelmente pintado, e gritou: - Invejosa!

— Bem, por favor, Clary, sente-se. - Ela o fez rapidamente. - Bem, vou distribuir telas para vocês e, como é a primeira aula do semestre, quero que vocês se expressem por meio da tinta. Quero que vocês pintem suas respectivas essências, que me mostrem quem vocês são nessa simples telinha. - Ela passou de mesa em mesa entregando as telas. - Se vocês abrirem a gaveta abaixo do tampo de suas mesas, encontrarão seis potes de tinta, quatro pincéis, lápis normal e 2B, palheta e um avental. Vocês irão pôr a tela no cavalete, usar a palheta para depositar as tintas e mesclá-las e começarão imediatamente. Vão!

Clary levantou-se de seu banquinho, ajustando a tela no cavalete. Ao contrário dos outros estudantes, que foram logo brincar com as tintas, ela retirou o blazer escolar, o dobrando e colocando sobre o tampo da mesa, dobrou bem as mangas da camisa social, até que estivessem acima dos cotovelos, afrouxou o nó da gravata e amarrou o avental. Desfez o rabo de cavalo e fez um coque simples, que não puxava tanto o couro cabeludo. Estalou o pescoço e aí sim pegou o lápis.

— Que maneiro esse seu ritual de artista. - Jace soltou. Ele estava pintando o princípio de uma cruz marrom.

— Preste atenção na sua tarefa, seu mané. - Ela respondeu, começando o contorno. Era uma figura com os braços erguidos, juntos, o cabelo esvoaçando, junto da roupa. Era ela.

— O que significa isso? - Ele questionou.

— Liberdade. - Ela disse e sorriu.  


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Notas finais do capítulo

Gostou? Comente!
Não gostou? Comente para que eu possa melhorar!
Tá indiferente? Comenta uma coisa aleatória.
Mas por favor, comente!
Z, você já sabe, não leia minha fic. Te amo.
XoXo
Undisclosed Desires.