Call Me Evans escrita por Coffee


Capítulo 2
01. Begin


Notas iniciais do capítulo

Olar, olar! Tudo bem?

Então, eu sumi. Eu sei que sumi da forma mais bela o possível. Eu praticamente aparatei para um lado do planeta em que não existe internet... Bem, ao menos parece isso. Mas eu tenho explicações. Em primeiro lugar, minha vida tem andado muito corrida nos últimos meses. Trabalhos escolares, provas... Enfim, tem tudo sido uma enorme bagunça para mim. Mal tenho tido tempo de entrar aqui. Sem contar que tenho me dedicado a alguns outros trabalhos em outros sites, e isso ocupa bastante o tempo. Ocorreu um pequeno bloqueio criativo também... Enfim, minha vida tem andado uma verdadeira zona.

Prometo que vou tentar me manter mais presente aqui no site e nessa história. Vou responder comentários e tudo o mais e tentar atualizar tudo o mais rápido o possível. Enfim, como um pedido desculpas, trago-lhes um dos maiores capitulos que já escrevi em toda a minha vida. Espero que gostem, verdadeiramente falando. Foi praticamente um parto postar esse capítulo... O computador deu MUITO bug na hora de formatar o texto, enfim, foi uma loucura, mas aqui estou eu. Gostaria de deixar claro que muitas das coisas que os personagens falam e fazem eu não concordo! Relembro que a fanfic se passa em um tempo em que as pessoas não tinham boa parte do conhecimento a respeito de diversas coisas (como, por exemplo, o álcool).

Fanfic betada por Giih Black, imagem do capítulo feita por ProngsPott3r, capa feita por AhLupin!

Boa leitura:



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“Algumas vezes, as pessoas atribuem meu sucesso a minha genialidade; a única genialidade que eu sei é sobre trabalho duro.” – Alexander Hamilton (1757-1804)

***

1776, Nova York.

                Os olhos verdes de Lily Evans encararam com receio a placa com o nome do pub escrito em letras vermelhas. Sendo uma jovem mulher imigrante na grande cidade de Nova York, ela não sabia de muita coisa e nem de muitas informações. Porém, mesmo sem muitos conhecimentos naquela cidade grande e com uma roupa (masculina, surrada e usada) grande demais, ela tinha o conhecimento de um nome: Emmeline Vance. Se Lily quisesse o seu plano de lei no congresso, ela teria de procurar Emmeline.

                Lily passou dias perguntando às pessoas onde ela poderia encontrar aquela mulher. Diziam que ela era uma lenda na magia e no direito. Diziam que ela tinha uma habilidade de persuasão tão impressionante que poderia conseguir o que queria. Lily precisava de uma mulher como aquela ao seu lado. Mas, ela ficou realmente impressionada ao saber que poderia encontrar Emmeline no pub Leaky Cauldron durante todas as noites de sexta-feira.

                Ela respirou fundo e colocou as mãos nos bolsos do casaco antigo e verde que seu pai havia deixado no armário. Tudo bem, Lily, ela pensou ansiosa. Não estrague tudo. E com esse pensamento, ela abriu a porta do pub e entrou. Lily teve que pular o corpo de um homem que estava dormindo no chão (provavelmente, havia bebido demais). Ela olhou ao seu redor e viu um misto de homens e mulheres rindo e bebendo. Ela sabia que todos ali eram bruxos, o que a deixava aliviada. Aquele bar era protegido por uma magia que o fazia impossível de ser visto por trouxas.

                A ruiva se aproximou de uma mesa, onde apenas uma mulher estava. Ela vestia roupas semelhantes às de Lily, porém, o seu casaco era azul e suas roupas eram mais novas. Seu cabelo era castanho-claro e sua pele era clara. Ela levantou os olhos do jornal que lia e encarou Lily com seus ambiciosos olhos. Olhou-a de cima a baixo, de forma que a ruiva se sentisse desconfortável. A mulher cruzou os braços, desconfiada.

                — Pardon me, a senhorita é Emmeline Vance? – perguntou Lily, mexendo na manga do casaco com ansiedade.

            — Eu mesma. – ela respondeu, arqueando ambas as sobrancelhas.

                — Ótimo! – Lily exclamou, sorrindo, pegando uma cadeira de madeira e se sentando nela, de forma que conseguisse encarar Emmeline. – Meu nome é Lily Evans, senhorita! Eu sou uma jovem imigrante vinda da Inglaterra! Quero saber como se tornou a aluna de maiores notas. Entrei em Hogwarts após a sua entrada. A senhorita era uma lenda.

                — Foi o último desejo dos meus pais antes de morrerem. – explicou Emmeline, colocando o copo que segurava na mesa.

                — A senhorita é órfã? – Lily arqueou ambas as sobrancelhas, surpresa. – Eu também sou! Fiquei órfã há poucos meses! Eu queria que houvesse uma guerra, uma revolução! Queria provar que os nascidos-trouxas não são tão fracos ou estúpidos quanto todos pensam! Eu disse isso ao meu professor de poções. Ele me olhou como se eu fosse estúpida! Eu não sou estúpida! Eu... Hum... Dei um soco no rosto dele.

                — Você deu um soco no rosto do homem? – A mais velha arqueou ambas as sobrancelhas, surpresa.

                — Sim! – Lily sorriu largamente, orgulhosa. – Mudei-me para Nova York recentemente para provar do que eu sou capaz!

                — Nova em Nova York, não é mesmo? – Emmeline parecia entediada ao fazer a pergunta. – Vou te dar uma dica para sobreviver nessa cidade, garota. Fale menos...

                — O que? – Lily franziu a testa, confusa.

                — Sorria mais. – Emmeline terminou a frase, sorrindo de lado e bebendo um pouco da cerveja amanteigada que estava no copo. – Nessa cidade, apenas os espertos sobrevivem. Não deixe que eles saibam o que você apoia e o que você discorda.

                — Não entendo a sua linha de pensamento, senhorita. – Lily murmurou confusa.

                Foi nesse momento em que ambas escutaram um grito animado vindo da porta. Lily e Emmeline encararam a direção. Três jovens mulheres entraram no pub, gritando e rindo. Uma delas era alta, loira e de olhos escuros, pele bronzeada, e ria mais do que as outras. Mais baixa do que a primeira, a outra ria e pulava com o seu cabelo loiro caindo em seu rosto. A mais baixa de todas tinha cabelos crespos e pretos, sua pele era escura e seus olhos eram castanhos.

                — Que horas são?! – A mais alta gritou.

                — Hora da bebedeira! – As outras duas terminaram a frase, rindo.

                — Estou te dizendo isso para não acabar sendo como essas três idiotas. – sussurrou Emmeline, atraindo a atenção de Lily.

                — Emmeline! – gritou a mais alta, rindo e se aproximando, sendo seguida das outras duas, que sorriam. – Há quanto tempo, minha velha amiga! Como vai?

                — Não que isso seja de seu interesse, McKinnon. – Emmeline respondeu de forma azeda.

                — Não seja tão azeda, Emmeline! – A mais baixa de todas riu zombeteira. – Fale um pouco de seus conhecimentos sobre a lei, cujo nós, pobres mulheres, não tivemos oportunidade de conhecer!

                — E quem é essa? – perguntou a mulher que vestia um casaco roxo, cruzando os braços.

                — Meu nome é Lily Evans. – ela se apresentou, sorrindo. – Sou nova na cidade. Desembarquei há pouco tempo de Londres.

                — Britânica, assim como os jaquetas vermelhas? – McKinnon riu e colocou as mãos na cintura. – Damn! Essas coisas não aconteceriam no meu bom e velho Arizona.

                — Com todo o respeito, senhorita, mas, não estou aqui para me intrometer nos assuntos dos trou... Quero dizer, non-maj.— respondeu Lily educadamente. – Estou aqui pela Constituição Bruxa. Estudei Direito por algum tempo e tenho um projeto de lei que poderá mudar toda a história bruxa.

                — Ela sonha alto. – A mais baixa riu. – Eu gostei dessa menina. Sou Mary McDonald. É um prazer te conhecer.

                — Marlene McKinnon. – A mais alta lhe lançou uma piscadela.

                — Dorcas Meadowes. – A loira se apresentou. – Bem vinda à Nova York.

                — Mas, não viemos aqui para falar com a jovem jaqueta vermelha! — Mary arrastou uma cadeira de madeira e se sentou. – Você sabe dos fatos, Vance. Uma guerra civil está para explodir! Os nascidos-trouxas estão se revoltando contra a tirania dos puristas! Queremos saber de que lado você está!

                — Lado? – Emmeline forçou uma risada leve. – Eu não estou em nenhum lado. Estou aqui apenas para ver o circo pegar fogo.

                — Ah, não, você não vai começar com isso, Vance. – Marlene revirou os olhos, cruzando os braços. – É uma época de guerra! Não pode ficar vendo as coisas acontecerem! Você tem que decidir o que você irá apoiar!

                — Se você não irá apoiar nada, Vance, pelo que você irá cair? – Lily, que estava em silêncio até o momento, murmurou baixo, porém, alto o suficiente para o grupo na mesa conseguir ouvir.

                As quatro mulheres ficaram em silêncio por um momento, encarando a ruiva, que sentiu os joelhos tremerem diante tantos olhares em sua direção. Emmeline arqueou ambas as sobrancelhas, surpresa, impressionada. O trio começou a gritar e rir, trocando olhares animados. Dorcas caminhou até Lily e lhe deu um tapa amigável nas costas, porém, esse tapa foi forte o bastante para fazer com que Lily arfasse.

                — A ruiva tem atitude! – Dorcas começou a rir de forma compulsiva.

                — Você me deixou curiosa, jaqueta vermelha. — Marlene pegou uma cadeira e se sentou. – Por que uma garota como você iria vir para a boa e velha Nova York?

                — Ela tem razão. – Mary franziu a testa. – Você poderia ter um ótimo trabalho em Londres com tanto conhecimento. Talvez pudesse ser auror ou algo assim.

                — Eu vim por que soube dos rumores da Guerra Civil. – Lily explicou se sentindo levemente desconfortável com as três mulheres sentadas ao redor dela. – Eu... Como eu disse, eu estudei Direito na Inglaterra. Há alguns anos, eu comecei a escrever um possível projeto de lei que iria incluir os nascidos-trouxas na Constituição Bruxa Americana. Seria apenas um começo, mas, já seria um passo.

                — Nascidos-trouxas? – Mary apoiou o cotovelo na mesa. – Você apoia a causa?

                — Na realidade, eu mesma sou nascida-trouxa. – Lily sussurrou e sorriu de forma orgulhosa, porém, hesitando logo em seguida. – Vocês... Vocês não têm nenhum problema com isso, certo?

                — Claro que não! – Marlene lhe lançou um sorriso amigável. – Bruxos são bruxos, não importa o tipo de sangue!

                — Mas, fale mais sobre esse seu projeto de lei. – Dorcas pareceu interessada. – Quero saber mais sobre essa questão de inclusão dos nascidos-trouxas na Constituição Bruxa.

                Com o pedido de Dorcas, Lily pareceu se empolgar. Ela começou a falar e explicar de forma resumida o que a lei apresentava. E, senhor, ela se sentiu tão importante naquele momento! Aquela atenção era ótima! Ela gesticulava com animação e chegou a se levantar da cadeira e falar em voz alta. Porém, ela parou de falar quando percebeu que todos no pub a olhavam. Lily corou fortemente e sentou na cadeira, passando a mão pelo cabelo.

                — Me desculpe, eu me animo demais quando começo a falar desse projeto. – Lily murmurou envergonhada. – Eu nunca tive um grupo de amigos, antes. Então... Espero fazer com que vocês fiquem orgulhosas de mim.

                — Está brincando comigo?! – Marlene sorriu largamente e se levantou da cadeira, caminhando até Lily e colocando uma mão no seu ombro. – Você vai longe, ruiva! Apenas me faça o favor de não jogar a sua chance fora!

— Traga-nos cinco copos de cerveja amanteigada, garçom! – Dorcas exclamou quando um garçom passou pela mesa.

                — Eu bebia isso quando era adolescente! – Mary sorriu de lado, encarando o garçom. – Cerveja amanteigada é para os fracos! Traga-nos cinco copos de firewhiskey!

                Quando o garçom chegou com os cinco copos, todas as mulheres na mesa (até mesmo Emmeline, que estava relutante e em silêncio) pegaram um copo. Mary sorriu e se levantou da cadeira, levantando o copo, atraindo a atenção das outras, que não começaram a beber a bebida.

                — Um brinde a Lily Evans! – A mulher gritou, rindo. – A mulher que irá nos trazer um novo começo e a liberdade!

                Dorcas e Mary levantaram os seus copos, rindo. Lily levantou o seu copo logo em seguida, sorrindo levemente, feliz por finalmente ter um grupo de amigas. Emmeline foi a última. Ela revirou os olhos, sorriu de lado e levantou o seu copo. Seus copos se bateram e as três exclamaram:

                — Um brinde a liberdade!

***

                Lily havia perdido a conta de quantos copos de cerveja amanteigada havia bebido. Ela aceitou apenas beber um único copo de firewhiskey após descobrir que o homem desmaiado na porta do pub havia bebido apenas dois copos da bebida alcoólica. Porém, Lily amava cerveja amanteigada com toda a sua alma e coração, mesmo que fosse sem álcool. Emmeline estava calada, apenas observando a situação. Lily conversava com Marlene, Dorcas e Mary como se fossem amigas antigas.

                — Então, Lily, você apoia a outra causa? – Mary perguntou interessada, colocando ênfase na palavra “outra”.

                — É a causa que apoia o final da escravidão. – Dorcas explicou ao reparar a expressão interrogativa no rosto de Lily. – Tanto a non-maj quanto a dos elfos domésticos.

                — Existe uma causa para isso?! – Lily, surpresa, arqueou ambas as sobrancelhas.

                — Claro que existe! – Mary, indignada, exclamou, fazendo com que Emmeline, Dorcas e Marlene revirassem os olhos.

                — Mary é obcecada pelo movimento contra a escravidão. – Marlene tediosamente sussurrou para Lily. – Ela faz campanhas e tudo o mais. Todos os elfos domésticos da casa dela são libertos e estão ali por opção.

                — E isso não é bom? – Lily sussurrou como resposta, observando Mary orgulhosamente falar sobre o movimento abolicionista.

                — Seria bom se ela parasse de encher a nossa paciência com isso todos os dias. – Marlene revirou os olhos mais uma vez.

                — Mary entrou em uma briga uma vez por causa disso. – Dorcas riu levemente com a memória, fazendo com que um sorriso zombeteiro surgisse no rosto de Marlene. – Ela viu um bruxo maltratar um elfo doméstico. Você devia ter visto! Ela nem precisou usar mágica para deixar o cara em praticamente pedaços!

                — Meus punhos ainda doem. – Mary brincou, fazendo com que Lily risse, porém, rapidamente ela assumiu uma expressão séria. – Eu não sei se vou longe. Eu sou imprudente, impulsiva e consideravelmente preguiçosa. Mas você? Eu consigo ver sucesso exalando de você. Acho que você irá conseguir reescrever a Constituição Bruxa e acho que conseguirá incluir os nascidos-trouxas e mestiços nela.

                — Você realmente acha isso? – O sorriso de Lily se alargou de esperança.

                — Claro que sim. – Mary, por um momento, encarou o seu copo de firewhiskey. – Eu acho que você é confiável. Então... Apenas queria fazer um pedido. Faça o que conseguir para acabar com a escravidão. “Nunca seremos verdadeiramente livres até acabarmos com a escravidão”. Eu não sei exatamente quem falou essa frase, mas, foi um homem que eu conheci um dia no bar.

                — E estava bêbada demais para lembrar o nome dele. – resmungou Marlene, revirando os olhos.

                — Enfim. – Mary ignorou a fala de Marlene. – Lily, os non-majs tem se movimentado contra isso. Nós precisamos nos movimentar também. É pura hipocrisia o fato de que queremos a liberdade de alguns e a continuidade da falda de liberdade de outros. Prometa-me que você irá ao menos tentar, me prometa.

                — Eu prometo. – Lily sorriu levemente, assentindo rapidamente.

                — Mas então, Lily. – Dorcas desviou o assunto. – Como era viver na Inglaterra?

                — Vocês não são completos esnobes quanto os non-majs dizem que são, são? – brincou Marlene, arqueando uma das sobrancelhas.

                — E eu pareço ser esnobe? – Lily riu um pouco quando respondeu. – Na realidade, onde eu morava era bem difícil, para ser sincera. Minha família era bem pobre e nós tínhamos que trabalhar duro para manter a família. Ou, para ser mais sincera, meu pai tinha que trabalhar duro para manter a família. Eu, minha mãe e minha irmã apenas ajudávamos.

                — Como assim? – Marlene parecia verdadeiramente confusa. – Está querendo dizer que vocês não trabalhavam?

                — Na realidade, não. – A ruiva forçou uma risada. – É um pouco complicado de se explicar. No mundo non-maj, o preconceito é um pouco diferente. Digamos que as pessoas... Bem, elas nos desvalorizam, mulheres, de certa forma.

                — Como assim?! – Dorcas, revoltada, gritou repentinamente.

                — Os non-majs descriminam as mulheres, por assim se dizer. – Lily explicou com um tom triste na voz. – Grande parte das mulheres non-majs não trabalha. Elas apenas se casam com homens ricos em uma esperança de ter uma vida tranquila.

                — O que?! – Marlene repentinamente gritou, e Mary se engasgou com a bebida, atraindo atenção de todos no pub.

                — Meninas, se acalmem. – Emmeline se pronunciou pela primeira vez, revirando os olhos. – Não irão querer chamar atenção. Enfim, Lily, deixando os preconceitos non-majs de lado. Continue a sua história.

                — Muito obrigado, Emmeline. – Lily sorriu levemente. – Enfim... Com onze anos, fui convidada a estudar em Hogwarts. Claro, foi extremamente complicado para mim. Mas, eu consegui. Formei-me e comecei a me interessar em Direito. Eu consegui alguns livros através de trabalho. E... Eu pensei que seria interessante incluir os nascidos-trouxas na Constituição Bruxa Americana. Eu até pensei em fazer isso na política britânica, mas, estamos passando por um período complicado, entendem? Enfim, eu comecei a trabalhar muito para tentar economizar dinheiro para vir até os Estados Unidos.

                — Você trabalhava com o que? – Dorcas, curiosa, perguntou.

                — Eu escrevia cartas e as enviava para pessoas que não sabiam ler e escrever. – Lily explicou com o olhar se tornando distante e nostálgico com a memória. – Mas, eu ganhava muito pouco. Muito pouco mesmo. Nunca que eu iria conseguir economizar dinheiro o suficiente para uma passagem em um barco. Foi nessa mesma época em que uma tempestade atingiu a minha cidade. Não foi uma tempestade qualquer, foi a pior tempestade em dez anos. Minha casa desabou, e meus pais... Eles morreram.

                — Lily, eu sinto muito. – Marlene colocou uma mão em seu ombro, uma expressão de compreensão presente em seu rosto.

                — Obrigado. – ela sussurrou triste, respirando fundo antes de continuar a história. – Enfim. Eu fiquei simplesmente desolada. Então, resolvi escrever tudo o que eu sentia. Toda a minha dor. Não sei como aconteceu exatamente, mas, dois dias depois, praticamente todos da cidade sabiam da minha história. Eu também não sei porque, mas, eles pareceram se comover com o que eu havia escrito. Então, começaram a tentar arrecadar dinheiro para pagar uma passagem de navio para Nova York. Até o final do mês, eu estava embarcando dentro de um navio, com a esperança de um novo começo.

                — Você provavelmente é a pessoa mais sortuda que eu conheço. – Mary riu de forma debochada.

                — Muitos dizem que eu sou uma mulher de sorte, sabe? – Lily brincou, fazendo com que Marlene, Mary e Dorcas gargalhassem. – Mesmo assim, eu não tenho a certeza de que nasci para ver a nossa glória. Mas, posso afirmar que quando nossa história for contada, será a de hoje à noite.

                As quatro jovens mulheres continuaram a rir e conversar sobre as suas vidas. Porém, Emmeline não se manifestou em momento algum. Fale menos, sorria mais. Uma única palavra que, em um futuro próximo ou distante, poderia prejudicá-la. Emmeline via potencial em Lily. Ela sabia que a garota poderia realmente muito longe, mudar a história. Porém, a menina simplesmente não calava a boca. E se ela não fosse mais cuidadosa, ela estaria dando livre armamento para os seus inimigos.

***

                A música no pub era alta. As pessoas dançavam animadamente. A promessa de uma revolução contra os puristas era algo que animava a grande parte das famílias. Rindo, James Potter observava os aurores gritarem palavras de promessas. Promessas de um começo novo para Nova York e para o mundo. Promessas de igualdade. James queria crer naquelas palavras. Ele tentava crer naquelas palavras.

                James tentava prestar atenção nas pessoas e ignorar o falatório de Sirius, o seu melhor amigo, que estava ao seu lado. Ele repentinamente olhou para a porta e observou Marlene (uma amiga de infância que estava mais para irmã) entrar no pub, rindo, acompanhada de outra mulher. James estranhou o fato de que Marlene tinha o rosto mais corado do que o normal, porém, ele deixou de prestar atenção nisso. Ele apenas prestou atenção na mulher que estava ao seu lado.

                Ao vê-la, James se sentiu desamparado. Ela era, definitivamente, a mulher mais bonita que ele já havia visto em toda a sua vida. Seu cabelo era ruivo e ondulado, caindo por seus ombros como uma cascata. Seu rosto pálido era coberto de sardas alaranjadas. Mesmo em roupas velhas e surradas, ela ainda parecia elegante andando ao lado de Marlene, com suas roupas novas e caras. James não sabe por quanto tempo ficou olhando na direção dela.

                Ela conversou com Marlene por algum momento enquanto ele a encarava. Ela então virou a cabeça em sua direção, o encarando com os seus olhos. Senhor, James nunca viu uma pessoa com olhos tão bonitos quanto os dela. Verdes, tão verdes quanto uma esmeralda. Ele sentiu o seu coração bater mais rápido. James sorriu nervosamente, começando a suar frio. Ela lhe lançou um sorriso como resposta. O rosto de James se tornou extremamente vermelho e ele desviou o olhar, de forma que a ruiva risse e voltasse a conversar com Marlene.

                Meia hora havia se passado na festa. Sirius, ao seu lado, já estava, provavelmente, bêbado. Com o olhar, James procurou Marlene. Ela conversava com uma de suas amigas, Mary, que lutava contra a escravização dos elfos domésticos (e a escravização trouxa, também) e afirmava que ninguém ali seria verdadeiramente livre até que a escravidão terminasse (e ele não deixava de concordar com esse pensamento). Gentilmente, ele a puxou pelo braço, fazendo com que ela o encarasse com uma expressão interrogativa. Ele, sorrindo de forma abobada, apontou para Lily (que estava encostada em um balcão e bebia um copo de cerveja amanteigada) e sussurrou:

                — Lene, eu quero um dia me casar com ela.

                Marlene ficou em choque por um momento, o rosto extremamente pálido. Ela o encarou e percebeu que a sua expressão era desamparada. Ele estava verdadeiramente apaixonado. Ela lhe lançou um sorriso leve e caminhou na direção da ruiva. James, em choque, observou Marlene cochichar algo no ouvido da mulher, que arqueou ambas as sobrancelhas, parecendo surpresa. Lene apontou na direção de James, que corou fortemente quando a ruiva o encarou. A mulher de olhos verdes sorriu docemente e caminhou até a sua direção, sendo acompanhada de Marlene.

                — Olá! – A ruiva exclamou, fazendo com que James sentisse os seus joelhos tremessem. – Marlene me falou de você. Meu nome é Lily Evans.

                — Meu nome é James Potter. – James sentiu como se o ar sumisse dos seus pulmões naquele momento. – É um prazer conhecê-la.

                — Me vejo na oportunidade de dizer a mesma coisa. – ela acenou levemente. – Você estudou em Hogwarts? Você me parece familiar.

                — Estudei em Hogwarts sim, senhora. – ele respondeu.

                — Oh, está explicado! – Lily sorriu largamente. – Tinha a certeza de já ter visto você em algum lugar!

                — Bem, eu irei deixá-los sozinhos. – Marlene sorriu de lado e começou a se afastar.

                James observou Marlene se afastar e voltou a conversar com Lily. Ele sentia o seu coração bater cada vez mais rápido a cada palavra que a mulher falava e a cada riso vindo da ruiva. Foi uma das melhores noites de toda a sua vida. Ele sabia que aquele acontecimento iria mudar completamente a sua vida. Porém, ele não fazia a mínima ideia de que, naquela mesma festa, em um canto vazio, Marlene McKinnon bebia firewhiskey e encarava os dois, se recusando a deixar as lágrimas descerem pelo seu rosto.

***

                Dois meses. Dois meses foi o tempo suficiente para que James e Lily decidissem que iriam se casar. Foi um casamento grande, considerando o fato de que James era uma pessoa extremamente rica e conhecida no mundo bruxo. A música tocada por violinos e outros instrumentos era tão alta que algumas pessoas tinham medo dos trouxas ouvirem. Dorcas, que estava tropeçando e rindo a toa após o seu terceiro copo de cerveja amanteigada, cambaleou até o palco e gritou tropeçando em suas palavras:

                — Tudo bem, tudo bem! Está na hora da dama de honra dar algumas palavras! Abram espaço para Marlene McKinnon!

                Todos os presentes aplaudiram, animados. Marlene suspirou, cansada, e caminhou até o palco, segurando um copo de vidro que estava com vinho. Lily, abraçada a James, a encarava com um sorriso largo. Sorrindo de lado, Marlene levantou o copo no ar e colocou uma mão na cintura, orgulhosa.

                — Um brinde a noiva! – ela exclamou, causando uma troca de olhares entre James e Lily que fez com que o almoço no estomago de Marlene revirasse. – Um brinde ao noivo! Isso, vindo da sua melhor amiga, que sempre estará ao seu lado!

                — Até mesmo nas horas de ressaca! – gritou Mary, rindo, causando gargalhadas dos visitantes e fazendo com que Marlene revirasse os olhos.

                — Um brinde a sua união! – continuou Marlene.

                — E a revolução! – acrescentaram as suas amigas, animadas, ganhando apoio de outras pessoas na festa.

                — Espero que você esteja sempre satisfeita! – Marlene desceu do palco e caminhou até Lily, um sorriso enorme em seu rosto.

                Lágrimas começaram a surgir nos olhos de Marlene. Lily sorriu largamente e abraçou fortemente a amiga, que começou a soluçar como uma criança em seus ombros. Lily e os outros convidados tinham a certeza de que aquelas lágrimas eram de alegria pelo fato de que a sua melhor amiga estava feliz. Porém, apenas Marlene sabia que aquelas lágrimas eram de tristeza. Tristeza por ter desistido da mulher que amava pelo seu melhor amigo, quase irmão.

                Marlene conhecia James quase como conhecia a sua própria mente. Ela nunca havia conhecido alguém tão honesto e cujo você poderia colocar confiança sem hesitar. Ela sabia que se dissesse que estava apaixonada por Lily, ele iria dizer que estava bem com isso, porém, ele estaria mentindo. Quem estaria chorando naquele momento seria ele. E Marlene sempre iria colocar a felicidade das outras pessoas acima da sua. Durante todas as noites pelo resto de sua vida, Marlene iria sonhar com aqueles brilhantes olhos verdes e iria se arrepender de não ter sido valente o suficiente para dizer o que sentia.

***

                Lily encarava a mala que estava em cima da cama. Não era grande, para ser exata. Era até pequena, dava para ser carregada com apenas uma mão. Ela foi convocada pelo tenente-general Albus Dumbledore. Lily não fazia a mínima ideia do que o homem havia visto nela, porém, ele a queria ao lado dele, ajudando a liderar e recrutar pessoas para lutar na revolução. E, mesmo sem entender exatamente o porquê de ele ter escolhido ela dentre diversos bruxos experientes, ela iria sem hesitar até Alexandria para conversar com o homem. Céus, ela havia esperado tanto por aquele momento. Mal podia acreditar que realmente estava acontecendo. Foi naquele momento em que James entrou no quarto, se aproximando dela e a distraindo de seus pensamentos. Ele parecia simplesmente desamparado.

                — Lily, você não precisa ir. – ele murmurou, pegando nas mãos da ruiva e atraindo a sua atenção. – Você poderia mandar uma carta para Dumbledore. Céus, você definitivamente precisa de uma folga! Ninguém pode trabalhar tanto assim, Lily. Você trabalha demais, precisa de um pouco de descanso.

                — James, você sabe por quanto tempo eu sonhei com isso? – Lily chiou, parecendo desesperada. – Eu sonho com esse momento desde que era criança. Uma revolução contra a tirania dos puros-sangues. Eu sonhava com isso quando cada puro-sangue olhava nos meus olhos e me chamava de... Você sabe o que. James, eu não só quero isso, eu preciso disso.

                — Você precisa de um descanso. – ele murmurou desesperadamente. – Você tem trabalhado tanto... Tem me preocupado. Acho que você vai morrer de cansaço, desse jeito.

                — Eu não irei morrer de cansaço. – Lily riu fracamente e lhe beijou na bochecha. – O único que precisava descansar é você. O trabalho como auror parece estar te matando.

                — O trabalho como auror não está me matando. – James revirou os olhos, um sorriso leve surgindo em seu rosto. – Na realidade, nenhum trabalho poderia me matar. Afinal, eu sou James Potter, não é mesmo?

                — Arrogante e consideravelmente narcisista. – A ruiva sorriu de lado. – Mas, o melhor de todos os homens e o melhor de todos os maridos.

                — Lily, por favor. – ele repetiu mais uma vez. – Tire algumas férias. Você escreve mais de cem cartas por dia para pessoas analfabetas. E não me diga que isso é exagero, eu contei todas as cartas que você escreveu e entregou apenas nessa semana.

                — James, eu sinto muito, mas, eu já tomei a minha decisão. – ela lhe lançou um sorriso fraco e triste. – Eu não aguento mais toda essa opressão. James, não há um único dia em que eu vá a algum bairro completamente bruxo sem que um maldito puro-sangue preconceituoso me chame de você sabe o que.

                — Apenas... Fique viva, certo? – James suspirou e murmurou. – Isso seria o suficiente.

                — Não se preocupe. – ela respondeu, lhe dando um rápido beijo. – Volto antes de você sequer lembrar que eu saí.

                E dizendo isso, ela pegou a pequena mala que estava em cima da cama e lançou um último olhar na direção de James antes de sair de casa. A jovem mulher respirou fundo. Lily sabia que o que ela havia dito era mentira. Ela realmente estava cansada de todo o trabalho. Céus, Merlin sabia o quanto ela trabalhava duro e quão pouco ela ganhava. Quem conseguia sustentar aquela família era James. Era o dinheiro que ele ganhava como auror que colocava a comida na mesa.

                Lily pensou em voltar. Pensou em mandar outra carta para Dumbledore, avisando que ela havia desistido de ir lutar na Guerra Civil e que iria passar algum tempo descansando em casa. Porém, o pensamento de que James era auror fez com que seu sangue fervesse. Esse não era o problema. James era um ótimo auror, ele merecia o cargo. O que fez com que Lily ficasse com raiva foi lembrar que ela tentou trabalhar no mesmo cargo. Ela tinha as mesmas habilidades de James, as mesmas técnicas, o mesmo nível de conhecimento (talvez mais). Porém, Lily não foi aceita. E na carta que lhe foi enviada, estava escrito claramente: “Motivo de recusa: bruxa nascida-trouxa”. Lembrar o fato de que ela foi simplesmente recusada por causa de seu sangue fez com que ela quisesse lutar naquela guerra apenas mais.

                — Eu não vou jogar a minha chance fora. – ela murmurou em voz baixa.

                Ela, determinada, começou a caminhar em firmes passos na direção oposta de sua casa, direção essa que ela sabia que se andasse sem parar, em alguns minutos, ela estaria no porto da cidade. Em cerca de uma hora, ela estaria embarcando em um navio junto com outros diversos trouxas com os mais diversos objetivos. Lily inicialmente esperava ser apenas uma mera soldado, porém, ela não iria ser apenas mais uma na multidão. Lily iria fazer a diferença, não importa as circunstâncias.

***

1777, Virginia, Alexandria.

                Completavam-se apenas alguns dias desde que Lily havia chegado a Alexandria. Ela estava hospedada na casa de Albus Dumbledore, uma enorme mansão. O tenente-general Albus havia insistido que ela ficasse em sua casa, e a ruiva não fazia a mínima ideia do por que. Grande parte do tempo ele estava passando em reuniões políticas secretas com bruxos de puro-sangue que apoiavam a causa. Lily admirava o homem. Ele era o primeiro e único mestiço a chegar ao cargo de auror até o momento. Ela apenas queria uma oportunidade de conversar com ele para perguntar o motivo de seu sucesso, porém, praticamente todas as vezes que ela tentava, ele estava ocupado.

                Naquela noite especifica, ela estava escrevendo uma carta sob a luz de uma vela. Ela molhou a pena na tinta mais uma vez, sorrindo levemente enquanto escrevia as declarações de amor. Aquela carta era destinada a James. Céus, apenas Merlin sabia o quanto ela sentia falta do esposo. Ela apenas queria que ele estivesse ao seu lado para lhe abraçar fortemente. E quando Lily escrevia suas cartas, ela fazia questão de deixar claro toda a falta que ela sentia de ter o esposo ao seu lado. Porém, ela não conseguiu terminar aquela especifica carta naquela noite, pois a porta foi aberta.

                Lily, assustada com o barulho repentino, pegou alguns livros debaixo da escrivaninha e os colocou acima do pedaço de papel, com medo de que pudesse ser algum intruso indesejado. Porém, ela apenas suspirou de alivio quando virou para trás e percebeu que era apenas Albus Dumbledore. Ela suspirou de alivio, porém, sentiu o coração acelerar ao lembrar que não era apenas Albus Dumbledore. Ela repentinamente se levantou da escrivaninha, desastrosamente deixando que a sua pena e outros materiais caíssem no chão. Ela corou fortemente quando colocou as coisas em seus devidos locais e, acenou de forma desajeitada.

                — Vossa Excelência! – ela chiou, um vermelho forte ainda tingindo o seu rosto enquanto ela ainda tentava esconder a carta. – Eu não o vi nem o ouvi vindo! Desculpe-me pela bagunça, eu acabei derrubando tudo, e...

                — Lily, não precisa de todo esse desespero ou todo esse respeito. – ele riu fracamente, falando com ela como se fosse uma antiga amiga. – Me chame apenas de Albus, sim? Isso seria o suficiente.

                — Albus. – Lily, em choque, murmurou para si mesma. – Albus. Tudo bem, eu acho que entendi. Nenhum problema em chamar o tenente-general por seu primeiro nome.

                — Deixe para me chamar de “tenente-general” quando estivermos no campo de batalha. – Albus riu, se aproximando dela em passos tranquilos. – Aqui, enquanto estiver hospedada em minha casa, sou apenas o seu colega de trabalho.

                — Se vossa exce... Quero dizer, se o senhor quiser assim, tudo bem para mim. – ela forçou uma risada nervosa, sentindo o suor começar a escorrer por sua testa.

                Quando Dumbledore pegou um banco e o colocou ao lado de Lily, sentando-se no banco, foi o momento em que Lily finalmente teve tempo para conseguir reparar na aparência do tenente-general. Ele era um homem idoso. Nem se a ruiva tentasse adivinhar ela conseguiria saber a idade dele. Ele usava um chapéu preto, cobrindo a cabeça que ela tinha a certeza de que era sem cabelo. Porém, ele tinha uma longa barba, branca como a neve. Sua pele era pálida, seus olhos eram de um tom de azul-claro e o seu nariz era torto, quase como se alguém tivesse o torcido cinco vezes seguidas. Lily tinha a certeza de que Albus Dumbledore era um homem que já havia passado, vivido e visto muitas coisas, coisas que ela nem sequer conseguiria imaginar.

                — Senhor, com todo o respeito, porém, o que o senhor está fazendo aqui? – Lily questionou, tentando fazer com que a pergunta soasse educada e sem a intenção de ofender.

                — Eu queria vir te dar três avisos. – ele respondeu, fazendo com que Lily sentisse como se fosse desmaiar de ansiedade. – Em primeiro lugar, queria te avisar que Rabastan Lestrange estará voltando para Alexandria.

                — Rabastan Lestrange? – Lily franziu a testa, confusa. – Ele não era o chefe do departamento de aurores?

                — Esse mesmo. – Albus confirmou, fazendo com que Lily, surpresa, arqueasse ambas as sobrancelhas. – Ele havia ido passar algum tempo na Inglaterra, em Londres. Ele irá voltar amanhã e quer ter uma reunião comigo.

                — Obrigado pelo aviso, senhor. – A ruiva educadamente disse. – Mas, eu ainda não compreendo no que eu estou envolvida com essa primeira noticia.

                — Bem, vejo que já terei que adentrar no segundo aviso. – Um sorriso de lado surgiu no rosto de Albus. – Eu queria perguntar se você aceitaria se tornar o meu braço direito.

                Pela primeira vez na noite, ela o encarou no fundo dos olhos. A surpresa e o choque estavam claros em seus olhos verdes como esmeraldas. Porém, Albus parecia tranquilo, quase como se estivesse perguntado algo completamente normal. Lily abriu a boca algumas vezes, tentando procurar algo para dizer, porém, a única coisa que era capaz de ser escutada era o profundo silêncio. Alguns segundos se passaram até que ela finalmente gaguejasse a resposta:

                — S-Senhor, eu agradeço a proposta, mas, eu nem sequer tenho uma posição alta no exército, eu mal entrei no exército, eu...

                — Procurei o seu histórico na Inglaterra. – Dumbledore a interrompeu, fazendo com que Lily congelasse. – Soube que era a melhor aluna na sua classe de Duelos. Soube de uma batalha no castelo de Hogwarts após um grupo extremista de puros-sangues invadirem o local e tentar tomar o controle.

                — Você soube que eu...? – Lily, surpresa e chocada, arregalou os olhos.

                — Sim, eu soube que foi você que liderou uma divisão de alunos. – ele a interrompeu novamente, fazendo com que Lily engolisse em seco. – E liderou a divisão com uma perfeição incrível. Onde você aprendeu isso, senhora?

                — Não aprendi em lugar algum, senhor. – ela respondeu, mexendo nervosamente no botão da jaqueta. – Eu vi a necessidade de liderar e liderei. Fiz o que precisava ser feito no momento, o que era correto.

                — São exatamente essas as qualidades que eu procuro em um braço direito. – Albus colocou uma mão em um de seus ombros. – Ainda mais do que isso. Quero que você se torne major-general nessa guerra que irá ocorrer. Eu irei confiar em você, Lily. Eu quero confiar em você. Mas tudo depende se você irá aceitar. Se não, eu compreenderei.

                Lily encarou o homem, franzindo a testa. Ela ainda tentava compreender tudo o que Dumbledore havia lhe dito. Céus, aquela era uma oportunidade de ouro. Era uma oportunidade de avanço social e, quem sabe, econômico. Ser braço direito de Dumbledore e major-general era, provavelmente, a maior chance que alguém já havia lhe dado. Talvez seja por esse motivo que, sem hesitar e com um sorriso no rosto, ela murmurou:

                — Ficarei honrada de assumir tais posições, senhor.

                — Ótimo! – O sorriso no rosto de Albus se alargou quando ele se levantou de onde estava e começou a caminhar na direção da porta. – Rabastan estará aqui ao meio dia. Eu recomendo que vista as sua melhores roupas. Ele é um pouco... Elitista, por assim se dizer. Não irá querer que Rabastan não tenha uma má impressão de você.

                — Certificarei de me lembrar disso, senhor. – ela rapidamente acenou, porém, quando ele estava prestes a sair, ela franziu a testa, confusa. – Albus? O senhor disse que iriam ser três avisos, senhor. O senhor apenas me disse dois.

                — Muito bem observado, Lily. – Albus não olhou diretamente na direção da jovem mulher enquanto falava. – O terceiro aviso é simples. Quero que saiba que James sente sua falta tanto quanto você sente falta dele.

                E dizendo isso, Albus saiu do quarto, deixando Lily em choque e em um silêncio mortal. Ela não se lembrava de ter contado ao tenente-general sobre o quanto sentia falta do esposo, muito menos se lembrava de ter dito ao homem o nome do seu marido. Lily franziu a testa, confusa. A ruiva respirou fundo e colocou os livros que estavam na escrivaninha em seus respectivos lugares. Ela não queria se preocupar o quão misterioso Albus Dumbledore era. Ela apenas queria terminar a carta para o seu esposo. E foi esse pensamento que fez com que um sorriso leve e sincero surgisse em seu rosto.

***

                Não fazia muito tempo desde que Emmeline havia recebido uma carta de Albus Dumbledore, o tenente-general, a chamando para ir até Alexandria, no estado de Virginia. Sendo uma puro-sangue, Emmeline estava completamente autorizada a aparatar. Ela sinceramente sentia pena dos nascidos-trouxas, cujo devido uma lei bruxa, não poderiam aparatar. Porém, Emmeline limpou sua mente desse pensamento imediatamente quando terminou de colocar todas as suas roupas em uma mala. Ela pegou a varinha e se concentrou, não querendo cometer erros em aparatar.

                Não demorou nem um pouco mais do que segundos até que ela estivesse em frente à mansão do tenente-general Albus Dumbledore. Ela ajeitou rapidamente a sua jaqueta marrom e o seu simples vestido azul (Emmeline ainda não entendia o costume trouxa de mulheres apenas usarem vestidos, porém, sendo que ela iria passar uma quantidade razoável de tempo no mundo trouxa, ela deveria seguir a regra). Emmeline respirou fundo e tranquilamente caminhou na direção da porta da mansão, batendo na porta de madeira. Foi preciso com que Emmeline esperasse alguns minutos para que alguém abrisse a porta.

                — Posso ajudar? – Um elfo doméstico perguntou ao abrir a porta.

                — Boa tarde. – Emmeline acenou brevemente. – Meu nome é Emmeline Vance. Fui chamada por Albus Dumbledore para uma conversa.

                — Oh! – O elfo doméstico pareceu surpreso. – O mestre Dumbledore está em uma reunião nesse exato momento! Teria como você esperar um momento?

                — Claro. – ela assentiu.

                Emmeline então entrou na enorme casa. Ela rapidamente olhou ao seu redor, reparando como tudo ali parecia ser antigo e ter milênios de existência. Ela sentou-se em um largo sofá presente na sala e pacientemente olhou para o relógio, esperando que Dumbledore terminasse a tal reunião. Demoraram apenas alguns minutos até que ela escutasse barulhos de passos. Emmeline imediatamente se levantou com um sorriso leve surgindo em seu rosto, ignorando o fato de que Albus estava acompanhado de outras duas pessoas.

                — Vossa excelência. – Emmeline formalmente o cumprimentou.

                Porém, Emmeline sentiu a confusão invadir a sua mente quando ela percebeu quem eram as duas pessoas que estavam ao lado de Dumbledore. Uma delas, ela não fazia a mínima ideia quem era, porém, ela tinha a certeza de que era uma pessoa rica e de puro-sangue. E a outra pessoa era ninguém mais e ninguém menos do que Lily Evans. Emmeline não se lembra de ter visto a jovem ruiva há um ano. Ela não havia mudado muito, porém, era surpreendente a ver em um elegante vestido verde, e não em sua jaqueta e colete surrados.

                — Srta. Vance. – Um sorriso leve surgiu no rosto de Dumbledore, que caminhou até ela e apertou a sua mão. – Estava lhe esperando, senhorita.

                — Tenho conhecimento disso, senhor. – Emmeline tentava não olhar diretamente na direção de Lily. – E fico contente em saber que me chamou para auxiliar na guerra que está por vir.

                — Bem, eu que deveria ficar contente de você ter aceitado! – Dumbledore alegremente exclamou. – Mas, nem todos aqui se conhecem, certo? Emmeline, esse é Rabastan Lestrange, ele irá ajudar a patrocinar a nossa causa e tentar fazer com que mais famílias de puro-sangue apoiem a revolução. E essa é Lily Evans, ela é a atual major-general e também é o meu braço direito.

                Foi como se alguém tivesse jogado um balde de água fria no rosto de Emmeline. Ela sentiu como se o seu coração tivesse parado por um momento. Lily Evans não só era major-general, porém, também o braço direito de Dumbledore. Céus, como aquilo era possível?! Lily tinha apenas vinte anos, ela não tinha nenhuma experiência! Emmeline não soube o que dizer. Ela queria apenas dar um forte soco no rosto de Dumbledore por ter feito uma escolha tão irresponsável. Um sorriso tímido se instalou no rosto de Lily.

                — Eu já conhecia Emmeline, Albus. – Desde quando ela podia chamar o tenente-general por seu primeiro nome?! – Há um ano, quando cheguei à Nova York, foi uma das primeiras pessoas cujo eu procurei conhecer.

                — Bem, isso é ótimo, facilitará a relação de vocês duas na guerra. – O sorriso no rosto de Dumbledore se alargou. – Sirius Black voltará da França daqui a alguns dias. Gostaria de ter todos vocês reunidos aqui para acertar com ele alguns patrocínios. A família dele é extremamente rica.

                — Eu achava que os Black eram totalmente puristas. – Rabastan arqueou uma das sobrancelhas.

                — Sirius é totalmente contra as ideologias da família. – explicou Dumbledore pacientemente. – Ele apoia a causa. Irá vir visitar o irmão por algum tempo e, nesse tempo, irá nos ajudar no inicio da revolução.

                — Por enquanto, convocou quem? – Emmeline perguntou, tentando esconder a raiva que sentia de Dumbledore naquele momento.

                — Além de vocês três? – Dumbledore perguntou retoricamente. – Chamei Alecto Carrow, porém, ela está na França e não pretende voltar por um bom tempo. Mas, disse que vai ser manter atenta a qualquer movimento parecido na Europa. Marlene McKinnon está resolvendo alguns assuntos na Carolina do Sul e chegará aqui na próxima semana. Frank Longbotton pretende chegar aqui após o fim da sua lua de mel. Amus Diggory está na Inglaterra e pretende vir o mais rápido que conseguir, porém, sem uma data correta.

                — Acredito que precisaremos de espiões no governo, vossa excelência. – Rabastan disse, cruzando os braços.

                — Já tenho uma pessoa em mente. – O sorriso de Albus era astuto. – Dorcas Meadowes vem de uma família rica, influente e, acima de tudo, purista. Ela nunca sequer comentou sobre os seus ideais com a sua família. Então, facilmente ela conseguiria se infiltrar no pequeno grupo de Lucius e conseguir informações.

                — Parece-me ser uma boa ideia, vossa excelência. – Lily murmurou educadamente, sem jeito.

                — Muito obrigado, Lily. – Dumbledore rapidamente assentiu, voltando sua atenção para Emmeline. – Mas, e você, Srta. Vance? Onde pretende ficar enquanto estiver em Alexandria? Caso não tenha um local para repousar, ficarei contente em abrigá-la em minha mansão. Espaço é o que não falta.

                — Agradeço pela oferta, Sr. Dumbledore, mas sinto em lhe dizer que eu irei passar os meus tempos em Alexandria na casa de um primo. – Emmeline respondeu friamente. – Inclusive, ele está me esperando. Sinto muito em dizer isso, mas, eu tenho que ir.

                — O Sr. Lestrange também estava de saída. – Dumbledore lhe respondeu. – Mandarei uma carta na data da próxima reunião.

                — Nos vemos então, Sr. Dumbledore. – Emmeline acenou em forma de despedida.

                Ela então saiu da grande mansão, respirando fundo. Lily Evans, a jovem, imigrante e muitas vezes imprudente, era o braço direito de Albus Dumbledore. A ruiva que parecia não ter um único senso de realidade era major-general. Emmeline só tinha a certeza de que o mundo estava perdido. Onde Dumbledore estava com a cabeça quando tomou essa decisão? Bem, ela não tinha a certeza. Só sabia que a sua cabeça estava cheia daquelas loucuras. Aquilo era o suficiente para apenas um dia. Céus, Emmeline só tinha a certeza de que precisava de um bom copo de firewhiskey naquele momento.

                Emmeline então rapidamente aparatou na casa de seu primo. Ela não mentiu quando disse aquilo. A única diferença é que seu primo não estava a esperando, pois ele havia viajado para a Europa e havia cedido a casa para que ela passasse o tempo em Alexandria. Rapidamente, ela organizou as suas roupas e pertences e trocou o vestido por um colete, uma calça e botas de couro. Ela colocou um pouco de dinheiro no bolso e pegou a sua varinha, se concentrando para aparatar em um escuro beco aleatório das ruas de Virginia. Emmeline então guardou a sua varinha e preguiçosamente começou a caminhar pela rua, ignorando os olhares tortos que os non-majs lhe lançavam devido a sua roupa.

                Quando ela finalmente chegou ao local desejado (um pub bruxo conhecido na região, protegido por um feitiço que impedia que os non-majs sequer enxergassem o local), Emmeline olhou para a direita e para a esquerda. Ela sabia que não havia necessidade (afinal, o local era protegido e impossível de trouxas enxergarem), porém, precaução nunca é demais. Ela enfim abriu a porta do local e adentrou nele, sentindo-se feliz ao escutar a gritaria. Sentia saudades de ir a um bom pub. Ela sentou-se em um banco perto do balcão, percebendo que havia alguém ao seu lado, porém, sem prestar muita atenção.

                — Eu quero um copo de firewhiskey. – Emmeline resmungou tediosamente para o balconista e não demorou muito tempo até que o balconista lhe entregasse o copo e ela lentamente começasse a beber o líquido.

                — Então, você vem aqui sempre? – A pessoa que estava ao seu lado perguntou.

                Emmeline olhou para o lado, finalmente tendo oportunidade para reparar melhor na pessoa que estava sentada ao seu lado. Ele era um homem com traços aristocráticos e roupas caras e elegantes, de cabelos negros e olhos escuros, com a pele extremamente pálida (que Emmeline acredita ser devido à falta de sol ou algo assim) e olheiras escuras debaixo de seus olhos. Ele tinha aproximadamente a sua altura e o sorriso em seu rosto era leve. Ela percebeu que ele bebia um copo de cerveja amanteigada. Emmeline arqueou uma das sobrancelhas.

                — Na realidade, não. – Emmeline forçou uma risada. – Vim a Alexandria por apenas negócios. Mas, e você, vem aqui sempre?

                — Compareço praticamente todos os Sábados desde que vim morar em Alexandria há um mês. – O sorriso presente no rosto do homem era triste. – Mudei-me para cá após me divorciar de minha esposa. Atualmente, ela está na França, deitando na cama com qualquer homem que enxerga pela frente. E eu, bem, eu apenas estou esperando meu irmão voltar de viagem.

                — Sinto muito. – Emmeline tentou o consolar, sem jeito.

                — Não, tudo bem. – ele deu de ombros. – Estou melhor sozinho, de qualquer jeito. Eu acredito que mereço coisa melhor.

                — Sem querer soar indelicada, mas, o que ela fez para que você quisesse se divorciar dela? – ela franziu a testa. – Se não quiser responder, não precisa.

                — Eu realmente não me importo. – ele murmurou, encolhendo os ombros. – Ela me traiu. Sei o que deve achar, sei que deve pensar que eu devia ter dado a ela uma nova chance. E eu dei a ela uma nova chance. Quando não eram homens, eram mulheres. Já chegou ao ponto dela levar prostitutas até a nossa casa. E quando eu questionava, ela me batia e me insultava. Chega uma hora em que você enjoa dessa vida, sabe? Então, pedi divorcio.

                — Você não merece isso. – Os olhos de Emmeline o encaravam com pena enquanto os olhos dele apenas miravam o liquido em seu copo. – Ninguém merece isso.

                — Digo isso todos os dias, em uma esperança de me animar. – Por algum motivo, Emmeline sinceramente sentiu-se feliz quando o viu genuinamente sorrir. – Meu nome é Regulus Black. E o seu?

                — Por que eu deveria lhe dizer o meu nome? – Emmeline arqueou uma das sobrancelhas, o encarando.

                — Eu lhe contei um segredo. – O sorriso em seu rosto era astuto. – Você me deve um.

                — Touché. — Emmeline sorriu de lado e bebeu um pouco do seu firewhiskey. – Meu nome é Emmeline Vance.

                — Bem, Srta. Vance. – ele disse em tom de brincadeira. – Sinto em lhe dizer que já devo ir para a minha casa. Nesse horário, tenho alguns afazeres. Porém, espero poder ter a sua companhia em algum outro dia. Talvez para um jantar em minha casa.

                — Seria esse um convite para um encontro, Sr. Black? – O sorriso no rosto de Emmeline apenas se alargou.

                — Se assim quiser interpretar. – Regulus lhe lançou uma piscadela, de forma que Emmeline não corasse, porém, que o seu rosto se colorisse de um claro tom rosado. – Espero te ver novamente.

                E dizendo isso, ele se levantou do banco e começou a caminhar na direção da porta, de forma que Emmeline o seguisse com o seu olhar sem piscar em nenhum momento. Quando ele saiu do pub, seu olhar se voltou para o seu copo. Ela se sentia esquisita. Uma estranha queimação em seu peito, uma ansiedade sem fim com o pensamento de encontrar Regulus Black novamente. Emmeline suspirou cansada. Ela não tinha tempo para aquilo. Com a voz firme, ela resmungou:

                — Mais um copo de firewhiskey, por favor.

***

1779, Virginia, Alexandria.

                A dor de cabeça fazia com que Lily tivesse vontade de simplesmente parar de trabalhar naquele momento e ir deitar na cama. Suas mãos tremiam devido o cansaço. Ela já estava cansada de escrever cartas para famílias de puro-sangue e de estudar estratégias de guerra. Ela sentia como se não dormisse há semanas. E talvez ela realmente não dormisse há semanas. Lily estava tão ocupada com todo o seu trabalho em relação à revolução que mal tinha tempo para escrever cartas para o seu esposo e muito menos responder as cartas que ele a enviava.

                — Ocupada com o trabalho? – Uma voz familiar perguntou.

                Lily sentiu o coração acelerar quando ela se virou e viu quem a observava. Um sorriso leve surgiu em seu rosto. Marlene McKinnon, sua antiga amiga, a encarava, encostada na porta de seu escritório. Ela vestia a sua usual jaqueta marrom, colete e calças brancas e botas de couro. Marlene tinha os braços cruzados e um sorriso de lado presente em seu rosto. Lily rapidamente se levantou da cadeira na escrivaninha e caminhou na direção da amiga, lhe dando um abraço forte que imediatamente foi correspondido.

                — Lene, há quanto tempo que eu não te vejo! – Lily exclamou com a felicidade clara em sua voz.

                — Eu que o diga. – O sorriso no rosto de Marlene era triste, porém, Lily não pareceu perceber isso. – Você não respondeu as minhas últimas cartas! O que tem acontecido, Lily? Eu estava preocupada e James também.

                — Mil desculpas, Lene. – A ruiva suspirou, cansada. – Eu ando tão ocupada com o meu trabalho... Sinto como se não tivesse dormido há dias.

                — Deveria tirar uma folga. – Marlene arqueou uma das sobrancelhas. – Sabe, ninguém consegue sobreviver trabalhando tanto assim. Por que não passa algum tempo com James? Ele sente muito a sua falta.

                — Eu sei, leio as cartas dele. – Lily forçou uma risada, de forma que Marlene apenas franzisse a testa. – Eu queria tirar uma folga, Lene, eu sinceramente queria. Mas eu não posso. Eu ando tão cheia de trabalho, recentemente... Dumbledore mal tem tido tempo para falar com políticos de famílias de puro-sangue, então, tudo ficava comigo. Eu ando exausta.

                — Se você falasse com ele sobre o assunto, tenho a certeza de que ele entenderia o motivo. – Marlene colocou uma mão em um de seus ombros. – Você precisa descansar.

                — Já disse que não posso, meu trabalho depende disso. – Lily revirou os olhos. – Mas, por que você veio aqui? Quero dizer, não que eu não esteja contente com a sua visita, mas você estava sempre tão ocupada em reuniões com famílias de puro-sangue. Mal me lembro da última vez em que eu te vi.

                — Eu vim me despedir. – O sorriso no rosto de Marlene era triste e forçado. – Dumbledore pediu para que eu fosse até Tucson, no Arizona. Ele quer que eu tenha uma reunião com a minha família. Quer que eu os convença a vir para o meu lado. Ainda estou tentando preparar o meu psicológico para enfrentá-los.

                — Oh. – Lily franziu a testa, parecendo surpresa e preocupada. – Então, você vai ficar lá permanentemente?

                — Eu sinceramente não sei, Lily. – Marlene desviou o olhar, encarando o chão. – Se eu for para ficar, pode ser que, quando Dumbledore assumir o cargo de presidente, eu consiga um alto cargo no governo ou, pelo menos, no Arizona. Sem contar que eu também estou indo para discutir em relação a herança de meu pai.

                — Marlene, lembra o que você me disse há três anos? – Lily colocou ambas as mãos nos ombros da loira, de forma que ela a encarasse imediatamente. – Não jogue a sua chance fora.

                — Lily, você definitivamente é a amiga mais próxima que eu já tive. – O sorriso fraco no rosto de Marlene agora era sincero quando ela fortemente abraçou a ruiva. – Lhe vejo futuramente?

                — Nunca se esqueça de me enviar cartas. – Lily brincou, dando um soco leve no ombro da loira, que riu.

                — Eu nunca me esqueceria. – Marlene acenou rapidamente com a cabeça. – Saiba que eu te amo, Lily. Você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Cuide bem de James.

                E dizendo isso, Marlene caminhou até a porta e a fechou, fazendo com que Lily encarasse o local vazio que a sua melhor amiga havia lhe deixado. Lily tentou compreender o “eu te amo” que Marlene havia lhe dito. Porém, apenas balançou a cabeça e voltou a caminhar na direção da escrivaninha. Ela não tinha tempo para pensar em coisas como aquelas. Ela tinha muito trabalho para fazer.

***

1779, Carolina do Sul, Charleston.

                Emmeline respirou fundo, passando a mão pelas mechas de cabelo castanho que caía em seu rosto. Ela tinha que enviar uma carta para a espiã Dorcas Meadowes. Dumbledore havia ordenado que ela enviasse a carta o mais rápido o possível, pois precisava saber qual era o próximo passo dos puros-sangues. Emmeline se sentia cansada, ansiosa e preocupada. Os puros-sangues estavam respondendo violentamente os esforços dos rebeldes. Emmeline perdeu a conta de quantas cartas perdeu apenas naquele ano devido o fato de que mataram corujas no meio do caminho. Isso, claro, sem contar os constantes atentados. Ela sabia que a situação estava ficando preocupante e que uma guerra estava prestes a explodir. E era isso que a preocupava.

                Sua atenção foi completamente desviada quando escutou alguém bater em sua porta. Emmeline suspirou, resmungando quando deixou um pouco de tinta pingar na carta que estava quase pronta. Ela então se levantou da cadeira e desceu as escadas, sem sentir-se incomodada com o rangido da madeira (afinal, ela já estava acostumada com o barulho). Emmeline arqueou uma das sobrancelhas, surpresa, quando abriu a porta e viu que quem estava a sua frente era Regulus Black. Porém, mesmo com o susto, ela não conseguiu esconder um sorriso leve que se formava em seu rosto. E o sorriso de Regulus também era radiante. Emmeline cruzou os braços e se apoiou na porta.

                — Regulus? – ela questionou. – O que está fazendo aqui? Principalmente a essa hora da noite? E, você não estava em Alexandria, na Virginia?

                — “Fale menos, sorria mais”. – Regulus citou, fazendo com que Emmeline revirasse os olhos. – Qual o problema de eu ter vindo até aqui? Isso quer dizer que eu não posso mais encontrar a minha amante?

                — Você não é casado e eu não sou uma amante. – Emmeline colocou as mãos nos quadris, o encarando de forma desafiadora. – E, ainda assim, você não respondeu a minha última pergunta.

                — Sua memória é de dar arrepios. – ele riu sarcasticamente. – Sim, eu estava em Alexandria. Mas, eu comecei a sentir a sua falta, então, resolvi que passar algum tempo em Charleston não iria fazer mal algum.

                — Tão adorável que me dá diabetes. – ela forçou uma risada e se afastou da porta, permitindo que ele entrasse. – Pode entrar. Também estava sentindo a sua falta.

                Ele entrou na casa e, quando a porta se fechou, a beijou, que sorriu levemente com o ato. Alguns meses atrás, Emmeline e Regulus começaram um relacionamento. Claro que eles precisavam de algum cuidado, devido ao fato de que os non-majs tinham algumas regras restritas em relação a relacionamentos. Então, beijos (mesmo que leves e curtos) e mais alguns outros toques apenas atrás de portas. Eles caminharam até a cozinha, onde Regulus se sentou em uma cadeira de madeira e Emmeline começou a fazer chá para os dois (era uma verdadeira sorte que Regulus estivesse ali, afinal, ela estava sem se alimentar e nem beber nada há horas devido ao trabalho).

                — Então, o que fazia antes de eu bater na porta? – Regulus puxou assunto quando Emmeline caminhou até a mesa com duas xícaras de chá na mão.

                — Trabalhando. – ela respondeu, entediada, sentando-se em uma das cadeiras e bebericando o chá. – Sabe como as coisas estão. O clima está ficando cada vez mais tenso. Dumbledore me enviou para Charleston para tentar fazer alguns acordos com famílias puristas que apoiam a queda de Lucius Malfoy.

                — Por que você trabalha tanto? – ele arqueou uma das sobrancelhas. – Deveria relaxar um pouco, não acha?

                — Não, eu não acho. – Emmeline revirou os olhos. – Eu tenho que trabalhar para conseguir chegar a um alto nível. Principalmente com Evans ali. Argh, eu me arrepio de desgosto apenas de lembrar.

                — Evans? – Regulus franziu a testa com a menção da ruiva. – Sirius já me falou dela. Pelo que ele me disse, ela não é uma má pessoa.

                — A garota não é uma pessoa ruim. – ela explicou, encarando a xícara de chá. – Pelo contrário. É uma boa menina. Têm boas intenções, coragem, inteligência, ambição nessa vida. Mas, imprudente de uma forma impressionante. O problema é que prontamente Dumbledore a escolheu como braço direito e a colocou na posição de major-general. Isso, é claro, sem me dar uma chance! Aquele filho de uma...

                — Olhe o palavreado. – ele advertiu com um sorriso divertido no rosto.

                — Certo. – Emmeline resmungou, sem tirar os olhos da xícara. – Enfim. Ele é um grande irresponsável! Não estou sendo invejosa e muito menos ciumenta, mas, existem várias outras pessoas cinco vezes mais experientes do que Evans! E, não, eu não estou falando de eu mesma! Sirius, o seu irmão, por exemplo! Ele pode até ser tão imprudente quanto ela, porém, é extremamente experiente! Ele já foi auror e ganhou respeito na área! Amus Diggory, Frank Longbotton, Mary McDonald... Até a hipócrita Alecto Carrow poderia ser melhor!

                — Não exagere, Emm. – Emmeline pareceu suavizar um pouco quando o apelido foi utilizado. – Em primeiro lugar, em lugar algum Carrow poderia ser melhor. Eu convivi com ela e ela é uma cobra em pele de ser humano. E, em segundo lugar, Evans não pode ser tão ruim assim. Acredito que você deveria dar alguma chance a ela.

                — Tanto faz. – ela dramaticamente jogou a cabeça para trás. – Eu apenas estou com a cabeça cheia de tanto trabalhar. Mas, ao mesmo tempo, não posso tirar os olhos do meu trabalho. Eu quero avançar socialmente, não regredir.

                — Você não acha que seria melhor ter alguém ao seu lado? – Regulus, um pouco inseguro, sugeriu.

                — O que quer dizer com isso? – Emmeline franziu a testa, se ajeitando na cadeira de madeira e cruzando os braços.

                — Não que eu esteja duvidando de você. – ele rapidamente disse. – Mas, não acha que dividir as inseguranças com alguém seria melhor? Sabe, para tirar um pouco o peso dos ombros.

                — E não é isso que fazemos? – ela brincou com um sorriso de lado surgindo em seu rosto.

                — Eu estava pensando em sermos algo mais. – Antes que Emmeline pudesse falar alguma coisa, ele se ajoelhou no chão, fazendo com que a expressão dela demonstrasse puro choque. – Nos conhecemos há um ano, estamos em um relacionamento há um bom tempo... E, eu andei pensando muito, e cheguei a conclusão de que queria estar ao seu lado pelo resto de minha vida, até que a morte nos separe. Então, você aceitaria se casar comigo?

                E dizendo isso, ele, de forma desajeitada, tirou um anel de casamento do bolso da jaqueta, as mãos tremendo quando ele estendeu o objeto na direção de Emmeline, que não moveu um único músculo da cadeira onde estava sentada. A expressão de choque no rosto se tornou surpresa que, rapidamente, virou felicidade. Ela então se ajoelhou no chão, de forma que conseguisse encará-lo, e o beijou. Ele ficou tão chocado quanto ela estava há minutos. Emmeline se afastou com um sorriso divertido no rosto.

                — Isso conta como um sim? – ela disse baixinho, porém, alto o suficiente para que ele conseguisse escutar.

                — Acho que sim. – Regulus respondeu, também sorrindo, a beijando mais uma vez.

***

1779, Nova Jersey, Newark.

                Dorcas Meadowes fazia o possível para ficar em silêncio. Claro, era extremamente difícil para a loira ficar muito tempo sem opinar, porém, ela estava se esforçando. Se ela falasse uma única palavra, Dorcas poderia acabar comprometendo toda a sua missão no momento. Completavam-se três anos desde que ela conseguiu se infiltrar na roda de Lucius Malfoy. Em dois anos, ela conseguiu conquistar a confiança da maioria das pessoas. Apenas alguns sorrisos e comentários desagradáveis que faziam o seu estomago revirar foram o suficiente para que as pessoas confiassem nela.

                Uma coisa que ela não poderia mentir era sobre a educação dos puristas. Ela tinha que admitir que eram pessoas extremamente refinadas, com uma gramática invejável e uma calma impressionante. Esse comportamento se refletia no momento daquela reunião. Ninguém escutava sequer um barulho enquanto esperavam o presidente, Lucius Malfoy, entrar na sala. A própria Dorcas não ousava falar uma palavra sequer. Ela apenas encarava as outras cinco pessoas que estavam na mesa, e ela sentia enjôo apenas de lembrar que era considerada amiga dessas pessoas. Dorcas sentiu nojo apenas de imaginar que aquelas cinco pessoas (seis, incluindo ela mesma) eram as mais próximas de Lucius Malfoy, um homem que ela desprezava com a própria alma.

                A tensão na sala aumentou quando a porta se abriu, de forma que a luz da vela na mesa não fosse mais a única iluminação. Todos se levantaram em respeito, sem exceção. Lucius entrou na sala, o único barulho possível de se escutar além da respiração sendo as suas botas batendo contra o chão, e fechou a porta, de forma que a única luz novamente viesse da vela. Dorcas se esforçou para não revirar os olhos com toda a extravagância cujo homem tinha para caminhar até a cadeira, que ficava em uma posição na mesa em que ele poderia encarar todos e que todos poderiam encará-lo. Quando ele finalmente sentou-se na cadeira, todos retornaram a sentar-se em seus respectivos assentos.

                — Espero que haja um bom motivo para essa reunião. – ele quebrou o silêncio com aquela voz que Dorcas simplesmente detestava. – Eu estava em minha casa, me deleitando com a companhia de minha esposa. Mas, repentinamente, tive que aparatar para cá, com o anúncio de uma reunião de emergência.

                — Vossa excelência. – Bellatriz Black se pronunciou, acenando rapidamente. – Como deve saber, encontramos grupos rebeldes surgindo no país há quatro anos. Antes, eles eram pequenos. Agora, estão simplesmente enormes. Protestos têm ocorrido por todo o país e em praticamente todas as comunidades bruxas.

                — Eu não sou estúpido, Srta. Black. – Lucius arqueou uma das sobrancelhas. – Claro que tenho visto o movimento anti-purista crescendo. E, claro, isso tem me preocupado.

                — Não irá acreditar no que acabamos de descobrir. – Rodolphus Lestrange, o atual noivo de Bellatriz, disse, de forma que ela torcesse o nariz. – Descobrimos quem está liderando o movimento e onde estão acampados.

                Dorcas sentiu o coração acelerar e uma expressão de surpresa e choque invadir o seu rosto. Algumas outras pessoas na mesa trocaram olhares, sendo que, provavelmente, também não foram informadas sobre o que havia sido descoberto. Seu olhar se concentrou em Malfoy, que parecia tão chocado e surpreso quanto ela ou qualquer outra desavisada pessoa presente naquela mesa. Cerca de um minuto foi preciso para que ele finamente se recuperasse do choque e quebrasse o silêncio:

                — Onde eles estão?

                — Atualmente, existem diversos acampamentos por todo o país. – explicou Rodolphus antes que Bellatriz sequer pudesse abrir a boca. – Cada um com um líder designado pelo tenente-general Albus Dumbledore.

                — Dumbledore? – Malfoy, incrédulo, arqueou uma das sobrancelhas. – Está falando daquele mestiço? O primeiro e único a se tornar auror?

                — Esse mesmo. – Rodolphus assentiu rapidamente. – Ele é o principal líder do movimento. A “cabeça”, por assim se dizer. Não temos a certeza onde está no momento, porém, soubemos que designou a Srta. Mary McDonald para ficar no comando de um atual acampamento ao norte da Carolina do Norte. Esse acampamento é um dos maiores, até o momento, onde se concentra o maior número de soldados.

                — Entendo. – O presidente suspirou entediado. – Vejo que eles realmente querem uma guerra. Então, será o que terão. Meadowes?

                — Sim, vossa excelência? – Dorcas imediatamente respondeu, atraindo olhares de boa parte dos presentes na mesa.

                — Trate de escrever panfletos convocando homens e mulheres bruxas para a guerra que está prestes a acontecer. – Malfoy ordenou. – Lembre-se de colocar que unicamente puristas podem participar do exército. Oh, também peça para que os jornais publiquem matérias sobre o assunto.

                — Sim, vossa excelência. – ela rapidamente acenou. – Ainda no final dessa semana, tudo o que pediu estará pronto e entregue.

                — Ótimo. – ele afastou a cadeira e se levantou da mesma. – Essa reunião está oficialmente encerrada.

                Ele então saiu da sala e, pouco a pouco, as outras pessoas também começaram a sair. Dorcas foi a única e última a restar na sala. Suspirando, ela se levantou da cadeira e caminhou na direção da porta, cansada. O caminho para casa não foi tão longo. Ficava apenas alguns quarteirões após o seu atual local de trabalho. Ela fechou a porta e as cortinas, olhando ao seu redor mais uma vez para ter a certeza de que não havia ninguém. Em silêncio, Dorcas caminhou até a escrivaninha, pegou um pedaço de pergaminho e uma pena. Molhando a pena em tinta, ela começou a escrever um aviso no que futuramente viria a se tornar uma carta, mas, não qualquer carta. A carta que seria considerada pelos futuros historiadores o motivo da vitória do exército anti-purista.

***

1779, Virginia, Alexandria.

                Existiam dias em que Lily não iria trabalhar. Ela iria sentar-se na cadeira de sua escrivaninha, porém, não iria escrever uma única palavra. Iria sentir a dor invadir as suas mãos, tão cansadas depois de tantas palavras escritas. Em dias como aqueles, ela iria pegar antigas cartas de James, lê-las e sentir o coração aquecer com as palavras de seu esposo. Algumas vezes, ela iria segurar fortemente as cartas que Marlene a enviava, um sorriso involuntário surgindo no rosto ao se lembrar da sua antiga amiga. Eram dias como aquele em que Lily queria fazer absolutamente nada. Apenas relaxar e observar o dia passar. Mas, os seus planos para aquele dia foram arruinados quando uma pequena coruja pousou sob a sua janela.

                Ela franziu a testa e colocou a carta que lia em sua escrivaninha. Lily caminhou até onde a pequena coruja impacientemente esperava e abriu a janela, de forma que o pequeno animal entrasse. A ruiva tirou o pequeno rolo de pergaminho que estava amarrado na perna da coruja, percebendo imediatamente que a carta havia vindo de Dorcas quando ela viu que as palavras ali escritas eram praticamente incompreensíveis, sendo que a loira era uma das únicas espiãs que preferiu utilizar o código Atbash no lugar de tinta invisível. Lily caminhou até a escrivaninha, pegou uma pena e um pergaminho, começando lentamente a raciocinar e traduzir o que estava escrito na carta.

—--___---

Minha querida e próxima amiga Lily,

Como está andando? Nunca mais me enviou uma carta contando sobre o seu estado. Tudo que tenho conhecimento vem da boca de outros. Sei que o seu trabalho é importante, mas, acredito que deveria encontrar mais tempo para se dedicar a suas amigas. Marlene me envia cartas todos os dias, reclamando sobre a sua ingratidão. Isso é consideravelmente irritante. Tens conhecimento disso? A julgar pelos seus atos, eu diria que não. Porém, espero que esse teu comportamento mude. Se eu receber mais uma carta de Marlene reclamando sobre quão ingrata e preguiçosa você é, prometo que irei surtar.

Enfim, sinto em lhe dizer que eu não enviei essa carta com o objetivo de falar sobre a minha vida pessoal. Bem que eu gostaria que assim fosse. Porém, do que eu venho conversar é algo extremamente preocupante e muito mais sério. Eu poderia ter enviado essa carta diretamente para a sua excelência, Albus Dumbledore. Mas, nos tempos sombrios em que estamos vivendo atualmente, acredito que você é a pessoa mais confiável para contar as informações. Todavia, dessa forma, acabo vos responsabilizando no dever de contá-las ao tenente-general.

Se estiver recebendo essa carta no tempo estimado e calculado em que a minha coruja, o Vigenére, voe até Alexandria, provavelmente não estarei mais em Nova Jersey. Estarei a caminho de Annapolis, em Maryland, na motivação de conhecer o tenente-general do exército de Lucius Malfoy. Sinto muito em dizer que uma guerra já começou. A partir de amanhã, jornais publicarão apelos aos bruxos de puro-sangue para se alistarem no exército. Eu não tenho a certeza de como, mas, os puristas descobriram a localização do acampamento que está sob a liderança de Mary McDonald. Acho que vocês têm um espião infiltrado. Tomem cuidado.

Os puristas estão verdadeiramente se preparando para uma guerra. Acredita que até armamento trouxa eles arrumaram da França?! Inacreditável, realmente! Sinto em dizer que verdadeiramente preciso ir no atual momento. Além do fato de que a minha tinta está acabando, preciso chegar até o local de encontro marcada para aparatar. Mais uma vez, peço que tome o máximo de cuidado. Oh, e queria avisar que o uniforme de guerra escolhido pelos puristas foi inspirado no uniforme trouxa, se resumindo a uma jaqueta, colete e calça, todas de cor preta. Tão original que me dá enjoo. Recomendaria que também definissem um uniforme, para diferenciá-los.

Atenciosamente,

Dorcas Meadowes.

—--___---

                Boquiaberta e em choque, o olhar de Lily ficou paralisado e centrado no pedaço de pergaminho na escrivaninha. O coração da ruiva acelerou e ela começou a sentir um frio intenso se iniciar em sua barriga. Lily não sabia se era ansiedade, medo ou nervosismo. Ela respirou fundo, tentando manter a calma. Tranquilamente, a mulher se levantou da escrivaninha, segurando fortemente a carta traduzida e a que estava em códigos. Ela caminhou pelos silenciosos corredores da casa de Albus Dumbledore, engolindo em seco antes de bater na porta do quarto dele e esperar com que ele viesse atendê-la. Lily imediatamente assumiu uma postura formal quando o homem idoso abriu a porta, encarando-a.

                — Sra. Evans Potter. – ele rapidamente acenou na direção dela. – Do que precisa?

                — Albus. – Lily disse com a urgência clara em sua voz. – Acabei de receber uma carta de Dorcas Meadowes. E é urgente.

                Ele não se pronunciou. Apenas encarou Lily por alguns poucos e curtos segundos antes de pegar a carta que ela havia lhe estendido, seus olhos rapidamente se movendo entre os parágrafos. Quase imperceptivelmente os seus olhos se arregalaram. O aperto de suas mãos nas cartas aumentou, sendo que ele relia cada palavra ali escrita com um cuidado que Lily se arriscava em dizer que era desnecessário. Após três incômodos minutos de silêncio, a mulher pigarreou, atraindo a atenção do homem.

                — Albus? – ela murmurou, franzindo a testa. – Vossa excelência está bem?

                — Mande cartas para os nossos principais aliados. – A voz de Dumbledore era quase como um sussurro. – Diga que eles precisam aparatar aqui quase imediatamente. Uma reunião de guerra terá que se iniciar.

                — Sim, vossa excelência. – Lily rapidamente acenou, observando Dumbledore dobrar a carta e guardá-la em um de seus bolsos.

                — Oh, Lily, antes que vá embora. – ele rapidamente a chamou quando ela se virou, preparando-se para retornar ao seu quarto. – Quero que amanhã parta para a Carolina do Norte. Mais especificamente, o acampamento de Mary McDonald. Tem conhecimento de onde a área fica, certo?

                — Sim, vossa excelência. – A ruiva sentiu o seu coração acelerar quando se virou para encarar o homem.

                — Encontre Mary McDonald e a alerte para ficar atenta a corujas que irão se aproximar do acampamento e a qualquer outro sinal. – Dumbledore ordenou, colocando uma mão em um de seus ombros. – Seja discreta. As fiscalizações bruxas e non-majs aumentaram, sendo que eles também entraram em uma guerra. Parta apenas amanhã. Irei escrever uma carta para McDonald, avisando-a de que a única que está abaixo do meu comando é você. Após a reunião, irei mandar um aviso, dizendo o que deverão fazer e qual será a estratégia. Também quero que inicie treinamentos militares mais duros e árduos os soldados. São voluntários, então, não estão muito preparados, embora eu tenha a certeza de que o treinamento de McDonald melhorou o desempenho deles de uma forma verdadeiramente impressionante.

                — Sim, vossa excelência. – Lily murmurou, sentindo um involuntário sorriso surgir em seu rosto. – Não irei decepcioná-lo.

                — Nossa vitória depende essencialmente de você. – O homem idoso reforçou mais uma vez. – McDonald está se preparando para se mover para o sul, se aproximando de onde o exército inimigo provavelmente está. Sei que é um grande peso para se colocar nos ombros de uma pessoa tão jovem quanto você. Estou confiando em você uma das maiores responsabilidades dessa guerra.

                — Não irá se arrepender. – O sorriso no rosto de Lily beirava o presunçoso.

                E dizendo isso, ela rapidamente acenou e começou a se afastar, certo medo começando a preencher o seu peito. A insegurança começou a crescer conforme o barulho de seus sapatos contra o chão limpo da casa. Lily começou a duvidar de si mesma. Perguntou-se se aquilo era responsabilidade demais para ela. Questionou-se se deveria voltar e falar para Dumbledore designar outra pessoa. Mas, um sentimento maior de alegria se apoderou dela. A alegria de finalmente partir para o campo de batalha, de oficialmente lutar pelos direitos de pessoas como ela, lado a lado de uma das suas melhores amigas. Quando Lily chegou no seu quarto, o sorriso em seu rosto não poderia estar maior. Ela apressadamente pegou um pergaminho e molhou uma pena com um pouco de tinta, animadamente começando a escrever os relatos daquele dia para Marlene e se preparando para contar ao seu esposo sobre a falta que sentia dele.


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Notas finais do capítulo

:3



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