O Último Elo escrita por boaveis


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha primeira fic Johnlock, espero que gostem.



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John Watson encarava a poltrona que fora de Sherlock Holmes. Dois anos. Já fazia mais de dois anos desde que Sherlock havia tirado a própria vida. O porquê daquilo era um mistério. Claro que, na época, todos o consideravam uma farsa, mas suicídio... Simplesmente não era do feitio de Sherlock. Ou talvez fosse, o detetive estava sempre tão entediado, talvez ele apenas estivesse cansado. Nada parecia certo, John não tinha certeza de nada. Tudo o que ele sabia é que sentia falta do amigo, mais do que podia explicar.

Nesses dois anos, John conseguiu um emprego fixo no consultório de um amigo, mas não havia deixado Baker Street. Algo o impedia de se mudar, de seguir em frente. Isso é o que pessoas normais fazem, elas seguem em frente. John Watson simplesmente não conseguia. O apartamento era cheio de lembranças, lembranças de Sherlock e do tempo que eles haviam passado juntos, dos casos que resolveram, de todas as vezes em que haviam brigado. Cada canto da casa era cheio de detalhes que o impediam de esquecer, que o impediam de continuar. Vivia em um estado de apatia, não se alimentava direito e estava mais magro do que nunca. Era como se nada mais importasse. Se lembrava de como, dois anos antes, pulava de relacionamento em relacionamento, sem qualquer problema para conhecer pessoas novas. Desde a morte de Sherlock, no entanto, não conseguia se interessar por ninguém, nem por nada.

Nos primeiros meses, ele ficara totalmente perdido. Depois de um tempo, conseguiu se organizar o suficiente para ao menos fingir que estava melhor. Para alguém de fora, parecia que ele havia superado a morte de Sherlock, tanto quanto é possível um amigo superar a morte de outro. Para quem o conhecia bem, no entanto, era óbvio que havia algo muito errado com ele.

Mrs. Hudson era uma dessas poucas pessoas, e estava preocupada com ele. Cada vez mais, John parecia pálido e abatido; ela já tentara de tudo e, no entanto, o médico não melhorava nem um pouco. Ele precisava sair e superar a perda do amigo, antes que fosse tarde demais.

Era exatamente nisso que John pensava: sair de casa. Nunca gostara de ficar em casa, e, nesses últimos tempos, raramente ia para qualquer lugar que não o trabalho. Naquela noite, ia sair. Ir para um pub, talvez, e tentar se distrair, viver um pouco. Era um bom plano.

***

Sherlock Holmes, sentado num canto, observava o melhor amigo. Melhor amigo, essa era uma coisa que ele achou que nunca poderia dizer de ninguém e, no entanto, ali estava John Watson, o único que ele chamara assim em toda a sua vida. O dito melhor amigo estava no mesmo pub que Sherlock, não por acaso, e bebia cerveja atrás de cerveja. Ainda não estava bêbado, mas logo estaria. Era visível para qualquer um que quisesse notar que o homem não estava bem; sua magreza excessiva e o tom pálido de sua pele denunciavam isso. Sherlock, é claro, percebia muito mais que isso. Percebia que suas roupas, apesar de limpas, eram relativamente velhas, e não haviam sido muito bem dobradas. Apesar de o médico não manter nenhum tipo de barba ou bigode, ele não se barbeava há alguns dias. De uma maneira geral, havia certo tom melancólico envolvendo John, mas Sherlock podia entender que alguém que não o conhecesse bem não perceberia nada de diferente. Mrs. Hudson, no entanto, deveria ter cuidado melhor dele.

Ele se perguntava se o estado do amigo era causado por sua suposta morte. Nunca havia pensado que pudesse afetar o outro (ou a qualquer pessoa) de tal forma, e justamente por isso ficara fora do país por dois anos, desmembrando a corrente de Moriarty. Só havia mais um elo, o último de todos. Isso exigira tempo e esforço, mas ele tinha uma grande vantagem: ninguém, ou quase ninguém, sabia que ele estava vivo. Para o mundo, incluindo os grandes criminosos, Sherlock Holmes não existia mais. Isso não era uma vantagem que ele pudesse desperdiçar, mesmo que tivesse que enganar seu melhor amigo.

Mas agora ele precisava estar de volta à Londres, e havia decidido que era hora de dizer a verdade; não havia mais nenhuma razão para continuar mentindo. Se levantando de seu lugar, Sherlock caminhou até o balcão onde John estava sentado. Se dirigindo ao barman, ele falou.

***

“Uma cerveja, por favor.”

Não era possível. Simplesmente não era possível que ele estivesse ouvindo aquela voz. Estou louco, ele pensou, finalmente enlouqueci de vez. Virando em seu banco lentamente, seus olhos cinzentos encontraram os azuis de ninguém menos que Sherlock Holmes. Eu definitivamente estou louco! Caminhando lentamente, ele tentou falar alguma coisa.

“Sherlock! O que... Como você... Meu Deus, Sherlock!”

“John. Vejo que ainda não consegue chegar até o final de suas frases. Velhos hábitos nunca morrem. Mas acho que deveríamos sair daqui, as pessoas estão começando a olhar.”

John estava operando em piloto automático, e seus pés seguiram Sherlock, apesar de sua mente estar correndo em círculos, tentando achar alguma explicação que fizesse sentido. Do lado de fora do pub, os dois caminharam até um parque.

“Acho que te devo desculpas, e algumas explicações.”

“Desculpas?! Sherlock, o que está acontecendo?”

“Bem, eu, obviamente, não estou morto. Foi relativamente simples fazer todos acreditarem em meu suicídio, se você quiser, posso te explicar como...”

“Como?!” John interrompeu. “Eu não me importo com como, eu me importo com porquê. Por que, Sherlock, por que você mentiu para mim? Dois anos! Você tem alguma ideia do que foram esses anos? De quão difícil foi para mim, ver seu funeral, seu caixão sua lápide... Falando nisso, quem está em sua lápide? Nada disso faz sentido. Que droga!”

“John, eu precisava fazer isso. Era o único jeito de continuar meu trabalho, de acabar com tudo que Moriarty construiu...”

John não o deixou terminar. Dois anos, dois anos miseráveis, e a única explicação que ele tinha era o trabalho. Ele pensava que se sentiria feliz com a volta do amigo, mas, naquele momento, sentia raiva, uma raiva tão forte que o fez virar as costas para Sherlock e sair andando, ou corria o risco de dar um soco no detetive. Respirando fundo e tentando se manter o mais calmo possível, começou a caminhar em direção a Baker Street.

***

Sherlock encarava a figura do amigo, que caminhava para longe, ficando cada vez menor até sumir de vista completamente. De todas as reações possíveis, nunca achou que aquilo aconteceria. Será que John estava bravo? Por que ele estaria bravo? Sherlock não entendia o que o homem estava sentindo, mas, até aí, ele raramente entendia qualquer sentimento. Sabia que John iria para Baker Street, e começou a caminhar até lá. Estava com saudades de seu velho apartamento, e não tinha a menor ideia de como Mrs. Hudson reagiria à sua volta.

Chegando em Baker Street, ele correu os olhos pela rua duas vezes, procurando alguém que fosse suspeito. Precaução nunca era demais, especialmente com o homem com quem ele estava lidando. Se certificando de que tudo estava normal, ele se dirigiu até a casa certa, e entrou. Assim que a porta fechou, ele ouviu a voz de Mrs. Hudson.

“Quem está aí? John, é você?”

Com um sorriso de canto, Sherlock respondeu.

“Não, Mrs. Hudson, sou eu.”

Ele ouviu a senhoria abrir a porta de seu apartamento e sair, e a viu chegando, com olhos enormes e incrédulos.

“Sherlock? É você mesmo? Como pode ser?”

“Longa história, mas, encurtando, eu não morri.”

“Bem, eu percebi.”

“John já chegou?”

“Acho que sim, eu ouvi uma porta batendo. Ahh, ele vai ficar tão feliz em te ver!”

“Duvido. Na verdade, ele já me viu. Tivemos uma briga, se é que você pode chamar o que aconteceu de briga.”

“Eu vou fazer um chá, e se resolvam, vocês dois.”

Sherlock apenas sacudiu a cabeça e subiu as escadas. Chegando no 221B, ele abriu a porta com a chave que ainda tinha, e olhou para dentro. Tudo estava exatamente igual, nada fora do lugar. Era como se ele tivesse saído na manhã daquele dia, e não dois anos antes. Na poltrona de costume estava John. Ele encarava a lareira, imerso em seus pensamentos. Sherlock caminhou até sua poltrona e se sentou lá, encarando o outro. Depois de alguns minutos, ao perceber que John o ignorava de propósito, ele começou a falar.

“Como disse antes, acho que te devo algumas explicações. Quando subi até o telhado daquele hospital, sabia que a minha morte era quase inevitável. Por isso, combinei com Mycroft alguns planos, um para cada possibilidade. Moriarty era louco, não que você não soubesse disso, mas ele também era suicida. Ele não me ameaçou, sabia que aquilo não teria nenhum efeito em mim; ao invés disso, ele ameaçou a você.” John se virou para ouvir, como se finalmente fosse parar de ignorá-lo. “Ele ameaçou você, Mrs. Hudson e Lestrade. Ou eu me jogava de lá de cima, ou vocês morriam. Então, ele próprio se matou. Eu não tive muita escolha. Tive que fingir, e segui o plano de meu irmão. Nesses dois anos, tive muito trabalho, mas finalmente acabei com toda a rede de Moriarty. Apenas um homem resta, e esse homem está aqui, em Londres. Por isso, estou de volta, e, por isso, preciso de sua ajuda.”

John estava prestes a responder quando Mrs. Hudson entrou com o chá. Sorrindo, ele assentiu para Sherlock, que também sorriu. Tudo estava de volta ao normal.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Querem me matar? Comentem!



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