Cidade dos Ossos - Vista por Outros Olhos escrita por Ann Wolf


Capítulo 6
O passeio, ou não


Notas iniciais do capítulo

No último capitulo, Briana regressou ao Instituto e estão todos felizes por ela mas há uma pessoa importante que não está presente: Jace. Com isso, Briana desconfia de alguma coisa e Lauren será quem terá de explicar o que aconteceu nos últimos dias. O que será que Lauren dirá? E como irá Briana reagir?



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— Lauren, o que me estás a esconder? – Os olhos verdes dela já começavam a lançar faísca como se o prado que estava dentro deles, se tivesse a reduzir a erva seca através da raiva que a Briana acumulava.

— Eu não te estou a esconder nada. – Tento ganhar tempo para escolher as palavras certas. – Só não me deste tempo para te explicar.

A loira coloca as mãos na cintura enquanto espera uma explicação e enquanto eu dou voltas á cabeça tentando arranjar um meio de ela não entrar em colapso mental ao saber o que irmão tem andado a fazer e a sentir nestes últimos dias.

Sobra sempre para mim. Bolas, Jace! Amaldiçoou-me mentalmente e solto um suspiro.

— Briana, vamos para dentro. Se ficarem aqui vais ficar com cãibras. – Pego-lhe numa das mochilas e começo a andar para o interior da igreja mas a Briana agarra na outra alça da mochila.

A cara dela parece estar mais calma pois o verde dos seus olhos parece ter voltado ao normal mas isso é apenas um disfarce. Sei que ela ainda tem raiva por eu estar a demorar tanto a responder-lhe.

— Vais contar-me tudo. – Noto que a voz dela está um pouco trêmula e entendo que devo tê-la feito ficar preocupada com o irmão sem razão aparente e que preciso de corrigir o meu erro.

Quando entramos, o Alec sai do elevador e faz a mesma cerimónia de boas-vindas que a Izzy fez a Briana. Isso dá me tempo para com o olhar, indicar ao Alec que precisava de ajuda. Ele apenas franziu o sobrolho mas veio atrás de mim e da loira.

Chegamos ao quarto dela e eu poso as coisas em cima da cama para que ela fique á vontade para arrumar, acontece que quando estou prestes a virar as costas e ir-me embora com o Lightwood mais velho, ouço alguém a pigarrear atrás de mim.

— Lauren…- É, estou feita.

Volto-me para ela e encontro-a com os braços cruzados e a bater a sola da bota no chão de madeira, provocando um ruído um tanto irritante.

— Briana só te peço uma coisa, não descarregues a tua raiva em nós aconteça o que acontecer. – Digo, procurando acalmar o nervosismo que ela sente e que transborda a olhos vistos. – Acontece que o assunto que te vamos falar não vai ser do teu agrado.

Ela senta-se, parecendo um pouco mais acalma, preparando-se também para o pior.

— Ora bem. Hum, o teu irmão há poucos dias teve uma missão em que foi matar um demónio de Eidolon á discoteca do Pandemonium e graças a isso eles foram descobertos por uma rapariga.

— Espera aí! Estás a querer dizer que uma mundi viu-nos? – O Alec acena que sim. – Pelo Anjo, meu Deus.

A expressão dela diz tudo: choque, frustração e talvez um pouco de receio pelo que virá a seguir. A Briana faz sinal para que continue e eu olho para o Alec, esperando um pouco de apoio. Algo que não recebo porque ele parece demasiado ocupado a relembrar todos esses eventos que estão a afetar todos nós neste momento. Enfim, tive de ganhar força confiando nas minhas runas.

— A história como deves calcular não fica por aí. A rapariga foi mais tarde atacada e o teu irmão teve de a trazer para cá. Hoje ela acordou e ele teve de a levar a casa dela por que suspeitam de que ela seja uma caçadora como nós.

A expressão atónica dela era apenas como mais um algoritmo numa equação: mundi Caçadora das Sombras + Jace + Briana, igual a Briana irritada + casal apaixonado.

Ele deve ter lido a equação, que eu tinha feito mentalmente, na minha testa porque, de um momento um momento para o outro, as bochechas dela ficaram quase tão vermelhas como o batom que usava.

— Podem sair do meu quarto, tipo, agora! – Fala ela, quase gritando.

Eu já estou habituada a este tipo de reação por parte da Briana então apenas respirei fundo e fiz sinal para que o Alec saísse. Ele não me diz nada mas também não está contente por ser expulso de uma conversa em que ele provavelmente iria apoiar a Briana incondicionalmente, ou explicando melhor, a raiva da Briana contra a Clary.

Eu permaneço encostada á porta enquanto a Briana cruza os braços e gira sobre os calcanhares na direção oposta.

— Lauren, eu pedi para que me deixassem. – A voz dela estava trémula e não possuía o poder de sempre, isso afetava-me sempre.

— Sabes bem que não te iria deixar nesse estado sozinha. – Caminhei lentamente na direção dela, já me era possível ouvir os soluços que ela soltava bem baixinho. – És a minha melhor amiga e não te ia deixar sem um ombro amigo.

Ela deixa os braços caírem ao lado do corpo magro e cerra os punhos. Caminha até á borda onde se senta e eu sigo-lhe o exemplo. Vejo que ela está a fazer um esforço enorme para conter as lágrimas que lhe vidram os olhos e que tem o maxilar cerrado.

— Briana, não precisas de ficar assim. A Clary não é uma ameaça. – Começo a massajar-lhe os punhos para que estes relaxam uma vez que as unhas dela já se infiltravam na pele e causavam-lhe arranhões retos e profundos.

— Não é uma ameaça. Lauren, acorda! Ela vai roubar o meu irmão de mim.

Ela estava irrequieta, também não era para menos com estes pensamentos. Tinha de arranjar uma maneira de a distrair destas coisas antes que, mais cedo ou mais tarde, ela começa-se a partir tudo ao seu redor.

— O que me dizes de irmos á sala de treino praticar um pouco e depois irmos dar um passeio sobre Brooklyn? – Sugiro, largando-lhe as mãos que agora estão mais descontraídas.

— Está bem. – Responde ela e eu encaminho-me para a sala de treinos no sótão do instituto. – Lauren. Obrigada por me compreenderes.

— Ei, para que servem as amigas? – Ouço a gargalhada dela e já me sinto mais leve. – Veste algo mais confortável porque vais levar uma tareia.

— Pff. Isso é o que vamos ver Ashblue. – Fecho a porta assim que ouço o tom de desafio na voz dela.

Nós as duas andávamos há algum tempo a querer fazer a runa de parabatai uma na outra para podermos ser finalmente companheiras de combate mas não andávamos com muita disponibilidade para irmos a Alicante completarmos a cerimónia.

Espero uns 15 minutos até que a loira aparece com o cabelo atado numa trança no cimo da cabeça e com uns calções de fato de treino e um top. Entramos no elevador e encaminhamo-nos para a sala de treino.

Quando a pisei a primeira vez ainda não era uma caçadora e ainda me lembro de subir para as traves penduradas no tecto em que eu estava apenas agarrada por uma cordo que me ajudava quando eu tinha que finalizar o exercício fazendo saltos mortais, piruetas e outros truques acrobáticos. Naquela altura dava-me um frio na barriga, mesmo tendo os meus pais ao meu lado. Agora já nem sinto o formigueiro que costumava fincar-se no estomago enquanto me balançava para o ar.

— Com o que vamos começar? – Pergunta a Briana ao meu lado.

— Não faço ideia. Estava a pensar em luta em equilíbrio. – Aponto para as traves.

Ela apenas dá um sorriso convencido e trepa para uma trave inferior ganhando balanço para depois saltar para as suspensas.

— És uma exibicionista, sabias? – Eu começo a fazer rodas e saltos mortais até me agarrar a uma corda pelo caminho e enrolar um dos meus pés nela

A partir daí, só subo pela corda e quando chego quase ao teto iço para uma das traves á frente da Briana.

— E depois eu é que sou exibicionista. – Ela está com um sorriso convencido e uma expressão de brincadeira.

— Só quis garantir que sou uma ótima adversária para ti.

Começamos as duas a rir como loucas. Tenho a certeza que se o Alec estivesse aqui perto, diria que se dedicássemos o tempo que passamos a rir a treinar, seríamos melhores guerreiras que o Jace. O que eu duvido muito.

— Bem vamos começar. Só há uma regra, não podes usar a clarividência. – Diz-me a Briana, adotando uma expressão mais séria. – E é melhor não tentarmos partir algum osso, senão depois não poderemos ir passear.

— Eu sei, não preciso que mo digas. Aos três. – Ponho-me em posição de salto e ela também. – Um, dois…três.

Saltamos. Não tenho medo quando fico suspensa no ar tendo como segurança o balanço e trave que se encontra á minha frente. A Briana tenta dar-me uma joelhada no estomago mas eu, ao ver ela a puxar o joelho de encontro á barrigas, soube logo a estratégia dela e desviei-me a tempo, aterrando depois, em bico dos pés.

— Bolas! Foi por pouco. – Resmunga ela dando um murro no ar.

Dou duas gargalhadas sonoras e tenho pouco tempo para bloquear o ataque que se segue.

— Atacar pelas costas? Não faz muito o teu tipo, Briana Wayland. – O objetivo de a provocar funciona apenas por poucos segundos antes de ela recuar.

— Tu estavas distraída. Eu apenas me aproveitei disso.

Sorrio. Ela é tal e qual o irmão.

Passamos cerca de meia hora ou mais numa luta. Não conseguimos vencer uma á outra. De cada vez que ela atacava, eu defendia ou bloqueava e vice-versa. Nem era preciso usar clarividência para saber que nenhuma ia sair derrotada ou vencedora.

Caímos ao mesmo tempo. O som das nossas respirações descompassadas faz eco por toda a sala para depois ser substituído pelo dos nossos pés a cair no colchão. Estávamos completamente suadas e sentia os cabelos, desordenados do puxo, a empaparem-se na testa tal como acontecia com a Briana.

— Ainda não percebi porque estamos sempre a empatar quando lutamos. – Protesta a loira.

— Porque estamos ambas ao mesmo nível. – Respondo indo para o balneário tomar um banho, sendo seguida pela Briana.

Ela bufa atrás de mim, coisa que eu acho graça da parte dela. Podemos ser muito amigas, tal como eu sou do Jace, mas a nossa rivalidade quando lutamos uma contra a outra ou quando fazemos competições é incomparável.

Depois de termos tomado banho, dirigimo-nos para o quarto de cada uma para trocarmos de roupa. Ela ainda me tenta convencer a escolher-me a roupa mas eu recuso, antes que vá vestida com uns shorts curtinhos e um top que só me tape as mamas.

Ao chegar ao quarto procuro uma roupa confortável para caminha mas que seja um pouco atraente. Escolho uma camisola sem mangas preta, que não me chega a tapar o umbigo, com alguns caracteres japoneses brancos, uns calções de ganga, uma all stars pretas, um colete com fitas ao penduro, que servem como uma cortina para me tapar as coxas, e uma pulseira preta para guardar a estela.

Deixo o cabelo solto e vou de encontro á saída do instituto, esperando que a Briana já se encontre lá. Mas ela não está, portanto decido ir para o quarto dela.

Bato na porta e ela abre-ma, segurando-a depois com o pé enquanto estava ondulava os cabelos.

— Briana, é um passeio. Não uma festa. – Digo-lhe ao ver o vestido preto, que lhe chega até meio das coxas, e o salto alto.

Ela termina de ondular o cabelo e depois observa-me de cabeça a baixo, abanando desapontadamente a cabeça logo a seguir.

— Eu sei o que tinhas dito mas sabes o que estou mesmo a precisar? Uma saída com diversão. – Diversão, diz ela. Eu cá acho que ela quer dizer Habitantes do Mundo-á-parte.— E tu não está preparada para a diversão.

— Claro que não estou. Não estava a espera de que logo á chegada, te quisesses atirar a algum rapaz!

Ela age como se não ouvisse os meus resmungos e começa a maquilhar-me, colocando-me eyeliner e um batom cor-de-rosa claro. Fixa-me novamente, não ligando á cara carrancuda que faço por causa de ela não prestar atenção ao que eu digo.

— Falta qualquer coisa. – Ela coloca o dedo indicador no queixo, fazendo posse de quem está a pensar, e depois abre um sorriso enorme. – Já sei!

— Briana, o que estás a pensar? – Já estava a ficar com receio.

Uma das coisas que aprendi neste tempo é que os Wayland tem muitas ideias e a maior parte não são das melhores, para além de ser embaraçosas.

Ela manda-me calar e começa a pentear-me o cabelo. Não consigo ver o que ela está a fazer mas vejo umas madeixas mais curtas a caírem me para a frente dos olhos e sinto o resto do cabelo a ser puxado para cima. Só uns cinco minutos depois consigo ver o trabalho da Briana, quando esta me coloca em frente da penteadeira dela, cheia de maquilhagem e com uma moldura dela com o irmão, é que vejo o coque perfeito que tem alguns cabelos desajeitados a saírem para o lado. Fico surpreendida com o que ela conseguiu fazer, dando me um ar natural mas também mais provocante.

— Uau.- É só o que consigo dizer.

— Não tens de quê. Eu sei que sou um espetáculo. – Ela lança o cabelo para trás das costas, de maneira convencida e encaminha-se para a porta. – Vais demorar muito ou preciso de ir embora sozinha.

Levanto-me às correrias, quase tropeçando no tapete que está no quarto, e vou ter com ela. Reparo no colar com a letra W que ela trás no pescoço, e por momentos a imagem de um M aparece no seu lugar como por magia. Sacudo a cabeça para retirar essa imagem de dentro dela mas apenas recebo um beliscão da Briana que resmunga que assim posso estragar o penteado.

Quando saímos á rua, uma baforada de ar fresco, mais fresco do que quando a Briana chegou, atinge-me na cara e arrependo-me de trazer uma roupa tão fresca. Estou já a dar meia volta pra ir trocar de roupa, quando a loira me agarra pelo braço e me puxa pelo jardim até ao portão do instituto.

— Briana! Ai! – Caminho desajeitadamente e aos tropeções sendo praticamente levada de arrastão pela Wayland. – Posso andar sozinha!

— Eu só te agarrei porque tu já ias a entrar no instituto, novamente, para fazer sabe se lá o quê. – Ela caminha apressadamente para apanhar um táxi. – Se eu te deixasse fazer isso, chegaríamos mais tarde e não poderia ver o meu irmão.

Não lhe respondo. Ela tem razão. O Sol já se está a pôr o que significa que o Jace e a Clary já foram há algum tempo, explicitamente, a tarde inteira. Espero que eles estejam bem. Pensei eu, comigo mesma.

— Lauren! – O grito de Briana despertou-me dos meus desvaneios.

Ela já estava a entrar dentro do táxi e faziam-me sinais desordenados como a dizer «Mexe-te!». Comecei a rir enquanto caminhava até ela. Já dentro do carro amarelo ela começou a dizer que iriamos ao Pandemonium dançar um pouco. Só de me dizer o nome, lembrei-me de imediato da Clary. Desta vez iriamos agir como pessoas normais, escondendo as nossas cicatrizes para que ninguém desconfiasse das nossas origens e para estarmos mais há vontade.

Nem me dei conta da estrada, coisa que é quase impossível já que em Nova Iorque, buzinas e luzes néon a brilharem por todas as ruas aonde quer que se passe. Apenas quando o taxista, que cheirava a tabaco que enjoava, disse que era o «fim da linha», vi o grande placard com letra néon de cor vermelha sangue, onde estava escrito Pandemonium.

A Briana pagou ao homem que ia dizer mais alguma coisa mas nós já tínhamos saído e não demos a mínima para o que ele tinha dito.

— Sinto-me fora do ambiente. – Murmuro. – Devia ter vestido outros calções.

— Deixa isso para lá. – Diz-me a Briana, escondendo um certo divertimento na voz de que eu desconfio. – Olha só quem está por estas bandas.

Desvio o olhar para onde a loira está a olhar e vejo uma dezena, talvez mais, de motas prateadas com assentos de couro e algumas inscrições que identificam logo os seus donos no Mundo das Sombras.

— Filhos da Noite. – Digo. – Vampiros.

                - Isto vai ser mesmo divertido. – Quase nem distingo as palavras da Briana. Apenas penso num certo vampiro que poderei vir a encontrar neste sítio: Rafael.


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Notas finais do capítulo

Mais problemas para Lauren? Ou será que não? Como irá correr a noite dela no Pandemónio?



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