Cidade dos Ossos - Vista por Outros Olhos escrita por Ann Wolf


Capítulo 5
O Retorno de Briana, ui


Notas iniciais do capítulo

Parece que mais alguém vai aparecer... A Lauren continua bastante indecisa sobre quem deve apoiar mas será que agora as coisas se irão organizar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/723760/chapter/5

Acordo com a luz do sol a infiltrar-se pelos cortinados do meu quarto. Nem me lembro de ter adormecido no meu quarto ontem então cálculo que alguém me deve ter trazido para cá e outra pessoa ficou a vigiar a Clary.

Espreguiço-me e saio debaixo dos cobertores que cobrem as pernas desnudas. Apesar de ser ainda verão e estar muito calor, noto bem a diferença entre o calor da minha cama e a temperatura do meu quarto, no entanto, pouco ou nada ligo a isso. Pela altura a que o sol se encontra dá para entender que já não é muito cedo e também porque o meu estomago ainda está a reclamar com fome, portanto visto-me com umas leggins e coloco um top com uma camisola larga que me tapa metade das coxas. Sinto que hoje vamos ter uma surpresa mas ainda não sei distinguir se é apenas um pressentimento ou se tem a ver com a clarividência.

Saio do quarto e vou para a cozinha encontrar a Izzy. Não a encontro lá então dou uma ronda no andar de baixo do instituto mas não encontro vivalma por isso vou ao 2º andar. É lá que encontro a Izzy caminhando lentamente na direção do que devo julgar ser a biblioteca. Digo o nome dela mas não me ouve então acabo por grita-lo.

— Isabelle!

Ela olha para mim pedindo desculpas pela expressão na face. Vê-se que ela estava completamente distraída e apressada.

— Lauren, eu agora não tenho tempo mas o melhor é que vás á enfermaria. Vais perceber tudo. – Ela continua a andar sem nunca olhar para trás e deixando-me com várias perguntas emaranhadas na minha cabeça.

Sigo para a enfermaria apressando a velocidade a cada passo que dou não dando a mínima importância para as dores de barriga que começo a sentir, na verdade elas são apenas beliscões comparadas às feridas provocadas pelos demónios.

Quando lá chego deparo-me com a porta completamente aberta e um divã cujos lençóis estavam revirados mas não havia sinal da Clary.

— Caraças, eu devia tê-los avisado de que ela nunca para quieta. – Digo para mim mesma. – Sobra sempre para mim, não é menina Clary?

Dentro da minha cabeça, continuo a lançar injúrias a mim mesma por ser tão irresponsável e por só quando decido tirar uma folga é que tudo acontece. Enquanto debato a minha própria batalha mentalmente, continuo a andar pelos corredores, procurando por uma ruiva com cabelos ruivos da cor de uma cenoura e que, por acaso, lhe ficam muito bem, juntamente com os olhos verdes como um prado verdejante durante a primavera.

Os corredores estão completamente vazios e temo que a Calry se tenha perdido nalgum deles, como me aconteceu da primeira vez. Um sorriso rasga-me os lábios ao relembrar-me disso, foi o meu primeiro dia no instituto. Quando descobri das minhas naturezas de caçadora foi graças a um demônio que me tentou atacar, o meu pai acabou por matá-lo mas eu assisti a tudo agarrada á minha mãe. Nesse mesmo dia, os meus pais trouxeram-me a Nova Iorque pois conheciam bem os Lightwood e confiavam neles o suficiente para me deixarem aos cuidados deles, mas assim que entrei dentro da antiga igreja gótica fiquei demasiado confusa com o que estava acontecer e, enquanto os meus pais falavam sobre o seu alojamento no instituto com o Hodge e o Robert Lightwood, eu fui dar uma vista de olhos pelos cómodos. Em cerca de 5 minutos já não sabia onde estava, ainda me lembro da sensação do meu estomago a contorcer-se com todo o meu desespero, felizmente o Alexander encontro-me e levou-me de volta aos meus pais que tinham ficado muito preocupados. Até parece que estou a ver os olhos cinzentos da minha mãe a olharem-me de maneira carinhosa e a mão do meu pai a afagar-me a cabeça.

Levo instintivamente a mão á cabeça, mas o que sinto enche-me de mágoa. Levanto a cabeça, decidida a não chorar, a não chorar por alguém que me queria e ainda devem querer ver sorrir.

Depois deste momento de distração, foco-me na minha missão improvisada. Mas de nada vale, não encontro a pequena em lado nenhum, ou pelo menos assim penso pois quando passo pela sala de música ouço vozes e não são vozes quaisquer. É a voz de Jace e da Clary também.

Não querendo interromper nada do que eles estejam a falar, fico apenas encostada á parede ao lado da porta da sala. Eles não demoram muito a terminar e quando saem eu quase cai-o de tanto me apetecer rir das roupas que a Clary está a usar. A bainha das calças deve ter sido dobrada várias vezes e o top é tão grande que parece quase como um vestido para ela.

— Olá, Clary. – Digo eu. – Nunca te disseram, fica no mesmo sítio para que seja mais fácil de te encontrar.

Ela apercebe-se de que eu estou ali e abre a boca surpreendida, olhando ao mesmo tempo para Jace que me cumprimenta.

— Acordaste tarde. Ontem tive de te ir buscar á enfermaria antes que te babasses para cima da Clary. – Lanço-lhe um olhar mortífero, mostrando que não gostei do comentário e ele começa a rir. – Pronto, Lauren, já me calei.

— Ótimo.

A Clary olha repetidamente para mim e para o Jace e entendo o que ela está pensar. É compreensível que alguém que sempre pertenceu a um mundo, completamente diferente deste que viu agora, fique surpreendida e também confusa ao saber que uma das suas colegas de turma é alguém com uma vida dupla, indo á escola durante o dia como uma mundana e caçando demónios á noite como uma caçadora das sombras.

Depois de um tempo a tempo a tentar superar o choque da revelação acerca da minha vida, a Clary recuperou, finalmente, a fala.

— Lauren, tu também és uma deles? – Ela aponta para o Jace, que ficou ofendido pela maneira como a ruiva usou o termo eles. – Eu pensava que eras normal.

O Jace tenta lançar um comentário acerca do que ela disse acerca dos caçadores das sombras não serem pessoas normais mas consigo interpela-lo a tempo.

— Lamento ter-te escondido a verdade. E também pela maneira como vieste a saber disto tudo. – Os meus olhos devem parecer estar a carregar toda a carga elétrica de uma tempestade para depois lançarem-na a determinada pessoa: neste caso alguém loiro e chamado Jace Wayland. – Mas isso não quer dizer que a nossa amizade seja falsa ou que eu seja louca. Continuas a ser minha amiga.

A nossa comunicação baseava-se, agora, através das expressões da cara e nos olhares. Ela está magoada por lhe ter escondido isto e estava ao mesmo tempo zangada e eu contínuo a fita-la com um certo arrependimento.

— Não querendo interromper o reencontro de raparigas mas precisamos de falar com o Hodge Clary. – Diz o Jace, colocando o braço no ombro de Clary e começando a desviar-se de mim.

Espanto-me com a aproximação entre os dois mas até que gosto de os ver assim por um lado porque o Jace parece ficar mais á vontade e por outro porque me está a parecer que a Clary está a começar a nutrir algo pelo Jace. Algo tão puro quanto os anjos. – Vemos nos depois, Lauren.

— Certo. Se precisarem de mim, estarei na sala de armas. – Faço-lhes continência e sigo para o andar de baixo para reabastecer-me.

Com aquele reencontro pude esquecer-me um pouco da fome devido a ontem não ter-me alimentado, novamente, como devia, mas agora ela voltou mais feroz que nunca.

Para a acalmar, como duas peças de fruta que se encontram na fruteira e caminho para a sala de armas.

Enquanto caminho remou-o sobre dever acompanhar a Clary já que fui eu que estive ao lado dela durante estes três dias mas obtenho sempre a mesma resposta, que o Jace merece o mérito mais que eu pois foi ele que a salvou.

Na sala de armas não encontro ninguém. Este lugar sempre fora muito vazio mas nunca tinha- me apercebido disso como agora.

Fico a observar as armas que muitos de nós utilizam, e a avaliá-las, desde a sua estrutura, até ao seu peso e facilidade de manobragem. A minha arma preferida sempre fora um bastão de duas hastes ligeiras mas muito resistentes que se utilizam facilmente, embora adore também um bom arco e flechas. Vou vendo o resto das armas e nomeando quem a prefere mais: a Izzy prefere o chicote, o Alec prefere o arco e as flechas, o Jace adora as espadas, para o Hodge são os chakrans, a Briana adora as kindjal, o Robert é o naginata e a Maryse é os guisarme como eu.

— Pff. Eu não podia ter escolhido outro tipo de armas tinha logo que ser a mesma que da Maryse.- Falo, em voz alta.

Não vou dizer que não gosto da Maryse mas ela é tão antipática com a Briana que me comecei a afastar dela, fazendo mais companhia á Briana, que bem precisa mesmo negando-o.

— Sabes, eu ainda não compreendi por que começaste a não gostar da minha mãe. – Dou um pulo devido ao susto que apanho ao ouvir a voz de Alec atrás de mim.

— Alec, não voltes a fazer isso. – Tento controlar a minha respiração para um ritmo mais calmo mas não consigo muito bem o que quero.

De tal maneira que quando o Jace aparece um tempo depois, atrás dele eu quase desfaleço.

— Mas hoje tiraram o dia para assustar a Lauren, foi? – Começo já a recompor-me mas fico logo desconfiada de que possa aparecer a Izzy e preparo-me para isso também, felizmente isso não acontece. – O Hodge expulou-vos da biblioteca?

O loiro pigarreia e o Alec apenas suspira. São apenas necessários estes dois sinais para confirmarem as minhas suspeitas. O Jace está carrancudo, como quando proibimos uma criança de ir brincar para o jardim durante um dia de chuva.

— Ele não tinha o direito. Eu salvei a vida dela. – Diz ele. – Eu devia ter permanecido lá.

— Jace, para com isso. Pareces um miúdo. – Resmunga o Alec.

Ele também não está nada contente. Parece mesmo que ele foi ridicularizado á frente de quem ele mais admira, o que é muito provavelmente já que como muitas vezes ele não controla a língua isso pode ter sido usado contra ele.

O Jace não diz nada a respeito e espalha as lâminas seráficas, que possui, em cima da mesa fazendo depois sinal a mim e ao Alec para fazer o mesmo. O Alec nem pensa duas vezes e eu apenas encolho aos ombros ao deparar-me com aquela cena. O que se há-de fazer com os rapazes?

Passamos cerca de 5 minutos a comparar as lâminas de cada um até as voltarmos a colocar no seu devido lugar em cima da mesa. É então que aparece a Clary ao lado da ombreira da porta.

— Clary? – Murmuro.

Mesmo tendo falado baixo, o Jace ouviu e olhou diretamente para a porta onde confirmou o que eu tinha acabado de dizer.

— Ondes está o Hodge? – Pergunta ele.

— A escrever aos Irmãos Silenciosos.

Eu e o Alec contemos um arrepio. Os irmãos silenciosos são antigos caçadores das sombras que se voluntariaram para cuidar da cidade dos ossos, onde os caçadores são enterrados e onde é guardada a Espada Mortal que obriga todos os caçadores das sombras a dizerem a verdade na sua presença. A questão é que nós não nos arrepiamos por causa disso, aliás até achamos ser uma honra proteger algo tão valioso como a espada, mas a mutilações que causam a si mesmos…dá medo.

A Clary aproximou-se um pouco de nós, curiosa acerca do que estávamos a fazer e enquanto isso o Alec apenas a fitava com um certo ódio disfarçado. Dou-lhe um breve pontapé nas canelas e ele faz um esgar e a fúria dele passa a ser direcionada para mim, que apenas respondo com um olhar duro e reprovador.

— O que estão a fazer? – Pergunta a Clary ao mesmo tempo que se debruça sobre a mesa.

— A dar os últimos retoques a isto. – Ele desvia-se suavemente, como uma pena, mostrando as nossas lâminas seráficas: a minha era a Semangelaf, a do Alec era a Sanvi e a do Jace, Sansavi.

Ela observa as lâminas e faz uma expressão duvidosa. Tenho o palpite de que ela está desconfiada por as lâminas não parecerem espadas prontas a decepar um demônio. Tanto tempo no mundo dos mundanos fez com que aprendesse como eles pensam e neste preciso momento a Clary pensa que isto é utilizado com a magia. Só espero que ela não diga isso em voz alta ou ainda dá alguma coisa má a estes dois.

— Não parecem punhais? Como as fazem? Usam magia? – No momento em que ela diz isso escondo a cara por trás das minhas mãos para não ver como os outros ficaram, devem estar a rir-se da figura dela.

— O engraçado acerca dos mundis é que estão sempre obcecados com o que chamam de magia mas nem sabem o que isso quer dizer. – A voz de Jace ecoa pela sala, dando me coragem para enfrentar a cara horrorizada do Alec, que permanece olhando para a pequena.

— Eu cá sei o que significa. – A Clary estava pronta para discutir, o que não seria bom pois ela nunca desiste quando está numa batalha pela razão, o que faz ela ser tão teimosa.

Pigarrei-o e todos olham para mim.

— Clary, penso que devias ouvir quem é experiente nisto. Afinal nós somos experientes nisso. – Digo eu, dando a palavra a Jace que estava mortinho para falar, escusado será dizer que seria para a provocar.

De facto, qualquer pessoa, mesmo a mais otária, podia ver que havia química entre eles os dois á distância.

— A magia é uma força elementar e sinistra, e não apenas uma data de varinhas de condão brilhantes, bolas de cristal e peixes vermelhos falantes.

Franzi a testa. De onde foi ele buscar essa ideia mais idiota?

— Jace, exageraste. – Apenas digo isto e ele observa-me como se lhe tivesse ferido o se pobre coração com uma centena de agulhas afiadas.

— Finalmente, percebes agora que estás a disparatar. – Observa Clary.

— Não estou, não. – Protestou ele.

— Estás, sim. – Intervém o Alec ao meu lado. – Olha nós não praticamos magia, está entendido? É tudo o que precisas de saber.

Ele nunca olha para ela, dando a intenção de que só os seus olhos o podem ferir ou que ela tem tão pouca importância que nem merece que a olhem diretamente. Isso só coloca a Clary com mais vontade de ripostar mas, por alguma razão, penso eu, decide não agravar a situação.

— O Hodge disse que eu podia ir a casa. – Revela ela.

Levanto-me da cadeira tão de repente que esta cai pra trás. Então é assim? Ontem dizemos que talvez venhamos a ser amigos e hoje quer cometer o mesmo erro? O sangue sobe-me a face e fecho os olhos antes de falar.

— O quê?

— É só para revistar os pertences da minha mãe. – Explica ela. – Mas só se o Jace vier comigo.

Não quero que a Clary vá para aquele lugar, tenho medo que ambos se magoem de novo, por isso olho suplicantemente para o Jace, pedindo para que ele pense cuidadosamente sobre o assunto.

— Jace…- O Alec sussurra ao meu lado mas o Jace ignora-o e já sei qual vai ser a reposta dele antes de a proferir.

— Se desejam realmente provar que a minha mãe ou o meu pai eram Caçadores de Sombras, deveríamos procurar no apartamento. O que ainda lá resta.

Não vou deixar eles…espera! Caçadores das Sombras? Penso eu por um breve momento. Olho para o Jace que solta um assobia desentendido e depois para o Alec que apenas leva as mãos á cabeça massajando as têmperas.

— Nós depois vamos conversar sobre que me tem estado a esconder. E tu, Jace? – Ralho, e viro-me para o Jace. – Andas a passar dos limites.

Ele ignora-me e começa a sorrir de lado.

— Descer á toca do coelho. É uma boa ideia. Se formos agora, teremos três, quatro horas de luz do dia.

— Jace! – Protesto.

— Por favor, Lauren. Eu preciso de entender o que se passou. E só o posso fazer se o Jace for. – Diz-me Clary.

— O problema não é esse. – Olho nos olhos de Clary e vejo que ela tem a força de uma caçadora como eu. – Só não quero que corras mais riscos do que já correste.

— Eu vou ficar bem, prometo. – Ela levanta o dedo mindinho e sei o que ela quer dizer.

Na escola de São Xavier, quando queríamos prometer alguma coisa á outra, utilizamos a promessa do dedo mindinho, que se tornou sagrada para nós.

Repito o gesto, em sinal de concordância e volto a dirigir-me ao Jace.

— Toma conta dela.

Ele levanta-se e encaminham-se para a porta. É então que o Alec também se iça da cadeira para ir atrás deles.

— Querem que vá convosco?

— Não! – Diz o Jace, mais como uma completa rejeição do que apenas uma afirmação. – Eu e a Clary damos conta do assunto sozinhos.

Deparo-me com um ar gélido mas ao mesmo tempo ácido como o veneno de um Devorador, que o Alec lança á Clary antes de a porta se fechar e compreendo que o ambiente aqui no instituto vai ficar mesmo mau caso as coisas continuem assim.

— Alec, aconselho-te a parares com isso. – Digo, assim que ele se senta.

— Parar com o quê? – Ele não olha para mim, em vez disso começou a rodopiar a Sanvi nas mãos. – Eu nem fiz nada.

— Por favor, desde que a Clary chegou que a única coisa que fazes é evitá-la ou, melhor dizendo, inferiorizá-la.

Ele levanta-se da cadeira e começa às voltas pela sala.

— Ela é irritante.

Também me levanto mas em vez de começar às voltas como ele, encosto-me de costas para a cadeira.

— Talvez, mas não é por isso que estás assim. – Ele para e fixa-me a expressão, encontrando apenas alguém que quer ajudá-lo. – Por quê é que ainda não disseste ao Jace, Alec? Por quanto tempo queres permanece nesse estado. É que assim só te magoas mais.

— Falas como se fosse fácil. – Os olhos azuis dele estão mais calmos do costume, tão calmo que dão tristeza a quem quer que os olhe diretamente.

Vou até ele e coloco-lho a mão por cima do ombro. Ele já sofre de amores pelo Jace há bastante tempo e, mesmo sabendo que os namoriscos do Jace eram apenas isso, namoriscos, ele ficava sempre magoado de cada vez que o loiro dizia ter arranjado uma miúda nova. Mas agora era diferente. A Clary não era um namorisco, era algo muito mais sério.

— Por não ser fácil é que só tens duas opções. – Ele olha para mim e eu exponho o sorriso mais encorajador, que só costumo reservar para quando a Briana tem algum problema. – Primeira, dizes ao Jace o que sentes pondo um ponto final neste assunto, ou, segunda, partes para outra e esquece-lo.

O Alec, coloca uma das mãos sobre a minha e dá um sorriso fraco.

— Bem, pelo menos temos uma boa psicóloga cá no instituto.

Dou uma gargalhada antes de soltarmos as mãos um do outro. Na minha cabeça ainda pende uma questão. A dos pais da Clary serem caçadores.

— Alec, que história é essa dos pais da Clary terem algo á ver com o mundo das sombras? – Pergunto.

— Oh, bem. A tua amiga enfiou o Sensor do Jace na boca do Devorador, ou pelo menos foram as palavras deles, e acabou por apanhar com o ferrão do demónio. – Ele começa a explicar tudo, desde de o Jace a ter encontrado a contorcer-se no chão, com o demónio já a desaparecer, os polícias que na verdade não o eram, e a runa que o Jace lhe fez para a tornar invisível.

Quando o Alec termina o seu relato, percebo que o Jace vai ter que me dar algumas explicações.

Não tenho tempo para lançar nenhum comentário porque ouvimos a campainha a tocar e lança-mos olhares um ao outro.

— Quem será? – Pergunta ele.

— Só há uma maneira de saber. – Dirijo-me para a porta e apanho a Izzy no caminho que estava para sair com algum Habitante do Mundo-à-Parte.

Assim que chegamos e abrimos a porta de entrada, somos atingidas por uma brisa quente de verão e depois vemos a silhueta de uma rapariga mais ou menos da minha altura, com os cabelos loiros-dourados atados numa trança e uns olhos verdes musgo a olhar para nós. Tem um colete vermelho com um fecho zipper preto á frente, um colete negro tal como os calções de cabedal e as botas. Possui os lábios num tom vermelho tão vivo que parece sangue o que condiz com o colete. Briana.

— Cheguei! – Grita ela num maneira de diva que me faz passar uma data de risos pelas veias. – Tiveram saudades minhas, meninas?

Eu sou a primeira a reagir, não dando a mínima atenção às duas mochilas atrás dela, e abraço-a. Já estava com saudades desta miúda, estou mesmo a precisar das confusões dela para me divertir um pouco.

— É claro. Quem é que consegue infernizar a vida do Jace para além de ti? – Ela solta uma gargalhada e eu observo a roupa dela. – E acho que não deve demorar para ele começar a resmungar.

A Briana sorri, encolhendo os ombros ao mesmo tempo, dando a entender que pouco se importa com isso e que gosta de chatear o Jace vestindo-se de forma tão provocante.

A Izzy vem pouco tempo depois e também a abraça. Depois olha para ela como eu e aponta para o cinto prateado que ela tem nos calções.

— Já te voltaram a arranjar as kindjal? – Pergunta, referindo-se ao cinto que Briana carrega sempre com ela.

Quando em pequena, a Briana percebeu que manejava as kindjal melhor do que qualquer outra arma mas depois viu que não gostava de andar pelas ruas com duas facas incomodas mas botas ou enfiadas nas bainhas dos calções, por isso o Robert decidiu oferecer-lhe um cinto que, quando ativado pelas runas, se transformava em duas ameaçadoras kindjal.

— Sim, não era mais do que a sua obrigação. – Ela cruza os braços deixando á mostra algumas runas definidas nos pulsos. – E ainda ganhei o bónus de que agora são mais resistentes e o cinto mais estiloso.

— Para ti tem sempre de haver um bónus. – Digo, ao mesmo tempo que passo o meu braço direito em volta do dela. – Mas diz lá, como foi a estadia em Idris?

— Ugh. – Ela arrepia-se e entendo o que isso quer dizer: discussões. – Horrível. Se não fosse o Max teria morrido de tédio. Mas pronto.

— Foi por isso que vieste mais cedo? – Diz a Izzy, já a meio do jardim á frente do instituto.

— Em parte, mas também queria falar com o meu irmão.

— Pois claro. Se por falar queres dizer provocar. – Esboço um sorriso maroto e ela também.

É incrível como nos conseguimos conhecer apenas através de olhares ou gestos. Quando nos conhecemos foi da mesma maneira. A Maryse estava sempre a inferiorizar e a culpar a Briana e então esta começou a se rebelar e a parecer mal-educada para toda a gente, incluindo comigo. Foi daí que surgiu a nossa amizade, por que no fundo eu conseguia entender o que se estava a passar e conseguia apoiá-la.

— Ok, admito que é por isso. No entanto há outra coisa que também quero confirmar. – Ela olha á sua volta como se esperasse encontrar o irmão atrás da porta ou de mim. – Não me digas que ele não está.

Aceno negativamente com a cabeça.

— Lamento, vais ter de esperar para mais tarde. Acontece que ele está numa missão.

— Missão? Eu ontem falei com ele e não me disse nada sobre isso. – O olhar questionador dela está me a provocar suores frios por todo o corpo. – Izzy?

— Não sei de nada. Aliás, eu tenho de me despachar, vejo-vos mais tarde. – Ela lança-nos um beijo e depois fecha o portão desaparecendo pelas ruas movimentada de Manhattan.

Agora seria só eu e a Briana e pela maneira com que se focava em mim, já estava a temer os resultados. É, de facto a minha clarividência nunca se engana.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E pronto. Mais uma alhada em que a Lauren está metida mas agora é com a Briana. O que será que irá acontecer?
Espero que estejam a gostar da história. Kissus



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cidade dos Ossos - Vista por Outros Olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.