Cidade dos Ossos - Vista por Outros Olhos escrita por Ann Wolf


Capítulo 12
Discussão com Melhor Amiga, Encontro com Raphael


Notas iniciais do capítulo

Lauren agora tem a certeza de que os pais estão vivos e que o Valentine é o principal responsavel do desaparecimento deles. No entanto, pode isso ser o suficiente para ela os salvar? Enquanto isso, uma nova missão: encontrar as respostas para o enigma da Clary com o Supremo Feiticeiro de Brooklyn. Terão eles todas as respostas necessárias?



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O nosso grupo apanha o metro, seguindo a morada do convite. A Briana está ao meu lado, espalmada entre mim e o Alec enquanto a Izzy, o Simon, a Clary e o Jace se sentem á nossa frente, estando o Jace em pé e encostado a umas das janelas.

                Desde que saímos do Instituto que sinto o olhar sufocante da Briana e do Alec no loiro e na pequena. A Izzy ficou um pouco mais estranha com o irritante do Simon logo que ele quase se babou pela Clary e a roupa que ela trazia para a festa, e eu, no meio disto, tenho um grito contido no meu peito que parece estar a rasgar-me ao meio por não o soltar.

                - Briana? – Embora diga o nome dela eu não faço nem a ínfima ideia do porquê o faço, acho que talvez para arranjar algo mais em que pensar para além deste ambiente desconfortável que se instalou no nosso grupo.

                Ela vira-se na minha direção e, por momentos, consigo ver-lhe a feição irritada que guarda para a Clary.

                - O que foi? – Pergunta-me num tom azedo. – Não estou para sermões!

                Penso em encolher-me mas isso não é o meu costume e não me iria sentir bem ao faze-lo para além de que isso seria quase como deixar um adulto consentindo uma falta de respeito de um adolescente. Logo, mantenho um pouco mais rígida para com a Briana.

                - Não te vou dar nenhum sermão, ou pelo menos não tinha isso em mente. – Uma corrente gélida passa-me pelas veias juntamente com algo como eletricidade e um pressentimento estranho começa a preencher-me o corpo mas consigo ignora-lo a certo ponto. – Apenas te queria perguntar o que vais fazer quando chegarmos a Brooklyn.

                - Obvio que vou seguir a missão. – Ela volta a desviar a atenção para o irmão que quando cruza olhares com ela lhe sorri, o mesmo não acontece com ela.

                A loira cruza os braços ao peito e espalma-se mais contra o banco tal e qual como se quisesse desaparecer dali a sete pés ou então a conter-se para não sair disparada contra a ruiva. O pressentimento estranho que está dentro de mim é disfarçado pelo cansaço de ter a Briana sempre a bater na mesma tecla sem conter a sua teimosia.

                - Como se tu, Briana Wayland, te fosses dedicar a esta missão 100%. – Ela fica o seu olhar em mim hesitando entre raiva e sarcasmo. – Por favor. Conheço te bem demais para saber que és capaz de ficar 5 minutos focada nesta missão e depois vais ignorá-la.

                Ela pensa numa resposta pela maneira como abre a boca e não lhe sai nada. Mas isso não a impede de lançar um comentário, não para mim mas para outra pessoa.

                - Se ninguém me babar para cima enquanto eu estiver por perto quem sabe.

                É claro que a boca tinha sido dirigida para o Jace que franziu o sobrolho mal a loira o proferiu para depois lhe virar a cara. Ele concentra-se em mim e abana-me a cabeça como se me questiona-se o que se está a passar. A resposta é um encolher de ombros da minha parte.

                - Estamos quase a chegar ao nosso destino. – Afirma a Izzy, levantando-se ao mesmo tempo que deixa o Simon para trás que nem se dá conta da ausência da morena ate acordar atordoado do que parece um transe.

                Solto algo parecido como um gargalhada baixa por ver a cara de tonto dele para depois substituir por uma tosse fingida.

                - Pastilhas para a garganta fazem bem a isso. – Diz ele.

                - Ao menos eu tenho remédio. Será que posso dizer o mesmo de ti? – Resmungo-lhe e a Clary apenas desvia a atenção dela, por escassos segundos, para mim e para o melhor amigo para depois nos ignorar completamente.

                O metro para e é quando todos saímos, sendo que a primeira a faze-lo é a Izzy seguida pelo Simon, a Clary, o Jace e a seguir eu. Assim que olho para trás, pouco antes de sair para a estação e inspirar ar puro, que á a melhor coisa do mundo, especialmente quando é fresco, vejo a Briana e o moreno a falarem.

                É possível perceber que ela está um pouco tensa mas apenas com um simples gesto do Lightwood, a sua postura muda para alguém que precisa de carinho. Algo que lhe é oferecido por ele através de um abraço afetuoso da parte dele. No meio daqueles braços musculados ela até parece mais pequena, o que acho muito fofo.

                Pigarreio um pouco alto para que se apercebam de que temos de nos despachar antes que alguém comente algo. Não quero admitir mas também estou ansiosa por encontrar alguém o mais depressa possível.

                O casal atrás de mim separa-se e a Briana acelera o passo até ficar ao meu alcance. Nota-se que está abstraída nos seus pensamentos e as suas bochechas estão um pouco avermelhadas e duvido que seja devido a pequena corrida que teve de fazer para chegar até mim.

                A Isabelle guiava-nos através do Sensor com o mundano ao seu lado. O Simon demonstrava interesse no nosso aparelho que possui todas as ferramentas eletrónicas que um telemóvel comum não possui: desde frequências que nos permitem encontra demônios, a sistemas de mapas e runas que podemos usar em caso de emergência contra um demônio. No entanto, eu desconfio que ele não está só a observar o Sensor e as suas funcionalidades mas guardo essa teoria para mim mesma.

                Também, ao que parece não fui a única que tem essa opinião porque a Clary recua um pouco mais, ficando juntamente com o Jace como os últimos do grupo.

                - De novo. Isto começa a enjoar. – Murmura a Briana.

                - Vais começar de novo? Deixa-los estar. – Respondo calmamente para que ela não fique amuada. – Tu sempre tiveste noção de que ele poderia arranjar alguém.

                Ela cruza os braços e baixa cabeça ao mesmo tempo que continua a caminhar.

                - Eu sabia mas não esperava que fosse logo agora. Não estava preparada e a Clary é…não sei mas sinto que há algo de estranho nela. – Ela observa pelo canto do olho o irmão e a ruiva que conversam atrás de nós.

                - No bom ou no mau sentido?

                - Não sei. Mas prefiro que nos mantenhamos afastados dela. – Olho-a com uma cara feia e ela levanta os braços em sinal de rendimento. – Pronto, já não digo mais nada. Já agora, quanto tempo mais vamos ter de aguentar aquele mundano?

                - Boa pergunta. Estou ansiosa para que ele se ponha a andar daqui para fora. – Cruzo também os braços.

                A paisagem á nossa volta alterou-se completamente. O que antes eram apartamentos e ruas cheias de anúncios tornou-se num bairro industrial com alguns armazéns que haviam sido transformados na sua maior parte em galerias de arte e lofts.

                Talvez fosse só um sentimento estúpido mas era um ambiente desconfortável e coloca-me um pouco desconfiada para ser sincera. Talvez seja pela probabilidade de aparecer algum Habitante do Mundo-à-Parte a qualquer segundo.

                - A rua é esta. – Quando a Izzy diz isto, viro-me bruscamente na direção dela e bato com o cabelo na cara da Briana que resmunga algo como de não ser nenhum demónio que se possa torturar chicoteando com o cabelo.

Riu-me baixinho disso porque não quero dar nada nas vistas neste bairro, ainda mais quando não há quase luz nenhuma para mostrar o que se encontra á frente dos nossos pés.

O lugar onde nos encontramos agora é uma pequena avenida onde alguns dos armazéns se reúnem e possuem uma decoração simples mas bonitas, excluindo o facto de que os caixotes do lixo que encontram á frente tresandam a podre e a outros tipos de cheiro desagradável.

— Como é que alguém pode viver perto disto? – Pergunta retoricamente a Wayland torcendo o nariz. – Isto parece uma lixeira. E ainda diz que é o Feiticeiro Supremo.

Coloco a minha mão esquerda no ombro da Bri e aceno afirmativamente com a cabeça, concordando com a sua opinião.

— Jace! – O Alec chama o loiro que se encontra atras de nós duas e, por momentos, uma cara feia contorna-se em ambos os rostos que me são familiares: acho que não gostaram de ser interrompidos.

Ele tinha uma mão no ombro dela que deixou cair mal a irmã o olhou, assim como o Alec.

— Sim?

— Achas que estamos no lugar certo? – O mais velho de todos nós indicava para algo que se encontrava no passeio.

Caminhei até ele por pura curiosidade para saber o que ele queria dizer com aquela pergunta e deparo-me com uma dúzia ou mais de motas prateadas e com os esqueletos negros como breu e que pareciam constituídas por algo muito viscoso que cheguei a confundir com óleo.

— Vampiros. – Digo eu em coro com o Jace.

— Isto vai ser divertido. – Diz ele com um sorriso com malicia estampado no rosto.

— Jace! Não faças nada de imprudente! – Ralho eu saindo de perto dele e do moreno.

Não me apetece arranjar mais problemas por hoje e se alguém o fizer e me envolver no meio vai passar pelo pior pesadelo da sua vida.

O moreno de óculos do Simon aproxima-se um pouco para fazer as suas pesquisas acerca do nosso mundo. Não sei como os rapazes se controlam para não o colocarem a dormir durante uma semana.

— Parecem simples motas. – Afirma ele, com a Izzy mesmo atrás dele.

Esta franze o sobrolho, e então eu passo por ela sussurrando-lhe no ouvido:

— Ele está a começar a irritar-me á brava, Izzy.

Ela ofende-se durante um pouco e aproveita que ninguém está perto o suficiente para a ouvir:

— Eu acho-o um pouco engraçado. – Ela fita-o pelo canto do olho. – E nem é muito má companhia.

Algo parecido com o sabor do meu lanche improvisado começa a subir-me á garganta e chego a pensar que vou vomitar mesmo ali mas, não sei de que maneira, arranjo forças para o impedir.

Volto a caminhar para perto do resto das raparigas, que observam tudo ao longe, a Briana com um sorriso divertido no rosto e a Clary com uma expressão confusa. Atrás de mim ainda ouço o Alec a falar animadamente sobre algumas capacidades que as motas dos vampiros podem ter.

— Noite Vitoriosa. – Diz o Jace, sem razão aparente.

— O quê? – Pergunto.

— Acho que hoje irei concretizar o desejo de um destes nossos companheiros.

— Jace… - O tom da minha voz altera-se para um aviso.

Tanto ele como o Alec ignoram-me e começam a fazer algo estupido pela maneira como vasculham nos bolsos do blusão.

— Despachem-se mas é. – Diz a Isabelle. – Não me vesti desta maneira para vos ver a andar na valeta á volta de umas motas.

O Jace salta para o passeio onde nós as quatro nos encontramos.

— Vá lá, Izzy. Tens de admitir que são bonitas de se ver.

— Se assim for, também tens de admitir que há aqui coisas mais bonitas para se admirarem. – A Briana está a rir-se mas duvido que alguém saiba o que ela quer mesmo receber como este comentário, basta que quando a Izzy responde eu dou uma palmada na testa.

— Obrigada pelo elogio, Briana, eu sei que sou bonita.- Quanta vaidade.

— Izzy, ela referia-se a sim mesma.

Todos nos começamos a rir, uns mais do que outros.

— Despachem-se mas é. – Resmunga a Izzy, quando todos parecemos já ter acalmado a vontade de rir.

— Ok. Ok. Clary, o edifício é este? – Pergunta-lhe o Jace ao mesmo que tempo que indica o armazém de tijolos.

— Acho que sim. Mas parecem todos iguais.

A Briana nada diz e começa a andar em frente até á porta de entrada, subindo os degraus á pressa.

— Só há uma maneira de se saber e acreditem: é simples e rápida. – Diz ela, observando a filheira de campainha que, supostamente, deveriam ter nomes escritos há frente mas em que só aparecia um: Bane. – Ao contrário dessa lesma que nem mesmo para encontrar uma morada serve.

— Ei, tens algum problema comigo? – Responde azedamente a Clary. – Se tens só precisas de dizer.

Isto vai dar confusão entre as duas.

A Briana vira-se para trás para mirar a Clary que, com a mais pura verdade, estava mesmo irritada com o comentário da minha melhor amiga.

— Briana, por favor. – Digo, agarrando-lhe no braço. – Aqui não.

— Mas aqui não o quê, Lauren? – Ela retira o braço e por pouco não me acerta um murro. – Acho até que é uma boa altura para explicar que esta sonsa, que não tem outro nome melhor, não presta!

A maneira como ela me fala faz com que sinta uma corrente fria a invadir-me as veias e a provocar-me algo parecido com cortes pelo corpo todo. Já estava habituada á maneira brusca com que a Briana falava na maior parte das vezes mas desta vez tinha-me magoado seriamente.

                Afasto-me um pouco e finco as unhas nos braços, disfarçadamente, para que ninguém se aperceba.

                - Já chega! – Grita a Izzy. – Lauren?

                - Eu estou bem. – Digo deixando cair os braços ao lado do corpo.

                - Briana?

                Ela não responde, unicamente fixa a Clary com a raiva a trasbordar pelos olhos. O Jace mete-se no meio das duas, fazendo sinal á ruiva para que suba, seguida pelo Simon e pelo Alec que quando repara na irmã a preparar-se para tocar a terceira vez na campainha, a impede.

                Continuo encostada a um canto mais afastado e a Clary dá-se conta disso pelo modo como se aproxima de mim sem o olhar protetor de Jace em cima e fala comigo.

                - Tu não estás bem. – Confirma ela.

                - Magoa-me quando a Briana não pensa corretamente. – Desabafo. – Eu compreendo que cada um tem uma opinião diferente mas ela podia controlar-se mais.

                - Talvez. Mas das últimas vezes que tu a repreendeste não ficaste assim.

                - Provavelmente porque já é a terceira vez que lhe dou um sermão hoje. – Um homem aparece na ombreira da porta assim que a porta se abre.

                Ele observa-nos, curioso, como se estivesse a dissecar um animal e a ver o seu interior. A Isabelle reage de imediato, como se o facto se alguém a estudar-nos não a incomode, e sorri-lhe divertidamente.

                - Magnus? Magnus Bane?

                - O próprio. – O Magnus, como assim se diz chamar, é alto e magro e o cabelo negro parece formar uma coroa.

                Quando o vejo mais de perto observo-lhe maquilhagem, assim como o batom azul-escuro nos lábios, ao redor dos olhos e que a sua pele possui um tom dourado, dando me a entender que deve ser de origem asiática. Veste uns jeans e uma camisa negra com vários fios de metal a penderem-lhe. Os seus dedos das mãos, que carregam uma dúzia ou mais de anéis, passam pelo cabelo até às pontas enquanto ele nos volta a mirar.

                - Filhos de Nefelim. – Diz. – Ora bem. Não me lembro de os ter convidado.

                A Isabelle saca do convite que ainda estava na sua mão, e acena-o como se trata-se de uma bandeira.

                - Fui convidada e quanto a estas pessoas… - Ela aponta para nós com um gesto amplo do braço. – São minhas amigas.

                O Magnus agarra o convite das mãos dela demonstrando um pouco do seu desagrado em termos aparecido ali mostrando-o de uma maneira mais explícita quando o examina e comenta acerca de nos ter convidado:

                - Devia estar bêbedo. – Ele abre-nos mais a porta, para que possamos entrar. – Entrem. E tentem não matar nenhum dos meus convidados. Já agora, trazem alguém chamado Lauren com vocês?

                Todos olham para mim. Um sentimento de vergonha sobe me pelas artérias até chegar às minhas bochechas, tornando-as rubras. Avanço um passo em frente, ao mesmo tempo que tento não fazer a minha timidez pregar-me uma partida com as minhas pernas.

                O Magnus olha me de alto a baixo e deixa escapar um riso disfarçado.

                - Bem, quem diria que ele tem bom gosto. – O feiticeiro faz-me sinal para entrar e eu faço-o, colocando-me depois atrás dele á espera do meu grupo.

                 O Jace e a Izzy tem as sobrancelhas unidas pela expressão de desconfiança estampada na cara, enquanto isso, o Alec e a Briana estão mais interessados no Magnus e na sua aparência. Solto um suspiro pesado e desvio o olhar para a Clary e o Simon que se seguem logo atrás do loiro e da Lightwood.

                Esta quando se aproxima de mim, bem devagar, murmura-me:

                - Como ele sabe o teu nome? E quem é o “ele” que tem bom gosto?

                - Amigo meu. – Digo para encolher os ombros logo a seguir para disfarçar o nervosismo. – Encontramo-nos numa discoteca e ele hoje pediu-me para vir a esta festa.

                - Isso quer dizer que já tencionavas comparecer neste evento mesmo antes de saberes que a Clary precisava de vir aqui? – O Jace, que tinha estado a conversar algo com o Magnus ao entrar, junta-se á nossa conversa de: “Como é que a Lauren, que não é fã de eventos, é convidada para um onde só há Habitantes do Mundo-à-Parte?”.

                Aceno que sim á pergunta do Wayland.

                - Para a próxima convida os amigos. – Resmunga ele.

                Uma gargalhada desprende-se dos meus pulmões.

                - Ciúmes, Jace? – Digo em tom provocante.

                - Não, mas nós também nos gostamos de divertir. – Diz a Izzy.

                - Considerem isto como o troco de me terem trancado no Instituto naquela noite.

                Eles não comentam nada e seguem em frente. Assim que a Clary passa por mim, batemos as mãos uma na outra para celebrar por termos chateado o Jace e o seu orgulho. O Simon não comenta nada e vai atrás dela e logo a seguir passa o Alec e a Briana. Esta sorri para mim e, por certos segundos, tenciono responder-lhe da mesma forma mas acabo apenas por ficar um pouco cabisbaixa. Não sei se sou eu ou ela mas juro ver lhe uma ponta de arrependimento nos olhos.

                - Houve alguma confusão entre ti e aquela rapariga? – O Magnus parece já estar a tentar pôr-se a par do assunto sem nem mesmo conhecer-me.

                - O que aconteceu com a privacidade de uma pessoa? – Respondo, com um sorriso fraco.

                - Digamos que desapareceu mal entraram por aquela porta. – Diz ele, apontando para o fundo das escadas que agora percorremos.

                Os degraus pareciam partidos e desconfio que não aguentem com o nosso peso para além de que o corrimão parece estar todo babado com uma substância nojenta e pegajosa.

                - Claro, já esperava isso. – Digo, distraindo me da baba do corrimão. – De facto, chateamo-nos, de certo modo.

                Ele passa novamente as mãos pelo cabelo, soltando pequenas faíscas dos dedos.

                - Drama de raparigas. – Murmura, enquanto suspira um pouco. – Acho que nunca as consigo entender. Mas bem, o teu acompanhante espera-te.

                - Nós somos só amigos. – Respondo, baixando o olhar para o chão quando entro no apartamento do Magnus.

                - Amigos bem próximos, não? – Ele ri-se mas eu não acho graça nenhuma.

                Sinto como se quisesse que um buraco se abrisse no chão e me engolisse, se bem que isso no nosso mundo é bem possível e perigoso ao mesmo tempo.

                Logo que ergo a cabeça vejo os corpos de vários Habitantes do Mundo-à-Parte. Um nixie a dançar na pista de dança, fadas a celebrarem aos pares enquanto partilham bebidas e comidas. Reparo também num grupo de vampiros que bebericam dos seus copos de vidro com o que, para eles, é um saboroso líquido escarlate. Mas não há sinal nenhum de Raphael.

                - Então, esperas ali enquanto eu trato de colocar os meus novos…convidados á vontade. – O Magnus aponta me para um canto mais isolado, onde uma janela com uma pelicula que impede a luz do exterior entrar e onde está um banco improvisado com duas almofadas azuis-escura e com as borlas douradas a reluzirem com as luzes florescentes do ambiente. - E, pela segurança de todos, tenta não arranjar conflitos.

                - Não o farei. – Prometo com um sorriso brincalhão no rosto. – Não me apetece mais lutas por hoje. Acho que estou dorida o suficiente.

                Ele também se ri, mostrando uma fileira de dentes incrivelmente brancos, e caminha para perto de onde encontra a Briana e a Clary. Não sei onde paira o resto do grupo, já que muito provavelmente se devem ter distanciado uns dos outros na multidão inclusive da Briana que, infelizmente para ela, tem de cuidar da segurança da ruiva, se se pode dize isso. Só espero que não arranquem os cabelos uma á outra.

                 O vampiro, que supostamente deveria estar á minha espera, ainda está ausente quando noto o Jace e o Alec a andarem em direção ao trio composto pelo Feiticeiro Supremo de Brooklyn, pela Briana e pela Clary. O primeiro possui uma grinalda de flores frescas ao pescoço e está muito sorridente consigo mesmo, sentimento que não partilha pelo seu parabatai por causa da cara amuada estampada na face. Em meio de muitos pensamentos, um deles é a questão de quanto tempo mais o Alec continuar a pensar em algo impossível em vez de seguir em frente.

                Eles trocam algumas palavras até que o Jace apontou para a pista de dança. Ao início não entendo o porquê mas quando avisto uma cabeleira negra cor de azeviche e um rapaz desajeitado com uma t-shirt colados um ao outro, compreendo de imediato a que se referia aquele gesto.

                As coisas parecem estar todas a correr normalmente, para um evento onde não era suposto haver Caçadores de Sombras e onde se reúnem tantos Habitantes do Mundo-à-Parte, quando um grito grave se espalha pelo apartamento:

                - MAGNUS BANE! – Um homem, quase com a mesma altura que eu, talvez um pouco mais baixo, com os músculos a revelarem-se por baixo da camisa negra e com o cabelo rapado aponta um dos dedos a tremer na direção do Magnus. – Alguém deitou água benta no depósito de gasolina da minha mota. Esta acabada. Destruída. Todos os tubos derreteram.

                A voz dele soava suficientemente alta para eu, aonde estou, conseguir ouvir tudo ao pormenor.

                A minha clarividência começa a mostrar me trechos do que aconteceu com a mota do homem. Ao que parece o Jace e o Alec decidiram mesmo divertir-se a fazer alguma traquinice, algo que eu os aconselhei a não fazer.

                O Magnus diz algo mas a sua voz sai tão baixo que não consigo perceber nada, embora os risinhos disfarçados da Briana digam tudo.

                Começo a dar um passo em frente para me juntar ao grupo. No entanto, antes mesmo de o poder fazer, uma mão gelada agarra-me no cotovelo e puxa-me para trás, onde embato contra algo duro e uma mão é colocada sobre a minha boca.

                - Shh. – Quem me está a agarrar sussurra-me ao ouvido e, por breves momentos, quero agarrar-lhe no pulso e torcer-lho por me ter pregado um susto. – Olha.

                A mão que me tapa a boca aponta para o homem cuja moto foi destruída. Fico especada a tentar estudar todos os pormenores do tipo até que lhe distinguir os caninos afiados e sobressaídos típicos de um vampiro. Um calafrio sobe-me pelas costas e compreendo que é uma reação por estar a ver aquilo.

                Abano a cabeça repetidamente para tentar afastar as recordações desta manhã e também para me abstrair do ardor que está a aparecer nos dois furos do meu ombro.

                A discussão continua e o feiticeiro, após o vampiro lhe espetar um dedo na sua direção, faz um gesto impercetível com o indicador fazendo o vampiro começar a sufocar e levar as mãos a garganta como que a tentar libertar se de uma mão invisível. Ele abre a boca várias vezes mas não consigo ouvir nenhum som, talvez por estar afastada demais ou então porque ele não consegue mesmo falar.

                A Clary dá um pequeno sobressalto quando o feiticeiro murmura alguma coisa e então quem me está a agarrar volta a sussurrar-me aos ouvidos:

                - Não saias daqui. Eu vou tentar resolver os problemas.

                - Espera, Raphael. – Digo eu enquanto giro ligeiramente a cabeça para trás para lhe fitar aqueles olhos negros como o seu cabelo encaracolado. – Não creio que seja necessário.

                O vampiro segue em direção á saída passando pela multidão como se ela não existisse.

                - Wow. – Murmuro ao observar a cena. – Eu não queria estar no lugar dele.

                O Raphael afasta-se um pouco de mim e senta-se no banco ao lado da janela, levantando um pouco de poeira que me irrita os olhos e a garganta.

                - Desculpa. – Diz ele a olhar para mim. – Não era a minha intenção.

                - Sem problemas. – Apresso-me a descontrai-lo e sento-me em frente dele mas mais devagar, primeiro porque não quero sujar a roupa que a Briana me emprestou e segundo porque não quero levar com mais uma nuvem de pó.

                O moreno continua a observar-me de alto a baixo e sinto as minhas maças do rosto a aquecerem. A um determinado momento desvio o olhar para a festa, observando-o apenas pelo canto do olho, mas isso não é o suficiente para que ele perca a concentração em mim.

                - O que se passa para me olhares tanto? – Dirijo-lhe. – Estou estranha.

                Ele disfarça o riso colocando uma das mãos á frente da boca e depois lança-me um olhar, na minha opinião, sedutor.

                - A primeira vez que em encontrei contigo estavas um pouco diferente de como estás hoje. – Ele aproxima-se e quase tenho a sensação do meu coração estar a ser expulso do meu peito.

                - Estou assim tão mal? – Provoco, provavelmente como um modo para me abstrair da timidez que ameaça saltar para fora. – Preferes que utilize calções de ganga e t-shirts?

                - Não. – A aproximação dele tinha chegado ao ponto de ele me estar a agarrar a minha mão direita. – Na verdade, estás muito bonita assim. Diferente, mas acho que realçou um pouco a tua belleza, mi chica.

                O Raphael beija-me os dedos das mãos e aproxima-se de mim. Sei que não estou a ser encantada por ele, já que esse é um dos poderes que os vampiros, quando lhe sigo o exemplo.

                O toque dos nossos lábios faz um pouco de fricção por os deles estarem gelados e os meus a arderem pela vergonha mas isso não impede que continuemos. Não estou interessada em fazer marmelada e julgo que ele também não porque unicamente trocamos alguns beijos, uns mais quentes que outros, até eu me afastar levemente dele, colocando as minhas mãos no seu peito.

                - Raphael, precisamos de falar. – Digo, num tom mais sério que só reservo aos meus companheiros quando tenho algum raspanete pra dar. – Sobre esta manhã.

                Ele encosta-se á parede, talvez um pouco desapontado mas com um sorriso a desenvencilhar-lhe os lábios.

                - Séria e direta. Gosto disso em ti. Muito bem, eu vou contar-te tudo o que eu sei.


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Notas finais do capítulo

Não há um único momento em que a língua afiada da melhor amiga de Lauren e isso pode ser perigoso para a amizade. Continuarão a ser amigas, apesar de tudo? E como irá correr o encontro da nossa Caçadora com o chefe do clã de vampiros?



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