Cidade dos Ossos - Vista por Outros Olhos escrita por Ann Wolf


Capítulo 11
A Festa do Magnus Bane


Notas iniciais do capítulo

Depois da luta com o grupo de vampiros de Damon, Lauren, Briana e Alec vão agora a caminho do Taki's onde irão encontrar-se com Jace e o resto do grupo. Mas o que poderá acontecer com esse encontro? Será que a raiva da Briana irá acalmar-se ao ponto de não provocar um mau clima?



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Ao sair do Central Park sinto algo a observar-me. Não é como se fosse algo hostil mas é mais como uma presença que me é estranha. Nem a Briana nem o Alec conseguem captá-la por isso esforço-me para a ignorar e concentrar-me na conversa que decorre com os meus companheiros de luta.

                - Eu não fazia ideia que ele planeava atrair-me para uma armadilha. – Resmungou a Bri pela terceira vez consecutiva. – Já basta de sermão!

                - Foste irresponsável, Briana. – O Alec cruza os braços, amuado. – Aprendeste muito bem acerca dos poderes de sedução dos vampiros e mesmo assim foste logo agarrar-te a um!

                - Alec, tu estás a tentar arranjar confusão comigo agora? Posso ter-te magoado antes mas isso não te dá o direito de me dares um sermão! – A cara da Briana arde de raiva e os seus olhos parecem lançar faíscas para o Alec que se mantém imóvel a observa-la.

                A expressão carrancuda que ele carrega poe-me desconfortável e enerva a Briana ainda mais, que parece estar a conter-se para não lhe acertar um soco na cara que o faça parar ao chão. Se há coisa que eu aprendi com os erros dos outros foi que quando a Briana está enervada o melhor é não a provocarem. Para além de ela ainda vos lançar uma praga abominável, é bem possível que acabem com um inchaço na cara e umas quantas outras dores no corpo todo. Neste momento, isso não era diferente. A única coisa que a impede de se atirar a ele é a amizade e admiração que sente.

                - Tu nunca admites os teus erros, Briana. Viste o que aconteceu á Lauren. – Ela aponta para mim e eu fico com cara de: “Wow, desde quando estou inserida na conversa?” – Se não tivéssemos aparecido tu estarias pior que ela.

                 A Briana recua um passo ao observar-me. Felizmente já estávamos a chegar a casa portanto isso retirava o peso de ela voltar a fugir para um sítio qualquer saí das minhas costas. O pior é que os olhos verdes dela estavam mais baços que o costume e as suas mãos tremem.

                Percebo que é altura de intervir antes que isto piore.

                - Alec, já chega! – Exclamo quando estamos prestes a entrar para o jardim. – A Briana sabe que errou por isso podes parar com o raspanete. Deixa isso para o Jace mais tarde.

                - Só estava a prepara-la para o discurso que vai receber.

                - Ou não. Eu assumo a responsabilidade. – A Briana grita algo como “O quê!?” ao meu lado e o Lightwood quase deixa cair o queixo. – Dizes que eu provoquei um grupo de vampiros que encontramos no Central Park enquanto procurávamos pela Briana.

                Ela, ao meu lado, começa a piscar os olhos tentando absorver tudo o que acabei de dizer enquanto o Alec apenas abana negativamente a cabeça com um sorriso divertido a formar-se no rosto. Quando ele deixa cair a cabeça para trás e começa a balançar os braços é que temos a certeza de ele está de melhor humor.

                - Vocês são como unha e carne, as duas. Eu escondo o que aconteceu ao Jace.

                Tanto eu como a Wayland atiramo-nos para o peito dele, apanhando-o desprevenido pois este quase cai para trás. Os três começamos a rir ao mesmo tempo que entramos no instituto. Assim que passamos a grande porta de madeira da entrada paro logo de rir para esfregar os braços com as minhas mãos.

                - Alguém tem de propor ao Hodge que instale um aquecedor na entrada. Isto está gelado. – Tremo os dentes de frio e por causa dos arrepios que me trespassam a espinha.

                - Lauren, anda! Vamos nos vestir. – Grita-me a Briana ao fundo do corredor, sinceramente eu detesto quando ela faz isto.

                Sigo atrás dela enquanto o Alec vai até á biblioteca, suponho. Até tenho medo da reação do Hodge caso o Alec lhe conte toda a verdade.

                Chegamos até ao quarto da Briana em meio de muitos risos e brincadeiras, depois disso caminho para o meu.

                No momento em que abro a porta do meu quarto, uma brisa suficientemente forte para abrir a minha janela, fustigando-me a cara e o cabelo, e no meio dela vem um papel amarelado que, de uma forma estranha, aterra nas minhas mãos. O papel não tem nada escrito, no lugar de letras encontro apenas cinzas. Entendo que isto deve ser uma mensagem de um Habitante do Mundo-á-Parte.

                Sopro as cinzas em direção ao ar depois de fechar a janela, prevenindo-me para que a mensagem não se desvaneça assim que ganhe forma.

                Passado uns segundos depois de rodopiarem sem organização, estas começam a mostrar-me a figura de um rapaz alto e com os cabelos aos caracóis juntamente com uma expressão rígida e no entanto um pouco divertida. O meu coração pulsa a mil á hora e quase temo que ele consiga ouvir, mesmo tendo noção de que ele não está mesmo ali, nem sequer em holograma.

                - Olá, Lauren. – Fico de boca aberta quando o ouço a proferir o meu nome sem eu nunca lho ter dito. – Deves estar assustada por eu ter descoberto o teu nome. Acontece que te tenho vindo a observar ao longe e preciso de falar urgentemente contigo.

                - Raphael…

                - Encontramo-nos na festa do Magnus Bane, o feiticeiro supremo de Brooklyn. Espero ver-te lá às 12 horas. Até hoje há noite. – A mensagem desvanece-se e eu fico com um grande ponto de interrogação na minha cabeça.

                O que ele queria dizer com “observar-me” e ainda por cima convidou-me para ir a uma festa. Acho que os meus pulmões não suportam mais controlar-se e começo a hiperventilar.

                Tento desviar a minha atenção para qualquer coisa que não envolva um vampiro super sexy e muito amável, que neste caso me está a por a cabeça em água mesmo eu sabendo que é errado e que me poderá acontecer o mesmo que à Briana.

                Começo por ir tomar um duche rápido desanuviando a cabeça de tais pensamento. Com toda a confusão que ocorreu esta manhã até me esqueci da Clary e da Cidade dos Ossos. Só de pensar nesse cemitério o meus ossos tremem tal como todo o meu corpo.

                Assim que saio do chuveiro e ainda enrolada numa toalha, observo as marcas dos dentes do vampiro que me mordeu e agora se torna uma nova cicatriz a acrescentar-se á minha pele.

                - Lauren! Posso entrar? – Uma voz feminina soa do outro lado da porta.

                - Sim. – Grito da casa de banho para que ela abra a porta enquanto disfarço os dois buracos do meu pescoço.

                A Briana já se encontra preparada para nos irmos encontrar com o Jace, está vestida com uma blusa branca com um padrão de rosas vermelhas, que lhe realça os peitos e lhe deixa o umbigo exposto, e com umas calças pretas com vários rasgões e com um poncho negro por cima dos ombros. As botas que ela utilizou no dia em que aqui chegou estão também adicionada ao conjunto e não possui qualquer sinal de maquilhagem para além de ter o cabelo loiro mel solto.

                - Não me digas que ainda não te vestistes. – Aponto para a toalha e lanço-lhe uma expressão sarcástica. – Bem, isso dá me a oportunidade de escolher a tua roupa.

                - Nem pensar! Ainda me arranjas um top parecido com um sutiã e uns calções super curtos! – Conselho para quem quer que conheça a Briana: nunca a deixem escolher a vossa roupa sem estarem de olho nela, nunca mesmo!

                Ela começa a rir enquanto eu vou até á minha comoda onde guardo a minha roupa.

                - Deixa-me ao menos tentar arranjar alguma roupa que te fique bem. – Olho-a desconfiada das suas intenções mas acabo por ceder à sua cara de inocente.

                - Está bem. Mas nada de muito provocante. – Ela pula de alegria e lança-se para o meu pescoço, apertando-mo com muita força.

                Contenho um gemido de dor por ela estar a pressionar o local da mordida e depois afasto-me, indo secar o meu cabelo.

                Quando termino, ato-o num rabo-de-cavalo e admiro o resultado no espelho, aprovando-o.

                Logo que abro a porta que separa o meu quarto da minha casa de banho privada, encontro a Briana a colocar-me duas combinações de roupa em cima da minha cama. Uma delas é com cores escuras enquanto a outra é mais básica e simples, fico até de boca aberta por não ser nada de extravagante mas nem comento nada já que tinha sido eu a pedir-lhe algo casual.

                A primeira era composta por uma t-shirt cinzenta com o logótipo dos nirvana e por umas calcas negras rasgadas nos joelhos e com um casaco de cabedal juntamente com umas vans pretas. O segundo era uma camisa azul-bebé com um nó á frente, umas calças de ganga e umas sandálias com salto de cortiça e de tiras azuis, iguais á camisa.

                - E então? Que achas? – Pergunta-me com um sorriso esperançoso no rosto.

                - Estão ao meu estilo mas vou optar desta vez pelo azul em vez do preto. – Respondo, ao mesmo tempo pegar a roupa.

                - É claro. Eu sei o que te fica bem, afinal de contas sou a que tem mais estilo cá em casa.

                Solto uma gargalhada quando ouço isto. Estou a vestir as calças quando uma provocação me vem á mente em relação ao estilo.

                - Que a Isabelle nunca te ouça a dizer isso.

                A Briana apenas sorri de uma maneira divertida e presunçosa antes de me virar as costas enquanto eu me acabo de vestir. Quando estou prestes a sair do meu quarto, a loira agarra-me o pulso impedindo-me de sair.

                - Eu peço desculpa pela maneira como falei contigo e os problemas que arranjei. – Diz ela, transparecendo algum remorso ao princípio que depois é substituído por teimosia. – Mas não te prometo ser amigável com a Clary.

                Eu já esperava isto.

                - Briana, não te peço que sejas amigável com ela. Eu também agi mal contigo e admito isso. Devia ter respeitado a tua opinião mas tens que compreender que lá porque o Jace está a desenvolver algum tipo de sentimentos pela Clary isso não significa que te vá esquecer. – Seguro-lhe as mãos nas minhas e olho-a nos olhos. – Lembra-te de que me tens sempre a mim e ao Alec.

                - Eu sei disso. E agradeço-vos. – Ela suspira fundo antes de erguer a cabeça e caminhar para o corredor, sendo seguida por mim.

                Descemos o elevador em meio de comentários acerca de quais os Habitantes do Mundo-á-Parte são mais sexys e com os quais poderíamos ter chances ou não. Assim que o assunto girou em torno de vampiros lembrei-me do encontro improvisado que tinha sido marcado entre mim e o Raphael sem eu sequer ter tomado conhecimento antes.

                - Bri, o que achas de irmos a uma festa hoje á noite? – Pergunto com o lábio inferior a tremer um pouco, com receio de ser desmascarada.

                Ela interroga-me com os olhos arregalados e chocada com a minha pergunta. Isso só me coloca mais temerosa de que ela venha a descobrir dos meus planos para mais tarde e se torne super-protetora comigo por temer que o Raph me faça algo.

                - Wow. Eu acho que é uma excelente ideia para relaxar. Lauren, tu por acaso não estás doente, estás?

                Começo a rir e estou prestes a responder-lhe quando uma dor descomunal me atinge a cabeça dando-me a sensação de que esta vai explodir. Levo as mãos á cabeça e ouço os gritos da Briana que se misturam com os meus gemidos de dor. Abro os olhos e o que vejo não é o tapete do elevador mas a silhueta de um homem alto e com cabelo branco penteado para trás, vestido com um terno e com várias runas marcadas na pele, e acompanhado com dois outros homens envergando mantos da Clave.

                O homem de terno transmite-me uma sensação de familiaridade, como se eu devesse saber quem ele é e de onde o conheço. Ele fala algo num tom de voz baixo para depois falar mais alto.

                - Deixai-os procurar a Taça Mortal. Quando o momento certo chegar roubar-lha-emos e então poderei destruir a Clave criando o meu exército. – Ele começa a gargalhar bem alto enquanto se aproxima do género de uma jaula onde ouço alguns ruídos. Algo parecido com gemidos e rugidos. A figura desfigurada de uma pessoa aparece por entre as barras da porta que o separa do homem de fato. A sua pele é acinzentada e possui vários sinais de tortura e cicatrizes na cara, queimando-a. Os seus olhos são de um cinzento igual ao meu e isso causa-me uma má sensação.

                - Preparar-lhes-ei uma receção calorosa, especialmente para a filha da Jocelyn e para aquela Ashblue. O que me dizes, Elliot? – A criatura afasta-se para depois começar a bater contra as paredes ao mesmo tempo que urra desesperadamente.

                Um outro companheiro dele emerge das sombras e apoia-se nele, reconfortando-o. A imagem desvanece-se com o riso maléfico do homem de cabelo branco atrás ainda a ressoar-me nos ouvidos.

                Quando abro novamente os olhos para a realidade, está o Alec, a Briana e a Izzy á minha frente. Atras deles está outra silhueta mas ainda não a consigo distinguir muito bem, mas pelo olhar mortífero que a Bri lhe lança, calculo que seja um mundano.

                - Lauren! Finalmente voltaste a ti. – Grita a Briana. – Estás bem?

                - Ai. A minha cabeça. Bati em alguma coisa? – De facto, doe-me a parte esquerda da cabeça.

                O Alec agarra-me por baixo dos ombros devagar e iça-me para cima. Ao início, sinto as pernas a fraquejarem e a cabeça a pesar demasiado mas consigo manter-me ereta. Assim que a Wayland me vê a recuperar depressa explica-me como eu praticamente desmaiei com os olhos arregalados de pavor e em como eu simplesmente parecia estar em transe.

                Durante esse período de tempo tinha chegado a Izzy acompanhada da sua nova conquista: Simon Lewis, o mundano mais arrogante de toda a Brooklyn e o melhor amigo da Clary, deva-se dizer. Não gosto dele por o achar demasiado convencido e estúpido mas sempre fiz um esforço para conviver com ele quando a Clary estava por perto para não lhe dar a entender o quanto o desprezava a ele, e aos seus amiguinhos de banda que só sabiam pensar em raparigas.

                Ah, e quanto á dor de cabeça, foi quando me agachei e perdi o controlo do meu corpo acabei por bater numa das paredes do elevador, algo que vou anotar para nunca mais repetir.

                Deixamos a Izzy para trás enquanto vamos apanhar o táxi os três. O Alec fica no banco de passageiro e nós, a Briana e eu, nos traseiros. Já estamos a passar pela Broadway quando a loira começa a falar comigo sobre as minhas visões.

                - Eu nunca te vi a entrar naquele estado, Lou. É que assusta-te para caramba.

                - Também nunca me aconteceu durante o dia. Normalmente é em sonho em pequenos fragmentos. – Relembro-me do homem de olhos cinzentos e de quem o acompanhava.

 O nome, os olhos, a maneira como reagiu ao meu nome, deixam-me confusa e a ponderar se serão mesmo eles.

— Ei, Lauren? – A Bri abana as mãos á frente da minha cara para me chamar atenção. – O que foi que viste? Parecias apavorada.

A conversa chama a atenção do Alec, que se vira para trás, esperando conseguir ouvir algo de interessante. Não que as minhas visões malucas sejam interessantes especialmente quando um homem maluco anda atrás da Taça Mortal e quer preparar algo especial para mim e para a Clary. Claro, nada de interessante.

— Eu vi três homens. Dois deles estavam com um manto da Clave mas não pareciam pertencer a esta. – Engulo em seco ao relembrar-me do homem de terno, a voz dele parece-me agora ainda mais familiar. – O outro tinha um terno. Era alto e tinha o cabelo branco penteado para trás e tinha várias runas traçadas. Disse que iria esperar que encontrássemos a Taça para depois a recuperar. E…não tenho bem a certeza mas acho que vi os meus pais.

Tanto o Alec como a Briana ficam chocados com a afirmação. Toda a gente sabe que sou a ultima pessoa da família pura Ashblue, todos os outros trocaram os seus sobrenomes e os seus filhos possuem o sobrenome do progenitor paterno. Ouvirem-me dizer que vi os meus pais é o mesmo que afirmar que estou a ser louca já que estes morreram ou assim foram declarados.

— Lou, tens noção do que disseste? Estás a dizer que os teus pais estão a mando do Valentine. – A loira coloca uma das mãos no meu ombro esquerdo e agradeço-lhe pelo gesto de afeto.

— Mas eles não estão, Bri. Eles foram transformados em Abandonados. Tenho a certeza de que foi contra a vontade deles pois estes ficaram apavorados quando o tal de Valentine lhes disse que iria preparar uma boa receção para mim. – Não posso e nem acredito que os meus pais pudessem algum dia me magoar com intenção, eles nunca o fariam porque me amam. – E eu vou salva-los custe o que custar.

O Lightwood abana a cabeça como se aprovasse a minha coragem mas não a minha inocência. Era óbvio que ele não tinha percebido o que eu queria dizer. É impossível para qualquer pessoa trazer um Abandonado de volta ao normal, no entanto eu não pretendo fazer isso. Pelo contrário, a única maneira de salvar um é tirando-lhe todo o sofrimento de cima das costas. E isso só podia ser feito mantando-o.

Era algo repugnante para mim mas se dessa maneira pudesse fazer com que os meus pais pudessem descansar em paz e ter uma vida melhor mesmo que não sendo ao meu lado então eu irei faze-lo.

O táxi para antes que tenhamos tempo para dizer alguma coisa a respeito da minha ideia. Assim que saímos da viatura a Briana solta um suspiro e cruza os braços ao mesmo tempo que fica com uma expressão feia na cara. O Alec abraça-nos ao redor dos ombros e começamos a caminhar pela rua.

— Isto não vai correr bem. – Murmura a loira apontado para o casal que se encontra á nossa frente: um loiro e uma ruiva.

— Calma, Briana. Não fiques assim. – Exclama o Alec atrás de nós.

— Oh, claro. Eu vou mesmo ficar de braços cruzados enquanto aquela sonsa se faz de santinha. – O sarcasmo dela merecia uma resposta mas tento calar a boca porque já se sabe: é a Briana Wayland. – Só espero que o meu irmão não me obrigue a conviver com ela durante muito tempo.

O Alec não diz nada e corre em direção do Jace, deixando-nos para trás. Tento colocar a Briana mais á vontade em relação a uma coisa.

— Briana, não te preocupes. Mais tarde pudemos infernizar um pouco a vida do Simon. – Um sorriso estampa-se no rosto dela e acena afirmativamente com a cabeça.

Estamos a cerca de meio metro quando ouço o Alec a comentar algo sobre o Simon e dá Clary estar disposta a bater-lhe pela maneira como o observa. A Briana coloca-se ao lado dela com um sorriso nos lábios, não sei se para provocar ou o quê, no entanto o ambiente parece começar a ficar mais gélido e acho melhor quebrar o gelo que se começa a acumular.

— Então, Clary, o que achaste dos Irmãos Silenciosos?

— Aterrorizantes. Mas correu tudo bem, apesar disso. – Responde ela, começando a tornar-se a Clary que eu conheço.

— Que pena. E eu que esperava que não voltasses para contar a história. – Dou uma cotovelada ao de leve na Wayland e esta fita-me com um olhar irritado. – Mas pronto, pouca sorte. Vou entrando antes que estrague tudo.

Sigo-a com os olhos e depois giro a minha atenção para os rapazes que comentam algo sobre comida. Não acho isso nada de interessante portanto faço sinal á Clary e vou para dentro, pedindo permissão ao Clancy para entrar e juntar-me á Briana.

Ela está sentada num canto de uma mesa onde nos costumamos sentar e demonstra estar muito irritada pela maneira como bate com os dedos na tampa da mesa. Sento-me ao seu lado para lhe fazer companhia e tentar evacuar o seu mau feitio (desculpa lá Briana mas é a pura verdade).

— Tens de tentar ser mais calma. – Digo calmamente, ao mesmo tempo que peço Kaelie umas panquecas e uma coca-cola, a Briana pede apenas um sumo de frutos vermelhos.

— É difícil ter-se calma quando o teu único irmão se está a interessar por uma ruiva de quem tu não gostas nem um bocado. – Ao menos já é um progresso que ela digo isto sem partir nada. – Eu começo a sentir-me abandonada por ele. Como quando fomos abandonados pelo nosso pai.

Ela retira a inicial W que está pendurada no seu colar. Pelo que eu sei, é um presente do pai dela que pertencia à mãe deles. Abraço-a para que ela não se sinta tão em baixo e é quando o Jace chega acompanhado pela Clary e o Jace. Troco de lugares com a Briana para que esta fique do lado do irmão enquanto eles praticamente nos espalmam contra a parede. A Clary fica á minha frente e está um pouco estranha, talvez porque o Alec a impediu de ficar ao lado do Jace ou então porque não está a perceber nada do que está na ementa.

Eles estão a comentar alguma coisa sobre qual é a espécie do Clancy, que é óbvio ser um ifrit, feiticeiros meio demónios incapacitados de fazer feitiços.

— Quem consegue comer um peixe cru inteiro? – Pergunta, passado um tempo, a Clary.

Ao meu lado a Briana revira os olhos.

— Os kelpies. Os selkies e, talvez um ou outro nixie. – Explica o Alec.

— Não peças comida de fada. – Diz o Jace, com uma expressão alarmante no rosto. – Tem a tendência de enlouquecer um pouco os humanos. Uma dentada e quando menos se espera, está se a correr nu pela Avenida Madison com uma armação de veado na cabeça. Não que isso já me tenha sucedido.

— Eu iria adorar ver qual seria a figura da ruiva caso isso acontecesse. – Apressa-se a Briana a comentar ao que eu apenas lhe dou um pontapé.

Ela fica um pouco ofendida mas começa a falar sobre uma outra coisa qualquer com o Alec e o Jace, se bem que são apenas conversas sobre momentos embaraçosos entre meios demônios e Caçadores das Sombras. A Clary fica de parte pois, com certeza, não deve entender nada acerca dos nomes estranhos que utilizamos para descrever os Habitantes do Mundo-á-Parte.

Por um certo momento ela fixa o Alec e o Jace minuciosamente como que a procurar distinguir os traços de cada um para os poder desenhar. Era um dom incrível que ela tinha em relação á arte e eu nem chegava aos níveis dela.

— Quando é que nos irão finalmente servir? – Exclama o Jace, em voz alta, interpelando o Alec a meio de uma frase.

Este ainda tenta dizer alguma coisa mas é depois interrompido novamente pela Clary.

— Para quem é esta carne crua?

— Lobisomens. – Responde o Jace e os olhos da irmã dele parecem lançar fumo de tão enraivecida que ela está por ele ignorar o Alec e estar a oferecer toda a sua atenção para a Clary. – Os pratos para os humanos estão na parte de trás.

Surpreendida, a ruiva observou atentamente a lista de refeições. Então aparece a Isabelle com o Simon atrás de si como um cachorrinho amestrado. Que ridículo, penso eu mas nada comento.

A Isabelle implica com a Clary para que esta se afaste, encostando-a á parede de tijolo como eu. O Simon senta-se logo a seguir a ela e olha para a Clary que não lhe retribui o gesto.

A Briana parece estar prestes a vomitar ao meu lado pela maneira como está branca. Acho que com tantos mundanos a aparecerem de repente ela está a ficar maluca.

— Então como correu a visita á Cidade dos Ossos? – Pergunta a Isabelle, abrindo a ementa. – Descobriram o que há na cabeça da Clary?

Até me tinha esquecido de perguntar sobre isso. Com tanta confusão e este ambiente esquisito entre todos nós, a minha cabeça deixou de funcionar corretamente.

— Temos um nome. – Diz o Jace. – Magnus…

— Cala-te! – O Alec grita-lhe, enquanto lhe assenta uma palmada com a ementa, fazendo-me rir juntamente com a Briana.

— Credo! – O Jace esfrega o braço, queixando pelo ato de violência. – Tens algum problema.

— Por favor, Jace. É mais do que óbvio. Estamos rodeados de Habitantes do Mundo-á-Parte… - Comenta a loira, sendo intervinda pelo moreno.

— Queres mesmo andar a badalar os pormenores da nossa investigação? – Conclui ele.

— Investigação? – A Isabelle goza com o irmão e eu também lhe sigo o exemplo.

— Não percebes, Izzy. Agora somos detetives e se calhar devemos ter todos nomes de código.

— Rica ideia. – Concorda o Jace. – Eu cá vou chamar-me Hotschaft von Hugenstein.

— Palerma. – Digo e vejo o Alec a cuspir a água que estava a beber no copo para depois aparecer a Kaelie novamente para anotar o pedido dos restantes membros do nosso grupo.

— Já sabem o que querem?

O Jace sorri e pede o costume, sendo recompensado com um sorriso. O Alec também pede o mesmo mas não lhe acontece o mesmo. A Izzy pede um smoothie, o Simon um café e a Clary um grande café e umas panquecas de coco.

— Clary, não te vais sentir maldisposta depois, certo? – Questiono, com o pressentimento de que ela ainda está fraca demais para tomar um café.

— Eu fico bem. Eu estou a precisar mesmo é de um café. – Ela responde-me enquanto volta a fixar a empregada.

Desligo-me um pouco da conversa para me recordar da visão. O Valentine espera que a gente o vá encontrar mas não referiu o Jace ou o Alec, mesmo que eles façam parte da equipa e também andem atrás da Taça como a Clary. Por algum motivo ele acha que só eu e a Clary o iremos perseguir mas se assim é então porque o Jace não fará o mesmo. Há algo de estranho neste assunto e tenciono descobrir o quê.

— Deixa-me sair. – A voz do Jace retira-me destes pensamentos e volto a prestar um pouco de atenção á realidade.

O loiro vai em direção á empregada do Taki’s enrolado o braço em volta da cintura dela. Há minha frente, a Clary faz uma cara estranha e volta a concentrar-se na mesa.

— Ele não devia meter-se com a empregada daquela maneira. – Comenta a Isabelle.

Como se um animal a farejar o ar, o Alec vira-se para ela e noto um certo tremor enquanto fala.

— Pensas que é sério? Quer dizer, que ele gosta realmente dela?

— Ela é uma Habitante do Mundo-á-Parte. – Ela encolhe os ombros e isso explica tudo.

— Não percebo. – Diz a Clary.

Entendo ao que ela se refere. Podemos deixa-los viver, preparar-lhes comida ate para namoriscar de vez em quando mas não os tratamos como devidamente pessoas que também são.

A Clary e a Izzy têm um certo momento de debate ao que o Alec e o Simon também intervêm juntamente com a Briana. Quando o mundi se mete ao barulho para perguntar se eles são melhores que os mundi atinge-me um vontade sufocante de o fulminar com o olhar. Ele pode ser amigo da Clary mas isso não implica que venha meter o nariz em assuntos que não o envolvem.

A Izzy parece dar-lhe esperanças com a resposta que lhe dá e de repente só quero sair dali o mais depressa possível.

O Jace regressa um tempo depois, sentando-se ao lado do Alec. Tem o cabelo despenteado e uma marca de batom na face. Ao vermos aquilo, eu e a Briana contemos umas quantas gargalhadas que só saem como pequenos risinhos. A Kaelie regressa e o Jace volta-lhe a sorrir, para depois ela desaparecer assim que nos serve e a Clary dá a primeira dentada.

Eu faço o mesmo e a loira rouba-me uma fatia da panqueca que enfia na boca de imediato antes de eu puder reclamar. Quando o faço ela começa a rir e volta a roubar-me outra fatia. Vendo que não a consigo impedir, permito que ela se satisfaça com a minha comida que desaparece em dois minutos graças aos nossos estômagos esfomeados.

— Eu bem disse que era o melhor restaurante de Manhattan. O Jace come as batatas fritas com os dedos enquanto se dirige á Clary.

A Briana parece ter-se esquecido da presença da Clary recuperando alguma vivacidade e energia que costuma ter enquanto brinca comigo e com o Alec, que está de boca cheia.

— Tenho a certeza de que ela não sabe o que são os Acordos, Jace. – A Isabelle começa a falar de um assunto que realmente me interessa bastante.

— Sei, sim. – Riposta a Clary.

— Eu cá não. – O ignorante do Simon volta a meter-se e quase agarro na garrafa de coca-cola aberta para lhe atirar á cara, de maneira a que esteja calado, mas volto a acalmar-me.

— Está bem, mas ninguém se interessa pelo que tu sabes. – Levanto-me levemente de maneira a conseguir chegar ao Jace para batermos com as mãos. – Aprecio a companhia de alguns Habitantes do Mundo-á-Parte em certas alturas e lugares mas não somos em geral convidados para as mesmas festas.

— Espera aí. – A Isabelle ergue a cabeça de repente como se algo a chama-se atenção. – Que nome é que tu mencionaste? O nome que descobriram na cabeça da Clary…

— Não mencionei nenhum. Pelo menos não o disse por completo. É Magnus Bane. – Ele sorri para o Alec e a Briana. – Rima com «chuto no cu demasiado prudente».

Rio com o comentário antes de repetir mentalmente o nome na minha cabeça. Magnus. Magnus Bane…A festa de Magnus Bane! O encontro com o Raphael!

Empertigo-me no banco e a Briana ao meu lado, surpreendida com a minha postura, franze o sobrolho.

— Olha para isto. – A Izzy vasculha dentro da bolsa por alguma coisa e tira de lá uma folha dobrada de papel azul.

O irmão dela é o primeiro a pegar no papel, examinando-o e depois passando-o ao Jace que passa depois para a Briana. Esta quando mo mostra eu encolho os ombros. Já sei o que é porque já fui convidada.

— É um convite para uma festa algures em Brooklyn. – Diz o Alec. – Detesto Brooklyn.

— Não sejas tão snobe. Onde arranjaste isto, Izzy? – Pergunta o Jace, endireitando-se e apontando para o papel.

— Foi aquele kelpie no Pandemónio que mo deu. Disse que iria ser fantástico.

— Imagino. – Resmungo.

A Clary também protesta mas apenas porque ainda ninguém lhe mostrou o convite. O Jace coloca-o de maneira a que todos possam ler a inscrição em que se anunciava uma reunião na humilde casa de Magnus Bane, o Feiticeiro Magnífico.

— Magnus. – Repete o Simon.

— Sim, Magnus. És surdo, Simon? – Atiro, sem me importar com a cara espantada da Clary. – Duvido que haja muitos feiticeiros chamados Magnus nesta área e que tu por acaso conheças.

O Alec pestaneja um pouco antes de pigarrear.

— Quer isso dizer que temos de ir a essa festa? – Pergunta sem ter ninguém como recetor.

— Não temos de fazer nada. Mas, segundo aqui diz, Magnus Bane é o Feiticeiro Supremo de Brooklyn. – O Jace fita a Clary e sinto algo como uma descarga de energia entre eles. – Quanto a mim, tenho um pouco de curiosidade em saber o que o Feiticeiro Supremo de Brooklyn anda a fazer dentro da tua cabeça.

Se essa curiosidade fosse tudo, meu caro Jace.

Como a festa só começa á meia-noite, passo resto do dia a recarregar energia, dormindo a tarde toda. Tenho um sonho em que ouço uma voz sombria em meio da escuridão que me chama. Um sentimento de familiarização volta e começo a reconhecer a voz de algum lado. Vasculho no interior da minha mente a quem ela possa pertencer e passado muito tempo perdida entre as sombras e o meu pensamento, acabo por ligar tudo.

Para além de este sentimento de o conhecer, que não sei se onde vem, a voz pertence ao nosso inimigo e sequestrador dos meus pais: Valentine Morgenstern.

Acordo assustada. Felizmente não estou a suar como uma louca igual á dois dias, mas mesmo assim, atiro-me de volta para os lençóis que foram imediatamente afastados quando acordei. Lá fora o sol já se pôs dando lugar a uma noite estrelada e cheia de luzes vindo dos apartamentos e arranha-céus.

Não volto a dormir, em vez disso levanto-me e vou lavar a cara para esta mais acordada já que tenho de ainda escolher a roupa para o encontro improvisado de missão e a Briana ou a Izzy estarão em breve a bater-me há porta para me escolherem a roupa.

Como eu calculo, nem cinco minutos depois de eu começar a vasculhar no meu vestuário uma roupa preta e adequada, aparece a Briana. Ela ainda não está preparada portanto quando me agarra pelos pulsos e me puxa para o quarto dele de arrastão fico muito confusa.

— O que te está a dar, Bri? – Pergunto, mal ela abre o closet dela.

— Esta noite vais vestir as minhas roupas. – Ela reponde-me com um sorriso divertido no rosto. – Tens de arrasar para o Raphael.

— Tu és doida…Espera aí! – Deparo-me numa situação embaraçosa. – De onde surgiu o assunto Raphael?

— Oh, por favor, como se tu fosses a alguma festa sem que esta fosse no mínimo interessante ou não tivesse um vampiro específico incluído. – Abaixo a cabeça fitando o chão. – Não te preocupes, eu não digo a ninguém mas em troca serei eu a tratar do teu estilo.

Suspiro. Não tenho muita escolha para além de a Briana está super feliz e eu gosto de a ver com aquela energia. Parece esquecer-se de todos os problemas que a rodeiam, e que são muito, admito por ela.

Entro no closet e sento-me num banco almofadado enquanto ela passa de um vestido para o outro. Ao que parece não fica satisfeita com nenhum deles e opta por ir para as saias.

Levanto-me por um momento para ir examinar um saia preta curta e justa que é encoberta por um véu preto um pouco transparente e com uma abertura do lado direito para facilitar a movimentação.

— É esse! – Exclama a Briana, provocando-me um susto. – Tem de ser essa saia mas agora um top. Hum…Tenho de procurar…Ah, aqui está!

O top é preto e deixa a minha barriga completamente á mostra e tem um laço ao pescoço.

— Briana, não achas que é…

— Sem discussões. É isso o que vais vestir e ponto final. – Reclama ela gesticulando enquanto procura gora pelo fato dela.

Decide-se por um vestido preto com renda a cobrir-lhe os espaços que existem do top pra cima e entre este e a saia curta que lhe chega a meio da coxa.

— Agora os sapatos. – Ela continua a sua busca retirando uns sapatos de grande salto para ela e simples e para mim uns que possuem umas fivelas iguais a sandálias mas com um zipper atrás. Faziam me quase tão alta quanto o Raphael.

Vestimos-mos sem discussões, embora eu me sinta um pouco desconfortável com esta roupa. Sinto que o top dá mais volume as minhas curvas, assim como a saia. Logo que saio do closet, a Biana apenas exclama algo como: “que gata!”

— Bri, não me sinto bem com isto. – Choramingo.

— Daqui a pouco nem notas a diferença entre isso e umas calças e t-shirt. Confia em mim. – Ela leva-me para a penteadeira preta do seu quarto onde estão vários rasco de perfume, caixas, cremes e maquilhagens e começa a passar-me um delineador preto juntamente com uma sombra escura nos olhos e um batom roxo escuro.

— Perfeito, agora o cabelo. – A loira dá uma volta ao meu redor e depois estala os dedos.

Vejo a ir buscar a placa para ondular e cabelo e o calor que depois atinge o meu cabelo suavemente. Em dez minutos tenho todo o meu cabelo com ondas perfeitas e delicadas.

— E pronto! – Elas exclama e fito o meu reflexo no espelho. Quase não me reconheço e de certa maneira isso é bom porque gosto de me ver diferente, de certo modo. – Bem, também preciso de me apressar.

— Queres ajuda? – Pergunto.

— Não sei bem. Mas vá. Podes tentar. – Ela fecha os olhos e eu observo a maneira como ela está vestida e o que lhe ficará melhor. Opto por apenas lhe colocar o delineador preto a fazer-lhe sobressair os olhos verdes e um batom vermelho sangue.

A loira quando abre os olhos e se mira no seu reflexo, gira na minha direção e bate palmas ao que eu respondo com uma vénia. A Wayland deixa o cabelo solto e liso como uma tábua para depois abrir uma caixa onde tem várias joias. Ela retira algumas e como que a comprovar se combinam e depois escolhe uns brincos preto em forma de gotas de água e um colar com a forma de um floco de neve. Depois torna a sua atenção para mim e retira um colar com uma rosa de prata e uns brincos simples com uma forma metálica.

— Se por acaso acontecer algo, tens sempre o colar. – Explica ela.

Aceno afirmativamente e então vamos para a entrada do Instituto. A porta já está aberta e mostra o céu estrelado e a lua radiante. O Jace e o Alec já se encontram no exterior juntamente com o Simon. Desta vez, vou mesmo enervar-me.

— Posso saber porque estás aqui? – Pergunto com um pouco de azedume na voz.

— Wow, Lauren. Calma aí. – Ele olha-me de cima a abaixo e por pouco não lhe espeto a minha estela no pescoço daquele imbecil. – Eu vim acompanhar a Clary e a Izzy.

— A Clary não precisa de acompanhantes mas tu é que sabes, mundi.- Responde o Jace.

Ele também está um pouco aborrecido e logo vejo porquê. Ele parece querer que a irmã tenha um pouco de bom senso ao colocar-se toda sensual para os outros. Não que isso a incomode muito pois ela gosta de o provocar dessa maneia. Já o Alec, bem, ele parece estar quase a babar-se, no sentido hipoteticamente falando. Acontece que ele não desvia o olhar da Briana que quando se dá conta fica toda corada, embora disfarce.

Estamos a fazer de vela, ou é só minha impressão?

Quando as raparigas chegam, o Simon quase cai da cadeira e isso faz-me rir. Ele passa o olhar pela Isabelle que tinha umas pulseiras nos tornozelos a tinir a cada passo e depois pela Clary que está muito linda com o cabelo atado num rabo-de-cavalo e um vestido preto juntamente com umas botas cano alto e umas meias de rede. Nem parecia a Clary com jeans rasgada e sempre de t-shirt e camisa.

— Que é isso? – Pergunta ele enquanto gagueja fazendo mais figura de parvo do que já é. – O que tens vestido.

A Clary olhou por momentos para si mesma e olhou com atenção para onde Simon mirava que por acaso, eram as suas pernas. E, se a Briana mo permite dizer, o Jace estava a ficar um pouco irritado com isso.

— É um vestido, Simon. – Ela respondeu-lhe secamente. – É verdade que não os costumo usar, mas realmente...

— É tão curto. – Afirma o mundano, confuso e chocado com a repentina mudança de estilo que assentava na Clary como uma luva.

— E de ser curto. Não és tu que o usas e não mandas no corpo dela. – Resmungo.

A Briana também parecia surpresa mas, ao que me pareceu, até gostou de ver a ruiva vestida daquela maneira. O Jace descola-se então da parede e dá a sua opinião.

— Eu gosto desse vestido. – Os seus olhos percorrem o corpo dela e dentro da minha mente ele parece estar a fazer-lhe uma carícia. – Mas precisa de uma pequenina coisa suplementar.

— Deste, agora, em especialista de modas? – A voz de Clary soou mais estranha do que o usual e penso que a aproximação do Jace não estava a ajudar muito para que ela raciocina-se normalmente.

Ele tira do blusão de cabedal um punhal fino enfiado numa bainha de cabedal e onde o cabo terminava numa única pedra vermelha esculpida em forma de rosa. Era uma kindjal muito bonita e que eu não fazia ideia que o Jace possuísse.

— Nem saberia usá-lo…

— Hás- de aprender. – Diz ele com a voz baixa, enrolando-lhe a mão envolta do cabo do punhal. – Está-te na massa do sangue.

Ela retirou a mão das deles e então o calor que tinha começado a preencher o nosso redor começa a desvanecer. A Briana ainda os fita, um pouco surpresa e um pouco irritada. Quem visse a expressão dela neste momento saberia eu está cheia de ciúmes.

— Posso dar-te uma bainha para guardares isso na coxa. – Propõe a Izzy e eu rio um pouco com essa ideia e com a expressão que fica estampada no rosto do Simon.

— NEM PENSAR! – Grita ele.

— Pouco alarido que aqui ninguém é surdo, para além de ti. – Provoca a Briana.

Até tenho um pouco de pena do Simon, mas é só um grãozinho de areia, já que ele está em desvantagem no meio de tantos caçadores das sombras. Mesmo a Clary o olha irritado pela sua exclamação.

— Obrigada mas não sou realmente o tipo de rapariga que usa uma faca na liga. – Ela guarda o punhal no bolso da mochila que então trazia ao ombro.

— Até te poderia ficar bem. – Digo eu, embora para o vazio porque a cabeça dela está novamente fixa na aproximação do Jace, que a observa de olhos semicerrados.

— Uma última coisa. – Diz ele, tirando as travessas brilhantes do cabelo ruivo dela que lhe cai para a cara aos caracóis. – Estás muito melhor.

Certo, agora ele também está estranho. Belos pombinhos que aqui temos. E desculpa o termo, Bri.

Olho para ela antes de esta começar a sair do grupo seguida pelo Alexander.

— Vamos andando ou querem ficar aí na conversa. – Provoca. – É que caso não saibam há pessoas que querem aproveitar a noite.

Sorriu-lhe marotamente, e começo a correr cuidadosamente na sua direção tendo o Raphael como única distração entre mim e o mundo real onde uma noite estrelada brilha sobre as nossas cabeças.


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Notas finais do capítulo

O dom de Lauren é recheado de surpresas e mais surpresas mas será isso o suficiente para ajudar nesta aventura? O que ela sente por Raphael não parece ser apenas uma paixoneta mas muito mais, no entanto, pode-se dizer que é verdadeiro? E o que espera a festa do Supremo Feiticeiro de Brooklyn?



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