Ela anda pela areia com um pouco de dificuldade devido ao seu recém-formado 1 ano de idade. Suas perninhas gorduchas falham em algumas passadas enquanto seus pequenos dedinhos afundam-se na areia. Com seus cachinhos loiros voando ao vento ela vêm sorridente em minha direção, seus olhinhos cinzentos brilham devido ao seu entusiasmo, mas ela acaba tropeçando nos próprios pés e cai sentada na areia, rio baixinho ao ver seu biquinho de desgosto, mas logo em seguida sua gostosa gargalhada está ecoando por toda a praia.

— Mama. — chama-me enquanto bate as pequenas mãozinhas na areia.

— Esse vídeo com certeza vai para o papai. — aviso parando a gravação e a envio para meu marido.

— Papa. — diz batendo novamente as mãozinhas na areia, seu sorriso banguela é capaz de derreter até o mais gélido dos corações. Aproximo-me dela e a pego nos braços.

— Você é a coisinha mais fofa que existe nesse mundo. — digo distribuindo vários beijinhos por suas bochechas rosadas enquanto ela rir. Ficamos as duas ali, sentadas na areia assistindo ao espetáculo do por do sol.

Já faz mais ou menos quinze anos que Peeta cantou aquela bela música pra mim no Central Parck, quinze anos que nos reconciliamos e desde aquele dia nunca mais nos separamos. Pouco tempo depois de termos terminamos a faculdade, nos casamos. Foi algo simples, porem algo que estaria cravado em minha mente para toda a eternidade. No mesmo ano do casamento fomos contratados para um Musical na Broadway, e esse foi o estopim para nossa carreira musical alavancar. Meses depois voltamos para LA e assinamos contrato com a gravadora de meus pais, em pouco tempo nosso CD já era um dos mais vendidos de todo os EUA. Sim, Peeta e eu cantávamos juntos e acho que esse era um dos motivos pelo qual nossos CDs faziam tanto sucesso, porque quando nossas vozes entravam em sincronia, todos os nossos sentimentos eram expostos, mostrando como nossa melodia era capaz de alcançar até o mais obscuro dos corações.

Cerca de dois anos depois do nosso casamento tivemos nosso primeiro filho, o pequeno Jack, que era uma mistura perfeita minha e de Peeta. Com os cabelos escuros e os olhos azuis ele encantava todos ao seu redor. Quando senti pela primeira vez a agitação dele dentro de mim foi um pouco assustador, mas o amor que tanto eu, como Peeta sentíamos por ele levou qualquer sentimento ruim para longe. A primeira vez que o peguei em meus braços foi tão emocionante que as lágrimas me acompanharam por muitas horas, assim como Peeta, que diferente de anos atrás, pode enfim ter em seus braços seu filho, o fruto do nosso amor. No inicio foi um pouco difícil, pois tínhamos que fazer shows e Jack era muito pequeno para nos acompanhar, por isso sempre o deixava com meus pais. Mas tanto Peeta, como eu, sofríamos muito por estarmos longe de nosso pequeno príncipe e foi naquela época que demos uma pausa em nossa carreira. Alguns fãs ficaram bastante tristes, mas eles entendiam nossa situação. Quando Jack completou três anos, voltamos para nossa rotina de shows, só que desta vez tendo nosso pequeno como fã número um.

Quando Jack já se encontrava com seus seis anos completos dei a luz a Hope, nossa princesinha. Sim, ela tem o mesmo nome da irmãzinha de Peeta. Naquela tarde quente de primavera eu vi, através da janela do hospital, um tordo cantando em um galho de árvore. E naquele exato momento eu soube que, Hope seria o nome perfeito pra ela, pois ela representaria a gentileza e a doçura da irmã de Peeta, assim como também representaria nosso tordo, nossa esperança. Esperança de uma nova vida, de um novo começo, de um novo caminho. E Peeta emocionado, naquela tarde chorou como um bebê.

Agora Jack se encontra com sete anos, enquanto Hope acabou de completar seu primeiro ano de vida. E hoje, posso garantir que somos a família mais feliz do mundo. Claro que assim como todo casal eu e Peeta brigamos, mas nunca foi algo serio, creio que até faça bem para nossa relação, pois sempre depois de uma discussão nos amamos como se fosse à primeira vez.

— Está na hora de irmos para casa. — aviso para minha pequena me pondo de pé quando o último resquício de sol some no horizonte, dando lugar ao belo tapete de estrelas.

Em meus braços ela sorri e deita à cabeça em meu ombro, sua pequena mão vai até minha orelha onde ela começa a acariciar. Ela adquiriu essa mania fofa desde o nascimento. Com mais alguns passos chego à varanda de minha casa, subo os poucos degraus e adentro a mesma, quando chego à sala vejo Jack assistindo TV. Sua face se encontra triste, ele está assim desde que nosso cachorro morreu. Lup era um ótimo labrador, estava na família desde meu casamento com Peeta.

— Manoo — Hope se debate em meus braços para ir até onde está seu irmão, que sorri ao nos ver. Ele estende os braços e a pega no colo, enquanto eu sento-me ao lado dos dois.

— O que você está assistindo? — pergunto acariciando seus cabelos escuros assim como os meus.

— Bob Esponja. — sorri enquanto brinca com sua irmã, mas diferente das outras vezes, seu sorriso não chega aos seus olhos e sinto um aperto em meu coração por ver meu pequeno príncipe tão tristonho.

— Filho. Sei que você está triste pela morte do Lup, mas...

— Mãe... Poderíamos, por favor, não falar disso? — interrompe-me com os olhinhos azuis marejados e vejo que está se segurando ao máximo para que as lágrimas não escapem de seus olhos. Solto um longo suspiro.

— Tudo bem meu amor. Mas você sabe que sempre pode contar com a mamãe, certo? — ele assente levemente, beijo sua testa e ficamos os três assistindo Bob Esponja.

Hope ao perceber que o irmão estava triste começou a fazer suas típicas gracinhas. Ela colocava as duas mãozinhas no rosto de Jack e beijava a ponta de seu nariz nos fazendo rir. Os dois tinham uma relação muito forte de amor e carinho, Jack era o típico irmão protetor, estava sempre por perto protegendo Hope. E tanto eu como Peeta estávamos orgulhosos, pois aquilo significava que estávamos cumprindo perfeitamente com nossos papeis de pais.

 — Hey mocinha. Chega de gracinhas, já está tarde e você tem que dormir. — aviso fazendo cócegas em sua barriga e sua gostosa gargalha infantil ecoa por toda a sala.

— Vejo que começaram a festa sem mim. — fala Peeta divertido parado na porta de entrada.

— Papai! — Jack pula do sofá e sai correndo para os braços de Peeta que o acolhe com carinho. Sorrio, sempre admirei Peeta como homem e como pessoa, mas agora também o admiro como pai, pois não existi e nunca existirá pessoa melhor para esse posto que não seja ele — Estava com saudades.

— Eu também garotão. — sorri beijando as bochechas de Jack. Aproximo-me dos dois com Hope nós braços.

— Papai também sentiu saudades de você princesa. — fala pegando Hope nos braços após colocar Jack no chão. A pequena coloca os bracinhos em volta do pescoço dele e da um beijo babado em sua bochecha — E dos beijos babados também. — acrescenta nos fazendo rir.

— Oi amor. — falo acariciando sua bochecha.

— Oi. — sorri e beija suavemente meus lábios — Estava com saudades. — sussurra.

— Eu também. — murmuro pronta para beija-lo novamente, mas sou interrompida por nossa pequena que coloca uma mão em minha bochecha e a outra na de Peeta — Parece que alguém aqui está com ciúmes. — brinco o fazendo rir.

— Ela sabe que o papai é só dela. — fala tocando com o indicador na ponta do nariz de Hope que sorri.

— Mas a partir da meia noite o papai é todinho da mamãe. — sussurro contra seu ouvido e vejo os pelos de sua nuca se arrepiarem me fazendo rir — Está com frio Peeta? — pergunto me fazendo de inocente enquanto tiro a pequena de seus braços. Ele move a cabeça em negativa enquanto um belo sorriso brinca em seus lábios.

— Você está passando muito tempo com a Johanna, Niss. — comenta me fazendo gargalhar — Bom, acho melhor eu ir tomar um banho.

— E eu vou colocar essa princesinha aqui pra dormir. — sigo em direção às escadas com minha princesa que repousa a cabecinha em meu ombro.

— Mãe... — chama Jack fazendo-me virar em sua direção e ele nem precisa continuar, pois ao encarar seus olhinhos pidões, sei exatamente o que ele quer.

— Tudo bem, você pode continuar assistindo TV. — ele abre um belo sorriso, sorriso esse que se parece muito com o de Peeta.

— Mas daqui a pouco venho te chamar para ir dormir, já está muito tarde e você precisa descansar pequeno príncipe. — avisa Peeta bagunçando seus cabelos e ele corre em direção a TV.

Peeta me acompanha até o andar de cima e paramos em frente à porta do quarto de Hope, ele deposita um carinhoso beijo na testa dela e vira-se para ir em direção ao nosso quarto, mas o paro segurando em sua mão.

— O que foi? — pergunta um pouco preocupado ao analisar meu rosto.

— Jack continua triste pela morte do Lup. Eu tentei falar com ele, mas ele não quis. Será que você...? — deixo a frase morrer no ar.

— Fica tranquila, eu falo com ele sim. — acaricia minha mão gentilmente e sorri para me tranquilizar.

— Obrigada amor. — tento sorrir, mas meu sorriso sai mais como uma careta.

— Hey, por que essa carinha? — pergunta agora acariciando minha bochecha.

— É só que... Odeio ver meu pequeno tão tristonho. — lamento — Eu queria poder sugar toda a dor que ele está sentindo só para mim.

— Vai ficar tudo bem Niss. Eu prometo. — beija minha testa carinhosamente, depois meus lábios arrancando de mim um singelo sorriso e com isso ele segue em direção ao nosso quarto.

Dou banho na pequena que faz a maior festa na banheira e depois visto-a com seu pijama de bolinhas. Aconchego-a em meus braços e dou-lhe sua chupeta, começo a nina-la com suaves movimentos, seus olhinhos cinzentos me encaram com expectativa e sorrio sabendo exatamente o que ela quer.

— Você quer que eu cante, não é? — pergunto e através da chupeta vejo seu pequeno sorriso de confirmação.

Bem no fundo da campina, embaixo do salgueiro
Um leito da grama, um macio e verde travesseiro
Deite a cabeça e feche esses olhos cansados
E quando se abrirem, o Sol já estará alto nos prados.

Vejo seus olhinhos pesarem por conta do sono até se fecharem lentamente.

Aqui é seguro, aqui é um abrigo
Aqui as margaridas lhe protegem de todo o perigo
Aqui seus sonhos são doces e amanhã serão lei
Aqui é o local onde eu sempre lhe amarei...

Paro de cantar quando ouço seu suave ressonar, calmamente a deposito em seu berço e a cubro com sua manta. Fico admirando-a por um bom tempo, seus cachinhos loiros se espalham pelo travesseiro dando-lhe um ar angelical. Confesso que nunca pensei muito sobre me casar e ter filhos, mas desde o momento em Peeta entrou em minha vida, eu me pegava imaginando um futuro ao seu lado. E agora, com meus 34 anos, vendo esse pequeno ser a minha frente que pode até ser comparado com um anjo de tão belo, só consigo sorrir e agradecer a Deus por ter me abençoando com a melhor família que eu poderia ter.

Apago as luzes, deixando um abajur ao lado de seu berço ligado para não deixar o quarto completamente escuro e saio do mesmo fechando a porta atrás de mim. Sigo o corredor e desço as escadas, mas quando chego ao último degrau paro ao ver que Peeta e Jack estão conversando.

— Eu... eu só não consigo por pra fora o que estou sentindo papai. — se lamenta cabisbaixo.

— Bom, se você não consegue por pra fora o que está sentindo, por que não deixa que essa tristeza saia em forma de lágrimas? — pergunta Peeta acariciando seus cabelos escuros.

— Porque um colega da minha sala disse que só pessoas fracas choram e eu não quero ser fraco papai. — admite erguendo o rosto para encarar Peeta. Meu coração aperta ao ver seus olhinhos tão cheios de dor.

— Pois saiba que esse seu colega está completamente errado. Chorar não é sinônimo de fraqueza e sim de que você é humano e assim como todos, também tem sentimentos. Então filho, quando as lágrimas chegarem aos seus olhos, deixe-as cair, rolarem pela sua face, porque é sua alma que precisa aliviar. — fala e Jack se joga em seus braços chorando tudo o que havia segurado nesses quatro dias.

— Eu sinto tanta falta dele papai. — se lamenta com o rosto na curva do pescoço de Peeta. Não consigo segurar uma solitária lágrima que escapa de meus olhos com aquela sena.

— Eu também filho... Vai ficar tudo bem eu prometo. — garante apertando Jack em seus braços. Fico ali parada admirando aquela cena. Sem sombra de duvidas Peeta era o melhor pai, marido e amigo que poderia existir. Os dois ficam mais alguns minutos abraçados até Jack parar de chorar.

— Obrigada papai. Estou me sentindo bem melhor agora.

— Que bom filho. Agora vai dormir porque já está tarde e amanhã o dia vai ser cheio. — avisa. Os dois trocam mais um abraço e Jack vêm em direção às escadas.

— Boa noite mamãe. — agacho-me para ficar a sua altura e ele beija minha bochecha arrancando-me um sorriso.

— Boa noite pequeno príncipe. — beijo o topo de sua cabeça e ele sobe as escadas rapidamente. Viro-me em direção a Peeta, que me encara com seus belos olhos azuis. Olhos esses que há tantos anos vem me trazendo paz e tranquilidade.

Sento-me ao seu lado recostando-me no sofá e viro minha cabeça em sua direção para encara-lo, em seus lábios a um belo sorriso. Sua mão vai para meus cabelos onde ele começa a acaricia-los fazendo-me soltar um longo e agradável suspiro.

— Você e esse seu dom com as palavras, sempre sabe o que dizer e como dizer. Eu admiro muito isso, sabia? — comento deitando minha cabeça em seu peito enquanto ele me abraça pelos ombros. Era tão bom estar em seus braços, mas precisamente ouvindo o som do seu coração. De todos os lugares do mundo, aquele era meu preferido.

— Não acho que seja um dom, mas se é isso que você diz quem sou eu pra discordar. — brinca me fazendo rir contra seu peito.

— Você assistiu ao vídeo que te mandei da pequena na praia? — pergunto embriagada por seu cheiro.

— Vi e quase chorei de emoção. Eu senti muitas saudades de vocês. — declara acariciando meu braço. Ergo meus olhos para encarar os seus. Ahhh o azul, límpido e brilhante azul. Mesmo depois de todos esses anos seus olhos continuam me hipnotizando.

— Nós também sentimos muitas saudades de você. — admito unindo nossos lábios.

Eu senti tanta falta dele durante essa semana. Peeta havia viajado, juntamente com Cato, - que além de nosso amigo também era nosso advogado - para Toscana na Itália. Queríamos comprar uma casa em um lugar que fosse tranquilo, sossegado, longe da imprensa. Apesar de morarmos em um dos condomínios mais tranquilos da Califórnia, às vezes só queríamos ficar longe de toda aquela agitação de Los Angeles. E por a Itália ser um lugar extremamente belo e muito importante para Peeta, resolvemos comprar uma casa por lá, para poder respirar, apreciar um pouco da calmaria que aquele país possuía. Apesar de amarmos nosso trabalho, os shows estavam se tornando desgastantes e em hipótese alguma queríamos que a música se tornasse algo obrigatório em nossas vidas, pelo contrario. Decidimos seguir a carreira musical por dois motivos. Primeiro, porque a música fazia parte de nosso ser, de nossa alma e em segundo, porque queríamos fazer as pessoas sentirem as mesmas coisas que sentíamos quando cantávamos. Queríamos que as pessoas sentissem a mesma paz, a mesma libertação, porque quando encontramos a nossa voz, nunca mais a perdemos.

— Vem. — chama quando paramos o beijo.

— Pra onde? — pergunto tentando normalizar minha respiração.

— Pro quarto. — responde — Não foi você quem disse que a partir da meia noite eu seria todinho seu? — um sorriso travesso nasce em seus lábios me arrancando uma boa gargalhada.

— Acho que você está passando tempo demais com o Finnick. — brinco relembrando sua fala de horas atrás e é a vez dele de gargalhar.

Subimos as escadas de mãos dadas e antes de seguirmos para nosso quarto, damos um beijo de boa noite em nossos dois pequenos, que dormiam profundamente. Meus pequenos eram a coisa mais importante que havia em minha vida. Se me perguntassem há alguns anos atrás, qual a melhor fase de minha vida, provavelmente eu diria a adolescência, pois foi à fase em que vivi cada momento intensamente. Mas no momento a resposta certa seria o agora, pois essa está sendo a melhor fase de toda a minha existência, porque é nela que tenho ao meu lado meus filhos e o amor da minha vida.

Entramos em nosso quarto aos beijos, um mais intenso que o outro. Peeta era minha válvula de escape, a melodia da minha música, o ar ao qual precisava para respirar. Estar com ele foi, é, e sempre será a coisa mais intensa, envolvente e apaixonante que possa existir.

— Humm... O que você acha de tomarmos um pouco de vinho? — pergunta ao descolar nossos lábios.

— Acho uma ótima ideia.

— Já volto. — me da um selinho e se retira do quarto.

Aproximo-me da varanda e fico admirando a paisagem de encher os olhos a minha frente. O céu está repleto de estrelas, a lua cheia deixa as ondas do mar mais agitadas trazendo a brisa gélida de encontro ao meu corpo me fazendo cruzar os braços e fechar os olhos em deleite. Paz, essa é a palavra que define meu estado de espírito. Fico tão relaxada que só noto a presença de Peeta quando o mesmo me abraça por trás e me entrega uma taça com vinho. Abro meus olhos e bebo um gole apreciando o gosto um pouco amargo do liquido em minha taça. Peeta apoia o queixo em meu ombro e só então noto que o som está ligado e dele sai uma envolvente melodia.

— Sabe? Esse cenário todo está lembrando-me aquela festa na praia, onde você me jogou no mar gelado e...

— Onde demos nosso primeiro beijo. — completa minha frase.

— Exatamente. — viro-me de frente pra ele — Naquela época nunca passou por minha mente que, um dia eu estaria aqui com você. Casada e com dois filhos maravilhosos. — declaro baixinho a ele que sorrir.

— Eu também não. Pra falar a verdade eu sempre achei que nunca mais fosse capaz de amar novamente. Mas aí apareceu você, linda, com uma voz maravilhosa, um sorriso capaz de iluminar toda uma cidade... — suspira — Você foi à luz em meio a minha escuridão.

— E você foi à paz que acalmou minha tempestade. — confidencio próxima aos seus lábios. Ele sorri mais ainda mostrando todos os seus dentes e retira a taça de minhas mãos colocando-a, juntamente com a sua, em cima da mesa.

— Acho que nunca vou me cansar de admirar sua beleza, principalmente a luz da lua. — delicadamente ele põe uma mecha de meu cabelo atrás da orelha — Te amo Niss. — seu nariz acaricia o meu.

— Também te amo loirinho. — seguro seu lábio inferior entre meus dentes — Para sempre. — levo minhas mãos até sua nuca e junto nossos lábios.

Apesar de todos esses anos, nossos beijos nunca eram iguais. Sabe quando você coloca sua playlist em aleatório? E não sabe qual música vem a seguir? Pois é, nossos beijos eram exatamente assim, cada um era como um estilo de música diferente. Ia de um rock agitado, fervente e avassalador para um romântico suave, lento e apaixonante. Assim como estava sendo o beijo naquele exato momento.

Com as mãos em minha cintura, Peeta vai me conduzindo pelo quarto ao mesmo ritmo da música que está tocando ao fundo. E como em um movimento de dança, vamos deixando nossas roupas pelo caminho até estarmos sobre a cama. Suas mãos passeiam livremente por todo o meu corpo, deixando rastros de desejo e paixão. Seus lábios macios buscam a todo o momento pelos meus, enquanto meu quadril vai de encontro ao seu. Nossas peles quentes uma contra a outra, nossos corpos suados em perfeita sincronia, estava indo a loucura tamanho desejo e excitação atiçados por Peeta. Ele conhecia cada pedacinho de meu corpo, assim como eu conhecia o seu. Sabíamos exatamente onde tocar, beijar e sentir um ao outro. Nossos corpos estavam em chamas e mais uma vez me entreguei de corpo e alma a Peeta Mellark. E assim como vinha acontecendo há exatos quinze anos, nos amamos incondicionalmente por toda a noite.

                                                                +++

— Amor você já está pron... — Peeta deixa a frase morrer no ar quando entra em nosso quarto e me vê em frente ao espelho. Estou usando um longo vestido branco de mangas transparentes e com detalhes em renda. Em meu rosto uma leve maquiagem para deixar tudo muito mais natural, meus cabelos estão soltos e em minha cabeça a uma coroa de flores.

Hoje estávamos completando nove anos de casados e assim como todos os anos anteriores, preparamos uma festa. Porem essa seria diferente de todas as outras, nesse nono ano de casados resolvemos preparar um luau, pois foi em um luau há exatos dezesseis anos que nos beijamos pela primeira vez, que o nosso amor começou a criar raízes em nossos corações.

— E então? Como estou? — pergunto ao virar-me de frente pra ele que me encara sem piscar, acabo rindo baixinho — O gato comeu sua língua amor?

— Sim... Quer dizer não! — ele se atrapalha com as palavras me fazendo gargalhar dessa vez.

— Então? Como estou? — volto a perguntar. Ele se aproxima lentamente e quando para em minha frente, delicadamente toma meu rosto em suas mãos.

— Você está maravilhosa Niss. A mulher mais linda da face da terra. — me elogia sorrindo, só então noto suas roupas e no quanto ele está lindo. Sua calça e blazer são brancos enquanto a camisa social que cobre seu dorso é azul bebê, entrando em um perfeito contraste com seus olhos.

— Você também está lindo meu amor. — passo meus braços por sua cintura trazendo-o para mais perto, para em fim, poder juntar nossos lábios em um doce e calmo beijo — Já estão todos lá na praia? — pergunto quando descolamos nossos lábios.

— Sim. Bom, quase todos. Só está faltando a Johanna e o Marvel. — responde ajeitando a coroa de flores em minha cabeça que se deslocou quando nos beijamos.

— É bem a cara dela mesmo chegar atrasada. — Peeta ri de meu comentário — E o nossos pequenos? Já estão prontos?

— Sim. Sua mãe e a tia Effie fizeram um bom trabalho, tenho certeza de que você vai se emocionar quando os vir. Eles estão lindos Niss. — comenta enquanto acaricia meus braços até chegar em minhas mãos.

— Então vamos descer. Não quero deixar meus convidados esperando.

— Mas e a Johanna e o Marvel?

— Não vou me atrasar para meu aniversario de casamento só porque o casal esquentadinho não sabe ser pontual. — pontuo arrancando uma gostosa gargalhada dele.

Quando chegamos à praia todos os convidados vieram nos parabenizar. O luau era só para os amigos e familiares, nada de fotógrafos, nada de imprensa. Apesar de sermos bastante famosos, Peeta e eu tentávamos ao máximo manter nossa vida pessoal longe da mídia. Em momentos como esses, onde nossas famílias e amigos estavam todos reunidos, deixávamos de ser os astros da música e passávamos a ser somente duas pessoas normais curtindo com aqueles que amavamos.

Peeta e eu cumprimentamos um a um até chegarmos em nossos amigos. Muitos anos haviam se passado, mas nossa amizade só se concretizava mais a cada ano.

Madge, pouco tempo depois de concluirmos a faculdade também foi contratado para fazer um musical na Broadway e foi lá onde ela conheceu Daniell, um canadense muito simpático que roubou seu coração. Os dois casaram e tiveram um filho, William, de quatro anos. Peeta e eu éramos os seus padrinhos assim como Madge e Daniell eram os de Jack.

Annie e Finnick se casaram quando ainda estavam na faculdade. Apesar de na época só terem vinte e dois anos, o amor dos dois vinha desde a infância. E como consequência desse amor nasceu Loren. A cópia perfeita dos dois, ruiva de olhos verdes. Ela é um ano mais velha que Jack e os dois não se desgrudam nem por um segundo.

Cato e Clove também haviam se casado e mesmo depois de terem concluído a faculdade, ainda ficaram bastante tempo em Paris. Quando voltaram para LA, Clove descobriu que não podia ter filhos, aquela fase foi bem difícil para os dois. Mas depois de um tempo eles resolveram adotar e quando conheceram Theo, foi amor à primeira vista.

— Johanna e Marvel ainda não chegaram? — pergunta Madge vasculhando com os olhos por entre as pessoas do luau.

— Não Mad, até porque pontualidade não é o forte da Joh e muito menos do Marvel. — responde Clove nos fazendo rir.

— Cheguei maus amores. — anuncia Johanna parando ao nosso lado minutos depois — Não precisam mais se preocupar, com a Joh Joh aqui a festa vai bombar. — declara fazendo Marvel revirar os olhos. Pode até terem se passado quinze anos, mais Johanna continua a mesma.

— Estava com saudades Joh. — anuncia Peeta ao abraça-la.

— Eu Também Peetoso. E não esquece, se a Kat não der conta do recado é só me ligar. — dito isso ela lança uma piscadela para meu marido nos fazendo gargalhar. Como sempre, Johanna sendo Johanna.

Assim como o resto de nossos amigos, Marvel e Johanna também haviam se casado. Claro que com o temperamento da Joh o casamento demorou bastante a acontecer, mas os dois estavam felizes e era isso que importava. E não, os dois não tinham filhos, apesar de Marvel insistir bastante no assunto, Johanna queria esperar mais um pouco, pois segundo ela, ainda não se sentia pronta para ser mãe.

Depois de termos colocado o papo em dia fomos atrás de meus pequenos, que até o momento eu ainda não havia os visto. Depois de uma rápida busca pela praia os encontrei em uma mesa acompanhados de meus pais, Effie, Haymitch e as outras crianças. De mãos dadas com Peeta corri até eles, deixando meus amigos para trás. Os dois estavam lindos. Jack vestia um short e uma camisa no tom azul bebê igual ao da camisa de Peeta, já Hope usava um vestido branco com detalhes em renda e uma coroa de flores igual a minha em sua cabecinha. Peeta acertou, pois realmente fiquei emocionada ao vê-los.

— Vocês estão lindos meus amores. — falo enquanto beijo a bochecha dos dois e sem conseguir segurar, deixo algumas lágrimas escaparem de meus olhos. Sabe? Às vezes é difícil de acreditar em tudo o que estou vivendo, nunca pensei muito sobre formar uma família e agora, estou aqui completando nove anos de casada e com dois filhos lindos e maravilhosos. É muita emoção para esse pobre coração aguentar.

— Mama, tliste? — pergunta minha princesa com um biquinho fofo nos lábios, enquanto tenta enxugar minhas lágrimas com suas pequenas mãozinhas.

— Não Hope. A mamãe está chorando porque está emocionada, certo mamãe? — fala Jack fazendo o biquinho de Hope se transformar em um lindo sorriso.

— Certo. Agora eu quero um abraço bem apertado dos dois. — perco recebendo os braços dos dois sobre meus ombros.

— Será que tem espaço para o papai também nesse abraço tão gostoso? — pergunta Peeta e abrimos nossos braços para recebê-lo.

 — Assim vocês vão me fazer chorar. — comenta Effie nos fazendo rir e nesse momento meus amigos chegam ao nosso lado.

— Oh meu Deus! Meus bolinhos como vocês cresceram! — exclama Johanna olhando para Hope e Jack, que sorriem para a mesma. Não vou nem comentar o apelido que ela deu para meus pequenos. Mas apesar de ser maluca em boa parte do tempo, as crianças amavam ela.

Depois de um tempo as crianças resolveram ir brincar enquanto nós ficamos conversando. Mas eu estava sentindo falta de alguém. Prim. Ainda não tinha visto minha irmã na festa.

— Mãe onde está a Prim? — pergunto — Ainda não a vi.

— Ah! Ela está na cozinha com o Brad. Estão terminando de confeitar os cupcakes.

— Bom, então vou lá falar com ela, estou morrendo de saudades da minha patinha.

— Isso filha vai mesmo, até porque ela já está tempo demais presa naquela cozinha com aquele garoto. — resmunga parai arrancando boas risadas da gente.

— Sem essa de ciúmes Sr. Thomas. — brinco — Com licença pessoal. Vem amor. — saio arrastando Peeta pela mão até a cozinha.

Quando Chego à mesma vejo Prim e Brad dando alguns retoques nos cupcakes. Eles faziam faculdade de gastronomia juntos e todo o bufê da festa havia sido preparado pelos dois. Pois é, minha patinha havia crescido e se tornado uma linda mulher. Lembro-me de quando ela nos apresentou Brad como seu namorado, papai e Peeta quase tiveram um infarto. Fizeram tanta linha dura com pobre rapaz que senti até pena, mas isso foi só no começo, depois que eles conheceram a família de Brad e viram o quanto ele amava minha irmã ficou tudo bem.

— Patinha. — abraço-a bem apertado e ela retribui com a mesma intensidade. Custava acreditar que minha irmãzinha tão pequena agora estava com vinte e dois. O tempo realmente passa voando. Depois de nos separarmos cumprimento Brad.

— Então Brad, você está cuidando bem da minha pequena aqui? — pergunta Peeta com um braço sobre os ombros de Prim fazendo a mesma revirar os olhos com sua pergunta e eu, bem, só rio da cena.

— Pode ficar tranquilo Pee. Brad é tão protetor quanto você e o papai. — sorri ao beijar a bochecha de Peeta.

— E então? Vocês já terminaram por aqui? — pergunto aos dois.

— Sim. Só estávamos dando os toques finais. — responde Brad.

— Ai! — protesta Peeta ao receber um tapa na mão dado por Prim, quando ele tentou pegar um cupcake — Por que fez isso?

— Pra você deixar de ser guloso. Você só vai comer um desses cupcakes quando eles estivem na mesa. — rebate Prim.

— Eu preferia você com sete anos, pelo menos não me batia. — resmunga Peeta nos fazendo rir.

— Ah é? Vamos ver então. — desafia Prim indo na direção dele e distribuindo varis beijos por toda a extensão de seu rosto — E então? Você ainda prefere minha versão de sete anos?

— Não importa sua idade, eu sempre vou amar você pequena. — responde Peeta ao abraça-la. Os dois mantinham uma relação de irmãos que era admirável de se ver.

— Mamãe. — a voz infantil de Jack chega aos meus ouvidos fazendo-me virar em direção à entrada da cozinha, onde ele se encontrava parado segurando nas mãos de Hope, que estava em pé ao seu lado.

— Oi meu amor. — vou em sua direção e Peeta me acompanha.

— Hope está querendo dançar. — avisa nos fazendo rir.

— Então vamos dançar. — anuncia Peeta ao pegar Hope nos braços. Faço o mesmo com Jack e seguimos rumo ao luau, sendo seguidos por Prim e Brad.

Uma música suave tocava ao fundo enquanto Peeta e eu dançávamos com nossos pequenos. As gargalhadas dos dois atraiu a atenção dos convidados que riram junto. Amor de família é a coisa mais inexplicável do mundo. Nem um pai consegue dizer para um filho o quanto ama, nem um filho sabe dizer ao pai, então simplesmente demonstram, seja através de gestos, ações ou momentos. Era isso que Peeta e eu fazíamos. Desde o nascimento de nossos pequenos, demonstrávamos não só com palavras, mas também com ações, o quanto eles eram amados por nós, e os mesmos retribuíam esse amor e carinho com cada sorriso, cada abraço, com cada olhar.

Depois de dançarmos muitas músicas resolvemos descansar, então resolvemos nos juntar a mesa com nossos amigos e meus pais. Peeta sentou-se ao meu lado com Hope em seu colo, enquanto Jack descansava no meu.

— Sempre que presencio esses momentos entre vocês, sinto uma vontade louca de ter filhos. — comenta Effie nos olhando com admiração.

— E porque você não tem Effie? — pergunta Clove curiosa.

— Provavelmente porque o amiguinho do Hay não está funcionando direito. — fala Johanna nos fazendo gargalhar.

— Mas que calunia! — exclama Haymitch indignado.

 — Olha Hay, tem uns comprimidos azuis que são excelentes para essa sua situação. — debocha Johanna e nossas gargalhadas só aumentam.

— Pra sua informação Sra. Mason — Haymitch diz com sarcasmo fazendo Johhan revirar os olhos — Meu amiguinho aqui funciona muito bem tá legal?

 — E só não tenho filhos porque já passei da idade faz muito tempo. — completa Effie.

E assim se passam as próximas horas, conversamos animadamente enquanto a comida e as bebidas são servidas. Depois de um tempo as pessoas começaram a se levantarem para dançar e entre elas meus amigos, enquanto as crianças se afastaram para brincar. Peeta e eu por outro lado permanecemos sentados enquanto ouvíamos as histórias de meu pai e Haymitch. Mas do nada a música parou de tocar e isso causou algumas reclamações da parte das pessoas que estavam dançando animadamente. Virei-me de frente para o pequeno palco, para me certificar do que estava acontecendo e me deparei com Prim, segurando um microfone.

— Sinto muito por estar atrapalhando a dança de vocês pessoal, mas chegou a hora do Peeta e da Katniss darem uma palavrinha pra gente. — anuncia.

— Chegou a nossa hora amor. — sussurra Peeta antes de levantar-se e estender-me sua mão ao qual aceito de bom grado. E de mãos dadas, seguimos em direção ao palco.

— Primeiramente queria agradecer a todos aqui presentes... — começo a falar e recebo o olhar atento dos convidados — ...Que acompanharam de perto todas as nossas dificuldades, nossas barreiras, nossos medos e principalmente no quanto o nosso amor evoluiu ao longo desses anos. — olho para Peeta, que sorri lindamente para mim e entrelaço nossos dedos — Quando se tem alguém como você ao lado a vida se torna muito mais leve e feliz. Você é de longe minha melhor companhia, meu amigo mais sincero e aquele que sei que posso contar em todos os momentos, sem nenhuma exceção! — vejo os belos olhos azuis de Peeta ficarem lacrimejados por minhas palavras — Então loirinho, obrigada por estar ao meu lado, por me dar esses filhos maravilhosos e acima de tudo, por me dar seu amor. — concluo e recebo seus lábios macios sobre os meus, em um beijo calmo e sereno atraindo as palmas de todas as pessoas presentes.

— Você vive dizendo que tenho o dom das palavras, mas hoje você mostrou que não sou o único. — brinca atraindo algumas risadas — Todos aqui sabem de tudo o que eu passei, de tudo o que eu sofri. Mas você Katniss, ficou ao meu lado, cuidando de mim, me dando apoio sem se importar se receberia ou não algo em troca. E mesmo eu não acertando o passo, você esteve lá para acompanhar minha dança. — ele se aproxima mais e segura meu rosto com suas mãos, para poder olhar bem dentro de meus olhos. Meu coração já está batendo aceleradamente no peito enquanto sinto as lágrimas subirem aos meus olhos — Seu amor trouxe para mim e para minha vida tantas possibilidades que às vezes mal posso acreditar no quão transformador seu amor foi em mim... — sorrio quando ele enxuga minhas lágrimas delicadamente — Você chegou e mudou tudo para melhor, encheu meus dias de alegria e tudo o que desejo é poder retribuir tanto cuidado e sentimento. Te amo meu amor. — jogo meus braços sobre seus ombros e o beijo apaixonadamente enquanto as pessoas nos aplaudem. Poderiam se passar mil anos, mas ainda sim, nunca estaria pronta emocionalmente para as declarações de Peeta, ele sempre conseguia me deixar sem palavras.

— E para finalizar. Que tal vocês cantarem pra gente? — propõe Prim.

— É ISSO AÍ, QUEREMOS MÚSICA CASAL PEGAÇÃO! — grita Johanna fazendo todas as pessoas presentes gargalharem, mas logo em seguida estão todos batendo palmas e pedindo por música.

— Tudo bem, tudo bem. A gente canta. — anuncia Peeta fazendo todos comemorarem.

Com a ajuda do DJ, colocamos dois bancos em cima do pequeno palco. Peeta senta-se no banco da direita e ajeita o microfone no pedestal a sua frente, quando ele termina lhe entrego o violão e sento-me ao seu lado encarando suas orbes azuis.

— Find Me? — pergunto me referindo à música.

— Find Me. — confirma com um leve sorriso. Todos os convidados ficam em silencio nos observando atentamente. Peeta começa a tocar os primeiros acordes da música e logo em seguida sua voz, doce e suave começa a acompanhar a melodia.

So many nights trying to hide it  (Tantas noites tentando esconder isto)
But now I stay awake just pleading for more  (Mas agora eu fico acordado implorando por mais)
To think this heart was divided  (Pensar que esse coração foi dividido)
I'm losing sleep cause I can't ignore  (Eu estou perdendo o sono porque eu não posso ignorar)

Feeling your touch all around  (Sentindo seu toque por todo o lado)
Peacefully hearing the sound  (Pacificamente ouvindo o som)
Of silence around us  (De silencio ao nosso redor)
I'm so glad we found us this way  (Estou tão contente por termos nos encontrado desta maneira)

Nossos olhos se prendem quando chega o refrão. As ondas do mar parecem estar em perfeita sincronia com a música me trazendo paz, liberdade.

Find me, here in your arms  (Me encontre, aqui em seus braços)
Now I'm wondering where you've always been  (Agora eu estou me perguntando onde você sempre esteve)
Blindly, I came to you  (Cegamente, eu vim a você)
Knowing you'd breathe new life from within  (Sabendo que você sopraria uma nova vida para dentro de mim)

Can't get enough of you  (Não me canso de você)

Desvio meus olhos dos de Peeta e encaro o céu, ao qual nunca havia visto tão brilhante em todos os meus anos de vida, quanto nesta noite. Vejo uma estrela cadente cruzar o céu de uma ponta a outra fazendo-me sorrir enquanto canto. Antigamente eu encarava as estrelas porque elas me faziam acreditar que todos os meus sonhos se tornariam realidade. Hoje eu as encaro e agradeço por, de certa forma, nunca terem me deixado desistir.

I want to be where you are  (Eu quero estar onde você está)
In times of need I just want you to stay  (Em tempos de necessidade eu só quero que você fique)
I leave a note on your car  (Eu deixo um recado em seu carro)
When I can't find the right words to say  (Quando eu não consigo achar as palavras certas para dizer)

Hearing your voice all around  (Ouvindo sua voz por todo o lado)
The last place we're going is down  (O último lugar que vamos é para baixo)
I'll blindly follow knowing you're leading the way  (Eu cegamente a seguirei sabendo que você está conduzindo o caminho)

Volto meus olhos para os convidados e vejo que alguns estão dançando. Meus pais, agora já de cabelos brancos, estão abraçados e sorrindo enquanto nos observam cantar. Haymitch e Effie também estão abraçados, porem diferente de meus pais, eles se movem lentamente para lá e para cá. Alguns de meus amigos também estão dançando, outros simplesmente abraçados enquanto apreciam a música. Então encaro meus pequenos, Jack segura nas mãozinhas gorduchas de Hope enquanto tenta guia-la em alguns passos de dança, o sorriso de ambos iluminado meu ser.

Find me, here in your arms  (Me encontre, aqui em seus braços)
Now I'm wondering where you've always been  (Agora eu estou me perguntando onde você sempre esteve)
Blindly, I came to you  (Cegamente, eu vim a você)
Knowing you'd breathe new life from within  (Sabendo que você sopraria uma nova vida para dentro de mim)

With you in time  (Com você a tempo)
There's nothing else  (Não há mais nada)
My life stands still  (Minha vida fica parada)
You are the will that makes me strong  (Você é a vontade que me faz forte)
Make me strong  (Me faça forte)
If ever alone in this world I know I'll always...  (Se alguma vez estiver só neste mundo eu sei que vou sempre...)

Volto a encarar Peeta, meu parceiro tanto na música, como na vida. Através do límpido e brilhante azul de seus olhos vejo todos os momentos que já passamos juntos até chegarmos onde estamos hoje. O primeiro olhar, as primeiras palavras trocadas, a primeira música que cantamos juntos, os momentos divertidos, a primeira vez que o vi chorar, todo o seu sofrimento, o primeiro beijo, o primeiro eu te amo, nossa primeira vez, a separação, a reconciliação, o casamento, o primeiro CD, os shows, nossos filhos. Tudo o que vivemos ao longo desses anos sendo refletidos em suas orbes azuis como um filme. Ele parece ter visto a mesma coisa em meus olhos, pois sorriu como nunca havia sorriso antes e eu sabia que em meus lábios se encontrava um sorriso idêntico ao dele.

Find me, here in your arms  (Me encontre, aqui em seus braços)
Now I'm wondering where you've always been  (Agora eu estou me perguntando onde você sempre esteve)
Blindly, I came to you  (Cegamente, eu vim a você)
Knowing you'd breathe new life from within  (Sabendo que você sopraria uma nova vida para dentro de mim)
You sleep, here in my arms  (Você dorme, aqui em meus braços)
Where the world just shuts down for a while  (Onde o mundo se fecha por algum tempo)
Blindly, you came to me  (Cegamente, você veio até mim)
Finding peace and belief in this smile  (Achando paz e convicção neste sorriso)
Find some peace and belief in this smile  (Ache um pouco de paz e convicção neste sorriso)
Find some peace and belief in this smile  (Ache um pouco de paz e convicção neste sorriso)
Find some peace and belief in this smile  (Ache um pouco de paz e convicção neste sorriso)

Levo minha mão até seu rosto e o acaricio. Seus traços agora um pouco mais duros e fortes do que quando tinha apenas dezoito anos. E com os últimos acordes cantamos o último trecho da música.

Can't get enough of you  (Não me canso de você)

Todos gritam e nos aplaudem, fazendo nossos sorrisos triplicarem de tamanho, inclino-me para frente e cubro os lábios de Peeta com os meus. Um beijo calmo, suave, cheio de significados somente para finalizar com chave de ouro aquela noite maravilhosa.

— Te amo. — sussurra quando descolamos nossos lábios.

— Te amo. — também sussurro encarando seus olhos que graças à noite banhada de estrelas, adquiriu um brilho dez vezes mais intenso e hipnotizante.

Levantamos-nos e agradecemos pelos aplausos. Peeta entrega o violão para o DJ e seguimos de mãos dadas até nossos amigos e familiares. Pego Hope no colo enquanto ele pega Jack e em uma conversa silenciosa, todos, - sem exceção - saímos correndo em direção ao mar, rindo como nunca. E naquela noite voltamos a ser criança.

Tudo começou com a chegada de um garoto loiro de olhos azuis, que apesar de conter um belo sorriso nos lábios, trazia consigo o fardo, a dor de uma perda. Com sua voz suave e aveludado ele conquistou meu coração e me fez enxergar o que é o verdadeiro amor. Foi difícil conquista-lo, foi mais difícil ainda reconstruir seu coração e curar as feridas de sua alma. Sua vida estava como uma nota desafinada, mas no final das contas eu consegui e aquela havia sido a maior vitoria de toda minha vida. Mas, mesmo depois de todos esses anos, às vezes ele ainda tem pesadelos. Talvez eles nunca hão de ir embora. Mas a música sempre está lá para nos confortar, assim como sempre esteve desde nossa existência.

Tudo o que Peeta e eu vivemos foi movido à base de amor e a base de música. Ela fazia parte de nós assim como nós fazíamos parte dela. Ela esteve presente em nossos momentos de alegria, de tristeza, de dor, de felicidade, de cumplicidade. A música é tão ou mais importante que as próprias palavras. A música é a linguagem dos sentimentos, é a linguagem da alma, ela tem o poder de reparar danos cerebrais e trazer memórias perditas. É por isso que cantamos. Cantamos porque vemos o invisível, sentimentos que parece não haver o que sentir. Cantamos para que o canto arranque de nós todos os sentimentos ruins e os jogue ao vento. Cantamos para resgatar a harmonia das canções dos que cantaram antes de nós. Cantamos porque o canto nos mantém de pé na luta. Cantamos para fazer do impossível possível.

Todos os meus sonhos começaram quando minha mãe cantou, pela primeira vez, uma canção de ninar para me fazer dormir. Ainda lembro-me das minhas primeiras apresentações no jardim de infância. Das primeiras notas tocadas no piano. De todos os momentos divertidos vividos no ensino médio. De todos os conflitos e ensinamentos aprendidos na faculdade. Foram tantos momentos, tantos nãos, tantos sins. No começo era tudo uma surpresa, um sonho a ser realizado, um amor a ser descoberto e uma canção a ser cantada. Desde o começo desta viagem ao qual chamamos de vida, às vezes andamos juntos, às vezes separados. Dentro de cada passo, todos nós sonhamos o memo.

Valeu a pena tudo até aqui, pois realizei todos os meus sonhos, alcancei todos os meus objetivos. Tenho um marido incrível que está ao meu lado me confortando em momentos difíceis e fazendo de momentos bons inesquecíveis. Tenho filhos maravilhosos que me enchem de amor e carinho me mostrando o quão sortuda eu sou. Eu me sinto realizada, completa. Todos vivem em busca da felicidade e eu finalmente encontrei a minha.

E essa foi a minha Rock Story. Uma história de amor movida à música e uma história de música movida a amor.

                                                              Fim.