Lost escrita por Gabs


Capítulo 8
VIII


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei muitooooooo pra postar, eu sei disso. Mas eu realmente estava passando por uma crise e depois disso decidi que iria apenas curtir minhas férias um pouco e agora minha motivação e inspiração voltaram, então peço desculpas. Tem presente nesse capítulo porque eu mesma queria que acontecesse já há algum tempo, espero que gostem e boa leitura! ♥



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Depois de algum tempo eu comecei a gostar das aulas de luta, eu me sentia útil, forte, e não tinha que ficar com Thomas.

O clima entre nós ainda não estava muito bom, mas era diferente. Ele simplesmente não se importava, e talvez preferisse daquele jeito, levando em conta o que acontecia sempre que tentávamos conversar. Já eu me sentia inexplicavelmente sem jeito sempre que ele chegava dois metros perto de mim, desde o dia em que nós três fomos atrás de informações sobre a mordida eu nunca mais olhei para Thomas da mesma maneira. Era pra lá de estranho, como quando você toma um porre e se sente envergonhada das coisas que fez, o sentimento era o mesmo.

Morgana continuava não me dando folgas e não sendo nem um pouco gentil comigo nas lutas, mas assim era até melhor. Já que toda vez que eu conseguia bloquear um de seus golpes estupidamente rápidos, eu sabia que estava melhorando. Já tinha conseguido bloquear seus golpes cinco vezes no total depois de três meses com apenas resultados ruins, eu estava muito bem em minha opinião, obrigada.

E ela não era rude comigo, nem um pouco. Fora da quadra ela era muito gentil e simpática, aliás. Talvez eu tenha tido uma má impressão da garota na primeira vez em que nos vimos, mas ela é... De boa.

E depois daquela noite não torceu mais nenhuma parte do meu corpo.

—A situação de vocês é estranha. –uma bufada audível chamou minha atenção, Megan estava com a cabeça deitada na mesa enquanto batucava os dedos lentamente na mesma, parecia mortalmente entediada.

—De vocês quem? –Megan tinha esse péssimo hábito de nunca ser específica sobre o que estava falando, isso já fez com que eu me enganasse sobre o assunto milhares de vezes.

—Você e Thomas, ora. Ele não percebe que você está estranha? –e ela sempre agia como se o que ela estava falando fosse a coisa mais óbvia “como você pode não saber?”.

—Acho que pra ele, Kate sempre foi estranha. –falando pela primeira vez aquela manhã, fora o bom dia automático, Sophia tirou os olhos do livro de feitiços que vinha lendo já há uma semana. E era verdade. Uma verdade dolorida, mas ainda assim uma verdade.

Thomas nunca nem sequer me viu como um ser humano, quem dirá como alguém que mereça ser levada a sério, e muito menos alguém normal. Me pergunto o que seria alguém normal para Thomas Collins.

—Bom dia. –o sorriso que Max nos ofereceu foi quase refrescante, eu gostava muito da presença do garoto ali. Ele era sempre tão animado! E fez Sophia sorrir também, assim que se sentou ao lado da loira.

Por falar em livro de feitiços, as aulas de feitiços estavam dando grandes e gratificantes resultados, eu e Megan conseguimos levitar nossos livros na última aula – e sem nenhum wingardium leviosa! – e Sophia conseguiu fazer um feitiço para que água surgisse em um dos cálices que usávamos nas aulas, foi incrível.

E agora até mesmo o tempo estava melhorando, já fazia uma semana que não nevava e a temperatura só subia. Assim eu conseguia usar a saia do uniforme sem precisar usar a calça de moletom e conseguia sair do quarto com uma blusa só, eu estava mais do que satisfeita, então basicamente as coisas estavam indo até muito bem.

Também estava feliz porque nossa próxima aula era sobre espécies, com a professora Marise, a senhorita Marise é uma mulher extremamente simpática e calma, gosto muito dela. Mas não sinto que deveria confiar muito nela, não sei por quê.

—Vocês estão agindo estranho. –o ruivo murmurou depois de bebericar seu café, já havia se ajeitado e desajeitado no lugar no mínimo cinco vezes, parecia desconfortável. E nós realmente não estávamos agindo estranho, em nossa defesa.

—Eu prefiro assim. –a voz levemente rouca do loiro silencioso sentado ao meu lado se fez ser ouvida, ele parecia estar em silêncio há um tempo, considerando sua voz. E também parecia tão concentrado no livro que lia, como se sua vida dependesse disso.

—Pois eu não. Aconteceu alguma coisa? Vocês costumam falar tanto, e hoje nem estão conversando. –Max cortou Thomas assim que este acabara de falar, parecia ter algo acontecendo entre os dois.

Até mesmo porque de fato nada havia acontecido, apenas não tínhamos um assunto ou não estávamos dispostas o suficiente para arranjar um, mesmo que as últimas semanas tenham sido boas, estávamos cansadas até o último fio de cabelo.

—Você devia tomar esse silêncio como um não e comer quieto. –ouvi uma fungada e o barulho de mais uma página sendo virada, Thomas lia muito rápido – se é que lia -, Max pareceu surpreso com a resposta de Thomas. O resto de nós não estava nem um pouco surpreso com a resposta áspera de Thomas, já sabemos como ele costuma conversar.

—Não sou como você, frio e seco. Gosto de interagir com as pessoas, Collins, e não simplesmente fingir que elas não existem e usá-las quando bem entendo. –o ruivo bateu sua mão na mesa e se levantou, definitivamente parecia com raiva, seu rosto tomando lentamente a mesma cor de seus cabelos e seu peito subindo e descendo rapidamente já que tinha uma respiração descompassada. Megan segurou seu braço e pediu para que este se acalmasse, mas nenhum dos dois parecia nos dar atenção, estavam ocupados demais se encarando. Max sentia raiva pura e Thomas tamanha indiferença que era assustador, era o próprio amigo!

—Não briguem, nada aconteceu. Apenas estamos cansadas e sem assunto nenhum para falar, não briguem, por favor. –levantei-me e tentei apartar os dois que se encaravam com tanta intensidade que quase era possível ver a chama de raiva queimar nos olhos de Max, admito que sentia medo, não sabia o que poderia resultar de uma briga entre os dois, física ou verbal.

—Katherine, posso falar com você? –senti a mão gelada de Thomas tocar meu pulso e abaixei meu olhar até ele, era diferente vê-lo de cima.

—Pode.

Foi estranho Thomas ter perguntado se podia falar comigo, uma mudança boa. Já que era de costume ele apenas me puxar para algum lugar e começar a falar o que queria.

Levantou-se e me guiou para fora do refeitório por dentre os corredores vazios a essa hora por algum tempo, consegui ver um brilho distinto que chamou minha atenção e quando descobri o que era, sorri.

—Uau... –andei em direção a ele com Thomas atrás de mim, estava diferente de quando cheguei, muito diferente.

Estávamos no jardim e o chão estava coberto por verde, a grama estava fofa e parecia recém-aparada, o sol brilhava intensamente sobre nossas cabeças e o céu ainda com algumas nuvens estava lindamente pintado de azul. Depois de meses sem ver o sol, a sensação parecia ainda melhor, o arrepio que percorreu meu corpo quando recebi o calor da enorme estrela foi reconfortante, algo da qual eu estava acostumada entre tantas coisas novas.

Olhei-o e ele também estava sendo banhado pelos raios de sol, eu estava esperando ele começar a dizer o que queria, mas ele parecia não prestar atenção em mim. Seu rosto e corpo estavam virados na direção do sol e seus olhos estavam fechados, ele parecia gostar da sensação tanto quanto eu. Conseguia ver sua pele que agora não parecia tão pálida quanto eu via quando estávamos dentro do castelo e seus cabelos agora pareciam mais loiros do que nunca, parecia bonito o suficiente para mim, parecia quase que pacífico.

Dei um passo em sua direção e no mesmo instante ele se virou para mim e abriu os olhos, por mais que parecesse distraído, ele sempre estava atento às coisas que aconteciam ao seu redor. Thomas podia ter seus momentos como um gatinho, mas eu sabia que o garoto sempre seria um leão, pronto para a ação a qualquer segundo. Atento a tudo e a todos com seus olhos velozes e focados.

—Hmm... O que queria me dizer? –afastei meu olhar de seu rosto rapidamente, metade porque estava com vergonha por ter sido pega encarando-o e metade porque ainda não conseguia me conter perto dele.

—Gostou daqui? –pareceu ignorar minha pergunta, mas não me incomodei. Eu tinha adorado o lugar e estava muito feliz que ele tivesse me levado lá.

—Adorei.

—Você parecia desconfortável perto de mim, então pensei que se a trouxesse em um lugar que a fizesse se sentir confortável, não se incomodaria comigo. –revelou dando um quase inexistente sorriso de canto, não conseguia saber se ele parecia triste, o típico sorriso de Thomas ou outra coisa.

Mas então ele sabia, ou pelo menos havia percebido sobre meu desconforto com relação a ele, eu me sentia culpada, mesmo que sem motivos. Não queria que ele se preocupasse com minhas paranoias.

—Eu, hmm... É... –queria dizer a ele que não me sentia desconfortável perto dele ou que ele não devia se preocupar comigo, mas não conseguia parar de gaguejar e atropelar minhas próprias palavras. O olhar gélido que eu sentia sobre mim nublava minha mente.

—Eu estava acostumado e até mesmo preferia que você não gostasse de mim. Mas quando começou a agir como se não pudesse ficar perto de mim por algum motivo, aquilo me incomodou. Pensei que iria ficar feliz quando não quisesse mais ficar perto de mim, mas fiquei incomodado e com raiva. –parecia estar falando mais para si mesmo do que comigo, mas então parou de observar o horizonte e levou seus olhos aos meus, ele parecia afetado, podia ver que ele não tinha gostado nem um pouco do que tinha acontecido. –Estranho não?

—Bem... Eu também pensei que ficaria feliz se eu me afastasse de você. –concordei evitando sua pergunta, se ele podia evitar as minhas eu também podia evitar as dele.

—Mas eu não fiquei. –deu um passo em minha direção, seu rosto não revelava nenhuma emoção. –Algo deve estar errado, mas eu queria saber o que foi que aconteceu que te fez se sentir assim.

Engoli em seco, me sentia exposta apenas por pensar em dizer isso a ele, mas se ele perguntou eu deveria dizer, certo? Não era nada demais, afinal.

—Descobri como funciona a mordida.

Arregalou os olhos levemente, olhou para os lados, parecia pensar um pouco, mas não parecia nem um pouco envergonhado.

Não que eu pudesse perceber, pelo menos. Mesmo que eu tivesse cem por cento de certeza que Thomas conseguiria esconder de mim se estivesse.

—E como se sentiu?

—Envergonhada. –a resposta estava na ponta da língua.

—Porque se sentiu envergonhada? –cerrou as sobrancelhas olhando nos meus olhos e parecendo até mesmo confuso, como se não visse motivo nenhum para que eu ficasse envergonhada.

—Por que... –engoli em seco mais uma vez, olhei para baixo. –Fiquei imaginando como você se sentiu.

—Oh, entendi. –colocou as mãos nos bolsos da calça de seu uniforme, respirou fundo e ajeitou a postura, considerando que antes estava com o tronco abaixado para me olhar de perto. –Se eu te disser como me senti você vai parar de agir desse jeito?

—E-eu estou confortável agora.

—Sua gagueira não diz a mesma coisa e, aliás, eu consigo ouvir seu coração daqui. Você não pode mentir para mim. –fui pega de surpresa quando ele segurou uma mecha de meu cabelo que estava perto do meu rosto, recuei um pouco. –Me senti exatamente da maneira que foi descrita a você.

Por mais que eu já tivesse conhecimento daquilo, o arrepio que percorreu minha espinha me fez tremer, não o olhei. Conhecimentos esses que fizeram meu rosto esquentar e avermelhar, aquele era justamente o pensamento que fazia com que eu me sentisse incapaz de ficar perto dele e então ele me diz que está certo? Se ele esperava que fosse mudar a maneira como me sinto, estava errado.

—Exatamente? Com todas aquelas sensações e coisas? –não faço a mínima ideia de onde aquela coragem saiu, mas não fora muita. Apesar de ter perguntado, mantinha a cabeça baixa, estava morrendo de vergonha, se ele já ouvia meu coração antes agora o som devia estar muito mais nítido.

—Sim Katherine, com todas as sensações e coisas. Senti sua pele, seus arrepios, a imensa sensação de prazer e ouvi seu gemido, tudo. –sua cabeça estava virada para o lado, ele me observava.

Ao ouvi-lo falar fiquei ainda mais vermelha e envergonhada, se eu pudesse enfiar a cabeça no pescoço eu enfiaria. Coloquei as mãos dentro do moletom e sentia minha própria respiração pesar, eu estava nervosa.

Mas o pior de tudo mesmo foi a enxurrada de pensamentos sujos que tive com aquela revelação, me arrepiei novamente. Isso não devia ser permitido.

—Entendi. –murmurei com um fio de voz, e mordia meu lábio intensamente chegando a me causar um pouco de dor.

—Parece nervosa.

—É estranho. –revelei, mas não queria. Porém quando vi, já tinha dito.

—O que é estranho?

—Não deveria causar esse tipo de sensação, deveria ser algo doloroso, e não prazeroso. —mordi o lábio, não podia substituir por outra palavra e também não queria que pensasse que sou como uma criança.

—Doloroso pra você, afinal seria satisfatório para mim de qualquer maneira. –deu de ombros.

—Mas porque precisa ser tão intenso? –contestei levantando a cabeça rapidamente e me deparando com ele mais perto do que eu esperava.

—Pra ser bom. –um sorriso de canto se formou em seu lábio, ele parecia gostar daquilo.

Meu coração acelerou, fechei os olhos e torci para que ele não percebesse.

Senti uma lufada de vento em meus cabelos junto com movimentos ao meu redor, tremi.

—Você é muito sensível. –sussurrou em meu ouvido, ele sorria.

—Você não- -tentei sair de perto dele quando me vi cercada por seus braços, o olhei de olhos arregalados, ele fazia aquilo com tanta naturalidade que era ridículo. Ridículo que me fizesse sentir tão quente sem nem se envergonhar, ele não tem pudor.

—É divertido. –sorriu ao me olhar nos olhos e ver que eu estava, no mínimo, morrendo do coração. –Imagino qual seria sua reação caso eu fizesse algo que merecesse que seu coração batesse tão rápido.

—O que faria?

—Quer mesmo saber? –um sorriso cheio de malícia se fez em seus lábios, meu corpo foi preenchido com arrependimento, queria morrer.

Seu sorriso aumentou e se aproximou deixando claro que mais cedo ou mais tarde eu descobriria o que ele queria dizer, recuei e me vi encurralada, respirei fundo e prendi a respiração, não sabia o que fazer. Não podia tentar sair já que Thomas deve ser vinte vezes mais forte do que eu e eu estava tão molenga que mesmo que tentasse falharia.

Senti uma leve brisa em meu rosto com cheiro de menta, pulei de susto.

—O que você fez? –eu estava quase gritando, procurando o que ele havia feito.

Ele assoprou meu rosto mais uma vez, fiquei atônita, piscava os olhos como se fosse me ajudar em alguma coisa, e soltei a respiração abaixando a cabeça novamente.

Vou ser sincera, eu estava decepcionada. Quase conseguia sentir meu coração derretendo e escorrendo por dentre as minhas costelas.

Depois de todos os pensamentos que vagaram pela minha mente tão sorrateiramente ter uma realidade assim tão... Vazia, era demais pra mim.

—Vocês estão aqui! Que bom. –professora Marise disse parecendo feliz por nos ver ali, tomei um susto tão grande que dei um pulo no lugar, soltando um “ah!” e empurrando Thomas para longe de mim.

—Olá professora Marise. –Thomas cumprimentou-a com um meneio de cabeça e voltou a ficar sério e impassível novamente, falou com a professora tão normalmente como se não tivéssemos acabado de sermos pegos em uma situação pra lá de suspeita.

—Olá Thomas, obrigada por trazer Katherine aqui. –ela sorriu, parecia realmente satisfeita com Thomas.

—Porque aqui? –interrompi os dois.

—Quero aproveitar o tempo que melhorou e fazer uma aula mais, legal. –explicou ainda sorrindo.

—Bem, então vou te deixar aqui com a professora e a gente se vê mais tarde. –abaixou-se apenas um pouco para falar comigo.

—Hmm, ok. –apertei os lábios num murmuro, nervosa só de imaginar o que nossa conversa renderia.

Thomas nos deu as costas e voltou para o salão principal do castelo novamente, iria para suas aulas em poucos minutos também então não poderia ficar conosco por muito tempo, de qualquer maneira.

—Conversaram? –a professora passou por mim e se sentou na grama, me chamou para sentar consigo, obedeci. –Você e Thomas, quero dizer. Você parecia estar fugindo dele sempre que eu os via, e agora pareciam... Bem.

—Ah sim, conversamos. –respondi de prontidão, mas estava morta de vergonha de falar sobre aquilo. E afinal ela tinha visto o que tinha acontecido. E ah, eu queria me esconder no dormitório e ficar ali para sempre.

—Se resolveram?

—Ele me disse que se sentia incomodado e com raiva porque sabia que eu me sentia desconfortável perto dele. –fiz um belo resumo, não desejava nem um pouco esticar aquela conversa, estava ficando desconfortável. O interesse da professora sobre meu relacionamento com Thomas não me fazia sentir confortável.

—Oh, que coisa. Imagino que ele não tenha sido muito delicado ao falar sobre isso com você.

Imagino o que fez ela sequer imaginar qualquer coisa sobre nossa conversa, não era nada que ela devesse se preocupar, e eu agradeceria se ela parasse de fazê-lo.

—Ele respondeu as minhas perguntas, pelo menos. –respirei fundo tentando controlar a vermelhidão em minhas bochechas ao me lembrar do ocorrido e tentando colocar um fim àquela conversa.

—Fico feliz que Thomas seja assim com você. –sorriu olhando não para mim, mas olhava para o horizonte como se estivesse pensando sobre algo importante, exatamente da mesma maneira que Thomas fazia há apenas alguns minutos.

—O que quer dizer? Ele não é tão ruim com vocês também. –respondi rapidamente, fui pega de surpresa pela professora, não gostava do caminho que aquela conversa tomava, ela estava dizendo então que ele me tratava de forma diferente?

—Thomas só é cortês com os professores, mas não é simpático. Quando algum professor passa dos limites entre aluno e professor, Thomas não costuma ser discreto. –respirou fundo parecendo se lembrar de alguns episódios desagradáveis. –Ele só é suave e amigável com você e Max.

Amigável? Estamos falando do mesmo Thomas aqui?

—Max é amigo dele, eu sou apenas uma obrigação. –sorri de leve me esforçando para parecer simpática, estava incomodada com as insinuações que a professora fazia. –Onde estão os outros alunos?

—Acabaram de chegar, o sinal não havia batido ainda. –sorriu se levantando e indo receber os alunos que apareceram no jardim no mesmo instante, quase parecia que estavam esperando por seu comando.

Megan e Sophia se sentaram ao meu lado assim que chegaram, e me faziam milhares de perguntas sobre o que diabos Thomas queria comigo.

Depois disso não consegui mais prestar atenção na aula, em nenhuma delas.

Megan tentou escrever algo em seu caderno e como não usamos lápis acabou fazendo a tinta cair no meu cabelo, de alguma maneira que só os Deuses sabem como.

E como se aquilo não bastasse a última aula que tivemos foi de luta com o professor Muralha e começou a chover! Escorreguei no mínimo dez vezes e Morgana sempre tomava vantagem sobre mim.

Voltei para meu quarto coberta de lama, com tinta no cabelo e espirrando como uma condenada. Eu estava um lixo.

Desejava tomar um banho, me deitar na cama e respirar fundo por alguns minutos, precisava pensar claramente.

E tinha sangue saindo de um corte na minha sobrancelha por causa de uma pedra quando caí no chão, como se a sujeira já não fosse o suficiente.

—O que aconteceu com você? –Thomas se levantou da poltrona e andou até mim assim que entrei no quarto, e pelo seu olhar, eu realmente devia estar um caco.

—Eu fui pra aula. Só isso, hoje não parecia ser o meu dia. –tirei um pouco da lama que estava em meu cabelo quando o torci na pia do banheiro. Respirei fundo tentando me acalmar, mas eu precisaria respirar fundo centenas de vezes para me acalmar devido a pilha de nervos que eu era naquele momento.

—O que é essa coisa preta saindo do seu cabelo? –o garoto tocou meu cabelo e chegou perto, parecia curioso e preocupado ao mesmo tempo.

—Tinta, Megan errou o feitiço. –balancei a cabeça demonstrando que ele não devia se preocupar.

—Ah... Que má sorte. -suspirou atrás de mim enquanto eu jogava uma água no rosto, mal conseguia enxergar alguma coisa. –Devia tomar banho antes que fique doente.

—Vou tomar. –respirei fundo pela octogésima vez, estava cansada e meu nariz escorria muito. Eu estava mesmo um lixo.

Tirei-o de dentro do banheiro e tomei uma ducha, foi refrescante, mas eu ainda me sentia mal. Talvez eu tenha pego uma gripe.

Saí do banheiro com meu pijama de frio e meu cabelo molhado e me sentei na cama, não iria dormir mesmo se me deitasse e tentasse, então não iria perder meu tempo. E dormir com o cabelo molhado nunca me fez bem.

Eu estava tão cansada, mas nem um pouco de sono.

Funguei mais uma vez.

—O que é isso no seu rosto?

—O que? –passei a mão pelo rosto e senti algo molhado, o sangue. –Ah, eu cortei minha sobrancelha e...! –coloquei a toalha por cima do ferimento antes que Thomas pudesse chegar perto. –Não!

—O que foi? Você disse que se cortou, precisa de um curativo. –levantou as mãos se rendendo, mas ainda insistia em chegar perto.

—Mas você é um vampiro. –constatei o óbvio.

Ele voltou do banheiro com um algodão e curativos em mãos e riu.

—Acha que só por eu ser um vampiro não posso ver sangue? Não somos zumbis que ficam como “sangue, sangue...” o dia todo. Temos nossos horários para comer assim como vocês, se fôssemos descontrolados não colocariam vocês presos aqui conosco. –ele continuava rindo. Ele tinha um ponto, mas eu não podia correr o risco.

—Não sei... Você é uma caixinha de surpresas, vai saber o que você vai fazer. –apertei a toalha no ferimento, Thomas ainda me olhava aguardando o momento em que eu iria remover a mão para que ele pudesse fazer o curativo.

Nunca posso prever o que Thomas fará em seguida, então temo todo e qualquer movimento do garoto.

—Katherine, relaxe. Não vou fazer nada com você.  –suspirou agachado na minha frente enquanto colocava o curativo em minha sobrancelha assim que tirei a toalha de cima, doeu. –Desculpe. –pediu assim que me ouviu soltar um murmuro de dor, o ferimento acabou por ser pior do que eu imaginava.

—Tudo bem. –passei a mão por cima do curativo e sorri, afinal ele tinha me feito um favor, a única coisa que eu poderia fazer com aquilo se estivesse sozinha seria colocar um band-aid, se eu encontrasse algum.

—Você realmente acha que eu iria me descontrolar por causa de um fio de sangue mesmo que já tenha ficado com minhas presas fincadas no seu pescoço e ainda assim não feito nada? Você deve me julgar um vampiro muito simples. –sorriu de canto enquanto guardava as coisas na pequena caixa de primeiros socorros que estava no chão.

Ele tinha razão, mas não conseguia confiar em Thomas depois do dia em que recebi uma mordida do garoto por nada. Ele me parecia baixo demais para ser confiável.

—Já te disse que é imprevisível, não tenho como saber. E saiba que você pode parecer tudo, menos simples. –fechei os olhos por um momento para afirmar minha sentença quando levei o maior susto da minha vida.

Senti por um segundo algo contra meus lábios quando ia voltar a falar algo, quando me dei conta já era tarde demais. O peso contra meu corpo me empurrando de leve me assustou e pareceu desconfortável, porém quando senti seus lábios se moverem contra os meus soube que mesmo se eu quisesse fazer algo nunca conseguiria, e eu não queria.

Sinto-me na obrigação de admitir que ser beijada por Thomas foi muito, muito bom. Talvez fosse porque eu estava me sentindo mais carente do que nunca, porque ele me provocava demais, ou simplesmente porque ele beijava insanamente bem. Ou talvez porque eu queria que ele me beijasse hoje mais cedo e quando ele não fez isso eu fiquei super nervosa.

Quando pensei que o garoto continuaria a me empurrar de leve para trás sinto sua mão em meu quadril e me puxando para frente ficando entre as minhas pernas, onde mesmo ajoelhado ainda conseguia me beijar sem eu ter de me curvar. Em algum ponto decidi que não ficaria me segurando e simplesmente fiz o que queria, me aproximei, coloquei a mão em seus cabelos loiros – que descobri serem mais macios do que pareciam – e permitindo que o maior deixasse que sua mão descansasse em minha cintura. A outra mão livre estava em volta de minha cintura segurando com tanta firmeza como se tivesse se prevenindo que eu fugisse, mesmo que ele muito provavelmente soubesse que eu já o desejava.

Mesmo que eu já não beijasse há algum tempo tinha certeza de que aquilo não teria como ficar ruim tendo em mente como já estava. A mão que antes estava livre se movimentou tão lentamente a caminho de meu quadril que quase não percebi, senti-me ser agarrada naquela região e quase gemi. Eu era muito sensível para estar fazendo aquilo com ele.

Se eu não tivesse que respirar ainda poderia ter ficado ali por algum tempo, sentia minha boca formigar e minhas bochechas quentes, ainda antes de nos separarmos de vez ele me deu uma mordida no lábio inferior, sorri. E ainda ficamos com as testas coladas por uma curta quantia de tempo recuperando o fôlego, eu estava com calor e ofegante, não devia estar.

—Você não é, definitivamente, nada simples. –concluí.

—E você queria ser beijada por mim. –sorriu convencido. –Faz muito tempo?

—Não aja como se eu fosse apaixonada por você há anos. Apenas desde hoje mais cedo quando plantou esperanças em meu coração e depois as descartou.

—Guardei o melhor para o final. –se levantou e foi até o banheiro fazer não sei o que.

Bufei, não sabia o que faria de agora em diante, sequei meu cabelo mais uma vez e joguei a toalha em cima da poltrona.

—E como foi o dia? –voltou do banheiro e se sentou na cama, bem na minha frente, fiquei surpresa pelo seu interesse súbito no meu dia, quer dizer, ele nunca perguntava.

—Horrível. –ele sorriu de canto e dei uma curta risada, me apressei em corrigir a sentença. –Metade do dia foi horrível.

—Não é com isso que me preocupo, não sou tão sentimental assim. –passou a mão pelos cabelos loiros, tirando-os de sua testa e jogando-os para trás, respirou fundo e o sorriso sumiu de sua face. –É só que eu acho que você não saiba o que é ter um dia verdadeiramente horrível.

—Ah, eu... –me senti diminuída, mas não sabia o que ele queria dizer, parecia estar descartando totalmente o meu dia horrível comparando-o com os próprios dias horríveis, mas uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra.

—Não, não se sinta mal. É bom que não saiba, fico feliz. Tenho esperanças de que nunca chegue a ter um dia verdadeiramente horrível, mesmo que saiba que esse dia vai chegar, e eu vou estar lá para vê-la.

—Como assim “vai estar lá”?

—Eu serei, muito provavelmente, a causa.


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Notas finais do capítulo

Nem tudo são flores, amo vocês. Comentem! ♥



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