Lost escrita por Gabs


Capítulo 20
XX


Notas iniciais do capítulo

olá! sinto muito que a narração tenha mudado um pouco no meio da história, mas eu me sinto muito mais confortável para escrever dessa forma, espero que esteja tudo bem pra vocês.
e o próximo capítulo também já ta pronto, acho que posto daqui a uma ou duas semanas!



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Eu ainda estava apreensiva e agora andava pelo castelo olhando para trás a cada passo dado, o medo era tão constante quanto minha própria sombra.

Os treinamentos estavam mais intensos do que nunca, eu até mesmo já havia treinado lutas com Morgana, Max e Samantha simultaneamente. Os três formavam um ótimo trio de treinadores, Max era ótimo com técnicas e estratégias, Morgana sabia jogar sujo como ninguém, e Samantha tinha tanto a me ensinar que eu não conseguia expressar minha gratidão por ela estar me ajudando.

—Estique os braços, sem medo! -Morgana gritava do lado de dentro da sala de treinamento, chovia e eu e Samantha estávamos fazendo uma simulação de batalha na chuva e não estava sendo nada fácil para mim.

Por mais que eu fosse ágil minha visão estava muito comprometida pela chuva forte e era difícil até mesmo de respirar com aquelas gotas grossas e geladas caindo sobre mim sem parar, Samantha avançava tentando me atingir e tudo que eu conseguia fazer era bloqueá-la, não conseguia contra-atacar. E por algum motivo eu estava assustada, não sabia se era por causa da visão limitada, mas eu tinha medo tanto de acertá-la como de errar.

O golpe que senti na lateral de minha cabeça foi forte o suficiente para me jogar no chão, caí sob uma poça d’água e mal consegui proteger minha cabeça antes de atingir o chão, mas eu já havia passado por coisas piores.

—Sabe, defender é bom, mas atacar de vez em quando pode ser melhor. -Samantha comentou agachada ao meu lado enquanto eu gemia e me sentava.

—Foi mal. -murmurei me levantando com dificuldade, eu estava cansada.

—Você precisa me acertar, não pedir desculpas.

Eu ainda me sentia muito fraca em comparação a eles, mas eles estavam trabalhando duro para que eu melhorasse e eu mal tinha tempo para fazer qualquer outra coisa que não fosse treinar nos últimos dias.

Tempo.

Já faziam tantos dias que eu não tinha um tempo para mim mesma ou para falar com Thomas ou só para tomar um banho relaxante e espairecer, eu não tinha tempo algum. Eu andava me sentindo muito como um robô nos últimos dias, eu mal conversava com os meus amigos, com meu namorado, nem com ninguém. Comia o mais rápido possível tudo o que Max havia colocado na minha dieta para poder voltar o mais rápido possível para o treinamento.

E não sentia vontade alguma de sair do quarto, eu ficava com medo de ficar lá sozinha e de andar pelo castelo sozinha, então só saia do quarto quando Samantha passava para me buscar pela manhã e voltava com Max depois do treinamento.

Eu também já não sabia mais há quantos dias eu não via Thomas.

—Vamos de novo, então. -Morgana anunciou antes de ligar o cronômetro mais uma vez indicando que Sam e eu podíamos começar.

Samantha nunca perdia tempo e sempre era a primeira a tentar atacar, desta vez ela quase conseguiu me acertar já que eu estava distraída pensando na minha própria desgraça, mas aquilo me obrigou a prestar atenção total no que eu fazia.

Ela parecia muito focada em tentar me acertar na cabeça mais uma vez e acabaria acertando uma vez que eu já estava exausta e mal conseguia escapar de seus golpes mais fracos, aproveitei-me da vantagem de saber onde ela queria acertar e me foquei em acertar suas pernas que estavam completamente vulneráveis, com um só golpe forte em seu joelho a fiz cair e dominei-a pelo ombro, colocando-a no chão e imobilizando seu corpo com meu peso.

—Você não cansa de me surpreender, Williams.

Meu cabelo pesava caído dos lados de meu rosto e eu não conseguia ver quem falava, mas a voz não era uma que eu fosse capaz de não reconhecer.

Saí de cima de Samantha e ambas ficamos de pé imediatamente, a chuva parecia cada vez ficar mais forte e gelada, mas não era ela que me fazia tremer.

—Mas assim como eu gostaria, você se desenvolveu muito mais rápido do que eu imaginava, já faz coisas que nem passavam pela minha cabeça ver acontecer com meus próprios olhos. Fico feliz que não esteja me decepcionando. -ele mantinha as mãos atrás das costas e um sorriso de canto estava pendurado em seu lábio, ele parecia tão satisfeito que eu tinha vontade de vomitar.

Eu esperava que alguém ali fosse dizer algo, mesmo que Max ou Morgana agradecessem pelo reconhecimento que ele havia dado aos meus treinos, qualquer coisa, mas todos ali continuamos no mais profundo silêncio.

Thomas estava parado atrás do pai e seu rosto não ostentava nenhuma expressão, mas seus olhos… Me encaravam mais intensamente do que nunca antes. Já fazia aproximadamente uma semana que eu não o via e ter que observá-lo de longe e atrás do pai doeu mais do que eu imaginava.

—Fez bem em trazê-la para cá, garoto. -o pai falava com ele, seus olhos permaneceram no mesmo lugar, era como se ele fosse incapaz de desviar o olhar mesmo sabendo quais eram as consequências por desobedecer o pai. -Continuem com o bom trabalho.

Observá-los enquanto subiam as escadas para fora da sala de treinamento foi pura tortura, eu queria que ele ficasse, mas não com o pai dele ali, era como se ele tirasse minha força vital apenas por respirar o mesmo ar que eu, e eu não podia ter um sem ter o outro, tudo estava indo por água abaixo.

—Isso foi intenso. -Max exasperou com as mãos na cintura, ele e Morgana se entreolharam e pareceram chegar a um acordo silencioso. -Vamos acabar por aqui então, já fizemos o suficiente por hoje.

Não consegui dizer nada, eu e Samantha saímos da chuva lentamente e em silêncio, apenas nossas respirações e o som das gotas atingindo o chão podia ser ouvido, nada podia ser dito.

Max colocou uma toalha em meus ombros gentilmente e eu só percebi o quanto tremia ao senti-lo segurando minha mão, a dele estava tão quente comparado a minha, ele não disse uma palavra sequer, me encarou por alguns segundos e eu sabia que ele sentia muito por tudo aquilo, todos sentíamos.

Dispensei sua companhia até o quarto naquela noite e avisei aos criados que naquela noite eu jantaria em meu quarto.

—O rei nos disse que planejava jantar ao seu lado esta noite. -Ava murmurou com a cabeça baixa.

Meu cérebro estava esgotado e tudo o que eu menos queria era ter que vê-lo novamente, ele não tinha feito nenhum tipo de tentativa de aproximação antes, aquilo podia significar que as coisas estavam prestes a mudar.

E eu não sabia o quão submissiva eu conseguiria ser na frente dele, não conseguia confiar em meu autocontrole o suficiente para ir para aquele jantar sem receios.

—Tudo bem, Ava. Então descerei para o jantar, não se preocupe, obrigada.  -usei minhas últimas energias para esboçar um sorriso e vi quando ela respirou visivelmente aliviada, mas quem poderia culpá-la por não querer falar com ele afinal?

Fechei a porta do quarto e percebi que eu não tinha como me preparar para aquilo, eu tinha menos de uma hora para me sentar com ele naquela mesa, comer ao seu lado e responder a quaisquer que fossem as perguntas que ele fosse me fazer.

Era estranho pensar no quão feliz eu estava há duas semanas atrás, antes dele chegar, eu me sentia em casa, confortável e segura. Tudo o que eu sentia agora era receio, exaustão e raiva. Eu não sabia se os deuses estavam me castigando, mas se não estavam, era o que parecia.

Tomei um banho rápido e encontrei Ava parada no meio do quarto a minha espera, torci para que ela dissesse que o jantar havia sido cancelado, mas não foram estas as palavras que saíram de sua boca.

—Escolhi esse vestido para que você use no jantar, vai agradá-lo se você aparecer vestida dessa forma. -ela falava enquanto passava a mão no tecido macio do vestido que estava esticado em cima da cama, ele era de uma cor azul-esverdeada maravilhosa, me perguntei porque Ava saberia de uma coisa como aquelas.

—Obrigada Ava, você me salvou. -sorri.

Fiquei muito agradecida por ela ter feito aquilo, muito mesmo. Aquilo me fez notar também há quanto tempo eu não sorria, tinha sido tão estranho sorrir para Ava daquela forma, era como se eu não soubesse mais como sorrir.

Vesti a peça de roupa e notei o quão leve ele era, era muito confortável… Mas nada conseguia me tranquilizar.

Decidi que sair do quarto e ir até lá encará-lo logo de uma vez era melhor, assim talvez eu sofreria menos.

—Aonde vai vestida assim?

Centenas, milhares e milhões de pedaços de mim se espalharam pelo chão assim que ouvi sua voz. Eu já não respirava mais.

—Katherine?

—Tenho um jantar com o rei. -sussurrei, tentando meu melhor para manter a postura.

Eu não o olhava diretamente, mas usando a visão periférica e ao julgar por sua linguagem corporal ele não estava feliz ao ouvir aquilo.

—Não vá.

Pela primeira vez em semanas, tive vontade de rir. Que tipo de coisas passavam pela cabeça dele quando ele dizia essas coisas? Não vivíamos um conto de fadas e ele não podia me salvar do vilão, então eu gostaria que ele parasse de fingir ser o herói porque eu com certeza não era a mocinha em perigo.

—Não existe essa opção Thomas, me dê licença porque já devo estar atrasada. -ele tentou chamar minha atenção, mas ignorei seus chamados e fugi de seu aperto quando ele tentou segurar minha mão, eu não podia fazer aquilo agora, não conseguiria lidar com ele e então com o pai, eu esperava que ele conseguisse enxergar isso.

A porta da sala de jantar já estava aberta e velas decoravam a mesa toda, ele se sentava a cabeceira e parecia beber algo de um cálice dourado.

Fiz um movimento de cabeça microscópico ao entrar em seu campo de visão e me sentar em meu lugar de sempre, ele movia o cálice em movimentos circulares enquanto observava o líquido dançar do lado de dentro, não fez questão de me olhar nenhuma vez.

—Imagino como deve ser difícil para você viver tudo isso, sei que no mundo humano eles quase não tem mais reis nos dias de hoje.

—Não, não tem.

—Você se acostuma com o passar do tempo, todos os estudantes que vem do mundo mundano lidam com isso, ou pelo menos é o que ouço dizer, sabe, nós nunca tivemos vampiros vindos do mundo humano, eles só fogem daqui para ir para lá, mas nunca voltam. -ele sorria como se saber que seus súditos se esforçavam para escapar dele lhe trouxesse algum tipo de alegria macabra. -Queria ter mais algum filho legítimo para que Thomas não fosse a única opção com a qual eu pudesse casar você, mas minha esposa não tem se mostrado de nenhuma utilidade nos últimos anos.

A comida havia sido posta na mesa e meu sangue gelou nas veias ao ouvi-lo dizer aquelas coisas, o encarei como se ele fosse louco.

—Não achei que fosse ter alguma reação negativa quando eu dissesse isso, já que sei que vocês dois tem sentimentos um pelo outro, mesmo eu tendo dito aquele idiota para não se envolver com você. Ele tem dificuldades para fazer o que eu o mando fazer sabe…

Meu corpo parecia estar em ebulição, me concentrei em mastigar minha comida e em conter a energia furiosa que suplicava para ser solta naquele homem, eu devia aproveitar enquanto ele me contava coisas úteis.

—Mas consigo ver porque ele se apaixonou por você primeiro, talvez ele não seja tão idiota assim. -ele se espreguiçou na cadeira e sua coroa escorregou indo em direção ao chão e com um movimento extremamente rápido a ponto que meus olhos mal conseguiram captar, então ela estava de volta ao seu lugar.

Eu não tinha a mínima ideia da dimensão dos poderes dele.

—Sabe, a história dos seus pais é uma bem dramática para o meu gosto, sabe. Mas tem lá seu valor, afinal você é uma das bruxas mais poderosas que já nasceu, eles só erraram te mandando para o mundo humano para aquela feiticeira cuidar, você poderia ser tão poderosa agora… Mas creio que desta forma seja melhor, não tendo dimensão do que pode fazer, mas pelo menos tenho controle sob você, se Fleur estivesse tomando conta de você eu jamais conseguiria colocar as minhas mãos em você. -ele parecia irritado só de pensar no que “Fleur” faria comigo para me deixar longe dele.

—Não estou do seu lado.

—Você pode ficar em negação por quanto tempo quiser, princesa, mas isso não mudará o fato de que vive sob o meu teto e as minhas custas, você está do meu lado. -ele parecia se divertir com a minha petulância.

—Porque estão me chamando de princesa?

Eu me lembrava quando me chamavam de princesa em Santa Marcelina, nunca fizera sentido mas eu não havia ficado incomodada o suficiente para perguntar, mas ouvir aquilo sair da boca dele me fez ter vontade de morrer.

—Fleur é a rainha, então como é o comum todos os seus descendentes são príncipes e princesas. -ele deu de ombros, sem se importar em manter o decoro na minha frente.

A sala de jantar ficava no corredor principal e eu conseguia ouvir tudo o que acontecia pelo castelo caso me focasse de verdade, mas foi impossível não ouvir quando a porta da frente fora arrombada com tanta fúria.

—Mantenha-se protegida. -ele falava comigo conforme andava na direção daquilo que causava o transtorno, desejei que o que quer que fosse podia matá-lo primeiro.

—Por favor…

Um corpo semi-morto estava ajoelhado na frente dos portões com apenas uma mão levantada, consegui reconhecer como feiticeiro, mas não sabia quem era.

—Katherine.

Ao ouvir a pessoa dizer meu nome notei que era a professora Marise, mas não fazia o menor sentido que ela estivesse ali naquele estado.

—Professora? -andei cada vez mais depressa tentando chegar até ela quando senti o rei segurar-me pelo braço.

—Quem é ela e porque eu não deveria matá-la agora?

—Ela é uma professora de Santa Marcelina, ela é uma feiticeira muito habilidosa, não a mate.

Ele não pareceu muito convencido pelas minhas palavras, mas reconsiderou ao ver Thomas correr em nossa direção.

—Espero que ela seja de alguma utilidade. -foram suas únicas palavras antes de nos dar as costas, ele nem sequer se importou se ela ficaria viva ou não.

—Professora? Como veio parar aqui? -eu a segurava e percebi que ela não estava machucada como parecia, algumas partes de suas roupas estavam rasgadas, mas ela não sangrava e mal estava suja.

—Deixe as perguntas para depois, vamos levá-la até a enfermaria. -ele parecia incomodado com as minhas perguntas, pegou a professora no colo e a levou para a enfermaria rapidamente.

Meu colar esquentava no peito conforme Anastasia a analisava, algo dentro de mim me dizia que algo ali estava muito errado.

—Acha que eu estava errada em perguntar porque ela estava aqui? -chamei a atenção de Thomas puxando-o pela manga, ele parecia muito preocupado com Marise.

—Aquele não era o momento, só isso. -ele estava sério e não parecia querer discutir aquilo naquele momento, mas eu não estava no meu humor mais benevolente e ele também estava agindo muito estranho.

—Porque está assim? Ela significa algo para você?

—Se me preocupar mais com a vida dela do que com os motivos dela faz com que ela signifique algo para mim, então sim. Não sei onde você estava com a cabeça francamente, o que faria caso eu não estivesse ali? Deixaria meu pai matá-la primeiro ou a deixaria morrer por não responder suas perguntas?

—Você como uma pessoa com muito mais experiência do que eu deveria enxergar o que eu vejo, não acha estranho que ela tenha aparecido aqui no meio da noite há quilômetros de Santa Marcelina depois de uma viagem de dias e esteja praticamente ilesa? E como ela sabe que estou aqui afinal? Meu nome foi a primeira coisa que ela disse assim que entrou. -meu tom de voz havia aumentado, mas eu estava realmente perdendo minha paciência com ele quando ele agia como se eu fosse completamente maluca de agir com a razão.

Eu nunca havia confiado em Marise antes, mesmo quando eu ainda era ingênua o suficiente para contar meus segredos para qualquer pessoa eu nunca havia me arriscado a falar com ela, agora que eu tinha o mínimo de experiência eu achava mais perigoso ainda qualquer contato com ela, ela não me passava nenhuma confiança.

—Todos naquele castelo devem estar procurando por você, ou já se esqueceu que fugimos?

Era algo que eu realmente havia me esquecido, mas ela como feiticeira não tinha a menor garantia de me encontrar e nem de sair viva daqui, ela não tinha porque vir até aqui especialmente sozinha.

Falar com Thomas seria perca de tempo, e eu também não tinha prova alguma para fazer alguma acusação ou levantar alguma suspeita dela. Tudo o que eu podia fazer era ficar de olho nela.

Anastasia nos disse que ela estava perfeitamente bem e provavelmente havia desmaiado por causa do uso excessivo de magia.

Eu já não aguentava mais estar consciente, não aguentava mais piscar ou respirar, meu cérebro clamava por descanso.

Thomas insistiu em subir para o quarto junto comigo e subimos a escada num tipo novo de silêncio incômodo que nunca havíamos experimentado antes.

—Me perdoe pela forma com que falei com você na enfermaria.

Meu coração acelerou tão inesperadamente que me peguei sem ar.

—Está perdoado. -murmurei. -Quero que me responda algo, mas saiba que se não conseguir me responder não vou descansar até conseguir a resposta.

—O que é?

Uma vez dentro do quarto me sentei na cama e respirei fundo, mesmo que eu tivesse dito que não descansaria até conseguir as respostas, o que era verdade, eu ainda esperava que fosse ele a me contar.

—Quem é Fleur?

Thomas arregalou os olhos levemente, ele não queria que eu soubesse que o surpreendi, mas estava explícito em sua expressão que aquela não era uma pergunta que ele imaginava que eu faria.

—Fleur é… A rainha dos feiticeiros, a rainha do sul. Porque quer saber?

Os pensamentos apareciam em minha mente como fogos de artifício, tanta coisa estava acontecendo, mas eu precisava que aquilo acontecesse ali e agora.

—Porque seu pai disse que sou a princesa porque os filhos de Fleur são príncipes e princesas, Thomas? -eu tremia, mãos pernas e tudo em mim era instável e destrutivo.

—Ele te disse isso?! -Thomas levou as mãos aos cabelos e não consegui me dar ao luxo de me importar com o que ele sentia naquele momento.

—Responda.

—Fleur é a rainha do sul, rainha dos feiticeiros e… e ela é sua mãe. -Thomas murmurava e evitava olhá-la nos olhos, ele sabia que ela o odiaria por isso e isso o matava por dentro, só ele mesmo e os Deuses sabiam quanto ele queria que aquele momento nunca chegasse.

Era impossível acreditar que aquilo estava realmente acontecendo, na cabeça de Katherine era tão injusto que a vida dela estivesse de fato se tornando em um maldito conto de fadas trágico e indesejado. Milhares de pessoas morreriam por estar na situação em que ela se encontrava agora, todos queriam ser da realeza. 

A ironia era tanta que quase não havia espaço para a parte cômica da coisa, ela nunca havia tido nenhuma chance real de tomar nenhuma decisão, nunca desde o começo, desde o acontecido no telhado, foram ordens e ordens que foram jogadas em sua cabeça e enfiadas por sua garganta, das quais ela obedeceu a todas sem questionar, e esse havia sido seu erro. 

Ela tinha sido obediente demais, submissa demais, resignada demais, aquele havia sido seu erro, deixá-los pensar que ela nunca se revoltaria, que poderiam fazer o que quisessem com ela. 

Ela só queria ficar em paz com seus amigos e com seu namorado, mas depois de descobrir que eles sabiam o tempo todo de algo que ela havia passado a vida inteira buscando, ela não queria mais nada relacionado a eles, esse tipo de traição era algo que não podia ser facilmente perdoada.

Era sufocante e doloroso saber que eles haviam traído sua confiança durante todo esse tempo, ela entendia que eles sempre disseram que havia um grande segredo, mas ela perdoaria caso não fosse algo pelo qual ela passou a vida toda procurando. Eles sempre souberam, e nunca disseram nada.

Seu peito doía e suas mãos suadas tremiam ao lado de seu corpo, ela não conseguia tirar os olhos dele, Deuses como ela havia confiado nele... 

Seu corpo inteiro parecia feito de energia pura, ela mal conseguia respirar e seus pés não pareciam tocar o chão, fúria e dor atravessavam seu corpo como facas, eles não tinham direito de fazer aquilo, eles não podiam ter feito aquilo, e agora se arrependeriam de ter feito.

—Kate, me ouça… -ele tentava se aproximar sem sucesso algum uma vez que a redoma de energia que havia em volta da garota era forte como uma parede de aço, ele não sabia como ela estava fazendo aquilo, mas desejava que ela parasse antes que se machucasse, Thomas sentia a própria voz falhar e as mãos tremerem pelo que pareceu a primeira vez na vida, ele morreria por ela, bem ali e pelas mãos dela se ela desejasse.

—Não fale comigo. -sua voz soava diferente, mais poderosa. Ele não teve escolha senão recuar. -Você não tinha o direito de esconder isso de mim, quem você pensa que é para lidar com a minha vida desse jeito? Quem vocês todos pensam que são para me tratarem como um cão que sempre vai aceitar qualquer merda que vocês disserem com um sorriso no rosto e um abanar de rabo?! -cada palavra que saía da boca dela fazia as paredes tremerem, Thomas sentia o ar faltar em seus pulmões, ele nunca tinha presenciado tanto poder antes. -Vocês vão aprender a me respeitar.

Eles iriam aprender como uma força da natureza realmente se comporta.

Ao levantar a mão, todos os móveis do quarto se tornaram pó e começaram a girar pelo quarto, criando uma grande bola de areia que veio a se transformar numa espada brilhante e afiada, ela não os venceria apenas com magia.

De alguma forma sua magia se manifestava praticamente sozinha, sendo guiada pelos sentimentos ferventes da garota, era como se ela fosse um receptáculo de algo tão maior que ela que seus sentimentos eram mero impulso para o que ela era capaz de fazer, quando ela estava feliz, o tempo melhorava, e quando furiosa, era capaz de matar pessoas.

—Não faça isso, não me obrigue a fazer isso. -ele suplicava com as mãos esticadas à frente do corpo como se isso fosse protegê-lo de alguma forma, ela não se importava com nenhum deles naquele momento, a dor da traição e a raiva que sentia deles e de si mesma era mais forte que qualquer coisa.

—Você não é obrigado a lutar comigo, pode apenas morrer. -grunhiu a garota antes de atacá-lo com toda a sua força e vê-lo desviar de sua lâmina segundos antes que ela acertasse seu braço, ela tinha a força, mas ele ainda tinha a velocidade a seu favor.

Ele desviava de seus golpes um após o outro e um após o outro sem parar nem por um segundo e ela só queria que ele ficasse parado logo de uma vez!

Agarrou-o pela garganta ao calcular seu movimento -Thomas costumava repetir seus movimentos pelo menos três vezes durante uma luta - e o prendeu com um feitiço, ela sentia com clareza o quanto ele se arrependia e o quanto ele a temia agora, ele mais do que qualquer pessoa sabia o que a dor e o ódio eram capazes de fazer com alguém.

—Me perdoe, por favor, me perdoe. -ele implorava tentando se soltar do aperto da garota a sua frente, ele não a reconhecia mais, um brilho tão ofuscante coloria sua íris naquele momento e ele soube que não conseguiria nada falando com ela.

As palavras dele fizeram com que ela apenas sentisse pena de si mesma e ainda mais ódio por sentir que ainda o amava apesar de tudo, as palavras dele não deviam ter efeito algum em seu coração, não depois de ele o ter tido nas mãos e o jogado fora. Ele não merecia nenhum sentimento vindo dela, ele não merecia nada.

—Eu quero o caos. -ela apertava sua garganta cada vez mais, ele segurava seu punho com força, mas ele jamais poderia vencê-la, a energia de sua magia superava qualquer força física que ele possa ter.

Katherine foi jogada do outro lado da sala por Morgana e ao olhá-la nos olhos sentiu sua ira acender-se novamente, ela não deixaria que eles a dominassem com sentimentalismo mais uma vez.

—Pare com isso! Nós podemos conversar, não me obrigue a fazer isso, por favor. -ela pedia com lágrimas nos olhos, nada bastava.

Max se esforçava para levantar Thomas do chão, o pescoço do garoto estava marcado onde a mão da garota havia estado, ela não chegava nem perto de estar satisfeita.

—Não deviam ter me usado, não deviam ter mentido para mim esse tempo todo, deviam ter me contado a verdade enquanto eu ainda era boazinha. -em um segundo ela estava de pé mais uma vez e sua espada estava ao seu lado, havia tanta raiva e ressentimento em seu corpo que até mesmo olhar para eles era doloroso.

Tanta confiança, tanto carinho, tanto amor… E para quê?

—Não posso deixar que você se transforme nesse monstro. -engasgou Morgana no meio de um choro compulsivo, espalmou as mãos no chão e por um segundo tudo ficou quieto, então um clarão se abriu bem a frente aos seus olhos e de repente nada mais tinha forma ou cor, Katherine não sentia mais sua energia, nem a ponta dos dedos, e em um segundo também já não estava mais consciente.

 

                [...]                                                                                                                                                                                                                    

 

Abriu os olhos num susto, seu coração batia mais rápido do que nunca, olhou ao redor e sentiu uma dor lancinante na cabeça e no pescoço e quase desmaiou ao perceber que estava debaixo d’água.

A luz era mínima mas a forma com que ela prendia a respiração dava a entender que ela já estava ali embaixo há algum tempo, ao tentar nadar para longe notou quão fria a água estava.

Usou toda a força restante em seu corpo para chegar a superfície antes que seu fôlego acabasse e quando chegou a costa notou que devia ser por volta das cinco da manhã, o sol mal havia nascido e não havia nenhuma luz acesa nas poucas casas que haviam ali a frente da praia.

Sentou-se na areia e começou a tremer incontrolavelmente, ela não sabia quanto tempo havia passado debaixo d’água, mas seu corpo parecia uma pedra de gelo. Pensou por um segundo que todos os meses que ela havia passado em Santa Marcelina e no Castelo dos Collins tivessem passados apenas de um grande pesadelo e que ela só tinha sofrido um acidente e ficado desmaiada no fundo do mar por muito tempo, mas ao ver a marca em formato de meia lua ainda em seu braço sentiu que não tinha mais esperança alguma.

Sua cabeça ainda latejava e tudo ainda estava muito desconexo, como peças de um quebra-cabeças jogadas uma para cada lado, ela só se lembrava de ter ficado infinitamente furiosa e então um clarão e acordar na praia.

Ela usava um vestido verde que com certeza era do castelo de Thomas, a julgar pelos tecidos luxuosos, se esforçou para sair da praia e chegar até as casas, mas estava fraca demais, cada vez que piscava os olhos era um sacrifício, desmaiou no chão em frente a uma casa qualquer antes que pudesse fazer qualquer coisa.


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Notas finais do capítulo

:)



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