Lost escrita por Gabs


Capítulo 19
XIX


Notas iniciais do capítulo

oioi primeiramente feliz ano novo!!!!!
e segundo... esse capítulo foi bem tenso de escrever e demorou muito tempo até que eu achasse as palavras certas para fazê-lo, mas fiquei orgulhosa do resultado e aqui está o resultado de um mês de tentativas sem parar, sete mil palavras.
espero que gostem, do fundo do meu coração.



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Não consegui dormir naquela noite, e nas poucas horas em que o cansaço me derrubou, me mantive inquieta e não consegui descansar.

Anastasia havia ido para seu quarto assim que a assegure que ficaria bem, Morgana e Max permaneceram em meu quarto, e não se demoraram muito para cair no sono espalhados de forma desconfortável um sobre o outro na cama, tentei cobri-los com a coberta, mas estavam deitados de forma tão jogada que não consegui, pareciam duas crianças, ri da situação.

Thomas ainda não havia voltado e eu não sabia se voltaria, e eu permaneci esperando, imaginei que tipo de coisas ele devia estar discutindo com a irmã e onde eles deviam estar, não conseguia parar de pensar.

As primeiras luzes do nascer do sol surgiram no horizonte e decidi me levantar devagar para não acordá-los, fui devagar até a varanda deslizando o trinco com delicadeza e saindo, o ar fresco pareceu me libertar.

Fechei os olhos e fingi que nada tinha acontecido, deixando-me levar pelo sentimento de leveza e conforto que eu sentia ali, respirei mais devagar e o que pressionava meu coração ficou mais leve, talvez aquilo realmente não tivesse sido o pior que podia acontecer. A camisola que eu usava flutuava ao meu redor, dançando com o vento.

Pelo menos eu tinha conseguido tomar meu banho, ri com o pensamento de consolo.

—O que é engraçado? 

Thomas estava ali na porta da varanda ainda vestido com as mesmas roupas e carregava um olhar de consolo, eu não precisava daquilo naquele momento.

—Como ela está?

—Impressionada.

—Uau, e porque vocês agem como se aquilo tivesse sido uma coisa boa? -ri com escárnio.

—Porque eliminou a competitividade que poderia ter acontecido caso tivessem se encontrado de qualquer  outra maneira, ela iria querer mostrar a você que domina este território e você iria deixá-la fazer isso, e mostrando a ela o quão forte você é diminuindo as habilidades físicas dela a quase nada mostrou a ela que você não é alguém que ela deveria tentar brincar. Você devia ter ouvido o quanto ela falou bem de suas habilidades.

—Me sinto culpada. -encarei-o, ele muito provavelmente já sabia como eu me sentia, mas eu queria ser cem por cento honesta sobre isso, eu queria falar sobre como eu me sentia, ao invés de guardar tudo e deixar que os outros tomem as próprias conclusões e vice-versa.

Ele se aproximou devagar e deixei que viesse, ele segurou ambos os meus ombros e ergui os olhos para olhá-lo.

—Você é a única pessoa neste castelo inteiro que não deveria estar se sentindo assim. -ele me abraçou devagar e apoiou a sua bochecha em minha cabeça suavemente, me senti acolhida. -Você impressionou a todos esta noite, devia ficar orgulhosa. Sabe, você não machucou a Sam ou nada do tipo, imagine que o que aconteceu foi como o duelo que tive com Morgana aquela vez, uma de vocês tinha que provar que era a melhor, e você ganhou de lavada.

Ela tinha dito que tinha gostado de mim e não tentou me atacar após se levantar, eu acreditava naquilo que meus olhos tinham visto. Eu iria ressignificar aquele momento, eu não havia feito nada de errado e não era justo que eu me sentisse como se tivesse.

—Desculpe ter levado tanto tempo para voltar. -ele beijou o topo de minha cabeça e me segurou com mais firmeza, segurei suas roupas com força. -Eu precisava que ela me dissesse quando nossos pais vão voltar e ela queria saber toda a história e você sabe como é longa.

—Não tem problema, imaginei que você estivesse resolvendo algo sério, não precisava ter voltado.

—Não preciso descansar e ainda tinha toda a noite depois que ela me expulsou do quarto para fazer algo, mas não pensei que ao chegar aqui te encontraria acordada.

—Não consegui dormir. -me soltei do abraço e me apoiei na varanda atrás de mim, senti o ferro frio atravessar a camada fina de roupa que eu vestia até chegar a minha pele, senti um arrepio leve subir até a minha nuca.

—Imaginei que talvez pudesse perder o sono. Queria que tivéssemos conseguido resolver nosso assunto de mais cedo. -ele sorriu e tocou minha cintura levemente, só com as pontas dos dedos, e não consegui conter o riso.

—Eu também. -ergui o braço e Thomas se deixou ser puxado, ele ainda vestia as mesmas roupas da reunião e agora eu sabia onde podia puxá-las, segurei suas mãos e elas estavam quentes comparadas as minhas, olhei-o nos olhos e não conseguia parar de sorrir como uma boba.

—Quero que fique bem, nada disso foi sua culpa e não é justo que você se sinta assim. -um beijo tenro foi colado a minha testa e ele se demorou ali, me apertando em um abraço.

—Vou ficar bem. -murmurei passando a mão por seu rosto suavemente, cada detalhe importava, naquele momento senti, em sua forma mais pura, carinho.

Imaginei que era daquela forma que Anastasia sondava nossos sentimentos, era energia pura, não tinha como se enganar, como falsificar, como fingir. Saber o que ele sentia me parecia algum tipo de trapaça, mas fui envolta num manto de felicidade assim que me dei conta.

Ele não mentia para mim sobre o que sentia, e agora eu conseguia saber de tudo.

Carinho, admiração, proteção, desejo.

Os meus não eram muito diferentes, me perguntei se aquilo era amor.

Segurei seu rosto com força ao beijá-lo da forma mais intensa que conseguia, ele me colou ao seu corpo imediatamente, empurrei-o abruptamente no meio do beijo e Thomas não se afastou, mal parecia ter percebido que eu o empurrara, apenas parou de me beijar.

—E Max e Morgana?

—Ah, dispensei os dois assim que entrei, disse a eles que podiam ir descansar em seus quartos. -sorriu me dando espaço para observar dentro do quarto e ver com meus próprios olhos que eles não estavam mais ali.

Suspirei aliviada e me segurei em seus ombros, ri de minha própria preocupação.

—Mais confortável agora? 

O sol já havia nascido e os olhos de Thomas refletiam seu brilho em quase toda a sua beleza.

—Muito mais. -segurei-me em seu pescoço e me ergui para ficar mais próxima dele e beijá-lo da forma que eu queria.

O começo de nosso beijo foi envolto em sorrisos e risadas, não existia toda aquela tensão da hora do almoço e estávamos sozinhos e tínhamos todo o tempo que quiséssemos. 

Eu segurava em seu rosto como se quisesse me assegurar que ele estava mesmo ali, ele me segurava de forma que eu sempre sentia como se estivesse sendo abraçada por ele, constantemente envolta em seus braços.

Thomas não demorou muito para deixar as sutilezas de lado e me segurar em seu colo, minha roupa era muito fina e suas mãos eram muito fortes contra a minha pele, não consegui conter o grunhido que escapou por meus lábios quando ele segurou minha coxa com força ao me levar para dentro do quarto novamente, mas eu não deixaria que ele tivesse o prazer de me fazer gemer tão rápido.

Ao contrário do que eu pensava ao entrarmos no quarto ele não me colocou na cama, ao invés disso sentou-se na cama comigo em seu colo, ele também parecia não querer me dar nenhum tipo de vantagem. Desceu seus lábios pelo meu pescoço, mas trilhou um caminho diferente do que havia feito anteriormente, não levou os lábios por meu ombro, seguiu em linha reta por entre o decote de minha camisola, senti todos os meus músculos tensionarem no que ele seguia descendo com uma lentidão massacrante, eu tinha muita vergonha de meu corpo, não consegui deixá-lo continuar.

—Isso precisa sair. -murmurei ainda de encontro aos seus lábios tentando tirar seu foco dos beijos que ele trilhava cada vez mais para baixo enquanto abria os belos botões de sua túnica apenas para revelar algo muito mais bonito por debaixo dela.

Eu sabia que Thomas tinha muita experiência com garotas e eu já havia feito sexo algumas vezes, mas aquela parecia importante de uma forma diferente, minhas mãos tremiam um pouco conforme eu desabotoava um botão por vez.

Thomas era forte e tinha músculos na medida certa, como se tivessem sido esculpidos em sua pele, esta que era tão macia que quase pensei que pudesse confundi-la com os lençóis abaixo de nós, ele era tão, tão lindo.

Foi então a minha vez de beijar toda a extensão de seu pescoço, a linha de seu maxilar e suas clavículas, tirei sua camisa e a derrubei no chão desajeitadamente, passei as mãos por seus braços e por suas costas como se minhas digitais fossem capazes de gravar para sempre a sensação de tocá-lo.

Enquanto eu o beijava, desta vez nos lábios, senti suas mãos subirem de meus joelhos até minhas coxas por debaixo do fino tecido que nos separava, quando me dei conta sua mão já estava subindo pelo meu quadril tocando minha calcinha devagar, com todos os dedos. Então segurou-me e me ajeitou em seu colo, olhei-o nos olhos e sorri mais uma vez, seus lábios estavam vermelhos e inchados e seus olhos carregavam tanta luxúria quanto era possível.

—Você parece estar incomodada com algo, não me deixa tirar isto. -puxou a barra da camisola de leve, evitei olhar em seus olhos. -Isto precisa ir também para que cheguemos a algum lugar.

Ri ao perceber que ele havia usado minha frase contra mim.

—Sei, só tenho vergonha de meu corpo, estou com receio do que vai pensar.

—Essa camisola é tão transparente que acho que não tenham muitas coisas que eu não tenha visto a esse ponto. -abri a boca em descrença, ele não me deixou dizer nada e logo voltou a falar. - E se o que tem debaixo dela for minimamente parecido com o que eu vejo quando está vestida, então sei que seria impossível que eu pensasse em qualquer coisa que não fosse deuses, ela é a coisa mais bonita que já vi em toda a minha vida. —seu sorriso era tão grande e brilhante que eu conseguia ver todos os seus dentes, não consegui não sorrir também, ele tinha me feito sentir muito mais confortável naquela situação.

—Quero você. Muito. -foi tudo que consegui dizer, meu corpo transbordava alegria e expectativa.

—Você nem imagina o quão recíproco é, mas sabe que podemos parar se você quiser, certo? -ele segurava meu rosto com ambas as mãos e me olhava nos olhos, eu não conseguia parar de sorrir.

—Sei, mas não vou querer, nunca. -segurei-o e o beijei, devagar desta vez, tomando nota de seu gosto, textura e calor.

Ele colocou-me mais para cima em seu colo e segurou minhas nádegas com força, respirei fundo em surpresa e Thomas ria debaixo de mim.

—Você é perverso. -murmurei plenamente consciente de que meu rosto estava mais quente do que nunca, eu não deveria tê-lo deixado saber qual era meu ponto fraco.

—E você é deliciosa. -mordeu meu lábio e então me deu um selinho, estava me provocando. -Posso tirar isso?

Agora que eu sabia que ele já tinha visto mais do que o suficiente xinguei aquele pedaço estúpido de pano ao fazer que sim com a cabeça para ele.

Ele tirou a camisola com tanta lentidão e fez questão que seus dedos tocassem cada centímetro de pele desnuda no caminho, sofri ao conter um gemido comprometedor que subia por minha garganta como ervas daninhas, ainda não daria esse gostinho a ele.

Quando a peça de roupa finalmente estava no chão Thomas achou apropriado que levasse o tempo que ele julgava necessário para catalogar cada centímetro de mim que se estendia a sua frente, ele parecia capaz de me devorar viva.

—Pare de me olhar assim! -obriguei-o a me olhar nos olhos e o sorriso sujo que ele possuía nos lábios me causou calafrios.

Então ele trocou nossas posições na cama de forma tão rápida que mal notei quando fui colocada sob os lençóis, então ele finalmente tinha a vantagem que queria.

—Você é indescritivelmente magnífica, tocar em você é viciante. -ele murmurou passando dois dedos por minha barriga, eu ficaria muito arrepiada caso já não estivesse com quase todos os meus sentidos focados apenas nele.

Thomas beijou minha barriga, meu estômago e cada milímetro que antes era coberto pela camisola, eu sofria a cada toque de seus lábios em minha pele. Senti-o morder a parte interna de minhas coxas e não consegui não gemer antes de olhá-lo, ele sorria.

Aquela região era tão sensível que cada vez que ele me tocava eu sentia como se minha pele fosse papel e ele estivesse escrevendo o mais belo dos poemas em minha derme, eu logo não aguentaria mais.

Ele me segurou e me colocou mais para cima na cama e então de forma feroz tomou meus seios para si e os beijou e mordeu da forma que achava apropriada, não consegui contar quantas vezes eu gemi conforme ele se deliciava em mim.

O vento que entrava pela janela era fresco e muito bem vindo em nossos corpos suados e quentes, eu nunca quis tanto tocar alguém e ter alguém como naquele momento, ali quis que Thomas fosse só meu.

Ele fora incrivelmente gentil comigo o tempo todo e fazia questão de me olhar e ter certeza de que eu estava bem.

Mas quando já estava dentro de mim os gemidos não deixavam que ele tivesse dúvida do quão bem eu me sentia.

Não fiquei tímida nem me encolhi e senti-o todo, cada mínimo movimento dele e meu, prestei atenção em todos e não contive mais nenhum som que implorava para sair de meu âmago, as coisas só foram ficando melhores quando ouvi que ele também gemia, tomei a liberdade de provocá-lo ainda mais com meu quadril, ele não deixou barato e também impulsionou-se com mais força para dentro de mim, segurei-me em suas costas com força e não consegui não arranhá-lo ao tentar manter o controle, eu estava na beirada do penhasco.

A luz do sol já entrava no quarto quando tínhamos acabado, Thomas tinha feito questão que eu chegasse ao meu ápice pouco depois dele e a sensação inimaginável de prazer e formigamento foi uma das melhores coisas que eu já havia sentido, meus parceiros anteriores não haviam demonstrado preocupação alguma com o meu prazer.

Não nos importávamos com o suor sobre nossos corpos ou o fato de que eu provavelmente não conseguiria fazer mais nada naquele dia, naquele momento possuíamos um ao outro da forma mais egoísta possível e não planejávamos deixar o outro ir tão cedo.

—Como se sente sabendo que não foi o primeiro? Conheci alguns caras que ficavam ofendidos caso a garota com que eles estivessem se relacionando já tivesse tido outros. -eu desenhava em seu peito conforme ele subia e descia lentamente, ele pensou por um segundo antes de responder.

—Eu teria sido muito gentil com você caso fosse seu primeiro, mas não me incomodo com isso. 

—Minha primeira vez foi muito ruim e dolorosa. -comentei e senti-o fazer carinho em meus cabelos.

—Posso te compensar por ter tido uma primeira vez ruim pelo resto da eternidade, se quiser.

—É uma das coisas que mais quero. -ele beijou o topo de minha cabeça e ficamos ali por algum tempo até que eu caísse no sono.




A cama estava fria quando acordei e ele não estava mais lá, mas eu não acreditava que ele fosse me esperar quando tinha coisas mais importantes a resolver, eu também devia me concentrar em vestir uma roupa, descer para comer algo e ir treinar o mais rápido possível.

Sentei-me na cama e tomei um susto quando o lençol caiu e me lembrei que não estava vestida, ri sozinha. O sol brilhava intensamente do lado de fora e uma brisa deliciosa com sabor de verão tocou minha pele desnuda assim que me levantei, me perguntei se assim todos saberiam como eu estava alegre. 

Coloquei um vestido médio de cor azul bebê e as mesmas sapatilhas brancas que Dante havia me dado, eu nunca conseguia escolher entre as dezenas de opções que existiam ali naquele closet.

—Ei. 

Tomei um susto tão grande que um escudo de energia se projetou ao meu redor em menos de um milésimo, eu tinha acabado de sair do quarto quando ouvi algo sussurrar em meu ouvido, ao me virar encontrei Samantha parada ao lado da porta do quarto com um sorriso muito parecido com o do gato de Cheshire, de Alice no País das Maravilhas.

—Desculpa te assustar. -ela ria. -Bom dia.

—Bom dia. -gaguejei e demorei muito para respondê-la, ainda estava levemente em choque.

—Pode desfazer o escudo agora. -ela tocou a redoma azulada que me cercava e ao seu toque ela parecia feita de vidro, fiquei feliz por conseguir projetar uma com tanta rapidez.

Eu nem mesmo havia notado que o escudo ainda estava ali, me perguntei se ela tinha ficado ofendida.

—Sei que não causei boa impressão ontem e foi uma péssima forma para nos conhecermos, espero que aquela primeira impressão possa ser desconsiderada. Posso te acompanhar no almoço?

Almoço. Provavelmente já passava das duas da tarde, eu não devia ter dormido tanto.

—Claro.

Entrar na sala de jantar foi desconfortável especialmente porque a presença de Samantha ao meu lado era impossível de ser esquecida, se ela fosse capaz de ler mentes saberia exatamente porque ali era o último lugar no qual eu desejava fazer as pazes com ela.

Comi em meu tempo normal enquanto Samantha falava, ela soava mais informal que Thomas embora fôssemos muito menos íntimas, gostei daquilo nela.

Todos falavam comigo sempre de forma tão formal e polida, um pouco de informalidade me fazia bem.

—Meu irmão me explicou o que aconteceu para que tivessem que vir para cá, foi bem arriscado. Mas nada de ruim vai acontecer com você enquanto estiver aqui, não garanto a simpatia de Sua Generosidade Real, mas ele te garantirá proteção. -ela ironizou ao falar do pai, não consegui conter minha curiosidade e decidi que me aproveitaria da intimidade que ela havia me dado.

—Porque falam dessa forma do rei? Ele é tão ruim assim?

—Sim, ele é. E existem ocasiões que ele consegue ser pior do que ruim, ele consegue ser desprezível, mas não acho que você vá conhecer esse lado de meu pai. -ela se apoiava de forma preguiçosa na mesa e não parecia se importar ao falar do pai daquela maneira.

Me perguntei se ele reservava seu lado desprezível apenas para Thomas.

—Sabíamos que te encontraríamos aqui. -Morgana adentrou o salão com Max e os dois pareciam incomodados com a minha ausência no café e no treinamento da manhã.

Pararam de andar ao verem que eu não estava sozinha, e pensaram duas vezes antes de se sentar à mesa conosco.

—Deixei alguns livros em seu quarto, você pode entender algumas coisas melhor se lê-los. -Morgana murmurou entre uma mastigada e outra.

Fiquei imensamente feliz por não ter sido soterrada em perguntas, Megan não pensaria duas vezes antes de me fazer um interrogatório.

Uma dor no peito me atingiu ao pensar nela, quis saber se ela estava bem, se ela e Sophia estavam bem. Ainda não havia conseguido me perdoar por tê-las deixado lá.

—Sabe, Kate… -Samantha olhou-me nos olhos e sorriu de canto, eu não conseguia não me sentir levemente intimidada por ela, mas eu notava que ela estava se esforçando, eu faria o mesmo. -Você é muito boa com as suas habilidades para quem treina há menos de um ano, são poucos os feiticeiros que conseguem me segurar num simples feitiço de contenção, e você fez isso sem muito esforço, foi admirável. Nem imagino quanto você vai poder fazer quando tomar controle total de toda a sua energia.

Ela se levantou e com um meneio de cabeça saiu do salão, respirei aliviada.

—Não pensei que ela fosse tentar se aproximar de você assim, logo de cara. -Morgana comentou baixo, com medo de que a loira ainda estivesse por perto.

—Ela me disse que queria fazer as pazes. -murmurei.

—É a primeira vez que vejo um Collins perder e tentar consertar a situação tão rápido. -Max riu, mas senti um peso ao lembrar-me da forma ruim com que ele havia se tornado próximo de Thomas.

—Samantha não só deve tê-la visto como uma igual, deve ter enxergado seu potencial e quer ter você como aliada. -fiz uma careta quando Morgana terminou de falar e a garota exasperou, pensando em outra forma de explicar a situação. -Ela não é ruim, é mais fácil de conquistá-la comparado ao irmão, e o mais difícil você já fez.

—Ela também sabe toda a minha história?

—Sim. -Morgana se encolheu e evitei olhar para eles, aquilo me incomodava tanto. Eu queria ser um ser individual, uma coisa só, mas sentia como se pedaços de mim estivessem espalhados por aí e ninguém quisesse que eu os pegasse de volta. -Sabe, você não precisa treinar hoje, vá a sala de treinamento ou fique no quarto, faça como quiser, vamos te deixar descansar depois da noite de ontem.

Max assentiu com tanta avidez de seu lado que quase achei que sua cabeça fosse soltar do pescoço.

Saí da sala de jantar antes deles e fui para a sala de treinamento, fiquei sentada no tatame atirando facas num boneco de feno e permaneci com as pernas coladas ao corpo, me sentia insignificante. Pelo menos eu sempre acertava as facas.

Quando olhei para o lado de fora já estava de noite, suspirei e pensei em subir para o quarto, mas sabia que me sentiria ainda mais sozinha se subisse, não sabia o que fazer.

O colar de Anastasia começou a queimar como se pegasse fogo em minha pele e quase arranquei-o de meu pescoço quando me lembrei o que aquilo significava, algo estava terrivelmente errado. A sala estava quieta e nada estava fora do lugar, não movi um centímetro e permaneci ali, esperando o que quer que fosse.

Então, ouvi. Dezenas de sons metálicos similares se movendo em sincronia e passos pesados demais para o chão de mármore, disparei na direção da escada e praticamente saltei para fora do cômodo, mal senti meu pé tocar nos degraus. Ao chegar no andar de cima vi uma grande comoção e fiquei feliz por não estar usando minha roupa de treinamento, ela com certeza não era apropriada para o que estava acontecendo ali.

Todos os criados estavam alinhados como um corredor humano desde a grande porta de entrada até a escada, onde Thomas, Samantha e Dante aguardavam de pé com as cabeças baixas, um calafrio tremendo percorreu meu corpo e de repente não me senti segura, nem um pouco.

Uma mulher alta com cabelos curtos brancos como a neve andava ao lado de um homem alto e inescrupulosamente musculoso, ele aparentava estar na casa dos trinta e cinco enquanto ela não parecia nem ter chego nos trinta. Ambos vestiam roupas impecáveis de cor azul marinho com capas pretas e duas lindas coroas prateadas enfeitavam o topo de suas cabeças, o rei e a rainha.

Cada passo que eles davam era como se roubassem o ar dos meus pulmões, o colar continuava quente em meu pescoço.

Vi a mulher sorrir com carinho ao olhar para Thomas e Samantha, durou menos de dois segundos, mas estava ali. Vi enquanto Thomas tencionava o queixo para manter-se naquela posição de submissão, imaginei como ele odiava a presença do pai mais que tudo no mundo.

—Eu saio por alguns dias e tudo vira de cabeça para baixo, não é? -sua voz era grave e parecia ser projetada por cada azulejo que existia naquelas paredes, sua mão agora estava em seu quadril de forma preguiçosa e ele parecia brincar, mas quando aproximou seu rosto do de Thomas de forma ameaçadora senti a magia dentro de mim se acender como uma fogueira incontrolável, se as coisas continuassem daquele jeito eu testaria todo o poder que Morgana havia me dito que eu tinha tentando acabar com ele. -Porque você voltou?

—Katherine precisava de um lugar seguro para ficar, trazê-la para cá foi a única coisa que consegui pensar, pai. -a voz de Thomas mal passava de um murmuro, meu coração se partiu em centenas de pedaços.

—E porque não a deixou com os da espécie dela? Os idiotas tolos dos pais dela adorariam vê-la. -ele fez um gesto e então todos naquele salão riam, exceto os que estavam na escada e a rainha, que manteve a feição séria o tempo todo e não tirava os olhos de Thomas, que não havia levantado os olhos para encarar o pai nem uma vez. Me senti ridicularizada de uma forma que nunca tinha experimentado antes. -Gostaria de vê-la, onde está a garota semi-humana?

Dei um passo para trás e vi quando Samantha e Thomas se entreolharam, não sabiam o que fazer, o rei já estava perdendo a paciência.

Um dos guardas do rei segurou-me pelo braço sem nenhuma delicadeza ao me levantar do chão como se eu pesasse menos que uma pena, chutei-o nas costelas e me desvencilhei de seu aperto, ele cerrou as sobrancelhas para mim ao cair no chão.

—Ali está, então. E ela sabe lutar, que vergonha para você, Julien, ela provavelmente é tão forte quanto Samantha era quando tinha nove anos. -mais uma explosão de risadas encheu o salão, mas ele ainda parecia vazio de qualquer sinal de alegria.

Julien cuspiu no chão aos meus pés e se levantou, ele não era um simples guarda, tive certeza.

Fez um gesto para que eu o seguisse e fiz uma lista de golpes e feitiços dolorosos que eu usaria nele sem pensar duas vezes caso tocasse em mim mais uma vez.

Fui colocada no meio do corredor como uma atração de circo, vi ali muitos rostos dos quais eu não havia visto uma vez sequer pelo castelo, me perguntei onde todas aquelas pessoas se escondiam.

O rei estendeu a mão em minha direção, mas não chegou a me tocar, e eu sentia nojo só de tê-lo perto de mim, me analisou e esboçou um sorriso perverso.

—É bela, não dá para negar, e furiosa. Seu pai pode ser incrivelmente estúpido, mas conseguiu fazer com que você herdasse dele algumas de suas melhores características, a habilidade para a luta e os cabelos castanhos. E vejo que herdou o belo par de olhos e corpo esculpido de sua mãe, embora espero que seja mais esperta que ela.

—Porque fala tanto deles se os acha tão inferiores? -sibilei sentindo minhas unhas machucarem as palmas de minhas mãos, eu cerrava as mãos com tanta força que sabia que elas começariam a sangrar em pouco tempo.

—Gosto de me deliciar da estupidez alheia. -respondeu e suas feições ficaram duras, ele parecia irritado pela forma com que eu havia falado com ele. Ele segurou minha mão e a levou em direção a sua boca, lambendo minha palma sangrenta, a visão me causou ânsia. -Céus! Dá pra sentir no seu sangue todo o seu poder, talvez seja algo bom tê-la aqui morando sob o meu teto. E espero que aprenda a me obedecer. -ele soltou minha mão sem delicadeza e me deu as costas, virando-se para falar com Dante. -Estou cansado da viagem, preparem um banquete para mim.

Mal consegui respirar tentando imaginar o que significava um banquete para ele.

Os três que antes estavam parados no meio da escada abriram caminho para que o rei e a rainha subissem para seu aposento e todos os que estavam ali se curvaram, exceto eu.

—Você devia mostrar mais respeito pela realeza, humana. -Julien rosnou atrás de mim, senti que ele não me queria como aliada.

Encarei-o de cima a baixo e vi que a armadura que usava era diferente da dos outros soldados, ele devia ser importante por algum motivo.

—Deixe-a em paz, Julien. Céus, você acabou de chegar de viagem e já quer causar problemas? -Dante se fez ser ouvido, Julien o encarou com raiva pura no olhar, imaginei se havia naquele castelo sequer uma pessoa que Julien gostasse.

—Quero que ela saiba que este não é lugar para gente como ela. -senti uma ponta de medo se acender em meu interior, mas não me encolhi e não desviei meus olhos dos dele nem por um segundo, o soldado parecia pronto para me segurar pela garganta. 

—Deixe ela em paz, inferno! - Samantha ficou parada entre nós e vi um brilho avermelhado em seus olhos por um segundo enquanto ela encarava o soldado como se fosse matá-lo ali mesmo. 

Julien fez um estalo com a língua, deu dois passos para trás, curvou a cabeça levemente e saiu do salão. 

Samantha virou-se para me olhar e me direcionou um pequeno sorriso e um meneio de cabeça, ali percebi que ela estava do meu lado. 

—Ficamos com medo que ele fizesse algo com você. - Morgana veio correndo em minha direção e segurou meu rosto com as mãos fazendo com que eu levantasse os pés tentando igualar nossa altura. 

—Fiquei pensando em quais feitiços eu faria caso ele tentasse algo. - comentei e Morgana riu parecendo aliviada, então me apertou num abraço. 

—Seria interessante te ver tentar, mas acho que ainda precisa de mais treinamento se quer tentar derrubar o meu pai. - Samantha riu. 

—Vamos treinar mais, muito mais. 

Tive medo, eu já achava nossos treinamentos muito extensos do jeito que eram, se eles fossem intensificar eu não sabia o que seria de mim. 

Morgana, Max e Samantha começaram a discutir sobre um novo treinamento para mim e cheguei a me assustar com as coisas que eles diziam, me afastei e vi Thomas ali na escada parado no mesmo lugar, olhava para mim como se estivesse perdido. 

Num movimento rápido andou até mim e me segurou sem me dar nenhuma chance de pensar ou segurá-lo de volta, me envolveu em seus braços e pressionou os lábios contra o topo da minha cabeça. 

Ficamos parados ali por um ou dois minutos, o grupo atrás de nós parou de conversar, meu coração nunca havia batido tão rápido e ele me segurava com tanta força que parecia que eu correria caso ele me soltasse, algo que estava longe de acontecer. Me soltou e tomou minhas mãos nas suas, ainda havia um pouco de sangue nelas, mas os cortes feitos pelas minhas unhas já estavam praticamente cicatrizados.

—Odiei ele por isso. -ele sussurrou ainda encarando as palmas das minhas mãos. -Odiei mais do que já havia odiado antes em toda a minha vida. Me perdoe por ter te colocado nessa situação, eu não esperava que ele fosse voltar antes que nós fôssemos embora.

Ele continuava a não me olhar, como se estivesse confessando os sentimentos para os meus dedos e as linhas da minha mão, meu coração parecia estar sendo triturado em meu peito.

—Não precisa se desculpar, ele não fez nada comigo. Mas nós vamos embora? Por que? Para onde?

—Não sei como vamos fazer para sair daqui agora que ele chegou, mas ficar aqui vai ser cada vez mais difícil. Preciso te levar para o sul, existem pessoas que você precisa conhecer lá.

Continuei encarando-o sem saber ao certo o que dizer, eu sem dúvidas não estava preparada para passar por mais uma viagem daquelas, mas ficar aqui com o pai dele sem saber o que ele pode fazer comigo e especialmente com Thomas era sem dúvidas a pior opção.

—Não vão conseguir sair tão cedo, todos os soldados estão a postos e ninguém pode sair do castelo. -Samantha murmurou indicando os soldados com o queixo, eles conversavam entre si e eu observava enquanto cada vez mais soldados se colocavam em posição na frente dos portões e de cada saída, porta e corredor do castelo. -Se nosso pai ficar sabendo que está planejando levá-la para o sul, por mais que ele tenha dito aquelas coisas sobre levá-la para os pais, ele vai te matar.

—Ele pode tentar. -ele tencionou a mandíbula e eu prendi a respiração sem nem ao menos perceber.

—E ele pode conseguir. -Samantha cutucou o irmão, eu sabia que ela falava sério e não falava para desencorajá-lo, ele precisava ser lembrado das consequências que ele podia sofrer por tentar desafiar o pai.

—Com licença, Thomas seu pai quer vê-lo, ele o espera em sua sala. -Dante interrompeu nossa conversa e me olhou tão intensamente que desejei poder ler seus pensamentos, mas logo entendi.

Se o pai desejava vê-lo só podia significar que ele não estava satisfeito com algo.

Thomas apenas assentiu com a cabeça para Dante, olhou para mim e para Samantha e subiu as escadas em direção a sala do pai.

—Tem algo que você precisa saber. -Samantha murmurou enquanto me puxava escada acima, em direção ao quarto de Thomas.

A garota entrou e trancou a porta atrás de si, ela parecia não saber como ou por onde começar.

—Vai ser difícil para você lidar com o meu pai, ele não suporta pessoas que não são submissas a ele, ele pode ter deixado passar desta vez, mas ele não vai admitir que você fale daquela forma com ele novamente, especialmente porque você é uma garota e é jovem e é de uma raça que ele odeia tanto, ele provavelmente vai esperar ansiosamente por uma chance de te acertar.

—Me acertar? -eu tremia apenas por pensar naquilo, eu estava no local onde ele mais tinha poder e não podia fazer quaisquer objeções às ordens dele, se ele decidisse me espancar e em seguida me trancafiar nas masmorras por um mês, não havia ninguém que podia dizer o contrário.

—Sim, meu pai gosta de aplicar seus castigos fisicamente, ele acha que assim prova seu poder de forma rápida e clara. -ela cerrou os punhos e respirou fundi, eu não fazia idéia da dimensão dos problemas causados por aquele homem, todos já haviam sofrido tanto nas mãos dele. - Você é uma feiticeira, não… Você é a feiticeira, com mais treinamento eu acredito que você vá poder desafiá-lo, mas por hora é melhor permanecer obediente, eu sei quão difícil é, acredite em mim, mas sua hora vai chegar. Meu pai realmente tem um complexo de inferioridade com relação aos feiticeiros e sempre quer provar que é melhor que eles de alguma forma, é por isso que não temos praticamente nenhum membro da corte dos feiticeiros por aqui, meu pai os detesta, ele vai tentar entrar na sua cabeça para fazê-la sucumbir as provocações dele só para que ele tenha uma justificativa para acabar com você.

—Acha que consigo suportar? -minha voz mal chegava a um sussurro.

—Acho, mas vai ter que se esforçar muito, vai ser difícil. Ele vai usar Thomas para chegar até você. -ao perceber o quão chocada fiquei ao ouvir aquilo ela explicou. -Ele já notou que vocês estão envolvidos um com o outro, Thomas não costuma desobedecer ou ser obstinado com relação às ordens ou ações de nosso pai, mas ele realmente se esforçou hoje ao ver o que ele fez com você, acho até que ele suou ao obrigar-se a ficar parado ali na escadaria. Eu só queria te deixar sabendo todas essas coisas não para te assustar, mas você tem que saber com o que vai lidar em seguida, não quero que sofra.

Eu estava tão grata que não consegui colocar meu cérebro para funcionar em função de agradecê-la, só continuei encarando-a e fazendo que sim com a cabeça.

—Então boa noite e boa sorte, você vai se sair bem e lembre-se de continuar treinando, vou estar lá para te ajudar quando puder. -ela falava com o corpo dividido metade dentro e metade fora do quarto, ela continha um sorriso ao me dar boa noite.

Com a garota já fora do quarto me sentei e segurei meu rosto com ambas as mãos, eu estava assustada, receosa e com medo. Não tinha certeza de que aguentaria e não queria sofrer e ver Thomas, Samantha e os outros sofrerem também, não fazia a menor ideia do que fazer e temia o amanhecer mais que tudo.

Não queria de forma alguma ter que encarar o dia que se seguia com medo, sem saber o que ele podia fazer comigo e com aqueles que eu me importo.

O símbolo de lua começou a arder como uma queimadura recém-feita em meu braço, segurei meu braço com força e nada parecia amenizar a dor, eu mordia o lábio com força para segurar um grito.

Não acredite em tudo que ouve, princesa.

Que diabos era aquela droga de voz na minha cabeça de novo?!

Como se os problemas que eu tinha para resolver agora não fossem suficientes.

—Saia da minha cabeça! Agora! -eu gritava enquanto andava pelo quarto com medo de que alguém estivesse me espionando e usando magia para me ferir.

Mal posso esperar para conhecê-la, princesa. Tenho tantos planos para você.

Saia já! —gritei a plenos pulmões, senti cada nervo em meu corpo tensionar enquanto o chão tremia em meus pés, lágrimas salgadas brotavam em meus olhos como frutos da dor insuportável que eu sentia.

Ajoelhei-me no chão enquanto soluçava e me senti fraca, meu corpo parecia ter passado por algo tão intenso que era como se eu estivesse anestesiada, eu respirava com dificuldade e ofegava, meus olhos ardiam em lágrimas e a voz não parecia mais estar lá.

Permaneci no chão por algum tempo enquanto me recuperava então consegui sentar-me na cama, permaneci ali por horas parada remoendo o que havia acabado de acontecer, eu não sabia que horas era quando voltei a realidade.

Agora eu só conseguia pensar em Thomas e em porque ele não voltava logo.

Abri a porta do quarto e encarei o corredor e o timing parecia perfeito porque vi o garoto mancando pelo corredor na direção do quarto e disparei em sua direção mesmo que eu não estivesse na melhor das condições.

—O que ele fez com você?  Você está bem? -apoiei seu braço em meu ombro e o ajudei a chegar ao quarto, ele também respirava com certa dificuldade, seu cabelo estava molhado de suor.

—Já passei por coisas piores com ele, não se preocupe. -ele repetia todas as vezes em que eu perguntava o que havia acontecido.

—Ele fez isso por minha causa, não foi? -eu mal conseguia olhá-lo, a culpa consumia todo o meu ser e tudo que eu conseguia pensar era ir até onde quer que fosse que aquele maldito estivesse e soltar toda a minha ira nele.

—Não, ele me parabenizou por ter te trago até aqui, ele acha que agora tem uma vantagem, uma carta na manga porque acredita que você está do lado dele. -Thomas estava curvado de uma forma que eu nunca havia visto antes, ele costuma ter a postura tão reta e polida e agora curvava-se sobre o próprio corpo como se não aguentasse o peso e segurava sua camiseta branca como se sua vida dependesse daquilo, ele suava mesmo parado.

Na lateral de sua camisa vi sangue, não era uma gota de sangue ou um respingo de sangue, era como se sua camiseta estivesse encharcada dele, do lado de fora do quarto um trovão foi ouvido.

—Você precisa tirar essa camiseta agora ou pode infeccionar seus ferimentos. -ele parecia querer fazer uma objeção ao que eu havia dito, mas ele não tinha nenhuma escolha ali. - Isso não foi uma sugestão, Thomas, foi um comunicado. Eu vou tirar essa camiseta de você e tratar esses ferimentos nem que eu tenha que enfeitiçar você, eu sei que ele te machucou, mas não posso só ficar parada aqui enquanto vejo você continuar a se machucar.

Ele sequer olhou em meu rosto quando assentiu devagar com a cabeça, eu sabia que ele não queria que eu me preocupasse com ele e que provavelmente não queria que eu visse o que o pai havia feito com ele, mas eu não podia deixar que ele agisse daquela forma.

Ajudei-o a chegar até o quarto e ele se sentou dentro da banheira, comecei a me preocupar porque não achava que sabia feitiços de cura suficientes para ajudá-lo, mas respirei fundo e decidi que confiaria no que Morgana havia me ensinado.

Ele permanecia de cabeça baixa e sua respiração estava entrecortada, não era como se ele estivesse se recuperando da dor passada, era como se ele ainda estivesse sendo machucado.

Quando ele se virou de costas para mim meus olhos se encheram de lágrimas, eu era capaz apenas de sentir raiva, revolta e pena de Thomas por ter passado por aquilo.

Suas costas estavam cheias de sangue, sua camiseta estava encharcada dele e grudada em seu corpo onde eu conseguia ver as marcas, eram símbolos religiosos.

Cortei sua camisa e ouvi-o respirar fundo conforme ela se soltava de sua pele exposta, aquilo não estava nada bem. Posicionei minhas mãos a centímetros de sua pele e me concentrei no feitiço de cura, se eu pudesse usaria toda a minha energia para curá-lo, o sangramento parou devagar e a situação pareceu melhorar quando as partes maiores de sua pele exposta foram melhoradas pelo feitiço, mas não consegui fazer mais do que aquilo.

Era como se o corpo dele não aceitasse mais da minha magia, eu conseguia fazer mais do que aquilo, mas não parecia chegar até ele.

—Não consigo fazer mais do que isso. -sussurrei.

—Os símbolos são justamente para que eu sofra, eles não podem ser curados com magia e retardam meu processo de cura natural. -ele murmurou.

Assenti com a cabeça pensando no que eu podia fazer para ajudá-lo e decidi que eu pelo menos podia limpá-lo e proteger seus ferimentos.

Ele estremeceu quando a água quente atingiu sua pele, eu mal conseguia respirar ao vê-lo assim, mas aquele não era o momento de me focar nos meus sentimentos.

Coloquei gaze em seus ferimentos maiores e passei um pouco de uma raíz com propriedades regenerativas nos ferimentos menores.

Ele se sentou na cama e parecia melhor, mas ainda não me olhava diretamente, seus cabelos cobriam parte de seu rosto e eu não conseguia olhá-lo nos olhos.

Aquele silêncio pareceu indestrutível por cerca de cinco minutos inteiros nos quais raios e trovões eram as únicas coisas a ecoarem pelo quarto, não havia nada que eu pudesse dizer a ele.

—Não queria que você me visse assim, mas esse foi o primeiro lugar que consegui pensar. -revelou com a voz baixa, ele parecia não ter força alguma.

—Você sempre pode vir até mim, sempre. -ajoelhei-me à sua frente e segurei sua mão, aquele foi o único momento em que ele me olhara nos olhos.

—Ele nunca vai tocar em você. -ele falava com muita convicção, como se fosse uma verdade imutável. Aquela foi a única vez em que não acreditei nele.

Mesmo assim segurei sua mão com força, eu sabia que ele tentava me proteger, mas ele talvez não conseguisse reconhecer que dessa vez as coisas eram muito mais difíceis.

Agora era a minha vez de protegê-lo.


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Notas finais do capítulo

ok eu realmente odeio o pai do Thomas sem mais.



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