Lost escrita por Gabs


Capítulo 2
II




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Quando acordei estávamos pousando e eu já estava novamente agarrada ao apoio, nem parece que tem dezoito anos nas costas.

A primeira pessoa a se levantar foi a senhorita Layer, que pelo visto está mais do que ansiosa para se livrar de mim, ainda bem que o sentimento é mútuo.

Levantei-me do assento ainda tonta e um pouco dormindo e segui-a até o hall do aeroporto e meu deus como está frio aqui! Devemos ter errado e vindo parar no polo norte ao invés da Europa, cacete.

Os dois homens pegaram minhas malas, percebi que estes não eram os mesmos homens que nos acompanharam anteriormente, que estranho. Desta vez não era um táxi que nos aguardava, e sim um carro preto com vidros fumê escuros, mas eu não dei muita importância já que o frio maldito que eu sentia só me permitia pensar no frio maldito que eu sentia.

Uma vez dentro do carro não pude deixar de me perguntar mais uma vez para onde iríamos agora, eu estava começando a ficar cansada de ser arrastada por aí como um saco.

Desta vez os seguranças não nos acompanharam, não senti falta deles, eles eram bizarros demais.

Layer parecia entediada daquela viagem, tanto que depois de aproximadamente vinte minutos de viagem a mulher sorriu ao chegarmos ao destino final, devia estar imensamente feliz de não ter que me ver nunca mais.

—Chegamos Katherine. –ela comunicou como se eu não tivesse me tocado daquilo ainda. Ela mesma colocou todas aquelas malas para fora do carro, perto do gigantesco portão de grossas barras de aço, o chão estava coberto de neve e, se você olhasse do lado de dentro dos portões veria que debaixo de toda aquela neve havia grama. –Adeus. –ela apenas entrou no carro novamente e desceram colina abaixo.

Fiquei sem saber o que fazer, ela tinha simplesmente me deixado aqui sozinha? Que vadia.

Olhei ao redor e vi que o local possuía um estilo medieval, daqueles que parece que foi construído em 1712 sabe? Todo feito de pedras polidas, e com uma quantidade de andares inacreditável, era muito intimidante de se olhar.

E se localizava numa colina realmente muito alta, o ar aqui em cima chega a ser rarefeito. Eu estava começando a ficar nervosa por nada ter acontecido até então, o portão estava aberto?

Tentei empurrá-lo, porém o mesmo estava tão congelado que possivelmente faria com que minhas mãos se grudassem ao aço.

Parei quando ouvi algo ranger e olhei para a porta gigantesca que ficava a mais ou menos uns cinquenta metros do portão, e uma mulher sair dali, ela vestia uma saia social também e um grande sobretudo, tinha cabelos brancos mesmo não aparentando ter mais de 35 anos, olhos verdes e uma expressão dura que me fez ter certeza que ela quem organiza esse local.

—Siga-me. –ela pediu como se eu tivesse alguma escolha, logo após abrir o portão com apenas uma mão, me senti inútil.

—Mas e minhas...

—Suas malas serão levadas para dentro, apenas siga-me. –ela me interrompeu colocando um ponto final na questão.

Jesus por que todo mundo aqui é tão grosso comigo?

Respirei fundo me sentindo novamente diminuída e abaixei a cabeça ao entrarmos no salão de entrada, era iluminado com a luz de velas, possuía um enorme lustre no teto, uma escada estilo colonial dupla, o chão parecia ter sido encerado recentemente e chegava a reluzir, mas mesmo com toda essa beleza o local ainda possuía um ar depressivo muito forte, o que foi reforçado com o silêncio que se instalou depois que as portas do salão foram fechadas e o barulho dos ventos foi abafado, não parecia que pessoas viviam ali, não mesmo.

Se é que realmente alguém vive aqui.

—Fico satisfeita que esteja vestindo o uniforme, espero que a vinda até aqui não tenha sido ruim. –ela virou-se para me olhar, pude perceber o quão alta a mulher é, quase trinta centímetros mais alta do que eu.

—Não foi. –respondi por mais que seja mentira.

—Bom. Sinto muito pela morte de sua tia, meus pêsames. –ela inclinou a cabeça para baixo de leve e fechou os olhos, aquilo me fez sentir bem. –Seu quarto é o de número 69, subindo a escada da esquerda quatro corredores após. Você terá aulas normais todos os dias, com aulas de acréscimo, como línguas. E também outras... Exóticas. –a mulher deu um sorriso perverso de canto, parecendo pensar em outras coisas, tive medo de quais aulas seriam essas. –Porém isto será explicado depois, espero que se acomode bem e que não se assuste com nada que lhe será apresentado, afinal este é o seu mundo agora, e seja bem-vinda a ele.

Respirei fundo, eu me sentia mais ansiosa do que antes, agora não há mais volta.

—Tenho uma pergunta... Existem mais pessoas aqui? –perguntei acanhada, a mulher parecia tão superior a mim que eu me sentia intimidada de perguntar qualquer coisa que fosse.

—Oh sim. De diversas espécies, aliás. Você os verá no café da manhã daqui a alguns minutos, o sinal indicará. Se me dá licença, tenho outros assuntos para tratar, e novamente, seja bem-vinda Katherine. –ela inclinou novamente a cabeça para baixo e sorriu, dando-me as costas logo depois entrando em um corredor e sumindo de minha vista.

—Acho que agora eu subo. –murmurei para mim mesma.

Esforcei-me ao máximo tentando me lembrar de todas as coordenadas que ela tinha me dito, e qual é a desses caras com essa coisa de espécies? Que esquisitos.

Mas ela foi a única pessoa simpática comigo desde que o acidente ocorreu então não posso deixar de me sentir acolhida aqui.

A porta do quarto também era de madeira com dobradiças e maçaneta pretas, a porta tinha um formato arredondado acolhedor, quando adentrei o quarto avistei minhas malas encostadas ao guarda-roupa que estava ao lado de uma porta que revelava um banheiro com uma banheira, um chuveiro, um armário que ficava debaixo da pia de mármore branco que havia ali, saindo do banheiro havia uma cama de casal com muitas cobertas, algumas de um vermelho escuro e outras cinza, uma poltrona vermelha toda estofada, com uma almofada também vermelha, havia um baú no pé da cama, era feito de madeira e parecia ter dobradiças feitas de ouro, o que me assustou e surpreendeu ao mesmo tempo.

Sentei-me na cama e respirei fundo, há um mês eu nem suspeitava que eu fosse ser arrastada para outro continente, muito menos que minha tia iria morrer, foi triste quando não nos deixaram ver o corpo dela no velório, parecia que eu estava sofrendo pela morte de um caixão vazio. Era deprimente.

Para tirar aqueles pensamentos depressivos da minha mente, decidi tomar um banho. Peguei uma nova roupa íntima e coloquei no suporte que estava ali ao lado da banheira, percebi que ali também já havia toalhas limpas, eu não sei exatamente o porquê, mas eu sentia que toda essa mordomia, por assim dizer, era aperitivo para coisas que viriam depois.

Entrei na água quente e senti meu corpo relaxar, Deuses quantos graus fazem aqui? Seja quantos for, deve ser negativo. Considerando que estamos no alto de uma colina.

O silêncio que estava ali me incomodou mais do que deveria, talvez porque no orfanato aquelas pestes nunca calavam a boca de jeito nenhum, esse silêncio me perturba de alguma forma.

Sequei-me enquanto pensava no porque caralhos todos falam sobre essas tais espécies, e coisas que não fazem sentido algum para mim, todos os europeus são tão esquisitos...

Eu estava abotoando a camisa quando a merda de um sinal tocou tão alto e estridente que parecia estar tocando dentro da minha cabeça, que merda foi aquela?

Apressei-me para enfiar aquela roupa logo no corpo e correr para fora do quarto, mas se agora teríamos aulas, eu tinha de levar algum material certo? Mas naquele quarto não havia absolutamente nada que se associasse com material escolar, então desci de mãos vazias mesmo.

Eu estava quase entrando em pânico por não saber para onde ir até que vi outras pessoas mais ou menos da minha idade começarem a sair dos corredores, alguns desceram a escada com uma cara que pareciam exatamente para onde ir, um deles chamou os outros, que estavam perdidos assim como eu para segui-lo, e todos nós aceitamos.

Eu olhava para os lados tentando memorizar o caminho tentando não ter que depender de outras pessoas sempre que for sair do meu quarto quando um garoto apareceu do meu lado sorrindo, ele parecia estar falando comigo, mas eu não prestava atenção.

—Eu não estava prestando atenção no que você falava, foi mal. - me desculpei.

—Tudo bem, meu nome é Joshua, você é nova não é? Eu também sou. –ele sorria ao falar, parecia feliz e animado por estar ali.

—Sou Katherine, prazer. –sorri de volta. Joshua tinha sotaque californiano e uma pele cor de mel denunciando sua nacionalidade, cabelos castanhos rebeldes e um pouco enrolados e sardas nas bochechas, o que me impressiona nele é a felicidade que o garoto parece estar sentindo, onde ele estava antes devia ser realmente ruim.

—Olá, acho que nessas ocasiões deveríamos permanecer unidos, me chamo Megan, prazer. Esta é Sophia, fomos transferidas juntas. –uma garota de cabelos negros se juntou a nós e trazia uma pequena garota loira consigo, a loira parecia estar com muito medo.

—Sou Joshua.

—Eu me chamo Katherine, muito prazer. Alguém aqui sabe para onde estamos indo? –questionei-os, eu estava começando a ficar confusa.

—Eu estou sentindo cheiro de comida. –Megan comentou.

—Aquela mulher não comentou alguma coisa sobre um café da manhã? Deve ser isso. –Joshua comentou parecendo estar muito confiante.

—Eles estão entrando em algum lugar. –a pequena Sophia ressaltou, nos fazendo olhar para frente e realmente, todos que seguiam aqueles outros que aparentemente sabiam onde estavam indo começaram a entrar numa grande porta branca que, quando entramos descobrimos ser algo como um refeitório, e para a minha surpresa já haviam pessoas ali, eles pareciam esnobes e convencidos já que soltaram algumas risadinhas quando começamos a adentrar o cômodo.

Que babacas.

Aos poucos fomos nos sentando nas mesas que haviam ali, tentando manter certa distância dos tais veteranos esnobes. Em uma mesa no fundo do cômodo, uma mesa beeem grande por sinal, havia diversos tipos de comida então aos poucos os jovens foram vencidos pela dúvida se comiam ou não e começaram a se servir.

Eu ainda estava observando os pratos que estavam ali e me perguntando se era realmente seguro comer ou não quando Joshua apareceu pegando um copo com suco, uma vez que as bebidas estavam no fim da mesa, o garoto pareceu surpreso por me ver ali parada.

—Você não vai comer Katherine? Não pode ficar sem comer. –ele se aproximou de mim com um olhar que denunciava que o garoto estava confuso.

—Acho que vou, todos estão comendo. –me rendi.

—Eu posso até morrer envenenada, mas eu não morro de fome. –Megan me disse dando uma piscadela no final, ri fraco.

—Ela tem razão. –Joshua concordou rindo, o garoto parecia uma criança.

Peguei um prato dourado, muito bonito por sinal, e me dirigi ao fim da fila que infelizmente estava perto dos veteranos esnobes, assim que me posicionei ali me senti sendo observada, o que me incomodou muito, esses caras não tem nada melhor pra fazer?

Voltei a me sentar com apenas duas torradas com geleia no prato e uma taça de suco também dourada, parece que muitas coisas aqui são douradas e sofisticadas.

—Hum... Ela falou algo sobre aulas para vocês? –Sophia perguntou depois de tomar um gole de seu café.

—Ela me disse que teríamos aulas normais. –respondi.

—E algumas aulas de línguas. –Joshua acrescentou e eu apenas concordei com a cabeça. –O que é uma pena, eu sou péssimo em línguas.

—Ela não falou nada sobre aulas exóticas para vocês dois? –Megan perguntou dando uma pausa antes de pronunciar a palavra “exóticas”.

—Ela me disse, mas pensar nisso me dá medo o suficiente para me fazer não pensar nisso. –Joshua explicou dando de ombros, ele parecia relaxado demais para quem não fazia a menor ideia do que estava acontecendo.

—Como você pode estar assim tão calmo Joshua? –Megan o questionou.

—Eu estava me perguntando a mesma coisa. –concordei.

—Eu sinto boas vibrações vindas desse lugar, e isso me acalma. E aquela mulher, aquele quarto, essa comida, vocês... Isso tudo é muito acolhedor. Muito diferente de onde eu vim, lá eles nos tratavam como cachorros, era horrível. –ele explicou enquanto se espreguiçava na cadeira.

—Fico feliz que tenha saído de lá. Onde eu estava também não era muito bom, mas não era tão ruim. –dei de ombros me lembrando do orfanato podre que o governo havia disponibilizado para aquelas crianças, qual é nós dormíamos em beliches que se você dormisse de lado podia sentir as molas do colchão. Isso não é humano. A comida tinha gosto de terra, mal tomávamos banho e eram dezenas de crianças num quarto só.

As outras duas concordaram com a cabeça.

—Vocês também vieram de orfanatos? –Sophia perguntou, ela parecia estar interagindo conosco aos poucos.

—Sim, minha tia morreu há pouco tempo e eu nunca conheci meus pais. –expliquei minha história resumidamente.

—Eu tinha sido adotado por um casal, mas eles me levaram de volta porque eu sou muito... Hiperativo. Então eles me disseram que eu seria transferido, fiquei triste e pensei que tinham desistido de mim, mas fiquei satisfeito quando fui recebido por aquela mulher lá. –o humor do garoto foi mudando conforme ele contava, ele ficou muito cabisbaixo quando disse sobre o casal e que ele pensou que haviam desistido dele, então abriu o maior sorrisão quando contou sobre quando chegou aqui.

—O casal que tinha me tirado de lá tinha muitos problemas pessoais sabe, então o orfanato mesmo me tirou de lá, mesmo eu estando feliz, e me jogaram direto em um avião. Mas eu já me mudei tanto que isso não me surpreendeu. –Megan deu de ombros enquanto falava, ela não parecia se importar muito.

—Eles não me tratavam bem lá... Eu fiquei muito feliz quando disseram que iam me transferir, e agora eu estou mais feliz ainda. Perdoem-me, já que eu sou tímida, posso não demonstrar muito. –a garota se encolheu novamente.

—Já já ela se solta, quando chegamos ela não demorou muito pra sair dessa casca. –Megan sorriu ao falar da colega.

Um segundo sinal se fez ser ouvido novamente com aquele som incrivelmente alto e estridente, essa é só a segunda vez que ouço esse sinal e já o odeio, sinto que perco uns cinco tímpanos toda vez que ele toca.

—Talvez agora sej...

Eu ia dizer que achava que agora eles iriam nos dar, talvez algum material escolar ou coisas do tipo quando a diretora apareceu na porta do refeitório antes mesmo que eu pudesse terminar a frase.

—Olá, bom dia a todos. Peço desculpas pela rapidez com que tudo aconteceu e sei que muitos de vocês ainda estão muito confusos e assustados, mas peço que acreditem em mim quando eu digo que aqui é o lugar mais seguro para vocês estarem agora. Apenas... Acreditem em mim. –ela passava muita confiança ao dizer aquelas palavras, o que acalmou meu coração por razões ainda desconhecidas.

Os veteranos começaram a cochichar e dar risadinhas depois que ela terminou de falar.

—Vocês se controlem, não é porque tem mais conhecimento que as outras espécies que devem se sentir superiores. Não se façam ser odiados. Já não basta que a maioria do nosso povo já desgoste da espécie de vocês? –ela disse a eles, que logo se encolheram minimamente e ficaram quietos.

—Eles são arrogantes. –Megan comentou e eu apenas concordei com a cabeça.

—Agora vocês irão para a primeira aula de vocês com o professor Filipe, por favor, sigam-no. –um homem que imaginei ser o professor Filipe adentrou o cômodo, ele estava sério e logo que entrou olhou para os veteranos com um olhar bem repreendedor.

Todos -com exceção dos veteranos. -, nos levantamos e seguimos o professor até uma sala de chão acarpetado, com estantes de livros nas paredes e uma lousa larga na frente da sala, aos poucos todos estavam dentro da sala esperando uma orientação.

—Sente­­­­­­­­­­­­­m-se, por favor. –todos nos sentamos aos poucos, já que, acredito que a maioria ali esperava termos cadeiras para sentar, mas o chão é bem confortável mesmo assim. -Sejam bem-vindos a primeira aula de vocês.


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