Lost escrita por Gabs


Capítulo 18
XVIII


Notas iniciais do capítulo

de volta mais uma vez, e pela primeiríssima vez a espera foi proposital pq eu particularmente amo esse capítulo e o próximo q por mais incrível que pareça já está pronto.
anyway espero que gostem e comentários são sempre bem-vindos!



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—Levante os braços!

Um baque.

—Os braços, Katherine!

Outro baque, dessa vez mais forte.

—Você parece nem estar mais prestando atenção no que eu digo. -Morgana murmurou fazendo bico, e eu realmente não estava prestando mais atenção nela há alguns minutos, continuava mantendo minha guarda alta e me esforçava para mantê-la longe.

O suor pingava de meu corpo com tanta intensidade que eu parecia ter acabado de sair do banho, o ar lutava para entrar e sair de meus pulmões, mas olhando num quadro geral eu já tinha melhorado muito.

Tínhamos chego há uma semana e eu treinava todos os dias do nascer ao pôr do sol, Morgana e Max ainda me auxiliavam em tudo que eu precisava e Thomas tinha disponibilizado todos os profissionais disponíveis que pudessem me ensinar algo e cada dia eu me sentia mais poderosa.

—Estou cansada. -expirei jogando para trás os cabelos que escapavam de meu rabo de cavalo, os cabelos que circundavam meu rosto estavam completamente molhados.

—Podemos dar uma pausa de dez minutos, se quiser. -Max comentou antes que Morgana tivesse tempo de dizer qualquer coisa e foi o suficiente para que eu me atirasse no chão numa tentativa desesperada de descansar e recuperar o fôlego.

—Não existem pausas numa luta, Max. -Morgana o avisou num sibilo, ela detestava que Max assistisse os nossos treinamentos de combate porque ele sempre pegava leve comigo.

Max ignorou seus protestos e veio até mim com um cálice grande cheio d‘água e se sentou ao meu lado.

—Você está melhorando muito. -comentou com um sorriso orgulhoso nos lábios.

—Obrigada Max, vocês me ajudam muito com isso. -respondi após tomar todo o conteúdo do cálice num só gole e devolvi o sorriso a ele.

—Morgana me contou o que fez ontem com a sua magia, eu fiquei impressionado e muito feliz. -ele me cutucou com o cotovelo numa leve provocação, sorri envergonhada e rolei para o lado.

Na noite anterior eu havia conseguido ferver água com as próprias mãos para fazer um chá para mim e para Morgana e enquanto eu estudava os reinos num livro antigo que eu havia achado na biblioteca do castelo havia levitado os objetos até mim inconscientemente, fiquei feliz por aquilo estar se tornando algo tão natural para mim.

E o melhor era que durante as simulações de batalhas que eu tinha com Morgana ela me deixava usar a magia a vontade e ao praticar seu uso ela deixou de ser um baque para mim ao ser usada, eu sabia de onde ela vinha e como usá-la, eu só precisava querer. Era quase tão natural para mim agora quanto levantar meu braço.

Contudo eu ainda tinha dificuldades para controlar sua intensidade, a energia que existia dentro de mim era poderosa demais e muito difícil de ser controlada, Morgana tinha de ser muito ágil para se defender de meus ataques, mas até agora ela não tinha falhado. 

—É tão bom notar esse tipo de mudança em mim mesma uma vez que meses atrás eu ainda estava completamente em choque de ter sido enviada para Santa Marcelina e agora eu sinto que poderia derreter esse cálice com minhas próprias mãos. -segurei com firmeza o cálice dourado em minhas mãos e ouvi Morgana rir ao meu lado.

—Você poderia causar um abalo sísmico e derrubar esse castelo inteiro se quisesse, meu amor, o cálice é só a ponta do iceberg. -ela se agachou ao meu lado e tocou meu ombro de uma forma fraterna fazendo um leve carinho.

—Do que vocês estão falando? -Thomas desceu as escadas devagar e um sorriso brotou em meu lábio, ele estava impecavelmente vestido de cores claras da cabeça aos pés, os tons variando entre branco, creme e bege de forma muito similar às cores do próprio palácio, os delicados detalhes esverdeados das peças realçavam o azul intenso em seus olhos, era quase hipnotizante olhá-lo, tirar meus olhos dele foi uma das coisas mais difíceis que fiz naquele dia.

—Do poder que Kate tem. -Max sorriu perverso e percebi que ele havia notado que eu havia praticamente babado em Thomas, desviei meu olhar do seu e me concentrei muito para não enrubescer.

—Ah sim, notei a forma que agora ela não se levanta mais para pegar nada pelo quarto, é interessante. -ele riu.

—Sabe, ás vezes eu esqueço que vocês dormem no mesmo quarto, acho que nunca vou me acostumar com isso. Acho até que Kate não precise mais disso, ela já sabe se defender. -Morgana cruzou os braços.

Houve um momento de troca de olhares entre mim, Max e Thomas.

Fiquei feliz que Morgana me considerasse capaz de cuidar de mim mesma mesmo não tendo tanto treinamento quanto gostaria, mas senti um desconforto ao pensar em não tê-lo por perto, tanto pela proteção quanto pela relação que havíamos construído.

—Não gosto de correr riscos. -foi o que Thomas respondeu dando de ombros casualmente e parando para me observar. -Está com fome?

—Demais. -exasperei.

—Vamos subir então. -estendeu-me a mão.

A sala de treinamento ficava na parte baixa do castelo, grandes janelas de vidro adornavam todas as paredes da sala deixando-a bem iluminada e centenas de ferramentas de treinamento e locais de treinamento diferentes cabiam ali naquele espaço tão amplo e esquecido do castelo. Era naquele grande salão que eu via o sol subir e descer nos últimos dias e conhecia-o melhor do que o quarto em que dormia. 

Ao subir a escada atrás de Thomas ouvi Max exclamar algo para Morgana e a risada da garota foi a última coisa que ouvi antes de chegar ao hall do palácio.

As roupas de Thomas delineavam o contorno de seu corpo com tanta precisão e leveza que eu conseguiria ver o contorno de seus músculos das costas caso chegasse um pouco mais perto, senti uma necessidade insuportável de tocá-lo e foi necessário muito autocontrole para manter minhas mãos longe dele. Thomas era um guerreiro, eu sabia disso, e mesmo que não soubesse as colinas que se estendiam por suas costas largas não me deixariam esquecer, pela primeira vez desejei vê-lo sem a túnica. 

Não tinha certeza se conseguiria aguentar muito tempo perto dele.

Notei que ele havia me perguntado algo, me demorei um pouco mais em seu corpo antes de me voltar a ele.

—O que disse?

—Porque está tão distraída? -franziu as sobrancelhas e me encarou parecendo intrigado, fui pega tão de surpresa que parei de andar.

—É um pouco embaraçoso… -enrolei, eu acabaria contando eventualmente, apenas queria avisá-lo de que seria algo embaraçoso para mim, só pra ele se preparar.

Um, dois passos em minha direção.

Todo o espaço ao meu redor fora preenchido com seu cheiro, Thomas era sempre tão cheiroso.

Eu não conseguia olhá-lo.

—O que foi? -notei a leve preocupação em sua voz e me senti mais envergonhada ainda, ele provavelmente pensava que era algo sério enquanto eu estava apenas encantada por ele.

—Não é nada demais, só… Você está muito bonito hoje. -segurei minha própria mão numa tentativa de conter minha ansiedade e levantei a cabeça lentamente para observar sua reação.

Thomas ficou chocado por alguns segundos, evitou olhar nos meus olhos por mais alguns segundos e observei quando ele colocou a mão na nuca, um pouco sem jeito e por fim, expirou e encarou o teto.

Cada segundo que ele não dizia nada eu queimava por dentro.

—Às vezes você consegue ser imprevisível, Katherine. -um sorriso de canto iluminou sua face e segui seu olhar conforme ele analisava cada parte de meu corpo coberto pela roupa de treinamento que era leve e justa, não consegui conter a vermelhidão.

Eu não tinha muitos momentos com Thomas, ele passava a maior parte dos dias em reuniões com o conselho e lidando com questões burocráticas na sala da realeza, e eu não tinha tempo para ir até ele e durante as noites ele sempre voltava e eu já estava dormindo, quase não nos encontrávamos.

E agora ali frente a frente eu conseguia sentir a tensão que pairava sobre nós.

Thomas voltou a andar sem dizer mais nada, respirei aliviada, não sabia o que eu faria caso ele me tocasse.

Chegamos na sala de jantar que permanecia vazia o tempo todo, eu não entendia pra que eles possuíam uma sala de jantar tão gloriosa se vampiros sequer fazem refeições?

Na verdade apenas eu, Max e Morgana comíamos algo de fato, desde que chegamos eu não havia visto Thomas se alimentar uma vez sequer.

A comida foi servida e meus sentidos foram preenchidos pelo cheiro, cor e textura de todas aquelas comidas fantásticas, o treinamento me deixava exausta e esfomeada, não precisei pensar duas vezes antes de começar a me servir e a comer sem me preocupar com etiqueta, até mesmo me esqueci da presença de Thomas ali por alguns minutos.

Ao terminar de comer respirei fundo e recobrei a postura, agora mais satisfeita eu podia tentar conversar com ele como uma pessoa normal.

Virei-me para olhá-lo e me deparei com um Thomas que me encarava com um olhar muito afetuoso e cuidadoso, meu coração pulou em meu peito.

—Como você está se sentindo? -questionou juntando as mãos sob o tampo da mesa e de repente eu não sabia o que fazer com minhas próprias mãos.

—Satisfeita.

—Fico feliz que esteja satisfeita com a refeição, mas quis dizer no geral, como está sendo sua estadia aqui, como as pessoas tem te tratado, como está sendo o treinamento, esse tipo de coisa. Preciso saber que você está bem e que se sente segura, não consigo ficar por perto tanto quanto eu gostaria então prefiro perguntar diretamente a você, entende?

Minha própria consciência riu da resposta que eu havia dado a ele, céus como eu era ingênua.

—Me sinto muito confortável aqui, o que eu posso dizer? Passo o tempo todo com Morgana e Max e quando não estão por perto Ava cuida de mim e faz questão de que eu esteja alimentada e confortável, me sinto bem aqui, muito melhor do que eu me sentia quando estava em Santa Marcelina, estar lá era como carregar um grande peso em meu coração e estar aqui é como se eu estivesse andando na grama molhada o tempo todo, consegue entender?

—Consigo, mas tem algo que não entendi, quem é Ava? -a forma com a qual Thomas perguntara era adorável, ele não perguntava com receio de que fosse alguém que pudesse me ferir ou algo do tipo, só parecia chocado que existisse alguém perto de mim que eu conhecesse e ele não.

—Uma das criadas, a que passa mais tempo comigo, a outra é Abigail.

Ele assentiu como se de repente tudo fizesse sentido e ficamos nesse silêncio inquieto por um ou dois minutos antes que eu não aguentasse mais e tivesse que perguntar.

—Você passa o dia todo fazendo coisas da realeza?

—Sim, é insuportável ter todos aqueles conselheiros estúpidos e infiéis ao meu redor me tratando como uma criança o tempo todo. Tenho que voltar para lá em pouco tempo.

Um aperto em meu peito, não respirei por longos segundos.

—Ah… E porque está vestido assim? Alguma ocasião especial ou príncipes vampiros tem que se vestir excepcionalmente bem? -tomei a liberdade de zombar de seu título apenas para vê-lo dar aquele riso soprado que ele sempre dava quando eu falava alguma bobagem.

—Membros da realeza devem se vestir bem, sim. Mas hoje temos um julgamento então um outro tipo de vestimenta deve ser usado. Fiquei lisonjeado pelo seu elogio, aliás. -o sorriso que recebi fora tão brilhante e precioso que tirei alguns segundos encarando-o só para ter certeza de que todos os detalhes permaneceriam em minha memória.

—Apenas constatei o que meus olhos vêem. 

—Gostaria de poder constatar o que vejo sempre que olho para você, mas creio que me faltariam elogios e adjetivos para descrever o quão bela você sempre está, Katherine. -aquelas palavras saíram de sua boca com uma suavidade impressionante e acompanhadas de um sorriso suave, de repente não havia mais ar em meus pulmões e todo o ar pareceu pesar e se esquentar ao meu redor. 

—Não sei, mas às vezes parece que faz só para me provocar, e sabe o que é pior? Eu gosto disso. -revelei sem pensar muito nas palavras que saiam deliberadamente por meus lábios. Eu queria dizer aquilo, precisava que ele soubesse. - Sinto sua falta quando volto ao quarto e queria que pudéssemos repetir a nossa primeira noite aqui, foi novo e diferente, mas também confortável. 

Thomas me analisava como se tentasse compreender de onde vinha tudo aquilo, parecia verdadeiramente surpreso. Um sorriso de descrença surgiu em seu rosto seguido de uma leve risada soprada, talvez ele realmente não acreditasse. 

—Aquele dia na floresta que te disse que você não fazia ideia das coisas que eu pensava com relação a você, talvez agora você esteja entendendo. - arregalei os olhos de leve, ele tinha acabado de admitir que tinha pensamentos sujos comigo? - Não quero fazer nada com você que você não queira tanto quanto eu, nunca quis que parecesse que eu estava me aproveitando da situação de estar constantemente por perto para tirar vantagem de você. 

—Não era possível, eu nem sequer gostava de você quando nos conhecemos. - ri ao me lembrar do quanto eu queria desafiá-lo por ter aquela postura superior com relação a mim. 

—Eu gostava disso, porque parecia que você nunca se aproximaria, mas um dia você começou a fazer muitas perguntas e nunca parou. - ele riu como se a situação toda fosse pra lá de cômica. - Mas então eu a segurava em meus braços e não queria soltar, e você acariciava meus cabelos de forma tão casual e eu queria que o tempo congelasse, você dormiu nos meus braços e eu esperava que tudo fosse diferente e agora praticamente me pede para tocá-la e eu não sei se é a coisa certa a se fazer. Eu escondi e escondo tanto de você que não me sinto no direito de te tocar da forma que você quer, da forma que eu gostaria. 

O salão de repente pareceu gigantesco e ele parecia muito longe de mim, respirei fundo e me levantei da cadeira abruptamente, sem me importar para onde estava jogando o móvel, Thomas também se levantou embora o tenha feito com muito mais delicadeza que eu e contraiu os lábios numa linha fina, naquele momento não consegui identificar o que sentia. Meus pés descalços faziam um barulho ensurdecedor no salão vazio conforme eu caminhava a passos pesados até ele encarei-o nos olhos e puxei-o pela túnica. 

—Não quero pensar em seus segredos ou em moralidade ou o que é certo e o que é errado, você tem o direito de me tocar a partir do momento em que eu o desejo tanto quanto você. Não sei se consegue sentir toda essa tensão ao nosso redor ou apenas finge que ela não existe, mas seria um sacrifício para você me beijar agora? - terminei a frase com algo muito parecido com um rosnado, ele estava tirando toda a minha paciência com aquela petulância idiota. 

Thomas expirou e senti que ele não esperava que eu dissesse aquelas coisas, mas eu não dava a mínima para o que ele achava de meus pensamentos agora, eu só precisava de suas mãos em mim, e logo. 

Ele puxou-me da mesma forma que eu havia feito com ele minutos antes e me encarou pelo que pareceu uma eternidade enquanto dávamos permissões silenciosas um ao outro, com ambas as mãos em meus quadris levantou-me e então eu estava sentada no tampo da mesa com ele entre minhas pernas. 

Beijou-me com força, com todo o desejo e tensão que pairava sob nossas cabeças, uma de suas mãos segurava minha coxa e eu sentia tudo com tanta clareza, o uniforme de treinamento era fino e fiquei feliz por estar vestindo-o, sua outra mão estava em minhas costas e me puxava para perto o tempo todo, como se nunca fosse bastar, nem toda a proximidade do mundo. Nos separamos e ele não precisou de um segundo para levar sua boca ao meu pescoço e me provocar de muitas maneiras naquela área tão sensível que ele já conhecia, meu corpo estava todo alerta, minha pele parecia pegar fogo e eu me agarrava em suas roupas e em seus cabelos para me manter sã. 

A mão que antes apertava minha coxa foi lentamente passeando por todas as curvas inexploradas de meu corpo, costas, cintura, quadril e um pouco de minhas nádegas, segurei seu ombro com força quando um gemido me escapou. 

Ele riu e joguei a cabeça para trás tentando respirar direito, mas tudo era tão intenso e minha respiração estava completamente fora de ritmo, Thomas aproveitou-se do meu pescoço exposto e o mordeu uma ou duas vezes indo então para minhas clavículas e ombros mordendo e beijando tanto quanto achava necessário. Minha pele ficando cada vez mais exposta, tive vergonha de meu próprio corpo e puxei-o de volta aos meus lábios, ele não protestou. 

Paramos de nos beijar de forma lenta, dando vários selinhos no que tentávamos nos separar, ambas mãos de Thomas me seguravam pelo quadril e sorri percebendo que ele não fazia menção de me soltar. 

—Você tinha dito que precisava voltar para a reunião. - comentei. 

—Preciso mesmo. - confirmou como se não fosse nada, voltando a distribuir beijos por meu ombro, eu ri. 

—Não devia voltar agora, então? - coloquei minha mão em seu peito para afastá-lo de mim o mínimo que fosse mas ele parecia uma parede e se recusava a se mover. - Não vou deixá-lo ir além se vai ter que ir em alguns minutos, já é torturante o suficiente ter que esperar. 

—Entendo como se sente. -um aperto nada discreto em minha cintura se seguiu. -É melhor parar agora antes que você gema de novo, eu desistiria de todos os meus afazeres e mandaria todos os conselheiros irem para o inferno se você gemesse de novo no meu ouvido. 

Ri alto e quase não consegui acreditar que ele fosse assim tão cara de pau, mas eu também não conseguiria usar a parte racional de meu cérebro caso ele me tocasse nas nádegas mais uma vez. 

—Então já que estamos de acordo… -saí de cima da mesa e ajeitei meu uniforme que estava bruscamente desarrumado em meu torso e mal cobria meus seios. Thomas me observava conforme eu me arrumava com um olhar ferino, me afastei dele e ri. -Pare de me olhar desse jeito, parece até que acabou de deixar sua presa ir embora.

—O sentimento é quase o mesmo. -assentiu e começou a andar em direção a porta com as mãos nos bolsos de sua calça, não parecia se importar muito com o fato de suas roupas estarem amarrotadas ou seu cabelo estar completamente desarrumado, eu ainda conseguia sentir seus fios de cabelo em meus dedos. -Melhor eu voltar antes que desista, nos vemos mais tarde.

—Sem dúvidas. -concordei devolvendo o sorriso sacana que ele havia me dado antes de sair, olhei ao redor na sala e comecei a me perguntar se algum empregado havia nos visto ou algo do tipo, não havia mais ninguém ali mas eu sabia que eles possuíam uma porta ali para trazer as comidas.

Entrar naquele salão jamais seria a mesma coisa.

Fui até o jardim buscar algumas raízes para testar uma nova poção, o sol do fim da tarde aquecia de leve minhas costas e os poucos guardas que rondavam a área me passavam segurança, mal notei quando Dante se sentou no banco não muito longe de onde eu estava agachada.

—Não pensei que fôssemos ter alguém com sangue mágico andando por este palácio tão cedo. -ele comentou para ninguém em particular e também não me olhava, encarava o horizonte e parecia se lembrar de algo muito antigo.

Presumi que por melhor que ele fosse como informante talvez não soubesse da condição de Morgana.

—Já tiveram feiticeiros aqui? -indaguei puxando uma raiz profunda da terra.

—Todos os povos foram unidos, um dia. Os feiticeiros não eram a supremacia, e os vampiros não eram marginalizados da forma que são hoje. Todos tínhamos nossas diferenças, mas reconhecíamos nossas grandezas e tínhamos respeito por aqueles diferentes de nós. -Dante me olhou e notei como ele sentia falta daquele tempo, as coisas provavelmente eram tão mais simples. -Se ainda estivéssemos naquele tempo você não precisaria se esconder aqui e não precisaria viver cercada de mentiras e meias-verdades.

Todos sabiam, todos sabiam de algo importante sobre mim e não me contavam, aquilo estava me deixando farta.

—O que é isso que ninguém quer me contar? -levantei-me e permaneci parada em sua frente segurando a raiz em minhas mãos.

—Algo tão importante que pode arriscar a vida de todos. -revelou e senti um peso em meus ombros. -Como a pessoa que sabe de tudo sobre todos posso te assegurar que todas as coisas que não te contamos são apenas para te proteger.

—Estou cansada de ouvir isso, todos me conhecem, todos sabem quem eu sou e qual é esse terrível segredo que sombreia minha vida, mas ninguém se dispõe a me contar. -o sol já não aparecia no horizonte e um vento terrivelmente gelado soprou meus cabelos, Dante olhou ao redor e riu.

—Sabe, o tempo não mudou sozinho. 

—O que quer dizer com isso?

—Seus sentimentos de confusão, raiva e impaciência fecharam os céus e abaixaram vários graus de temperatura, você é como uma força da própria natureza, Katherine. Se apenas os seus sentimentos mais leves podem fazer isso com os céus imagine a catástrofe que você poderia causar ficando furiosa?

Então Morgana não estava brincando quando havia dito que eu poderia causar um abalo sísmico caso quisesse, ela apenas havia me falado a verdade em tom de brincadeira.

—Nunca acreditei muito quando me disseram que eu era muito poderosa e não sei se acredito no que você está me dizendo agora, mas porque eu seria tão poderosa se cresci no mundo humano e mal tenho qualquer tipo de treinamento?

—Você tem boas origens, apenas. Não lhe contarei mais do que isso, acho que andei revelando a você muitas coisas, mas sempre achei injusto que você fosse a personagem principal de uma história da qual você conhece tão pouco.

Tentei colocar tudo numa ordem que fizesse sentido em minha cabeça, ele havia apenas colocado algumas coisas num contexto, só isso.

Mas só de pensar que eles sabiam algo sobre meus pais e se recusavam a revelar me fez sentir traída e isolada de uma forma que eu não me sentia há muito tempo.

E Dante havia realmente provado estar do meu lado.

—Obrigada Dante. -suspirei soltando as mãos ao redor do corpo como uma boneca de pano, não sabia ao certo o que fazer.

—Espero que não fique furiosa, você vai ficar sabendo em breve, mas precisa se preparar bem. Você é a pessoa mais capaz para lidar com isso.

Ofereci meu sorriso mais suave a ele e esperei que aquela fosse a confirmação mais crível que eu conseguisse falsificar, não me sentia tão pronta assim.

E era incrivelmente difícil saber se eu estava pronta ou não porque eu não sabia para quê eu deveria estar pronta.

Me concentrei em fazer anotações mentais de tudo aquilo que ele havia me dito, sobre o passado, sobre meus poderes, minhas origens e seja lá o que aquilo significava.

Voltei para dentro carregando a raíz e decidi tomar um banho e vestir outra roupa, ao passar pelos guardas me perguntei se até mesmo eles sabiam, e se sabiam será que tinham receio de que algum dia eu enlouquecesse e matasse a todos ou me consideravam inofensiva o suficiente para permanecerem tranquilos mesmo estando sob o mesmo teto que eu.

Eu provavelmente acreditaria na segunda opção, especialmente levando em conta que os vampiros conseguiam ser muito seguros de si mesmos.

Entrei no quarto e deixei a raiz em cima da mesa antes de ir até o closet que agora eu compartilhava com Thomas, para escolher algo para vestir.

Ouvi um som metálico em algum lugar do quarto e por mais que eu estivesse exausta assumi posição de defesa no mesmo instante.

—Quem é você? 

Era uma garota.

Ela devia ter praticamente a minha idade, senão um ou dois anos mais velha, estava saindo do meu banheiro com a minha toalha enrolada no corpo e seus longos cabelos loiros pendiam atrás de suas costas como uma cortina amarelada, ela parecia tão ofendida quanto eu.

Quem é você? —ela perguntou mais uma vez caminhando até mim, não parecia disposta a me deixar permanecer ali por muito tempo.

Prendi-a com um feitiço quando achei que ela estava próxima demais de mim e então ela ficou furiosa comigo, não fazia a menor ideia do que estava acontecendo então não achei que devia atacá-la.

—O que faz aqui, feiticeira? —ela cuspiu as palavras feiticeira como se lhe causasse asco, tentei não me sentir ofendida, mas foi impossível levando em conta o olhar raivoso que ela ainda lançava a mim, se eu não soubesse fazer aquele feitiço ela provavelmente já estaria em cima de mim a este ponto.

Seus olhos azuis percorreram cada centímetro de meu corpo e ela pareceu se acalmar, ou pelo menos conter sua ira por alguns minutos.

—Não vai me soltar, vai? -permaneci em silêncio e em posição defensiva enquanto a mão que a enfeitiçava ainda estava apontada em sua direção. -Porque está vestida com as nossas roupas e agindo como se morasse aqui? Você é muda por acaso?

—Quem é você? -cerrei as sobrancelhas, não revelaria nada a ela e não deixaria que ela pensasse que tinha a vantagem sobre mim.

—Ah, ela fala. -fingiu surpresa, aquilo me irritou mais do que deveria, eu tinha tido um dia longo e só queria descansar, não precisava que ela ficasse tirando sarro da minha cara. -Não vou te contar nada, e porque deveria? Você é quem está na minha casa.

A garota parecia confortável ali de pé com os braços e pernas grudados ao corpo sem poder se mexer, apertei o feitiço contra ela e vi quando ela inspirou com força e me olhou como se estivesse perdendo a paciência.

Ela havia dito que morava ali, mas não achava que devia confiar nela afinal qualquer pessoa podia entrar e dizer aquilo, mas se ela fosse…

Ela não podia ser a mãe de Thomas, não sendo tão nova. Ele nunca tinha mencionado uma irmã.

Quem é você? -apertei o feitiço e observei-a torcer o pescoço conforme eu a apertava.

Ventos fortes sopraram para dentro do quarto balançando as cortinas com força e então me lembrei que a garota usava apenas uma toalha para cobrir o corpo e com um gesto de meu dedo indicador fechei a porta da varanda com mais força que o necessário, fazendo um som alto ecoar pelo quarto.

—Samantha. -ela murmurou, respirando com dificuldade.

Um grande ponto de interrogação surgiu em minha mente, ela havia dito aquilo com tanta confiança que parecia acreditar que aquele nome significava algo para mim, mas eu continuava sem fazer a menor ideia de quem diabos era aquela garota nua no meu quarto.

—E isso deveria significar algo para mim?

—Você é mesmo muito corajosa… -ela suspirou e tentou lançar-se para cima de mim, senti sua força ao contê-la com o feitiço, ela era inacreditavelmente forte. -Me solte e verá do que eu sou feita.

Anastasia entrou em minha mente e eu consegui senti-la entrando, ela me dizia para soltá-la mas eu não faria aquilo, ela acabaria comigo caso eu a soltasse ali, eu já suava de tanto esforço.

Solte ela, Katherine!

Diabo, eu não faria isso nem em mil anos, a garota não deixaria um pedaço de mim para contar a história e já estava sendo muito difícil para mim segurá-la ali.

A porta fora escancarada por Morgana, Max, Thomas e Anastasia, exatamente nessa ordem e assim que se depararam com a cena congelaram no lugar.

A garota, Samantha, praticamente rosnava para mim e fazia de tudo para se soltar do encantamento e eu pingava suor devido a enorme quantidade de energia que estava gastando para conter a força sobre humana da garota.

—Deuses… -foi o que ouvi Max suspirar antes de ver Thomas ir na direção da garota com passos cuidadosos, ela rosnou mais intensamente para ele do que para mim.

—Eu vou matar você. -gritou ela assim que Thomas se aproximou, ele fechou os olhos quando a garota gritou e então respirou fundo ao tentar falar com ela.

—Não, não vai. O que está fazendo aqui? -ele estava tão calmo que até eu senti vontade de espancá-lo.

O que ela está fazendo aqui?! -explodiu a loira e não consegui contê-la quando avançou para cima de Thomas sem pensar duas vezes.

Fui jogada para trás e caí dentro do closet, Max veio em minha direção imediatamente e Morgana e Anastasia foram até Thomas e a garota que se enroscavam numa briga complicada de entender quem estava ganhando.

Thomas prendeu-a sob seus joelhos e colocou a toalha sobre seu corpo desnudo novamente, não parecia minimamente afetado ao olhar o corpo daquela garota enfurecida.

—Você não me respondeu, Sam. 

Max me escondeu atrás de si e me olhou rapidamente apenas para ter certeza de que eu estava bem, minha respiração estava descompassada e eu suava, mas não estava ferida.

—Eles me deixaram voltar antes. -grunhiu a garota depois de se debater algumas vezes e então se deu por vencida.

Eles?

Thomas respirou fundo e passou as mãos pelo cabelo, ele parecia estressado, só então virou para ter certeza de que eu estava bem e expirou parecendo mais aliviado.

—Vou te soltar agora.

Me encolhi atrás de Max ao observar enquanto Thomas soltava a garota de seu aperto, ela parecia mortalmente ofendida de ter sido vencida por ele.

—Kate, essa é a irmã de Thomas, Samantha Collins. -Morgana anunciou e meu sangue gelou nas veias, a garota me olhava com as sobrancelhas cerradas. -Sam, essa é Katherine Williams.

Um sorriso viperino brilhou nos lábios rosados da garota, eu sentia que podia desmaiar a qualquer momento.

A semelhança era incontestável, era claro agora que eu os observava lado a lado.

Os olhos intensos e azuis, os cabelos claros, a força e até mesmo o jeito com que lutavam, era tudo tão parecido.

—Se ela tivesse me contado isso quando perguntei a ela, nada disso teria acontecido. -ela comentou olhando para Morgana como se ela fosse a culpada de tudo aquilo. -E pelo visto vocês não contaram nada a ela, não é? Precisavam estar aqui quando eu disse meu nome a ela e ela respondeu com “isso deveria significar alguma coisa para mim?”, eu admiro a coragem dela, sem dúvidas. -ela ria.

—Você realmente disse isso? -Max murmurou.

—Sim, eu devia adivinhar que ela era a irmã de Thomas? -respondi já sem paciência e então barulhos foram ouvidos na janela do quarto, chovia granizo do lado de fora.

Ela se levantou de forma graciosa e caminhou até mim devagar enquanto enrolava a toalha de volta no corpo.

—Gostei de você, Katherine. Precisamos de mais mulheres que aproveitem a vantagem e saibam se defender por aqui, me desculpo pela minha atitude anterior, embora creio que você consiga compreender minha situação, não é? Uma estranha entra em sua casa, você tem que se defender. É um prazer conhecê-la. -ela me estendeu a mão e pensei cinco vezes antes de apertá-la, mas ela não tentou fazer nada comigo.

Todos que estavam naquela sala suspiraram aliviados, incluindo eu.

Ela saiu do quarto com Thomas em seu encalço lhe fazendo centenas de perguntas, ela parecia irada com ele, me apoiei nas costas de Max, que me carregou até a cama.

—Isso poderia ter sido mais desastroso? -grunhiu Morgana deitando-se na cama ao meu lado.

—Pelo menos ela te reconheceu como oponente, isso não acontece sempre. -Max se alongava, eu tinha conseguido sentir a tensão em seus músculos enquanto me escondia atrás dele, ele também tinha receio quanto ao que poderia ter acontecido.

Queria dormir e acordar sem que nada daquilo tivesse acontecido, mas era inevitável pensar no olhar agressivo e felino com que ela me olhava conforme eu a apertava cada vez mais em meu feitiço, ela teria se lançado para cima de mim caso eu não tivesse feito nada e com certeza teria acabado comigo, não tinha como ambas sobrevivermos naquele cenário se eu não tivesse contido a garota.

—Não fique se culpando, Katherine. Samantha te vê como uma igual agora, isso é algo para se orgulhar, ela e o irmão foram treinados como guerreiros a vida toda, é algo admirável que você tenha conseguido contê-la por muito tempo. -Anastasia se pronunciou tentando apaziguar meus sentimentos, ela provavelmente sabia o que a chuva torrencial lá fora significava.

—Cara, se eu tivesse conseguido pelo menos conter Thomas quando lutei com ele eu seria dez vezes mais respeitada, os dois são praticamente imbatíveis.

—Não sei o que pensar, sinceramente. É claro que o que aconteceu se encaixa num bom cenário tendo em mente o que poderíamos ter feito uma com a outra, só queria que tivesse sido mais civilizado sabe?

—Prefiro esse, por mais que você ainda não conheça muito a cultura dos vampiros reconhecer o outro como bom lutador, especialmente alguém da realeza, é um privilégio para poucos. -Max murmurou rendendo-se ao cansaço e deitando-se  entre mim e Morgana.

Preferi acreditar que aquele era o melhor cenário possível, tudo estava bem por agora e eu lidaria com isso depois de um bom banho.

Pelo menos não tínhamos nos matado.

Foi esse pensamento de consolo que me acompanhou enquanto eu pegava minhas roupas e me arrastava para dentro do banheiro.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado mesmo de verdade e me digam o que acharam da Samantha, da Kate aprendendo a usar os poderes, qualquer pensamento acerca da história.
até o próximo!



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