Lost escrita por Gabs


Capítulo 17
XVII


Notas iniciais do capítulo

o curioso caso da autora que sempre esquece de postar; confira.
Desculpa mesmo eu tenho essa coisa de sempre achar que ninguém tá lendo e simplesmente fico sem postar por meses mesmo tendo o capítulo pronto...
mas aqui estamos então espero que gostem ♥



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  Por alguns segundos enquanto todos entrávamos e Morgana fechava o portão me senti envergonhada, minhas roupas estavam sujas e suadas, meu cabelo estava sujo e desgrenhado e por mais que eu tentasse a lama que havia debaixo das minhas unhas simplesmente não saía, desejei estar mais apresentável para encontrar os pais de Thomas.

—Que cara é essa? -Max me empurrou de leve me tirando do transe e chamando minha atenção.

—Fiquei um pouco preocupada agora, eu estou horrível. -fiz uma careta que foi igualmente respondida, porém por uma careta de quem não estava entendendo do quê diabos eu estava falando.

—Horrível como?

—Minha aparência, estou toda suja e suada e desgrenhada e tudo mais. -gesticulei mais do que o necessário, Max notou.

—Ah… -ele suspirou, e pareceu concordar comigo por alguns segundos, mas ainda ponderava sobre o que dizer. -É claro que você está suja e suada, não se esqueça que estamos fugindo para salvar sua vida, e em nenhum filme de ação e fuga os protagonistas ficam limpos e cheirosos o filme inteiro,  e na minha opinião para quem passou pelo o que você passou, especialmente com Morgana, acho que você mantém a maior parte da sua beleza e graciosidade intactas. -ao observar o pouco efeito de suas palavras, Max suspirou e completou. - Katherine, você é tão bela que legiões seriam capazes de dar a vida por você, para proteger cada fio de cabelo e cada mínimo pedaço de você, não se subestime. 

—Você se esforça muito Max, agradeço. Na verdade, nem sei o que dizer. -ri.

—Perdoem-me por ter ouvido a conversa, mas desta única vez eu até concordo com Max, ninguém pode te culpar por estar um pouco mal apresentável, além disso todos estamos. -Morgana deu um leve empurrão em Max para entrar na conversa e Max, com todo seu drama, fingiu ter sido jogado para longe pela garota.

Naquele momento específico senti um carinho inexplicável por aqueles dois, sempre tentavam me fazer rir e transformavam as atmosferas mais estranhas em algo banal, eles faziam todo o peso que eu andava carregando em meu peito desaparecer por completo. E faziam isso sem me excluir de assuntos que eu não entendo, sempre me ensinando e me instruindo.

—Também não aguento mais estar sujo, vamos entrar logo. -comentou Thomas caminhando ao meu lado na mesma velocidade que eu, o que não fazia parecer que ele desejava chegar lá o mais rápido possível. -Está cansada?

Fiz que sim com a cabeça, não gostava de falar sobre cansaço e fome, era como se falar sobre isso apenas me fizesse sentir com mais intensidade.

—Com fome? -continuou a perguntar.

—Sim, mas não gosto de falar sobre isso, me deixa com mais fome. -encarei-o e dei de ombros, sem dar muita importância.

—Ah, tudo bem. -e após uma pausa completou. - Não sei sobre o quê falar com você. -revelou.

Entre todas as coisas que me surpreenderam naquela frase a que mais me chocou foi o fato de ele querer continuar a falar comigo. Não que eu não tenha gostado de saber daquilo, apenas era algo diferente do que costumava acontecer, Thomas nunca foi muito de falar afinal.

—Me choca que queira falar comigo. -o comentário foi azedo, admito. Eu sabia que ele não queria mais agir daquela forma comigo, e já até havia me pedido desculpas pela mordida, algo que me incomodava muito. Decidi que ele não era o único que devia mudar de postura. -Desculpe, não quis te cutucar, saiu sem querer.

—Eu mereço. -concluiu dando de ombros, ele provavelmente não ficaria chateado com aquilo, mas não pude evitar me sentir mal pelo que havia dito.

—Eu queria saber de uma coisa. -comecei como quem não quer nada, ele percebeu.

—Diga.

—Porque Morgana e Max entendem sobre as coisas humanas que eu digo e você não? Você não entendeu sobre o plástico bolha. -exemplifiquei.

—Max e Morgana já estiveram no mundo mortal, eu não. 

Por algum motivo aquilo me deixou empolgada e intrigada ao mesmo tempo.

Eu queria saber sobre tudo o que eles conheciam do mundo mortal para poder conversar só um pouquinho sobre algo que eu realmente conhecesse, e também queria muito saber porque Thomas não tinha ido, sendo tão poderoso.

Não tive a chance de perguntar, uma enorme porta, ainda mais gigantesca que a anterior, apareceu entre os arbustos revelando a entrada do palácio.

Senti todos os meus pelos arrepiarem pouco a pouco.

—Vamos lá então. -murmurou Max empurrando a grande porta que assim como as outras não parecia ser tão pesada quanto eu imaginava.

Me lembrei de Anastasia que ainda estava conosco mas se mantinha tão quieta que muitas vezes eu me esquecia de sua presença.

Uma corrente de ar frio saiu de dentro do castelo me acertando em cheio e me fazendo ter calafrios, abracei meu próprio corpo e virei o rosto.

Ouvi passos.

—Finalmente chegaram. -uma voz grave saiu de dentro do castelo, uma ponta de medo cresceu em meu peito.

—E aí Dante? Te deixamos esperando? -Max brincou cumprimentando o homem que nos esperava do lado de dentro.

Ele possuía postura imponente, era alto e tinha um semblante calmo apesar de me causar calafrios.

—Não demoramos tanto assim. -Thomas comentou tão simples quanto era possível, sem nem mesmo cumprimentá-lo, pareciam íntimos. 

—Não pensei que fosse te ver de novo tão cedo. -o homem chamado Dante comentou parecendo tentar tirar algo de Thomas.

Dante foi aos poucos me analisando, sua expressão era uma intrigante mistura de interesse e curiosidade.

—Olá Katherine, me chamo Dante Rowan, é uma honra conhecê-la. -senti meu corpo todo enrijecer ao ouvi-lo falar meu nome, e aquilo que sempre me incomodava voltou a me perturbar, como ele sabia o meu nome?

—O prazer é meu, Dante. -apertei a mão que ele havia estendido a mim e que eu havia encarado por alguns segundos, após me cumprimentar voltou sua atenção a Thomas mais uma vez.

—Tive meus motivos. -Thomas resumiu, como sempre fazia.

—Consigo ver seus motivos. -ficaram se encarando por alguns segundos e eu apenas continuei parada ali os observando enquanto os outros três entravam no castelo. -Precisamos arranjar quartos para vocês, não estão em bom estado.

Minhas bochechas com certeza ficaram vermelhas.

Thomas se aproximou de mim, não consegui dizer se havia sido acidental ou não.

O castelo era uma das coisas mais bonitas que eu havia visto em toda a minha vida, ele era coberto de azulejos brancos e bege e haviam lindos candelabros dourados pendurados no teto em formato de abóbada que era decorado com leves e pequenos desenhos feitos com tinta dourada como ouro, tudo parecia cuidadosamente colocado.

Era fresco do lado de dentro, creio que por causa da floresta densa que rodeava o palácio, e o cheiro também era refrescante. Eu conseguia ver meu próprio reflexo levemente distorcido no mármore do chão, tudo ali parecia surreal.

Morgana dançava e rodopiava não muito a nossa frente, quando a vi percebi que compartilhávamos do mesmo sentimento, eu também estava eufórica.

—Não precisa ter medo de Dante. -sussurrou Thomas, fiquei surpresa ao perceber que ele estava sendo cauteloso para não ser ouvido.

—Vocês se conhecem?

—Sim, ele é um dos conselheiros reais, é uma das pessoas que mais confio. Ele pode parecer durão, mas caso precise de qualquer coisa pode pedir a ele. -Thomas me olhava nos olhos ao falar, conseguia me transmitir toda sua confiança.

—Como ele sabia meu nome?

—Dante é um dos nossos melhores caçadores e informante, é o dever dele saber tudo sobre todos, não leve para o lado pessoal. -Thomas torceu o nariz de forma tão adorável que por alguns segundos perdi a compostura.

—Quero saber mais sobre isso mais tarde. -avisei.

—Você sempre quer. -concordou sorrindo.

Se ele fizesse mais alguma coisa adorável ou atraente não sei o que eu seria capaz de fazer.

Subimos a escada gigantesca que levava ao próximo andar, tudo ali era tão gigantesco que eu simplesmente não conseguia não pensar meu deus isso é tão gigantesco.

As portas dos quartos pareciam de madeira e todas elas possuíam a mesma cor beige dos azulejos, que também eram encontrados aqui, as portas possuíam formatos arredondados semelhantes às portas dos quartos do internato, algo que me deixou inquieta e também fez com que eu me sentisse familiarizada.

Max e Morgana ficaram em quartos um do lado do outro, o que fez com que os dois soltassem alfinetadas um para o outro, do tipo se você fizer qualquer barulho durante a noite eu vou aí e acabo com você.

Anastasia ficou no quarto logo na frente da escada, agradeceu e entrou, e então só havia eu e Thomas.

—Tem algum quarto disponível para que Kate durma o mais perto de mim possível? -perguntou Thomas e eu parecia a única pessoa ali a interpretar aquela pergunta de forma errada.

—Tem o seu. -Dante respondeu como se aquela fosse a melhor opção disponível.

—Você se importaria de dormir no meu quarto? -Thomas agora falava comigo e por alguns segundos pensei em dizer que sim, eu me importava. Mas não seria verdade.

—Não, não me importo. Você nem dorme mesmo. -dei de ombros segurando meu próprio pulso por detrás das minhas costas.

Eu só havia pensado em dizer sim porque já estava ficando incomodada com o fato de que os dois só conversavam entre si, mas era algo bobo que não mudaria nada.

Dante riu do que eu havia dito e continuou indo à nossa frente até o quarto de Thomas.

—Tem alguém aqui? -perguntou Thomas, mas não soou muito esperançoso.

Quis indagar porque ele falava daquela forma dos pais, que tipo de relação eles tinham?

—Ninguém. -respondeu Dante por cima do ombro.

Observando-o de trás Dante era o homem mais alto e forte que eu já havia visto em toda a minha vida, até mais do que o Professor Muralha. Seus músculos eram definidos a ponto de que eu conseguia vê-los delineados mesmo ele estando de camisa, ele possuía uma cicatriz linear em sua bochecha direita e possuía dreads que provavelmente eram do mesmo tamanho do meu cabelo, não muito grande, mas eu não conseguia ter noção exata porque seus dreadlocks estavam presos como um rabo de cavalo, sua postura era inabalável.

Subimos mais um andar, desta vez numa escada com menor largura que a anterior e que era protegida por quatro soldados de cada lado, eles usavam vestimentas pretas e seguravam espadas não muito grandes em suas bainhas, suas expressões eram impassíveis. 

Quando passamos por eles todos ficaram de joelhos e se curvaram, tomei um susto tão grande pelo movimento repentino que dei dois passos para o lado e trombei em Thomas, que me segurou. 

Então percebi que todos eles estavam se curvando para ele.

—Estão surpresos por te ver. -Dante comentou fazendo Thomas sorrir de canto, ele não parecia muito confortável.

—Todos vão ficar. -concordou.

Aquele andar era diferente dos anteriores, já havíamos andado mais da metade do corredor e não havia nenhuma porta, não havia varanda como no andar inferior e a cada metro havia um soldado de pé fazendo vigília, me senti como se estivesse indo de encontro a um grande tesouro.

Ali enxerguei duas portas, uma delas era bem grande e a outra um pouco menor, estas portas eram duplas e mais largas, ambas de madeira com dobradiças e maçanetas de ouro. Uma porta era bem afastada da outra e pareciam ser os únicos quartos dali.

—Aqui estamos. -Dante esticou a mão segurando a maçaneta da porta menor, que deveria ser o quarto de Thomas. -Vou pedir para que as empregadas tragam algo para você vestir Katherine, descansem por enquanto.

Dante me lançou um sorriso simpático que retribuí agradecendo.

O quarto era belíssimo, enorme e seu chão era completamente acarpetado, possuía uma cama bem grande no meio e próximo a ela havia uma varanda do lado esquerdo, para o lado direito da cama havia uma porta que dava entrada ao banheiro e na parede contrária a da cama havia uma mesa, do lado esquerdo a cama havia outra porta que dava entrada a um closet consideravelmente vazio, havia apenas algumas capas de terno penduradas e nada mais.

—Preciso realmente tomar um banho, acha que devo esperar as empregadas chegarem? -eu estava indecisa, queria tanto tomar banho, mas ainda achava que devia esperar, afinal não sabia se haveria toalhas suficientes para ambos ou se eu teria algo para vestir quando saísse.

—Elas não vão demorar, vá tomar banho. -Thomas se sentou lentamente na cadeira ao lado da mesa, parecia cansado.

O banheiro era parecido com o do internato, possuía uma banheira e um chuveiro, um espelho que ia do teto ao chão e uma pia branca de mármore lindíssima que parecia brilhar na luz branca do ambiente, eu estava absolutamente embriagada pela beleza de tudo aquilo.

Ouvi baterem na porta e abri, Thomas estava ali com os olhos fechados virados para o outro lado e me estendia duas toalhas e uma muda de roupas.

—Trouxeram pra você.

—Obrigada, não precisa fechar os olhos, eu estou vestida. -ri, acho que nunca em minha vida eu havia visto algo que me fizesse ter tanta vontade de rir sendo tão adorável.

—Oh, que bom. -ele suspirou também sorrindo de leve achando graça da situação. -Quer ir comer lá embaixo ou eu deveria pedir para que tragam até aqui?

—Lá embaixo, com certeza. Quero muito ver o resto desse lugar. -eu estava muito animada, tive que repensar o banho longo que eu estava pensando em tomar.

—Tudo bem. -o garoto riu da minha animação e fechei a porta mais uma vez, trancando-a.

Enchi a banheira conforme ia tirando a roupa e me senti a coisa mais grotesca a caminhar por esta terra, os tecidos grudavam em minha pele como se estivessem colados, ao segurar as peças percebi o quão imunda eu estava, lama, água, suor e sangue tudo espalhado por diversas áreas de minhas roupas.

Minha camiseta estava levemente rasgada em algumas áreas, quando treinei fisicamente com Morgana havia sofrido alguns arranhões e ao dormir em cima de galhos alguns haviam rasgado minhas roupas, me senti aliviada ao me ver livre daquilo.

Joguei todas as peças de roupa no lixo e entrei na banheira, a água tocava meu corpo com tanta gentileza que me senti arrepiar, eu havia ficado apenas dois ou três dias sem tomar banho e parecia a primeira vez. 

A água foi lentamente trocando de cor, ficando marrom. Fui olhar as coisas que Thomas havia me dado e ali havia mais coisas do que eu imaginava, enrolado na toalha havia uma escova de dentes e uma escova de cabelo, um vestido verde que não parecia ser muito curto e uma lingerie.

Me senti tão calma e suave ali deitada envolta pela água quente que por pouco não caí no sono, apressei-me na higienização e escovei meus dentes, me sentia renovada.

Saí do banheiro com as duas toalhas no braço e escovando meus cabelos molhados, eu andava quase saltitando de tanto alívio.

—Fazia algum tempo que eu não me sentia tão leve. -comentei.

—Também preciso de um pouco dessa leveza. -disse Thomas antes de entrar no banheiro logo que eu saí, ele devia estar tão incomodado quanto eu.

Caminhei um pouco pelo quarto descalça enquanto penteava meus cabelos e ali me senti muito confortável, não me sentia vigiada, controlada ou sufocada da forma que eu me sentia quando estava em Santa Marcelina, era como se ninguém estivesse me vendo e eu podia fazer o que quisesse.

Fui até a varanda e a vista era linda, havia um campo verde que rodeava o palácio antes de se tornar floresta, o ar era fresco e tinha um cheiro ótimo de natureza. As cortinas balançavam preguiçosamente conforme o vento vinha e me permiti respirar fundo por alguns minutos.

Aquilo parecia um sonho.

Eu estava com dor nas pernas por ter caminhado tanto então não me prolonguei muito ali, logo me sentando na cama. Ao me sentar vi um par de sapatilhas brancas do lado da cama, ao vesti-las percebi que cabiam perfeitamente nos meus pés, me perguntei se Dante sabia até mesmo qual era o tamanho do meu pé.

Thomas saiu do banheiro mais rápido do que eu imaginava, ele usava uma camisa branca e uma calça simples de cor cinza escuro, saiu secando os cabelos fervorosamente com a toalha, quando a tirou seus cabelos dourados estavam completamente bagunçados, não consegui me conter e ri da situação do garoto.

—Seu cabelo está uma bagunça.

Thomas me lançou um olhar de canto de olho e parecia achar que eu estava tirando sarro da cara dele, mas ao passar as mãos por cima dos cabelos sentiu como eles estavam arrepiados e sorriu derrotado.

—Eu estava imundo. -se sentou na ponta da cama e me aproximei dele, ele segurava a toalha nas mãos e não parecia ter a intenção de arrumar seu cabelo.

—Vem cá. -tirei meus sapatos e me sentei na cama com as pernas cruzadas virada para o garoto, segurei seu ombro para que se inclinasse um pouco em minha direção então com a escova que ainda estava em minhas mãos comecei a ajeitar seu cabelo. Ao aproximá-lo de mim percebi que o cheiro que emanava de sua pele era diferente do meu, era leve e cítrico, eu podia ficar ali sentindo seu cheiro o dia todo.

Ele não tentou me impedir nem fez qualquer comentário, minimamente assentiu com a cabeça e um pouco sem jeito continuei a pentear seus cabelos, não estava muito embaraçado, apenas bagunçado. Thomas tinha cabelos tão finos que segurando apenas um fio de cabelo em meus dedos ele se tornava praticamente invisível.

—Você está cansado?

—Não. -uma pausa longa, pensei em dizer algo mas Thomas parecia que iria completar a frase, porém estava levando mais tempo para pensar do que o normal. -Graças ao sangue que você me deu sinto que posso ficar sem me alimentar por duas semanas ou mais.

—Você parecia exausto quando chegamos aqui. -admiti.

—Você é muito observadora, mas não, não estou cansado. -riu fraco, observei a forma com que suas costas subiam e desciam lentamente por debaixo de sua camisa branca, tive vontade de dedilhar todo o comprimento de suas costas  musculosas, por pouco não desci minhas mãos, que acariciavam seus cabelos. -Eu só estava pensando em como vai ser quando os meus pais chegarem, já sabia que seria assim, mas antes de chegarmos aqui ainda não parecia real. -confessou, e percebi que Thomas estava falando ligeiramente mais lento, então só para fazer um teste tirei minhas mãos de seu cabelo. -Porque parou?

—Não sabia que você gosta de carinhos. -ri do garoto, mas voltei a escovar e passar as mãos por seu cabelo assim que terminei minha fala.

Me lembrei que há alguns meses eu me pegava imaginando como seria tocar nos cabelos dele, sempre pareceram tão macios, no final a realidade não deixava a desejar.

Thomas não disse nada, tampouco respondeu minha provocação, apenas permaneceu em silêncio enquanto eu acariciava suas madeixas até que secassem.

Observei enquanto aos poucos relaxava e se deixava levar, Thomas parecia ser muito mais sensível do que eu imaginava.

Aquele era o momento mais terno que já tivemos, meu coração estava aquecido de formas que eu nem sabia que ele podia ficar. 

—É melhor descermos para você comer. -levantou-se e se espreguiçou, retomou a postura ereta e ajeitou seu cabelo da forma que preferia.

Do lado de fora o sol já havia baixado, havíamos chego no castelo depois das três horas da tarde, aproximadamente, e então estávamos ali descansando até aquele momento.

Concordei com o garoto e saímos do quarto, do lado de fora uma empregada nos aguardava, não esperava encontrá-la ali e tomei mais um susto, desta vez não me encolhi, mas no fundo senti um impulso forte de proteção e quase empurrei a pobre mulher para longe com um feitiço.

Conforme descíamos as escadas me senti orgulhosa do que eu tinha acabado de quase fazer, claro que eu deveria prestar mais atenção, mas não ter recuado era uma coisa boa.

—Eu estou morrendo de fome. -exclamou Max que estava no térreo, ele e Morgana nos esperavam, nem sinal de Anastasia.

—Você é muito chorão, Max. -desdenhou Morgana rindo num claro sinal de provocação. Morgana tinha esse costume de que sempre que brincava ela ria de forma diferente e enrugava o nariz como se fosse a coisa mais engraçada da terra.

Max fez uma cara para Morgana que por pouco achei que ele fosse realmente bater nela, mas se conteve.

—Morgana, esqueça que eu existo, é um favor que você me faz. -ele pediu em tom debochado.

Max nunca ficava bravo de verdade, nunca mesmo, ele podia se irritar e perder a paciência com Morgana quantas vezes fosse, mas nunca se chateava realmente. Isso só fortalecia a relação de gato e rato que os dois mantinham.

—Vamos, vamos eu também estou morta de fome. -puxei Max pela mão e o levei pelo salão, não me importava se eu sabia o caminho ou não.

—Você está indo pelo caminho errado! -ele ria, mas ainda se deixava levar.

—Então me guie você. -parei no meio do corredor e Max por pouco não me derrubou, e sem nem me esperar de terminar a gargalhada que eu dava me puxou para o lado oposto e saímos correndo mais uma vez.

Entramos em uma sala grande e alta, a mesa de jantar era tão longa que deviam caber quase vinte pessoas ali, a sala toda era branca e a mesa era de madeira e brilhava de tão limpa.

—Eu senti falta disso. -Max comentou, mas quando me virei não era comigo que ele falava, mas com Thomas.

Thomas observou a sala de cima a baixo lentamente e respirou fundo parecendo se lembrar de algo.

—Eu também, em partes. -Thomas respondeu se sentando na cadeira a direita da cabeceira da mesa num gesto aparentemente instintivo.

Morgana e Max se entreolharam e também trocaram olhares comigo, eles também haviam percebido.

—Espero que sirvam algo que eu goste. -comentei, observei Morgana e Max se sentarem um ao lado do outro do lado oposto da mesa, na frente de Thomas.

Senti uma inquietação em meu âmago ao ir me sentar ao lado de Thomas, se esta fosse uma ocasião formal seus pais estariam sentados nas cabeceiras da mesa e eu só poderia me sentar ali se fosse noiva de Thomas.

—Dante com certeza lidou com isso. -brincou Thomas.

Morgana e Max ficaram brincando durante todo o jantar como duas crianças birrentas, eu não conseguia parar de rir nem por um segundo.

O jantar foi magnífico, carne, frango, saladas e conservas foram servidos, todos preparados de forma diligente e estavam todos igualmente saborosos.

Percebi também o contraste entre o jantar servido aqui e o jantar servido no internato, mas não conseguia distinguir ao certo se era realmente tão diferente ou toda a magnificência do local que me deslumbrava.

Anastasia apareceu no meio do jantar e conversou conosco enquanto comia, parecia se sentir muito melhor agora, o que me deixou muito mais tranquila. Perguntou se eu estava bem e se o amuleto havia me dado alguma dica, respondi que não e ela riu dizendo que era melhor assim.

O clima leve recarregou todas as minhas energias, todos ali comiam e conversavam e tudo estava bem.

—Satisfeita? -murmurou Thomas, tocando meu braço e tirando minha atenção da conversa entre Morgana e Max.

—Sim, tudo estava delicioso e eu me sinto nova em folha agora. -dei o maior sorriso que pude, Thomas também pareceu satisfeito.

Saímos do salão pouco depois que havíamos terminado de comer e Morgana pediu para que eu a acompanhasse, caminhamos pelos corredores  por um longo tempo até que saímos num jardim decorado com uma fonte e bancos de mármore, eu imaginava que aquele lugar durante o dia deveria ser a coisa mais linda do mundo.

—Kate, eu gosto muito de você, por mais incrível que pareça você é minha única amiga do gênero feminino e sinto que eu deveria ser cem por cento honesta com você. -ela começou e fui pega de surpresa pelo seu tom de voz sério.

—Tudo bem, você pode me contar qualquer coisa.

—Você nunca me perguntou, mas já achou estranho que Thomas não come nada mundano, mas eu sim?

Eu nunca tinha pensado nisso antes.

—Acho que estou tão acostumada a ter todos ao meu redor comendo junto a mim que nunca tinha parado pra pensar que você é uma vampira que come, mas Thomas e Max me contaram que vampiros podem comer, só não é lá essas coisas. -expliquei, mas mesmo assim não fazia muito sentido na minha cabeça.

—Sim, é verdade. Mas a verdade é que eu também preciso, não tanto quanto você, e também não posso ficar sem comer absolutamente nada como Thomas.

—Então como funciona?

—Eu sou uma hibrida, feiticeira e vampira. É difícil acontecer, mas seres de espécies diferentes conseguem se reproduzir. Então consigo aproveitar o melhor dos dois reinos. -a expressão em meu rosto era de tamanha perplexidade que Morgana riu e teve de se explicar mais uma vez. -Minha mãe é uma vampira e meu pai é um feiticeiro, no meu caso não houve dominância de nenhum gene, então a mistura prevaleceu. Eu tenho uma irmã que é apenas vampira. Se você tivesse um filho com Thomas, isso provavelmente aconteceria.

—Se eu tivesse um filho com Thomas, essa criança estaria perdida. -ironizei fazendo Morgana gargalhar. -Entendi o que quis dizer, eu me perguntava como você sabia tanto de magia se não era feiticeira, mas agora entendi. E porque nunca usa da sua magia?

—Híbridos tem muitas restrições, então só uso magia em situações essenciais. -Morgana deu uma pausa e suspirou parecendo aliviada de repente. -Eu pensei que você fosse surtar quando eu te contasse, mas você aceitou tudo com tanta suavidade.

—Depois de passar pelo que eu passei nos últimos meses quase nada me faz surtar. -comentei e ambas rimos alto.

Fiquei muito contente por Morgana confiar em mim daquela forma e ter sentido a necessidade de me contar porque havíamos nos tornado próximas, saber que ela confiava em mim e me considerava tanto era algo surpreendente e muito importante para mim.

Voltamos para o lado de dentro e meu corpo estava mole de tão relaxado, Morgana me deu um abraço antes de ir para seu quarto e subi sozinha.

—Olá Katherine, está sozinha? -Dante estava no topo da escada que levava ao corredor do quarto de Thomas.

—Sim, eu estava com Morgana no jardim.

—Que ótimo, é essencial que você descanse muito agora, as coisas podem ficar difíceis pra vocês dois daqui a algum tempo. -comentou e não entendi o que ele queria dizer, mas pela primeira vez alguém estava me contando algo que tinha diretamente algo a ver comigo.

—O que vai acontecer?

—Vocês não avisaram ninguém que estavam vindo para cá, Anastasia me avisou telepaticamente, mas não houve nenhuma formalidade. O pai de Thomas é um homem muito rígido e não aceita nada fora do lugar estabelecido por ele, e não tem muita paciência.

—Essa geralmente é a parte que você diz que pelo menos ele é um homem bom. -comentei, apreensiva.

Dante caminhava ao meu lado em passos lentos em direção ao quarto quando parou e virou-se para mim, ele tinha sido a única pessoa que me explicava as coisas do começo ao fim, eu apreciava aquilo.

—Ele é meu rei, mas não é um homem bom. Sei que você é uma mulher inteligente e poderosa, então exercendo meu papel quero te dar um conselho, quando ele voltar, não deixe que Thomas fique aqui muito tempo. -havia pesar em sua voz e eu sabia que Dante se importava com Thomas, mas não entendia porque eu deveria mantê-lo longe do próprio pai.

—Eles não se dão bem?

—Não costumo dar minha opinião em assuntos da realeza, mas Thomas é como um irmão para mim, eu o assisti crescer e digo que Thomas não é nada mais que um objeto para ele, ele já não possui mais a destreza e a rapidez que tinha quando era jovem e usa o garoto como um soldado para realizar seus caprichos, e possui formas terríveis de castigá-lo caso tudo não saia como ele deseja.

—Isso é horrendo! -a revolta crescia em meu peito e eu não conseguia acreditar.

—Vocês tem uma ligação muito forte e ele faria qualquer coisa por você, ele está fazendo tudo por você, então proteja-o.

—Irei me esforçar, mas ainda sou muito fraca.

—Você jamais foi fraca, e mesmo quando não possuía conhecimento nenhum poderia ser chamada de fraca, você pode não estar tão forte quanto gostaria, mas já é muito poderosa. Sei que não nos conhecemos e que é quase absurdo eu estar jogando toda essa informação em cima de você, mas não sei quando o rei pode chegar. -ele explicou e por um segundo consegui sentir sua aflição como se ela fluísse em ondas diretamente até mim. 

—Thomas me disse que eu poderia confiar em você. -murmurei, eu estava muito confusa, mas acreditava que poderia confiar nele. -Notei que ele parecia tenso quando chegamos aqui, mas nunca imaginei que pudesse ser algo assim, vou me esforçar para mantê-lo longe do pai. E… muito obrigada por me contar, Dante. A maioria das pessoas não costuma me deixar à par do que acontece. -agradeci ainda tímida, mas me sentindo importante de alguma forma, Dante havia me contado aquilo porque confiava em mim e acreditava no que eu podia fazer, acreditava que eu seria capaz de proteger Thomas.

Dante agradeceu e pareceu muito aliviado, me acompanhou até a porta do quarto e nos despedimos com um meneio de cabeça, eu já me sentia como num filme de espionagem, eu iria protegê-lo sem que ele soubesse e isso era muito importante, eu não podia falhar.

Também comecei a questionar o quão pouco eu conhecia Thomas.

—Eu já estava ficando preocupado com você. -a mistura de expressões que Thomas fez ao me ver entrar foi muito interessante, primeiro cerrou o cenho curioso já que eu tinha demorado, então suavizou totalmente sua expressão ao ver que eu estava bem. 

A mudança de uma para outra fazia parecer que eram duas pessoas completamentes  diferentes, Thomas mudava com tanta rapidez.

—Me perdi no caminho.

—E como conseguiu voltar? -indagou, não parecendo ter acreditado no que eu havia dito.

—Encontrei Dante no corredor e ele me ajudou a chegar até aqui.

Thomas assentiu levemente e não disse mais nada, observei a forma que ele estava sentado na própria cama parecendo que não sabia exatamente o que fazer e imaginei o quão doloroso devia ser para ele ter que voltar para cá.

De repente senti que devia fazer algo para fazê-lo não pensar nisso, afinal ele só havia voltado para cá por minha causa, porque queria me proteger.

Caminhei lentamente até ele e tirei a sapatilha no meio do caminho sentindo o carpete macio abaixo de meus pés conforme eu colocava um pé na frente do outro e me senti mais confortável e confiante.

—Você parece preocupado com algo. -comentei ao parar em sua frente, ele demorou alguns segundos para levantar a cabeça e ao me olhar notei um leve pesar em suas íris azuis que pareciam refletir meu rosto e todas as perguntas que eu queria fazer, não consegui evitar desviar os olhos.

—Voltar para cá significa muitas coisas, muitas coisas que eu saí para evitar. -ele abaixou a cabeça como se ela fosse pesada demais para seu pescoço segurar, senti uma necessidade excruciante de segurar seu rosto em minhas mãos.

—Queria que nada tivesse acontecido, assim não teríamos que ter vindo e você não estaria nessa situação. -me agachei a sua frente para que pudéssemos ficar de frente um para o outro e Thomas olhou para mim  como se não entendesse nem mesmo em que língua eu estava falando.

—O que você está dizendo? Não se preocupe com isso, o que importa agora é manter você a salvo. -levou sua mão esquerda ao meu rosto devagar, eu percebia que ele costumava me dizer aquilo como se eu fosse uma criança, sempre.

—Você tem que parar de me dizer para não me preocupar com você, isso faz com que eu me preocupe ainda mais com você, afinal porque você pode zelar por mim e eu não posso me preocupar com o seu bem estar? -segurei a mão dele que descansava em minha bochecha e comecei a falar rápido demais no final da frase, o que arrancou um sorriso de Thomas.

Eu precisava que ele entendesse que eu gostaria de poder cuidar dele da mesma forma que ele cuidava de mim.

—Bom, você pode, eu só prefiro que não se preocupe comigo. -ele riu fraco e segurou meu rosto com as duas mãos.

—Você podia me contar o que te incomoda tanto, talvez eu possa te ajudar. -me aproximei e acabei me desequilibrando em meus tornozelos e segurei em seus joelhos para manter-me estável, Thomas parecia estar se divertindo.

—Não vale a pena te incomodar com algo assim, mas você pode me ajudar com outra coisa. 

Eu observava atentamente cada um de seus movimentos, vi o sorriso de divertimento perverso que surgiu no canto de seu lábio e senti-o segurar meu rosto com mais firmeza, eu já me sentia ficando vermelha.

Apoiei-me ainda mais em seus joelhos ao me impulsionar em sua direção assim que notei-o se abaixar na direção de meu rosto.

Beijar Thomas nunca deixaria de ser extasiante, nunca mesmo. Ele me beijava tão gentilmente, como se eu fosse feita de nuvens e que com um toque poderia se desfazer em suas mãos, e eu não duvidava que eu pudesse.

Uma de suas mãos foi lentamente até a minha nuca e senti quando seus dedos estavam entre meus cabelos e senti meus pelos se arrepiarem, ele puxou levemente meu rosto e me levantei quebrando nosso beijo, sem me deixar pensar duas vezes Thomas segurou-me pela cintura e me deitou na cama ao seu lado, não consegui me conter e ri ao senti-lo me segurar daquela forma, ninguém nunca tinha me tocado daquela forma antes.

—Está se divertindo? -uma expressão que eu nunca tinha visto em seu rosto me surpreendeu e quase não consegui responder, seus cabelos cor de areia pendiam centímetros acima de minha cabeça e um sorriso despreocupado enfeitava seus lábios, não me lembrava de nenhuma outra ocasião em que ele parecera tão relaxado.

Pensar nisso me fez ter vontade de beijá-lo até o amanhecer para que ele permanecesse daquele jeito, me doía vê-lo sofrer.

E foi o que ele fez, senti seus lábios sobre os meus e suas mãos carregaram carícias suaves por meu corpo a noite toda entre risadinhas e comentários descontraídos, eu nunca havia me sentido tão próxima dele.


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Notas finais do capítulo

a kate e o thomas são o meu casal e nada mais importa.



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